Governo libera quase R$ 650 milhões para conter efeitos da seca na Amazônia

19 de outubro de 2023
Seca Amazônia ajuda financeira
Valor

Estiagem extrema castiga comunidades ribeirinhas e também impede chegada de matérias-primas à Zona Franca de Manaus, que deve antecipar férias coletivas para 15 mil trabalhadores.

Para tentar minimizar os efeitos da seca extrema que vem assolando a região amazônica, sobretudo o estado do Amazonas, o governo federal anunciou a liberação de R$ 647,8 milhões para ações em variadas frentes. O valor não inclui o pagamento do seguro defeso e do auxílio emergencial, que serão liberados para algumas famílias amazônidas.

Os recursos foram detalhados na 4ª feira (18/10) pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, após reunião com ministros e parlamentares, informam CNN e Poder 360. Duas cifras já haviam sido divulgadas anteriormente: R$ 232 milhões via Ministério da Saúde e R$ 138 milhões para a dragagem de rios.

O governo ainda vai liberar R$ 100 milhões para emendas de parlamentares – o que permite a eles colocarem suas “digitais políticas” em ações e obras, destaca o Valor; R$ 61,8 milhões para os municípios; R$ 35 milhões do Fundo Amazônia; R$ 35 milhões do Ministério da Justiça; R$ 26 milhões do Ministério do Meio Ambiente; e R$ 20 milhões do Ministério da Defesa.

Os recursos aliviam o impacto da seca histórica, mas não resolvem tudo. “Antes era fácil prever quando o rio ia subir, agora só a natureza sabe”, disse ao Estadão o presidente da Associação de Pescadores de Tabatinga, Walmir Barboza. Em comunidades ribeirinhas do rio Solimões, assim como em outros pontos da região, falta água potável e produtos alimentícios, pela impossibilidade do transporte hidroviário.

Na Vila de Betânia, território do Povo Indígena Ticuna em Santo Antônio do Içá, o barco deixou de ser o veículo adequado para trafegar pelo rio Içá, afluente do Solimões. Os moradores da comunidade utilizam motocicletas para andar sobre o fundo do rio, que virou um imenso areal, conta o Brasil de Fato.

Na 3ª feira (17/10), o rio Solimões registrou uma cota de 3,70 metros, seu nível mais baixo em 55 anos, em Manacapuru. Foi a segunda cidade amazonense a registrar baixa recorde, lembra o g1, já que no dia anterior o rio Negro chegou ao pior nível em 121 anos, em Manaus. A capital do Amazonas ainda registrou a temperatura mais alta em 114 anos, informa o Climatempo.

No extremo oeste do Amazonas, a estiagem faz São Gabriel da Cachoeira sofrer com racionamento de energia. O município também enfrenta alta nos preços dos alimentos e a falta de itens da cesta básica, relata o g1. Com 51 mil habitantes, a cidade é a segunda com a maior população indígena no país e está em situação de emergência, assim como outros 58 municípios amazonenses.

Com os rios secando mais e mais a cada dia e o transporte hidroviário cada vez mais prejudicado, empresas da Zona Franca de Manaus já planejam antecipar férias coletivas, antes previstas para dezembro, por falta de matéria-prima, informam g1, CNN, Época Negócios e Exame. O número de trabalhadores afetados deve ser de 10 mil a 15 mil, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal).

Em tempo: A seca histórica na Amazônia pode ser um prenúncio do ponto de não retorno da floresta? O podcast Planeta Verde, do RFI, conversou com Luciana Gatti, do INPE, e Ane Alencar, do IPAM, sobre o tema. Há mais de 30 anos cientistas alertam que o avanço do desmatamento e as mudanças climáticas afetariam a tal ponto a dinâmica da vegetação que ela não conseguiria mais se regenerar. E o desmate acelerado tem levado menos vapor de água para a atmosfera – do lado oeste da Amazônia, o mais preservado, a perda de precipitações na estação seca já chega a 20%. Por isso, para evitar o colapso, ressalta Gatti, a promessa de fim do desmatamento da Amazônia até 2030 não é mais suficiente. “Uma vez que uma região chega no ponto de não retorno, ela vai contaminando as demais. A gente precisa de uma ação urgente, decretar calamidade na Amazônia, principalmente na região sudeste, que é a mais próxima do ponto de não retorno. O lado leste emite oito vezes mais carbono, porque a floresta já está numa condição de extremo estresse”, explica.

 

ClimaInfo, 20 de outubro de 2023.

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