Quem são os responsáveis pelas mudanças climáticas?

Nas últimas décadas têm aumentado a frequência e também a intensidade de eventos climáticos extremos, como as tempestades e as inundações que acontecem no Rio Grande do Sul e a seca e as queimadas no Pantanal. Isto é consequência do aquecimento global e das mudanças climáticas por este geradas. Em sua raiz, estão as emissões de poluentes climáticos: os gases de efeito estufa. 

As emissões acumuladas destes gases encaminham a temperatura média da Terra para perto de 1,5ºC acima das temperaturas pré-industriais, que é a meta de limitação do aquecimento global do Acordo de Paris. Se continuarmos a lançar gases estufa na atmosfera no ritmo atual, poderemos chegar aos 3ºC de aquecimento global até o final deste século, o que terá consequências catastróficas para a humanidade e para a natureza tal qual conhecemos.

Mas quem são os responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa? Podemos responder a esta pergunta separando em diferentes grupos: corporações empresariais, setores da atividade econômica ou países.

Por corporação empresarial: apenas 100 empresas responderam por 71% das emissões globais de gases de efeito estufa entre 1988 e 2015. As 10 corporações empresariais mais poluidoras do clima nesse período foram: China Coal, responsável por 14,3% das emissões, Saudi Aramco (4,5%), Gazprom (3,9%), National Iranian Oil Co (2,3%), ExxonMobil Corp (2,0%), Coal India (1,9%), Petróleos Mexicanos-Pemex (1,9%), Russia Coal (1,9%), Royal Dutch Shell (1,7%) e China National Petroleum Corp (1,6%). A brasileira Petrobras está na 22a posição do ranking das maiores poluidoras climáticas. Abaixo apresentamos as 22 maiores poluidoras. Note-se que todas elas, à exceção da mineradora BHP Billiton, são empresas envolvidas com produção de ou geração de eletricidade à base de combustíveis fósseis.” A lista completa das 100 maiores pode ser encontrada neste link.

Por setor econômico: os principais setores que emitem gases de efeito estufa no mundo são: (1) produção e consumo de energia (como a lista das empresas que mais emitem comprova), (2) agropecuária, silvicultura e uso da terra, (3) indústria e (4) manejo de resíduos sólidos e de efluentes líquidos. No mundo, a produção e o consumo de energia carregam a maior responsabilidade, com mais de 70% das emissões, enquanto a atividade agropecuária, silvicultura e mudança de uso da terra é responsável por cerca de 18% da poluição climática. No Brasil, essa ordem se inverte: aqui, a agropecuária e o desmatamento são responsáveis por aproximadamente 75% das emissões de gases estufa, enquanto a produção e o consumo de energia são responsáveis por 18%.

Por país: os 10 países que mais emitem gases de efeito estufa são, nesta ordem, China, EUA, Índia, Rússia, Brasil, Indonésia, Japão, Irã, Canadá e Alemanha. O Brasil é o 5º maior poluidor climático do mundo.

Gráfico em inglês mostrando as emissões de gases do efeito estufa de 1850 a 2022, com aumento expressivo a partir da década de 60. São destacados os países: China, Estados Unidos (como mais poluentes), Índia, Rússia, Brasil, Indonésia, Japão, Irã, Canadá e Alemanha.

O que os responsáveis pela crise climática (não) estão fazendo: desde o início da era industrial, em meados do século 19, as emissões dos gases que estão mudando o clima têm aumentado progressivamente, junto com o crescimento no uso de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, transporte etc. Porém esse crescimento é muito mais acentuado nas últimas décadas – coincidentemente, quando o mundo já tinha comprovado seu impacto sobre o clima e já negociava um acordo climático global. Mesmo depois da assinatura do Acordo de Paris, as emissões continuam crescendo. 

Gráfico destaca as emissões de CO2 de combustíveis fósseis e mudanças do uso da terra, destacando emissões entre 1850 a 2022 de Total. A linha mais vertical é a total (combustíveis fósseis e mudança do uso da terra), seguido de combustíveis fósseis e, mais abaixo, mudança do uso da terra.

As empresas, setores e países responsáveis pela crise climática não estão agindo com a urgência necessária para evitar as piores consequências da mudança do clima. Não custa lembrar: tudo que estamos vivendo é consequência de um aquecimento global perto de 1,5oC, que é a meta mais conservadora do Acordo de Paris. Ou seja, é este nível de eventos climáticos que teremos se tudo der certo. Por isso, a hora de agir é agora.

Propostas de ação contra a crise climática

Para a sobrevivência das sociedades humanas é essencial que façamos a transição energética para um mundo movido a energia renovável. A tarefa não é fácil, mas é urgente. Em novembro de 2023, 61 organizações da sociedade civil brasileira apresentaram para os negociadores da Convenção do Clima reunidos em Dubai, na COP28, um conjunto de propostas para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Transcrevemos abaixo as propostas: 

  • Criar um plano global para a eliminação gradual da exploração e queima de combustíveis fósseis, visando à redução de pelo menos 43% até 2030 e 60% até 2035 abaixo dos níveis de 2019, liderado pelos países desenvolvidos e petroestados. O plano deve prever o fim da prospecção e da exploração de novas reservas de combustíveis fósseis, a eliminação gradual da produção e a eliminação progressiva do financiamento público e dos subsídios ao setor de petróleo, gás fóssil e carvão. 
  • Incluir neste plano um compromisso de não exploração de uma parcela significativa das reservas conhecidas. Reconhecendo seu papel histórico na crise climática, os países ricos e os petroestados devem ser os primeiros a abrir mão da exploração de petróleo, gás e carvão. • Incluir também cronogramas de descarbonização por região/país que estabeleçam metas e ditem o ritmo de abandono dos fósseis. 
  • Estabelecer zonas prioritárias de exclusão da proliferação dos combustíveis fósseis, protegendo ecossistemas críticos para a vida no planeta. A Amazônia deve ser uma destas zonas, tanto para a exploração onshore quanto para a offshore. 
  • Criar mecanismos financeiros que ultrapassem significativamente os 100 bilhões de dólares prometidos pelos países ricos e que permitam aos países pobres e de renda média descarbonizar suas matrizes energéticas e se adaptarem aos impactos de um clima cada vez mais extremo. 
  • Estabelecer um imposto global sobre os lucros inesperados do Big Oil e dos petroestados (países cuja economia é essencialmente centrada em combustíveis fósseis). 
  • Implementar a meta de ao menos dobrar o financiamento para adaptação até 2025, aumentando significativamente a proporção, a quantidade, a qualidade e a acessibilidade do financiamento para adaptação e perdas e danos, considerando a aplicação mais eficaz de recursos financeiros no nível local.
  • Criar mecanismos de troca da dívida externa dos países pobres e em desenvolvimento por ações de mitigação e adaptação à crise climática. 
  • Facilitar aos países pobres e em desenvolvimento o acesso às tecnologias de fontes renováveis de energia e de eficiência energética, liberando-as de patentes e outros entraves ao seu acesso.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Entenda as mudanças climáticas

Você irá compreender os seguintes tópicos: o que é emergência climática sob o ponto de vista científico; quais são as principais implicações das mudanças climáticas no nosso dia a dia; como se constitui a geopolítica do clima; e quais são as possíveis soluções para as
5 Aulas — 4h Total
Iniciar