
Continua a corrida às vésperas da COP30 para tentar desatar o principal nó da agenda climática global: o financiamento. Em uma frente, a presidência brasileira da Conferência elabora quase 100 planos temáticos para guiarem investimentos privados verdes. Em outra, o Círculo de Ministros das Finanças apresentará suas recomendações para o tão aguardado documento elaborado por Brasil e Azerbaijão para conseguir os US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 para adaptação, transição energética e descarbonização em países em desenvolvimento.
No primeiro movimento, segundo três pessoas ouvidas pela Folha, a elaboração dos guias – chamados de planos de aceleração de soluções – está sendo coordenada por cerca de 20 ministérios e feita em parceria com iniciativas particulares. A ideia é incentivar novos projetos e evitar que propostas antigas sejam esquecidas. Afinal, a equipe da COP30 contabilizou mais de 700 iniciativas lançadas nos últimos dez anos, mas verificou que menos de 300 seguiam ativas.
Os planos têm adesão voluntária e objetivos a serem alcançados até 2028. A ideia é que esses documentos sejam incorporados pelas próximas COPs e revisitados anualmente para avaliar o quanto o investimento privado caminhou (ou não) no sentido de contribuir para que o desenvolvimento social e econômico seja aliado ao combate da mudança climática.
Já no caso do Mapa do Caminho de Baku a Belém para os US$ 1,3 trilhão, as recomendações dos ministros serão apresentadas na 4ª feira (15/10) e terão um componente prático, disse ao Capital Reset a embaixadora Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, que lidera os trabalhos do Círculo. “São exemplos de ações que mostram como implementar o que estamos propondo”, explicou.
As contribuições dos ministros de Finanças se concentram em cinco grandes eixos, detalha a Times Brasil: aumentar o financiamento concessional e os fundos climáticos; reformar os bancos multilaterais de desenvolvimento (MDB, sigla em Inglês); fortalecer as capacidades domésticas e as plataformas de país, ampliando a atratividade de capital sustentável; promover inovação financeira e mobilizar o setor privado; e aprimorar os marcos regulatórios do financiamento climático.
O Círculo dos Ministros de Finanças da COP30 tem representantes de Brasil, China, Índia, Alemanha, Japão, Austrália, África do Sul e Reino Unido, entre outros 28 países, além da Comissão Europeia. Embora os EUA estejam fora, após a saída do país do Acordo de Paris, a embaixadora contou que o setor privado estadunidense e alguns governos estaduais estão engajados e mantém diálogo aberto com o grupo.
Novos números reforçam a urgência dos investimentos para conter as mudanças climáticas e de novas estratégias de cessão desses recursos. Dados da Bloomberg Intelligence mostram que os impactos físicos da crise do clima custaram à economia global pelo menos US$ 1,4 trilhão no ano passado, quase 10 vezes o total do ano 2000, informa a BloombergNEF.
De acordo com o Independent, uma análise do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED) aponta que, em 2023, os 59 países mais pobres do mundo e pequenos Estados insulares em desenvolvimento gastaram US$ 37 bilhões no pagamento de suas dívidas, mas receberam apenas US$ 32 bilhões em financiamento climático. O que escancara um ciclo vicioso, em que os países são forçados a tomar mais empréstimos para cobrir os custos de uma crise climática para a qual mal contribuíram.
Para o economista Nicholas Stern, da London School of Economics, o investimento em ações climáticas é a história do crescimento econômico do século 21. Já o crescimento alimentado por combustíveis fósseis é inútil, porque os danos que ele causa terminam em autodestruição [olha isso, Lula!].
Segundo o especialista, os custos decrescentes das tecnologias limpas, desde energia renovável a veículos elétricos, além das sociedades mais saudáveis e produtivas que elas possibilitam, mostram que os investimentos poderiam enfrentar simultaneamente a crise climática e o crescimento econômico vacilante, além de tirar milhões de pessoas da pobreza, destaca o Guardian.
Em tempo: O governo brasileiro apresentou na semana passada sua proposta da Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono, informam Times Brasil, Megawhat, Pará Terra Boa, Exame, Brasil 247 e Estadão. Liderada pelo Ministério da Fazenda, a iniciativa busca harmonizar padrões, conectar sistemas de comércio de emissões e acelerar a descarbonização das economias globais. Na avaliação do governo, o modelo permitirá mais liquidez, previsibilidade e transparência nas transações de créditos de carbono.



