
Poucas regiões do globo sintetizam os desafios da vida humana sob um clima cada vez mais extremo e instável, como os países do norte da África e da Península Arábica. Neles, as ameaças climáticas se cruzam com desafios socioeconômicos como urbanização acelerada, conflitos armados, pobreza e crescimento populacional, em um quadro onde a própria habitabilidade dessas áreas poderá ficar comprometida nas próximas décadas.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou nesta 5a feira (4/12) seu primeiro relatório sobre o estado do clima na região árabe, elaborado em parceria com a Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental e a Liga Árabe. Com dados referentes a 2024, o relatório destaca como a região já está sofrendo com as mudanças do clima. O ano passado foi o mais quente já registrado nos países árabes, com temperatura média 1,08oC acima da média entre 1991 e 2020; em vários países, os termômetros atingiram temperaturas acima dos 50oC.
A duração das ondas de calor aumentou em 2024, com uma clara tendência de alta desde 1981. As secas também se agravaram, em particular no oeste da África do Norte (Marrocos, Argélia e Tunísia), após seis temporadas consecutivas de chuvas abaixo da média histórica. Por outro lado, chuvas extremas e inundações repentinas causaram mortes e destruição em países áridos, como Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos.
Já os eventos extremos afetaram quase 3,8 milhões de pessoas na região árabe em 2024, resultando em mais de 300 mortes, principalmente devido a ondas de calor e inundações. A frequência e a gravidade desses eventos aumentaram significativamente nas últimas décadas, com um aumento expressivo de 83% nos desastres registrados entre 1980-1999 e 2000-2019.
O impacto do clima extremo é ampliado com a cobertura ainda limitada de sistemas de alerta precoce nos países árabes. Segundo a OMM, quase 60% dessas nações possuem sistemas, um número acima da média global, mas insuficiente diante do quadro climático experimentado na região. Os modelos climáticos indicam um aumento potencial nas temperaturas médias de até 5oC até o final do século, em cenário de altas emissões.
“As temperaturas estão subindo duas vezes mais rápido que a média global, com ondas de calor intensas que estão levando a sociedade ao limite. A saúde humana, os ecossistemas e as economias não conseguem lidar com períodos prolongados acima de 50oC – é simplesmente quente demais para suportar. As secas estão se tornando mais frequentes e severas em uma das regiões com maior escassez hídrica do mundo. E, ao mesmo tempo, temos visto algumas enchentes devastadoras e perigosas”, observou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.
A Reuters deu mais detalhes do novo relatório da OMM sobre o clima nos países árabes.



