
Uma das principais vitórias da COP30 foi o acordo para triplicar o financiamento para adaptação, em um contexto de resistência dos países europeus. Apesar disso, especialistas avaliam que a medida está aquém do necessário para enfrentar o ritmo crescente dos eventos climáticos extremos.
No Valor, um dos principais negociadores brasileiros, o embaixador Mauricio Lyrio, explica que a briga principal consiste na preferência de países ricos em destinar a maior parte do dinheiro para mitigação, enquanto as nações em desenvolvimento querem recursos para adaptação. Ou seja, uma suposta disputa entre atacar as causas da crise climática e ajudar países mais pobres que já estão sofrendo com ela. Como se uma ação impedisse a outra.
Segundo Lyrio, há uma prioridade deslocada no contexto da geopolítica global, no qual países ricos não querem contabilizar suas responsabilidades históricas, enquanto gastam 5% do orçamento nacional com armas. “Todos os países que contribuem para o armamentismo global acabam prejudicando o processo de destinação de recursos para o combate à mudança do clima.”
Especialistas ouvidos pelo Valor detalham as insuficiências atuais dos recursos para adaptação. Coordenadora do Programa Adapta-FGVces, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mariana Nicolletti explica que apenas 5% do financiamento climático global se destina à adaptação e que os países em desenvolvimento recebem “menos de 10% do que seria necessário”.
“Há uma armadilha de investimento: países que menos contribuíram para a crise [climática] precisam se endividar para se proteger dela”, completa Karen Silverwood-Cope, diretora de clima, economia e finanças da WRI Brasil.
Outros aspectos levantados são a lentidão imposta pelas dificuldades institucionais, técnicas e políticas para estruturar projetos financiáveis, sobretudo no nível local; entraves burocráticos e falta de capacidade de execução nos territórios; e desafio na mensuração do retorno.
Mesmo assim, estudos como o relatório “Returns on Resilience”, apresentado na COP30, indicam que os benefícios superam os custos. Por exemplo, a cada dólar aplicado, há um retorno de US$ 4 em benesses econômicas. Além disso, o estudo indica que aportes em adaptação podem gerar 280 milhões de empregos em economias emergentes até 2035.
A nova meta acordada na conferência de Belém é a de triplicar o financiamento para adaptação, para US$ 120 bilhões (R$ 640 bilhões) ao ano, até 2035. No primeiro rascunho, previa-se que o valor seria alcançado em 2030, o que não foi aceito no consenso entre os países. Então, adiou-se a meta em cinco anos.
Apesar dos pesares, no balanço geral houve avanços, já que a meta de financiamento para adaptação discutida na COP26, em 2021, terminaria no ano que vem. Dessa forma, renova-se o compromisso, ainda que aquém do necessário, e posterga-se o prazo, avalia no Valor Daniel Porcel, especialista em políticas climáticas do Instituto Talanoa.
Em tempo: O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é considerado um dos principais avanços da COP30, com a obtenção de US$ 6,7 bilhões (R$ 36 bilhões) em compromissos de aporte. O TFFF é visto como um mecanismo inovador e é elogiado por não precisar de doações e por garantir um fluxo contínuo de remuneração aos países que preservam suas florestas, detalha o Valor. Apesar do bom início, ainda há dúvidas sobre quando ele irá começar a mobilizar capital privado. Afinal, a expectativa é que cada dólar mobilizado pela iniciativa em investimentos públicos alavanque US$ 4 em recursos da iniciativa privada.



