
Em meio às negociações climáticas pré-COP30 em Bonn, na Alemanha, o Brasil apresentou na última semana um roteiro detalhado para viabilizar o fluxo de US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035. Batizado de Roadmap de Baku a Belém, o plano foi exposto pela embaixadora Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda, e visa conectar as decisões da COP29 às ações concretas propostas na COP30 em Belém.
O texto busca integrar a agenda climática às políticas macroeconômicas dos países, garantindo que as decisões das COPs saiam do papel. “Este roteiro é um espaço para construir caminhos que mobilizem recursos em escala sem precedentes”, afirmou Rosito, representando o ministro Fernando Haddad, líder do Círculo de Ministros de Finanças da COP30.
“Precisamos ir além dos números e prazos, transformando contribuições em ação real”, destacou Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para o Clima, sinalizando que o sucesso do financiamento climático será um teste de credibilidade para a comunidade internacional. O plano brasileiro propõe a expansão de subsídios e instrumentos financeiros não baseados em dívida, além de simplificar o acesso a recursos para nações vulneráveis.
Como detalha a Carta Capital, também está sendo proposto o fortalecimento das regras para o financiamento climático. A precificação de carbono e a exigência de relatórios climáticos por parte das empresas estão entre as regulações citadas.
O documento foi recebido positivamente pelas delegações presentes, que destacaram a necessidade de um projeto “claro, crível e acionável” para transformar promessas em realidade. Sandra Guzmán, diretora-geral do Grupo de Finanças Climáticas para a América Latina e Caribe (GFLAC), disse ao Climate Home que o roteiro “surgiu como uma forma de reduzir a lacuna” entre os US$ 300 bilhões que os países desenvolvidos se comprometeram a mobilizar até 2035 através da Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em Inglês) e o valor muito maior que os países em desenvolvimento estavam pedindo, de US$ 1 trilhão a US$ 1,3 trilhão.
O Brasil também defende financiamento a fundo perdido para adaptação e perdas e danos, além da criação de plataformas nacionais que conectem projetos locais a investidores globais. “Talvez não tenhamos visto uma oportunidade como esta nos últimos 200 anos”, avaliou Rosito.
A reforma dos bancos multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, faz parte das medidas prioritárias para ampliar a capacidade de empréstimo. A AFP informou que o Banco Mundial está direcionando 45% de seus empréstimos totais para ações climáticas como parte de um plano de ação vigente até junho de 2026.
Contudo, os EUA, maior acionista da entidade, são contra. Em abril, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, pediu que o banco focasse em “tecnologias confiáveis” – que poderiam incluir o investimento em gás e outras fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis – em vez de “metas distorcidas de financiamento climático”. O plano final deverá ser apresentado em outubro, durante a reunião anual do FMI, marcando um passo decisivo rumo à COP30.
Em tempo 1: O Instituto Talanoa antecipou-se ao governo federal e realizou o primeiro mapeamento da presidência brasileira da COP30, revelando os nomes e articulações por trás da conferência – que ainda não divulgou seu organograma oficial. Natalie Unterstell, presidente da entidade, destacou a complexidade inédita da estrutura, que inclui representantes econômicos, sociais, indígenas e religiosos, além de diplomatas. O estudo também evidenciou o protagonismo da Amazônia na organização: a região é a única com dois representantes no grupo geográfico e ganhou destaque entre os porta-vozes temáticos. "Seria complicado fazer uma COP no meio da floresta sem os moradores locais", resumiu Unterstell. A informação é do Estadão.
Em tempo 2: O diálogo entre o setor hoteleiro de Belém e o governo federal começa a se complicar, segundo a Folha. A Secretaria Nacional do Consumidor notificou hotéis na capital paraense para explicar os altos valores cobrados durante a COP30, após denúncias de aumentos superiores a 1.000% em relação à média histórica. O Sindicato de Hotéis e Restaurantes de Belém e Ananindeua se recusou a fornecer informações, acusando o governo de “ingerência indevida” e violação da livre iniciativa. Grandes redes, como Ibis e Mercure, alegaram “sigilo comercial” e justificaram os preços pela complexidade do evento, rejeitando comparações com as gigantescas festividades religiosas do Círio de Nazaré.