
Sob um cenário geopolítico desfavorável à governança global, o balanço da COP30 feito pelo governo e por especialistas é de que o ambiente internacional limitou o ritmo das negociações e a velocidade dos avanços. Contudo, não foi o suficiente para desestruturar a agenda climática, que resiste, ainda que sob constante ameaça.
Apesar das dificuldades para construir consensos, a avaliação é que persiste um engajamento significativo e uma defesa firme do multilateralismo, sustentados sobretudo pelos delegados e pela sociedade civil, destaca o Valor. Ainda assim, ficou claro que o sistema climático internacional segue sem um substituto à altura do protagonismo tradicional dos Estados Unidos.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, avalia que o multilateralismo climático saiu fortalecido de Belém, segundo o Valor. Mas reconhece: “O mundo mudou de maneira significativa do ponto de vista geopolítico e ficou evidente que o consenso está cada vez mais difícil”.
O diplomata repetiu ao longo de 2025 que não gostava de surpresas em negociação climática. Mas foi fortemente surpreendido com a proposta do presidente Lula, ainda na Cúpula de Líderes anterior à conferência, de se criar um mapa do caminho para a transição para além dos combustíveis fósseis.
“O que me surpreendeu foi o quanto cresceu e o quanto se reagiu ao chamado que o presidente Lula fez para acelerar a redução da dependência dos fósseis”, diz Corrêa do Lago. Belém não conseguiu entregar o “roadmap”, mas tornou o assunto inevitável. E mostrou que não será mais possível discutir a crise climática só pelos sintomas, mas também por suas causas — e a queima de combustíveis fósseis é a principal delas.
“A COP30 encerra a era em que a solução para a mudança do clima é negociar. E vamos para uma era em que a solução para a mudança do clima é implementar”, reitera Corrêa do Lago.
De modo geral, analistas que participaram da COP30 ouvidos pelo Valor definem a conferência de Belém como inovadora na governança e falha na infraestrutura. A COP30 foi pioneira ao criar, por exemplo, a figura do Enviado Especial, e ao lançar os Círculos de Lideranças e ao convocar um Mutirão Global pelo clima. Mas os participantes enfrentaram desde a crise da hospedagem até um incêndio na Zona Azul, sem falar em problemas no ar-condicionado, goteiras e até trechos inundados após as fortes e tradicionais chuvas da capital paraense.
Em tempo: A governança climática internacional deu um passo à frente ao colocar os oceanos no centro das negociações na COP30, lembra o Valor. A pauta ganhou impulso em Belém com o “Pacote Azul”, um plano com ações para integrar clima, biodiversidade e uso sustentável dos mares nos compromissos dos países. A importância dos oceanos como reguladores do clima e a necessidade de estruturar políticas de adaptação foram levadas ao debate na mesma medida em que fica cada vez mais evidente que os avanços dependem da implementação de ações para substituir o uso de combustíveis fósseis.



