ClimaInfo, 17 de outubro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

SEEG LANÇA ESTIMATIVA DAS EMISSÕES NACIONAIS DE 2016 NO FINAL DESTE MÊS – INSCREVA-SE

A mais recente atualização do SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa, organizado pelo Observatório do Clima, será lançada neste mês. Em sua 5a edição, o SEEG trará as emissões por estado, por setor de atividade e por gás emitido entre 1970 e 2016. Os dados serão apresentados pelas organizações responsáveis por cada categoria de emissões: o desmatamento, pelo Imazon; a agropecuária, pelo Imaflora; a energia e indústria, pelo IEMA; e os resíduos, pelo ICLEI.

Depois do coffee-break, o OC organiza uma mesa redonda sobre as consequências de ultrapassarmos 1,5°C de aquecimento em relação ao período pré-industrial e o que é preciso fazer para não chegarmos lá, com a participação de André Baniwa, Jean Ometto, José Marengo, Alfredo Sirkis, Sônia Bridi e Carlos Rittl. A mediação será de Paulina Chamorro.

Dia 26/outubro, das 09:00 – 12:45

Teatro Dr. Botica, Shopping Tatuapé, Metrô Tatuapé (linha vermelha)

Inscrições no link abaixo:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdw33Hzl5bWbpnRzvrIUVtHgLrYO31lXQEa-0JsuOA2lwkxfA/viewform

 

PROPRIETÁRIOS RURAIS DEVEM QUASE R$ 30 BILHÕES SÓ DE IMPOSTO TERRITORIAL

Em cinco anos, a sonegação rural subiu 50%, já descontado o aumento da SELIC. Isso soma R$ 28,5 bilhões que os distintos simplesmente não pagaram. Só os 100 maiores devedores penduraram mais da metade, R$ 15,6 bilhões. Além do ITR, a dívida dos proprietários rurais para com o Funrural chega a R$ 10 bilhões. O governo “desconfia” que muita gente não recolheu nada neste ano, por acreditar que a bancada ruralista conseguirá uma anistia ampla geral e irrestrita. Para comparar, essa dívida é quase do tamanho do orçamento anual do Bolsa Família. Em julho, Temer cancelou o aumento previsto para o programa. Afinal, o bolsa ruralista certamente rende mais votos no congresso. E a bancada continua pressionando o presidente por uma anistia das dívidas e pela proibição de cobranças retroativas.

Mais uma vez essa gente trata como trouxa a parte da população que paga os impostos. Mas na hora de pedir para aumentar o Plano Safra (R$ 190 bilhões este ano) vem batendo no peito dizendo serem o único setor que cresce no país. Sonegando fica mais fácil.

Em tempo: aproveitando a faca que mantém no pescoço do Temer, a bancada ruralista conseguiu que ele assinasse uma mexida na lei que caracteriza o trabalho escravo. Ficou mais complicado libertar o escravo e processar o capitão do mato, o feitor e o dono da casa grande. Tudo o que queria a parte mais retrógrada do agronegócio (e algumas grifes de roupas).

Em tempo 2: a FPA, Frente Parlamentar da Agropecuária, jura não ter participado “de nenhuma tratativa com o Poder Executivo sobre o assunto”. Sobra, então, a alternativa do executivo ter tratado de agradá-los antes mesmo das tratativas.

Em tempo 3: A FPA convidou seus membros para um almoço, hoje, em Brasília, com o prefeito de São Paulo, João Doria. Deve ser por causa da pujante lavoura da capital paulista. Em setembro, foi o outro quase candidato à presidência do PSDB, o governador Geraldo Alckmin, quem almoçou com a bancada ruralista.

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/10/16/divida-de-proprietarios-rurais-com-itr-cresce-49-e-chega-a-r-285-bi.htm

https://oglobo.globo.com/brasil/enquanto-relator-apresentava-parecer-na-ccj-temer-ouvia-pedidos-de-ruralistas-21933909

https://www.poder360.com.br/brasil/governo-dificulta-acesso-a-lista-suja-do-trabalho-escravo/

https://www.facebook.com/fpagropecuaria/photos/a.220566654734389.1073741828.145608108896911/594521827338868/?type=3

 

DESIGUALDADE TAMBÉM NA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

O Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio, parte da CPI (Climate Policy Initiative), fez um estudo sobre a penetração dos painéis fotovoltaicos nos telhados brasileiros. A principal conclusão, que não chega a surpreender, é que os municípios com maior insolação média anual estão localizados em regiões pobres e de baixa densidade populacional e, assim, têm poucos ou nenhum sistema fotovoltaico instalado. Já os municípios mais ricos, com mais gente, são os que têm mais sistemas instalados, mesmo com uma insolação relativamente baixa. Junto a isso, constataram que existem mais sistemas onde a tarifa é mais alta. A essa altura, mais de 25% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma placa instalada em algum lugar. A recomendação mais relevante foi a de “incorporar o incentivo às fontes renováveis de energia às estratégias de desenvolvimento voltadas para as regiões mais pobres do país, as quais também possuem o maior potencial solar”. O trabalho cruzou dados solarimétricos do último Atlas e os dados socioeconômicos dos municípios do IBGE.

https://climatepolicyinitiative.org/wp-content/uploads/2017/10/CPI_Resumo_Geração_fotovoltaica_distribuída.pdf

 

CRESCE A EXTRAÇÃO DE ÓLEO E GÁS DO PRÉ-SAL ENQUANTO CAI A DE OUTRAS BACIAS

Neste ano, o Brasil está extraindo petróleo e gás como nunca, uma média de 3,3 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia, 17% a mais do que em 2014. Hoje, o pré-sal da Bacia de Santos está produzindo quase um milhão de BOE/dia compensando a queda da produção nas bacias de Campos, Sergipe-Alagoas, Potiguar e Recôncavo, e a intermitência da extração de gás natural da província de Parnaíba, no Maranhão. O gás do Maranhão vai direto para um parque de térmicas a gás que só entra em operação por instrução do Operador Nacional do Sistema Elétrico.

O pessoal fóssil não dá ainda nenhum sinal de que a mudança do clima possa ser um problema sério e de que suas reservas correm o risco de assim permanecerem por muito tempo.

http://www.valor.com.br/empresas/5156472/pre-sal-sustenta-sozinho-alta-da-producao-nacional-de-oleo-e-gas#

 

CHEVRON PARA DE EXPLORAR NA AUSTRÁLIA

A petroleira Chevron anunciou que se juntou à BP na decisão de abandonar os planos de exploração de petróleo na Grande Baía da Austrália, ao sul do continente. São águas profundas e muito turbulentas e, talvez, o preço do barril de petróleo não justifique o risco e o investimento. Parte do governo conservador e a associação das indústrias fósseis lamentaram a saída das duas. Das grandes, só a Statoil norueguesa mantém o propósito de explorar petróleo por lá.

http://www.abc.net.au/news/2017-10-13/chevron-abandons-oil-drilling-on-great-australian-bight/9045870

 

CANADÁ E REINO UNIDO JUNTOS PARA ENTERRAR O CARVÃO

Na semana passada o Reino Unido e o Canadá desafiaram o resto do mundo a tirarem o carvão de suas matrizes energéticas. Ajuda a contar vantagem o fato do carvão representar menos de 10% da geração de eletricidade nos dois países. Não passou despercebido que os dois não mencionaram o petróleo do Mar do Norte e o óleo pesado das turfeiras no Ártico canadense. Em todo caso, nesse clima pré-COP-23, a declaração conjunta serve para esquentar os ânimos.

Mesmo assim, o The Guardian publicou uma matéria sobre a imprecisão ou mentira descarada que anda grassando no noticiário sobre o carvão. Por exemplo, propagou-se que havia 621 térmicas a carvão em construção no momento, incluindo 299 na China e 132 na Índia. À rigor, a China está construindo 74 e expandindo outras 46. A Índia está construindo 19 e expandindo outras 26. No total são 153 em construção e 113 em expansão. A história das 621 apareceu na Austrália, onde o lobby do carvão divulgou uma notícia falando das 621 para contrastar com nenhuma em construção no país, na linha de “se o mundo todo está construindo, porque não aqui?” Pelo jeito, o carvão está tão enterrado que precisa de notícias falsas para tentar uma sobrevidazinha.

http://www.climatechangenews.com/2017/10/11/uk-canada-announce-global-alliance-end-coal-power/

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/16/world-going-slow-coal-misinformation-distorting-facts

 

O INUSITADO FURACÃO OPHELIA MATA NA IRLANDA E PÕE FOGO EM PORTUGAL E ESPANHA

Como outros nessa estação, o furacão Ophelia vem com uma série de ineditismos. Ele é o 15º, desde 1851, a rumar para o norte, passar perto dos Açores, dar uma viradinha para a direita e passar por cima da Irlanda e, amanhã, da Escócia. Rebaixado para a categoria de ciclone pós-tropical, com ventos que chegaram a atingir 185 km/h, chegou à terra a 130 km/h e causou três mortes na Irlanda. É, de longe, o mais forte desde 1961. E é a décima tempestade tropical a virar furacão nesta estação. A última vez que isso foi registrado foi em 1893. A estação de furacões termina em novembro. Nunca na história dos registros, se formaram onze furacões na mesma estação.

Uma parte externa do ciclone passou pelo norte de Portugal e Espanha, onde, com ventos muito secos, ajudou a propagar incêndios em proporções tais que o domingo foi “o pior dia do ano” segundo declarações de bombeiros à mídia portuguesa. A contagem de mortos em Portugal chegou a 36 até ontem à noite, e ainda procuram-se sete desaparecidos, além de dezenas de feridos. Na Galícia, no noroeste da Espanha, foram quatro mortes. Suspeita-se que o incêndio começou com a queda de um cabo de alta tensão e o foco inicial foi se multiplicando carregado pelos ventos fortes.

http://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/pior-dia-do-ano-de-incendios-diz-adjunta-da-protecao-civil

https://politica.elpais.com/politica/2017/10/16/actualidad/1508142860_569299.html

http://internacional.estadao.com.br/galerias/geral,portugal-e-espanha-sofrem-com-incendios-florestais,34493

http://www.independent.co.uk/news/world/europe/ophelia-hurricane-storm-latest-news-updates-path-england-ireland-wales-forecast-a8003671.html

https://www.irishtimes.com/news/ireland/irish-news/why-is-hurricane-ophelia-so-powerful-and-why-is-it-heading-for-ireland-1.3257073

 

A GEOENGENHARIA É UM BECO SEM SAÍDA

Na semana passada, aconteceu a Climate Engineering Conference, em Berlin, onde foram discutidas as soluções de geoengenharia e os riscos e problemas de sua aplicação. O princípio das tais soluções não é evitar a emissão de CO2 e outros gases de efeito estufa, mas, sim, inventar meios de retirar esses gases da atmosfera, ou de evitar que a parte da energia do Sol que chega à superfície do planeta fique presa por esses gases. O problema maior é que para frearem o aquecimento global, essas soluções precisam ser aplicadas em escala planetária. Refletir a luz do Sol antes de chegar à superfície demanda espelhinhos pairando no ar pelo menos na faixa entre os trópicos; acelerar a absorção de CO2 pelos oceanos demanda muito ferro solúvel no mar. Então, o primeiro dilema que aparece é a governança desses sistemas, posto que seu alcance é obrigatoriamente internacional. E, nessa Conferência, uma das preocupações é que gente instável como o presidente norte-americano – instável emocionalmente mas detentor de tecnologia e recursos – querer salvar a América primeiro. Eduardo Viola, da UnB, e Paulo Artaxo, da USP, participaram e voltaram convencidos de que ainda falta muito para que qualquer dessas soluções prove sua viabilidade. Viola acha que, talvez um dia, na segunda metade do século, alguma dessas ideias venha a ser importantes para conter/reduzir o aquecimento da atmosfera. Assim, defende que as pesquisas científicas continuem e que uma governança internacional possa ser desenvolvida e acordada. Já Paulo Artaxo tem uma visão mais direta: nenhuma solução provou que pode funcionar e os riscos de danos colaterais são enormes. Para ele, a única opção é reduzir drasticamente as emissões.

https://www.project-syndicate.org/commentary/climate-change-geoengineering-false-promise-by-barbara-unmuessig-2017-10

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/14/geoengineering-is-not-a-quick-fix-for-climate-change-experts-warn-trump

https://www.boell.de/sites/default/files/etc_hbf_geoeng_govern_usletter_sept2017_v4_1.pdf

 

CORRIDA DE CARROS SOLARES NUM PERCURSO DE 3.000 km

A cada dois anos, desde 1987, acontece na Austrália uma prova para veículos movidos a energia elétrica gerada em painéis fotovoltaicos. Eles têm que percorrer os 3.000 km de muito deserto desde Darwin, no litoral norte, até Adelaide, no sul. Neste ano, 41 carros participaram e o holandês Nuna 9 ganhou pela terceira vez consecutiva com uma velocidade média de 82 km/h. Dessa vez, ao lado de carros desenhados especialmente para a prova competiram com carros com jeito mais “família”, mostrando que a tecnologia já está pronta para rodar.

https://www.theguardian.com/environment/2017/oct/15/this-is-the-future-solar-powered-family-car-hailed-by-experts

 

EÓLICAS OFFSHORE E A BIODIVERSIDADE DO MAR DO NORTE

Ao longo da costa norte da Europa, vão sendo construídos parques eólicos cada vez maiores em tamanho e quantidade. A Bloomberg estima que a capacidade instalada lá e no resto do mundo deve quadruplicar até 2025. E cada vez mais colônias de mexilhões estão crescendo nas enormes colunas de sustentação das turbinas. Em uma plataforma experimental, pesquisadores colheram 4,3 toneladas de mexilhões. Essa multiplicação de mexilhões vai competir pelo plâncton com anêmonas, vieiras e medusas que são base de toda uma cadeia alimentar. Por outro lado, os mexilhões são iguaria para estrelas do mar, focas, gaivotas e pessoas, segundo o artigo da Economist, especialmente os belgas. Ainda é cedo para dizer como e quanto os parques eólicos vão afetar a biodiversidade do Mar do Norte, mas os sinais já são fortes.

https://arxiv.org/pdf/1709.02386.pdf

https://www.economist.com/news/science-and-technology/21730129-flexing-mussels-offshore-wind-farms-will-change-life-sea