ClimaInfo, 30 de outubro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O NOVO GOVERNO COMEÇA A MONTAR SEU MINISTÉRIO

Bolsonaro definiu ontem quatro ministros: Paulo Guedes, no superministério que junta Fazenda e Planejamento; o general Augusto Heleno, na pasta da Defesa; o deputado Onyx Lorenzoni, na Casa Civil; e o astronauta Marcos Pontes, na Ciência. Pelo que se diz na mídia, Bolsonaro desistiu de juntar Agricultura e Meio Ambiente e de anexar a Indústria e Comércio ao ministério de Guedes. Resta ver se consegue enxugar a Esplanada dos Ministérios para as prometidas 15 pastas.

Em tempo 1: muita gente manteve as barbas de molho em relação à promessa de montagem de um ministério técnico e sem troca de cargos por apoio no congresso.

Em tempo 2: pela oscilação do dólar de ontem, a definição da sua estrutura de governo é aguardada com uma certa ansiedade pelo mercado.

https://epbr.com.br/bolsonaro-confirma-quatro-ministros-para-seu-governo

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/reestruturacao-de-ministerios-sera-primeira-medida-da-gestao-bolsonaro.shtml

 

O NOVO GOVERNO E A CIÊNCIA

O provável Ministro da Ciência e Tecnologia disse outro dia que batalhará para que Bolsonaro cumpra o prometido e coloque R$ 10 bilhões no orçamento da pasta. O orçamento de 2018 é de pouco mais de R$ 4 bilhões. Existem várias definições a serem tomadas nos próximos meses. Onde no mapa dos ministérios do futuro governo ficará ciência e tecnologia? Junto com as comunicações, como sob Temer? Voltará a ser um ministério autônomo, mesmo tendo Bolsonaro prometido cortar o número de ministérios para 15? E o desejo de vender todas as estatais externado por Paulo-posto-ipiranga-Guedes? Na lista estão a Embrapa, uma parte científica do programa nuclear e outros núcleos que desenvolvem ciência, tecnologia e inovação. Se não encontrar “comprador interessado”, fecham?

No processo de desenvolvimento de todos os países ricos, o investimento em ciência sempre deu frutos. Um país sem um pensar científico vivo e pulsante tem pernas curtas.

https://www.nature.com/articles/d41586-018-07220-4

https://aovivo.folha.uol.com.br/2018/10/29/5583-aovivo.shtml#post384542

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/10/bolsonaro-diz-que-astronauta-deve-ser-ministro-da-ciencia-e-promete-r-10-bi-para-pasta.shtml

 

O NOVO GOVERNO E O MEIO AMBIENTE

O meio ambiente ocupou um lugar de destaque nessa campanha eleitoral e foi motivo de um dos recuos aparentes no discurso de Bolsonaro. Parece que ele não mais pretende tirar o país do Acordo de Paris. Também está incerto acerca de como ficará a governança do campo ambiental. O MMA e suas autarquias serão absorvidas por outro ministério? Ou haverá um esquartejamento de atribuições – o que tiver a ver com o uso da terra, ficando com a Agricultura, os licenciamentos de projetos de energia sob o MME, e assim por diante? Durante a campanha, Bolsonaro repetiu várias vezes que destravará a economia, algumas vezes pensando no processo de licenciamento ambiental e citando frequentemente as hidrelétricas. Basta olhar para os leilões de energia para ver que, à exceção de Belo Monte, todas as hidrelétricas estavam funcionando a pleno vapor no dia contratado. Por outro lado, um possível abrandamento de regras ou a imposição de cronogramas impossíveis, terá como consequência certa desastres como o recente caso da contaminação de igarapés pela Hydro Norsk ou o colapso da represa de rejeitos de Mariana e a contaminação da bacia do Rio Doce.

https://oglobo.globo.com/brasil/no-meio-ambiente-sobram-incognitas-polemicas-no-plano-de-governo-de-bolsonaro-23193995

https://www.valor.com.br/opiniao/5955191/razoes-para-nao-sair-do-acordo-de-paris

 

O NOVO GOVERNO E A ENERGIA

A pasta da energia já virou foco de atrito entre os grupos que apoiam o presidente-eleito. O discurso liberalizante-privatizante de Guedes tem, do outro lado da mesa, a pegada nacional-desenvolvimentista do presidente e dos vários militares que o apoiam. Na mesa, a intenção de finalizar as obras de Angra 3, retomar a discussão de grandes hidrelétricas com reservatórios na Amazônia, a privatização – parcial ou integral – da Eletrobras e da Petrobras, e a reforma do setor elétrico, iniciada em 2018, dentre outras poltronas cheias de espinhos.

O futuro ex-ministro Moreira Franco vestiu seu traje de caixeiro viajante para conseguir emplacar a tese da regionalização dos elétrons. Numa entrevista dada ontem, criticou os que ainda defendem as hidrelétricas, dizendo que a mudança do clima está tirando o atributo de segurança que é a base do sistema brasileiro. O que não chega a ser surpresa, pelo repentino amor que o governo Temer sente pelas termelétricas fósseis. É para ficar de olho aberto para ver os arranjos desta turma antes da descida da rampa do Palácio do Planalto.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/politicos-tecnicos-e-militares-disputam-comando-do-setor-de-energia.shtml

https://epbr.com.br/15-promessas-de-jair-bolsonaro-para-a-area-de-energia

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/10/moreira-franco-diz-que-modelo-de-hidreletricas-defendido-por-bolsonaro-esta-encerrado.shtml

 

EPIDEMIA DE PRIVATIZAÇÕES DE NORTE A SUL

Mais uma onda inédita parece estar pegando embalo. A promessa feita por Paulo Guedes de venda de todas as estatais parece ter contaminado os governadores eleitos. E, pelo jeito, as voltas atrás, também. Em Minas, Romeu Zuma vinha prometendo privatizar a Cemig (eletricidade) e a Copasa (água e saneamento). Minas tem 14 estatais entre as quais um banco, uma universidade e uma rádio. Ontem, o governador-eleito recuou e disse que as privatizações não são prioridade porque não resolvem o problema de caixa do estado. No Rio Grande do Sul, o governador eleito Eduardo Leite prometeu privatizar a CEEE (eletricidade), a CRM (mineração) e a Sulgás (gás natural). O estado tem 30 estatais entre bancos, fundações, universidades, dentre outras. Até ontem, Leite reafirmou a promessa. Outros governadores eleitos ainda não se deram o trabalho de comentar a respeito.

Em tempo, Alckmin conseguiu privatizar a CESP (geração elétrica) antes de passar a bola para frente. O estado de São Paulo é dono de três das melhores universidades públicas do país, da Fapesp – suporte imprescindível para a ciência e tecnologia paulistas – e mais fundações, hospitais e centros de pesquisa.

https://epbr.com.br/privatizacao-da-cemig-na-pauta-de-zema

https://epbr.com.br/eduardo-leite-defende-privatizacao-da-ceee-e-sulgas

 

MAIS ENERGIA DE BELO MONTE

Das 18 turbinas da usina de Belo Monte, 12 estarão operando até o final do ano, e as seis restantes devem começar a operar ainda no ano que vem. Com todo o entusiasmo demonstrado nas suas entrevistas, o diretor de geração da Eletrobras, Antônio Varejão, bem que podia cumprir o compromisso assumido e alocar em condições dignas a população ribeirinha que foi deslocada para a construção da usina. Hoje, uma parte desse pessoal vive em palafitas precárias em Altamira, nas margens do Xingu. O preço de fazer direito deve ser bem menor do que o de uma das 18 turbinas.

https://www.valor.com.br/empresas/5950681/belo-monte-encerrara-o-ano-com-12-turbinas-em-operacao

 

CHINESES QUEREM COMPRAR HIDRELÉTRICA SANTO ANTÔNIO

A estatal chinesa State Power Investment Corporation (SPIC), quer se tornar a dona da atrapalhada usina de Santo Antônio. Houve atrasos na construção da usina e mais atrasos na construção das linhas de transmissão. Em função do atraso, a empresa teve que comprar energia no mercado livre a preços nada módicos. Resumo, a Santo Antônio Energia deve uma nota para quem comprou energia, e o consórcio Furnas, Cemig, Caixa, Odebrecht Energia e Andrade Gutierrez está com muita dificuldade de cumprir o contratado. Os chineses querem comprar a parte da Odebrecht, da Andrade Gutierrez e da Cemig, e ficar com quase 60% das ações.

Não custa lembrar que, ao contrário do que Bolsonaro aventou no começo de setembro, os chineses não poderão levar a usina nem a energia para a China, nem para qualquer outro local. Podem, sim, sanar as dívidas e tratar de gerar dividendos para mandar de volta para casa.

https://www.valor.com.br/empresas/5955031/spic-apresenta-oferta-por-santo-antonio

 

ACERTO DAS CONTAS DAS GERADORAS ONERAM O CONSUMIDOR E NÃO RESOLVEM O PROBLEMA

Além do problema de Santo Antônio, muitas hidrelétricas tiveram que comprar energia no mercado livre de térmicas fósseis por conta da combinação de falta de chuvas com a determinação de economizar água feita pelo Operador do Sistema. As geradoras entraram na justiça alegando que o Operador tomou a decisão e não cabe a elas contestar.  A proposta de reforma do setor elétrico tem um tratamento para resolver a pendência. Um projeto de lei que tinha um jabuti para tratar dessa questão foi rejeitado no senado. Outra proposta apresentada pelo órgão regulador, a Aneel, conseguiu desagradar bastante as geradoras. A única coisa que se sabe é que existe um buraco de R$ 3,7 bilhões que nós, consumidores, iremos pagar.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,medidas-do-governo-elevam-conta-de-luz-em-3,70002570816

https://www.valor.com.br/empresas/5955029/plano-da-aneel-para-gsf-e-mal-recebido

 

UM INSTITUTO PARA ENFRENTAR A PSEUDOCIÊNCIA

Certos movimentos pseudocientíficos ou anticientíficos assustam: recentemente, um dos generais da equipe de Bolsonaro sugeriu que ideias de natureza religiosa, como o criacionismo, disputassem com a ciência a atenção dos alunos em sala de aula; rola por aí uma fake-news sobre a vacinação ser prejudicial à saúde humana; some-se a isso a novela da fosfoetanolamina. Por conta disso, a bióloga Natalia Pasternak somou o apoio de cientistas sérios e criou o Instituto Questão de Ciência, para entrar na luta contra a fake-science. O lançamento oficial será em 22 de novembro. O Instituto já nasce com uma diretoria de peso: o jornalista Carlos Orsi, o físico Marcelo Yamashita e o psicólogo e advogado Paulo Almeida, e com o apoio de Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, de Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, de Rogério Rosenfeld, da Física da Unesp, e de Walter Colli, do Instituto de Química da USP. O Questão de Ciência pretende entrar com ações judiciais e checar a base científica do que dizem políticos e autoridades. Também terá uma página na web relatando casos globais, assim como entrar no mérito científico de temas polêmicos como os transgênicos e a rotulagem de produtos industriais.

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/10/biologa-cria-instituto-para-combater-pseudociencia-e-influenciar-debate.shtml

 

O AR MORTAL NO MUNDO

Ontem, saiu um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre os efeitos da poluição do ar na saúde da população mundial. O grande foco do trabalho são as crianças, grupo humano que mais morre prematuramente ou que têm seu desenvolvimento comprometido. O relatório aponta que, nos países mais pobres, em especial na África e no Mediterrâneo Oriental, praticamente todas as crianças com menos de 5 anos estão expostas a níveis de poluição acima do recomendável. Já nos países ricos, metade das crianças vive em ambientes dentro dos limites recomendáveis. A OMS indica que 7 milhões de pessoas morrem prematuramente por ano por causa da má qualidade do ar que respiram: 29% por câncer do pulmão; 25% por doenças cardíacas;  24% por derrames cerebrais; 14% por outras doenças respiratórias; e 8% por outras doenças. No Brasil, estima-se que 50 mil pessoas morram prematuramente por ano de doenças relacionadas à poluição do ar. Quase 10% da população do país ainda queima lenha ou esterco para cozinhar, o que contribui para a exposição à poluição.

http://maps.who.int/airpollution/

http://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-10/oms-93-das-criancas-respiram-poluicao-acima-do-recomendavel

https://www.eldiario.es/sociedad/contaminacion-causa-muertes-prematuras-Europa_0_830117156.html

https://www.nouvelobs.com/planete/20181029.OBS4614/la-pollution-est-responsable-de-4-millions-de-deces-par-an-dont-600-000-enfants.html

https://unearthed.greenpeace.org/2018/10/29/nitrogen-dioxide-no2-pollution-world-map

 

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