ClimaInfo, 18 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA CAIU 16% NO ÚLTIMO ANO, MAS AINDA É MUITO ALTO E DESRESPEITA META DA LEI DE CLIMA

Sarney Filho anunciou ontem que o desmatamento na Amazônia caiu 16% entre agosto de 2016 e julho de 2017. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados pelo ministro mostram que o desmatamento no período, embora ainda muito elevado (6.624 km2), foi menor que o do período similar imediatamente anterior (7.893 km2). Segundo Sarney Fo, a queda é resultado da atuação do governo, mas nem todos concordam com isso.

O Observatório do Clima (OC) disse que “a desaceleração no desmatamento pode ser explicada em parte pela recomposição do orçamento do Ibama com recursos do Fundo Amazônia, o que permitiu a retomada da fiscalização em 2017, e em parte por fatores econômicos, como a queda do preço do boi”. E, jogando um balde de água fria na comemoração governamental, o OC lembrou que “o número é 70% maior do que determina a lei brasileira de clima, segundo a qual a devastação precisa baixar até 3.900 km2 até 2020”.

Em tempo: a área desmatada na Amazônia neste período é equivalente à área de todos os municípios da Grande São Paulo (7.947 km2).

https://g1.globo.com/natureza/noticia/desmatamento-na-amazonia-caiu-16-no-ultimo-ano-diz-ministro-do-meio-ambiente.ghtml

http://www.observatoriodoclima.eco.br/taxa-de-desmatamento-cai-mas-temer-segue-vendendo-amazonia/

 

O FRUTÍFERO EXEMPLO DO AÇAÍ

O climatologista Carlos Nobre escreveu um interessante artigo que usa a história do açaí para mostrar como a aplicação do conhecimento científico e de novas tecnologias podem ajudar no desenvolvimento econômico e social da Amazônia sem que a floresta tenha que ser derrubada. Nobre cita estudos do economista Francisco da Costa, da Universidade Federal do Pará, que mostram que hoje, entre os produtos de origem animal e vegetal da Amazônia, o valor dos derivados do açaí fica somente abaixo do da carne bovina e da madeira tropical, os principais vetores do desmatamento da Amazônia, e que, à taxa atual, chegará ao segundo lugar em alguns anos. Nobre lembra que “muitas centenas de produtos de biodiversidade na Amazônia já são conhecidos e usados, embora em pequena escala. Se pudessem seguir o exemplo do açaí, emergiria uma economia mais dinâmica, mais equitativa e poderosa… muito diferente da atual economia regional baseada em carne, madeira, grãos, energia e minerais que, por sua natureza, são concentradores da riqueza”. A conclusão de Nobre é que “ciência e tecnologia podem desvendar os ativos biológicos incomparáveis ​​escondidos na biodiversidade amazônica, alavancando inúmeras novas indústrias biológicas e serviços em um caminho inovador para a bioeconomia do futuro”.

E viva o açaí!

http://www.wri.org/blog/2017/10/brazils-fruitful-example-acai

 

OPORTUNIDADE PARA A REDUÇÃO DA EMISSÃO DE POLUENTES VEICULARES

O Ibama colocou em consulta pública as resoluções referentes às novas fases do PROCONVE, o programa que estabelece limites de emissão de poluentes para veículos novos leves e pesados de uso rodoviário, e do PROMOT, que faz o mesmo para motocicletas e veículos similares.

As primeiras fases destes programas foram fundamentais para a redução das emissões de poluentes dos veículos produzidos no Brasil desde a década de 90, mas suas metas estão defasadas em relação aos mercados internacionais.

A ver se as minutas propõem limites próximos aos respeitados pelas montadoras nos países ricos. Especialistas: mãos à obra!

http://www.ibama.gov.br/consultas/consulta-publica?platform=hootsuite

 

VOLKSWAGEN FABRICARÁ CAMINHÕES ELÉTRICOS NO RIO DE JANEIRO

A MAN Caminhões, braço da Volkswagen para veículos pesados, apresentou na semana passada, na Alemanha, o e-Delivery, um pequeno caminhão elétrico para transporte urbano de cargas, que foi desenvolvido pelo centro de pesquisas da montadora, instalado em Resende, em conjunto com as empresas WEG, Eletra e Enel Energia. O presidente da MAN na América Latina, Roberto Cortes, disse que o caminhão elétrico será testado no Brasil a partir de 2018 e deve chegar aos mercados da América Latina e da África em 2020. O modelo faz parte de um plano que prevê investir R$ 1,5 bilhão no Brasil até 2021. Cortes disse também que o e-Delivery tem uma autonomia de 200 quilômetros, adequada ao uso urbano, e que a carga completa das baterias leva três horas, mas que, em 15 minutos, o caminhão já tem 30% da carga total.

https://oglobo.globo.com/economia/volks-fabricara-caminhao-eletrico-no-rio-21938930

http://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/rodas/2017/10/1926808-volks-apresenta-caminhao-que-dispensa-necessidade-de-habilitacao-especial.shtml

 

PETRÓLEO ABAIXO DOS US$ 10 POR BARRIL?

Dentro de seis ou oito anos o petróleo será cotado a apenas US$ 10 por barril, já que a energia solar e a eólica estão a atrair mais e mais investidores. Esta previsão foi feita por Chris Watling, diretor executivo da consultoria financeira Longview Economics, em entrevista ao canal de TV CNBC, na 6apassada. Watling não espera um declínio tão intenso nos preços do petróleo nas próximas semanas ou meses, mas disse que, no longo prazo, “o que acontece com os veículos elétricos é realmente muito importante”, já que cerca de 70% do petróleo é usado para o transporte.

https://www.msn.com/en-us/money/markets/oil-will-crash-to-10-a-barrel-with-electric-vehicle-revolution-strategist-says/ar-AAtpSSK?ocid=ob-fb-enus-280

http://www.longvieweconomics.co.uk/news/post/financial-express-16th-october-2017

 

E A SHELL VAI SE PREPARANDO PARA OS VEÍCULOS ELÉTRICOS

A Shell anunciou na 5a feira passada que adquirirá a NewMotion, uma operadora europeia de estações de recarga de veículos elétricos, para dar um empurrão na incorporação da tecnologia em muitos dos seus 45 mil postos de serviço. A NewMotion já construiu mais de 30 mil estações de recarga privadas e outras 50 mil públicas em toda a Europa. Em comunicado à imprensa, Matthew Tipper, vice-presidente da Shell para Novos Combustíveis, disse que a corporação busca com isso “garantir que seus clientes possam acessar uma variedade de opções de reabastecimento nas próximas décadas, à medida que as novas tecnologias evoluam para coexistir com os combustíveis tradicionais do transporte”.

A Shell parece concordar com os analistas da Bloomberg New Energy Finance quando estes preveem que um terço dos automóveis em todo o mundo será elétrico até 2040, o que deverá reduzir a demanda por petróleo em cerca de 8 milhões de barris por dia.

http://thehill.com/policy/energy-environment/355105-oil-giant-shell-buys-leading-operator-of-electric-vehicle-charging

 

OXFORD SEM CARROS POLUENTES, PARIS SEM CARROS FÓSSEIS E CIDADES SEM CARRO ALGUM

Oxford quer criar a primeira “zona de emissão zero” da Grã-Bretanha e, para isto, vai banir de seu centro os veículos a gasolina e diesel. A partir de 2020, somente veículos elétricos serão permitidos em um número progressivamente maior de ruas na cidade.

Em Paris, Anne Hidalgo já tinha prometido tirar todos os carros à diesel da cidade até 2024. Agora estendeu o plano e quer eliminar todos os carros movidos a combustíveis fósseis até 2030. Hoje, 60% dos parisienses não têm carro. É uma moda que parece pegar, e rápido.

Mas carros elétricos não resolvem todos os problemas da poluição veicular, muito menos os da mobilidade urbana, alertam os autores do livro Faster, Smarter, Greener: The Future of the Car and Urban Mobility. Em artigo para o The Guardian, eles lembram que em muitos países a energia elétrica é ainda gerada pela queima de fósseis para corroborar o argumento sobre a poluição. E sobre a questão da mobilidade, apontam o enorme espaço urbano dedicado aos automóveis, os subsídios dados a estes veículos pelos baixos impostos cobrados (quando comparados ao efetivo uso do espaço urbano), o tempo de vida e de trabalho perdido em enormes congestionamentos – e outras questões – para concluir que o carro elétrico não é a única resposta para que as cidades sejam mais rápidas, inteligentes e “verdes”. Os autores dizem que é necessário usar tecnologia e empreendedorismo para garantir um futuro urbano justo, inclusivo e alinhado com o bem comum.

Nos parece que eles esqueceram da dimensão política e dos interesses econômicos em jogo.

https://www.thetimes.co.uk/edition/news/oxford-will-be-first-british-city-to-ban-all-polluting-vehicles-8hqvjbt0m

http://www.francetvinfo.fr/economie/automobile/diesel/info-franceinfo-la-mairie-de-paris-s-apprete-a-annoncer-l-interdiction-des-voitures-a-essence-a-partir-de-2030_2414703.html

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/16/our-cities-need-fewer-cars-not-cleaner-cars-electric-green-transport

https://mitpress.mit.edu/books/faster-smarter-greener

 

CARROS MOVIDOS A DIESEL EMITEM MAIS QUE OS A GASOLINA

Os carros a diesel, que dominam o mercado europeu, emitem uma grande quantidade de poluição tóxica na forma de óxidos de nitrogênio (NOx). Isto já era bastante conhecido, mas pensava-se que eles emitem menos CO2 e, portanto, seriam melhores do que os carros a gasolina para o clima. Só que não. Um estudo que avaliou e comparou o total das emissões dos dois tipos de motores durante todo o ciclo de vida dos motores e combustíveis encontrou que os carros a diesel normalmente causam mais emissões de CO2 do que os carros a gasolina. Isso porque refinar o diesel é mais intensivo em energia do que refinar gasolina, porque os veículos rodam mais durante sua vida útil por usarem um combustível mais barato e porque seus motores são mais pesados.

O estudo foi feito para as condições europeias pela Transport & Environment, a mesma que deflagrou com seus estudos o dieselgate que arrasou a imagem da VW na Europa e nos EUA.

Não encontramos estudos similares feitos para as condições brasileiras, mas os resultados dão uma boa indicação do que aconteceria se os motores a diesel fossem liberados para veículos leves no mercado brasileiro, como quer um lobby que há anos atua no congresso.

https://www.transportenvironment.org/press/dirty-diesel-also-worse-climate-petrol-cars-study

 

O SUPER EL NIÑO DE 2015-16 FOI RESPONSÁVEL PELO MAIOR AUMENTO DE CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA JÁ REGISTRADO EM UM ANO

Dados de um novo satélite da NASA atribuem ao super El Niño recente um recorde de aumento de CO2 na atmosfera. Em 2015, as emissões de CO2causadas pela humanidade aumentaram sua concentração de carbono em 3,03 partes por milhão, o maior aumento em um ano registrado desde que os cientistas começaram a rastrear as emissões no Havaí em 1959. Os dados do Orbiting Carbon Observatory-2, lançado pela NASA em 2014, forneceram detalhes sobre como o El Niño influenciou neste aumento.

O super El Niño levou a um aumento de 3 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera, a maioria proveniente de áreas tropicais. Analisando os dados do satélite, os pesquisadores descobriram que em partes da América do Sul atingidas pela seca, as plantas cresceram menos, houve mais incêndios na Ásia, e houve uma maior taxa de decadência de folhas na África. Normalmente, cerca de 25% das emissões antrópicas de carbono são sugadas por plantas em terra, mas durante o super El Niño isso só aconteceu com 5% destas emissões. Por seu lado, os oceanos aumentaram sua capacidade de sugar carbono, mas não o suficiente para compensar o déficit em terra.

Jonathan Overpeck, da Universidade de Michigan, disse que os resultados suscitam preocupação sobre como a Terra responderá a mais aquecimento no futuro. À medida que o mundo aquece, os trópicos podem aumentar o lançamento de carbono à atmosfera, ao invés de tirá-lo do ar, e as emissões de incêndios florestais provavelmente se tornarão mais graves. E algumas simulações feitas em computador sugerem que a frequência dos eventos El Niño aumentará no futuro com as mudanças climáticas.

Neste sentido, o super El Niño de 2015-16 é um vislumbre do que está por vir.

https://apnews.com/9bf263d85d7f402981686a739df68200/Another-El-Nino-problem:-More-carbon-dioxide-in-air