ClimaInfo, 30 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

MAIORIA DOS PRESIDENCIÁVEIS ESQUECE A AMAZÔNIA

Mais de duas décadas após os assuntos ambientais entrarem definitivamente na agenda política brasileira, os programas de governo dos cinco candidatos mais bem cotados ao Palácio do Planalto mostram que apenas a necessidade da diversificação das fontes de energia – e a aposta nas renováveis – são um consenso. Estratégias de defesa da Amazônia, curiosamente, só são citadas com algum detalhe nos documentos dos candidatos do PT (Lula/Haddad) e do PSDB (Alckmin). Marina Silva (Rede) fala em proteger biomas, sem destacar textualmente a floresta que exerce papel fundamental na regulação do clima global. Bolsonaro é o candidato menos afeito a propostas na área da sustentabilidade: diz apoiar celeridade nos licenciamentos de hidrelétricas, mas nada fala [em seu programa] sobre o Acordo de Paris, defesa de populações tradicionais e saneamento.

https://projetocolabora.com.br/meio-ambiente/presidenciaveis-esquecem-amazonia

 

QUALQUER PROJETO DE FUTURO TEM QUE MIRAR A BIODIVERSIDADE

Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental, lembra no El País que ao longo do próximo mandato presidencial se esgotarão os primeiros prazos para o cumprimento das metas climáticas definidas pelo Brasil junto ao Acordo de Paris; lembra também que durante o próximo mandato deverá ser concluída a destinação pelos governos de terras devolutas na Amazônia e em outras regiões do país. Este dois temas se interligam e precisam ser abordados na definição de um projeto de país, coisa essencial para a superação da crise múltipla e profunda que atravessamos. Para Santilli, não faz sentido separar produção e conservação dos ecossistemas frente à crise climática que se agrava: “O desmatamento (não compensado) é um tiro no pé da produção agropecuária. Isso não é retórica, nem teoria: apesar de o Brasil dispor do maior estoque de água doce do mundo, as crises hídricas deixaram de ser um problema nordestino e estão atacando São Paulo, Brasília e outras regiões, ameaçando as condições de vida. Há focos de desertificação em expansão em várias partes do território nacional”.

Santilli mostra que alguns dos candidatos apresentam programas de governo que colocam a agenda socioambiental como um dos seus elementos centrais: “Transversalidade”, “Transição Ecológica”, “Eco-Socialismo”, “Economia Pós-Carbono”, “Sustentabilidade”. Outros, porém, enfatizam a retomada do crescimento econômico, como se houvesse na história recente algum paradigma a retomar, ignorando os imensos desafios desse século, que demandam projetos apropriados de desenvolvimento.

Para Santilli, “qualquer presidente eleito, ainda que não saiba ou não entenda a importância estratégica [das populações tradicionais], seus territórios e produtos, vai se defrontar com a crise climática e suas consequências. Qualquer estratégia nacional frente a essa crise pode dispor desses recursos como ativos. Ignorando-os, ou encarando-os apenas como passivos, estará sujeito a administrar só uma sucessão interminável de conflitos. Quem não faz, leva!”

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/08/27/opinion/1535331221_019713.html  

 

VIABILIDADE E DIFICULDADE DO FINANCIAMENTO SOLAR

Um estudo feito pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGVces) para a Febraban analisou a viabilidade do financiamento de projetos fotovoltaicos em quatro estados: São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraíba. Minas apresentou o menor tempo de retorno para os investimentos, devido ao alto valor da tarifa de energia (R$0,78/kWh) e, também, ao alto grau de irradiação solar. Na sequência, vêm Goiás, São Paulo e Paraíba. São Paulo tem o menor custo de capital devido à maior proximidade dos locais de implantação/importação dos equipamentos e a melhor qualificação de mão de obra. Contudo, o tempo de retorno no estado é relativamente alto devido à tarifa de energia elétrica mais baixa, da ordem de R$ 0,59/kWh, e a uma menor irradiação solar. A Paraíba apresenta o maior tempo de retorno devido à maior distância dos locais de implantação/importação dos equipamentos, o que impacta negativamente os custos de instalação, e pela escassez de mão de obra qualificada, embora possua irradiação solar e potencial de mercado considerados bons.

O financiamento continua sendo um problema para o setor. Enquanto os empreendedores demandam novas e melhores formas de financiamento das usinas, os bancos ainda pedem a apresentação de garantias para a liberação de recursos muitas vezes fora do alcance das empresas do setor.

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53072241/solar-distribuida-ainda-enfrenta-dificuldades-com-financiamento

 

PROJETO-PILOTO PRODUZIRÁ QUEROSENE DE AVIAÇÃO RENOVÁVEL

A ANP e a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GIZ) instalarão no Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas da ANP (CPT), em Brasília, uma planta-piloto para a produção de querosene paranífico a partir de fontes renováveis de CO2 e com o emprego de energia solar. Segundo comunicado da ANP, este tipo de querosene pode hoje, legalmente, ser misturado em até 50% no querosene fóssil de aviação, reduzindo parte das 20 milhões de toneladas de CO2 emitidas por ano no tráfego aéreo brasileiro.

http://www.anp.gov.br/noticias/4704-anp-combustivel-renovavel-aviacao

 

TRAPAÇAS DAS MONTADORAS NOS TESTES DE CONSUMO CUSTAM BILHÕES AOS MOTORISTAS EUROPEUS

Desde o ano 2000, os motoristas europeus gastaram € 150 bilhões a mais em combustível do que teriam feito se seus carros tivessem nas ruas e estradas o mesmo desempenho dos testes oficiais de laboratório. Os analistas da organização Transport & Environment, a mesma que alertou para o ‘dieselgate’ da VW, dizem que as montadoras trapaceiam nos testes oficiais de economia de combustível, por exemplo, “usando pneus muito duros durante os testes ou retirando equipamentos para deixar os carros mais leves”. Segundo a T&E, de 2000 até hoje, a diferença entre os testes e o desempenho real subiu de 9% para 42%.

Se fazem isto na rígida Europa, pode-se imaginar o que fazem neste país tropical.

https://www.theguardian.com/environment/2018/aug/29/carmakers-gaming-of-emissions-tests-costing-drivers-billions

 

LOBBY DA DUPONT BUSCOU EVITAR DIFUSÃO DO USO DE GASES REFRIGERANTES NATURAIS AMIGÁVEIS AO CLIMA

Documentos oficiais da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA mostram que a Chemours Company (spin-off da DuPont) buscou apoio do governo Trump para liberar rapidamente os seus novos gases refrigerantes HFOs, e para evitar a proliferação do uso de alternativas mais ecológicas. Depois da emenda Kigali feita ao Protocolo de Montreal, no final de 2016, o mundo todo corre para substituir os gases refrigerantes HFCs utilizados nos refrigeradores, condicionadores ambientais e equipamentos similares, gases milhares de vezes mais potentes que o CO2 na retenção de calor na atmosfera. Em busca do domínio deste novo mercado aberto pelo combate ao aquecimento global, a Chemours investiu centenas de milhões de dólares para desenvolver e patentear os HFOs (hidrofluorolefinas). O problema da empresa, é que existem gases naturais (não patenteados), que fazem a mesma tarefa. Daí o pedido à EPA para que esta “ajudasse a proteger a liderança dos EUA no espaço [dos gases refrigerantes] e protegesse os novos investimentos americanos significativos feitos pela empresa”. Em carta enviada ao governo dos EUA, a Chemours reconhece que os gases refrigerantes naturais “podem de fato ser preferidos para alguns usos e tipos de equipamentos”, mas os descreve como tendo “baixo desempenho energético, custos operacionais mais altos e riscos severos de segurança”. No entanto, especialistas disseram à The Intercept que, enquanto alguns dos sistemas de resfriamento que usam gases refrigerantes naturais podem ser mais caros do que os sistemas baseados em HFOs, muitos são menos caros e as substâncias em si, que não são patenteadas, sempre custam menos que os HFOs. E, embora os refrigerantes naturais propano e iso-butano sejam inflamáveis, os HFOs também o são.

https://theintercept.com/2018/08/25/chemours-epa-coolant-refrigerant-dupont/

 

ELETRICIDADE CALIFORNIANA 100% RENOVÁVEL ATÉ 2045

A Assembleia Legislativa da Califórnia aprovou uma lei determinando que 100% da eletricidade fornecida ao estado venha de fontes renováveis até 2045. A nova lei exige, também, que as concessionárias ofertem metade da energia a partir de fontes renováveis em 2026, quatro anos antes do atual cronograma. Se for sancionada pelo governador Jerry Brown, como esperado, a Califórnia se unirá ao Havaí, o primeiro estado dos EUA a aprovar a ideia, e os legisladores dizem que isso pode influenciar Massachusetts, Nova Jersey, Nova York e Washington. http://www.latimes.com/politics/la-pol-ca-renewable-energy-goal-bill-20180828-story.html

 

COMO A CALIFÓRNIA PODERIA PROTEGER A AMAZÔNIA

O climatologista Michael Oppenheimer e o antropólogo e velho amigo da Amazônia Steve Schwartzman, defenderam ontem, em um artigo de opinião publicado no New York Times, que o governador da Califórnia, Jerry Brown, aproveite o Global Climate Action Summit que acontece no próximo mês em São Francisco para marcar os avanços que fez pelo clima e, também, para medir o quanto ainda falta ser feito. Em particular, Oppenheimer e Schwartzman defendem que o estado contribua para a preservação dos estoques de carbono das florestas tropicais por meio de seu sistema de mercado cap and trade. Eles recomendam que o governador direcione os membros do California Air Resources Board a incluir as florestas tropicais na atualização das regras de mercado que devem ser publicadas em breve: “Este seria um passo extremamente importante para estabilizar o clima global, fortalecer as comunidades indígenas e suas culturas e proteger a frágil e incrível biodiversidade dessas florestas”.

https://www.nytimes.com/2018/08/29/opinion/california-climate-save-amazon.html

 

“GENTRIFICAÇÃO CLIMÁTICA” ATINGE COMUNIDADES DE MIAMI

Na mesma semana em que a restinga da Ilha do Cardoso se quebrou em duas no litoral de SP, entre outras razões pela elevação do nível do mar e pela intensificação das ressacas, uma notícia vinda da Flórida mostra que a subida do nível do mar, por lá, está direcionando os investimentos imobiliários para áreas mais altas da cidade, o que está provocando a gentrificação do bairro Little Haiti. Um fluxo repentino de investimentos destinados a famílias abastadas naquele bairro, que é mais alto do que a linha de costa e é hoje predominantemente ocupado por imigrantes do Haiti, está expulsando os locais. Numa audiência pública feita nesta 2a feira, na prefeitura de Miami, líderes comunitários disseram como a mudança climática está modificando a demografia histórica da cidade, na qual os ricos tradicionalmente valorizaram propriedades em frente às praias. Propriedades agora ameaçadas. “Foi na colinas que, no passado, assentamos os pretos e pardos”, disse Caroline Lewis, diretora do Instituto CLEO. “E, de repente, porque agora os que vivem na linha do Atlântico e em Everglades estão sendo inundados pelas marés, adivinhe onde todo mundo quer viver? Nas colinas, claro. Então, adivinhe quem está sendo desalojado? Os pretos e os pardos”.

https://thinkprogress.org/little-haiti-florida-tps-trump-climate-gentrification-46ae3040ba92/   https://www.cnbc.com/2018/08/29/climate-gentrification-is-changing-miami-real-estate-values.html

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