Um mundo sem a Amazônia – parte 1

Brasil

O “Brasil, sozinho, provavelmente tornaria impossível concretizar o Acordo de Paris num nível global”. O Acordo de Paris e as metas de limitação do aumento da temperatura média global foram determinadas supondo que as florestas no planeta continuariam exercendo seu papel de retenção do carbono na forma de troncos, galhos, raízes e que tais. Se as florestas desaparecerem, as contas não fecham mais. A frase que abre esta nota é do pesquisador Stephen Pacala, um dos grandes especialistas mundiais em mudanças climáticas e se refere a um mundo sem a Floresta Amazônica. A frase completa é: “A meu ver, então, seria possível demonstrar que, desmatando a Amazônia, destruindo o sumidouro natural de carbono e provocando emissão de gases com incêndios florestais, o Brasil sozinho provavelmente tornaria impossível concretizar o Acordo de Paris num nível global.”

Para quem acha que isso é um complô para prejudicar o país, um artigo de João Moreira Salles e Bernardo Esteves, na Piauí, dá até mais destaque para o que aconteceria aqui, se a floresta desaparecesse. “O agronegócio brasileiro depende da chuva gerada na Amazônia. É a evapotranspiração das florestas que gera o vapor d’água transportado continente adentro nos chamados rios voadores. Sem árvores que os abasteçam, eles ameaçam secar (…) As áreas de Cerrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste – onde se concentra a maior parte da produção agrícola brasileira – estão entre as que sentirão com mais força a queda na precipitação. O agronegócio brasileiro é dependente da chuva – só 6% da área cultivada é feita com irrigação. Caso não contenha o desmatamento da Amazônia, o Brasil terá dificuldade para se manter como uma potência agrícola global. A chuva não é o único problema. O aumento de temperatura será catastrófico para o Brasil.”

Pacala e colegas, provocados por brasileiros, rodaram um modelo climático supondo que a Floresta Amazônica virasse pasto. As temperaturas na região aumentariam até 4°C; no Centro-Oeste, o aumento seria de 1°C. Para muita gente, esse aumento é quase impensável. Mas os impactos ficam mais claros ao se examinar as chuvas. Sem a Amazônia, o Centro-Oeste e o Sudeste receberiam 25% menos chuva.

Os dois autores escreveram um segundo artigo, também na Piauí, apontando outras quatro consequências previstas pelo modelo.

  1. Soja, milho e café, que estão entre os principais cultivos de exportação, serão os mais afetados pela falta de chuva. Prevê-se uma redução expressiva na produção agrícola nacional.
  2. Menos água implica menor geração hidrelétrica. Será preciso acionar mais as térmicas fósseis, contribuindo ainda mais para aquecer o planeta.
  3. O mundo todo, e não só o Brasil, fica mais quente. “O termômetro também subiria de forma significativa nos dois polos, no Canadá, no Oriente Médio, na Ásia Central e na Austrália.”
  4.  Adeus Paris. Ou, para manter o aquecimento em 1,5°C ou mesmo em 2°C, a tarefa, que já é considerada impossível, fica ainda mais distante.

 

ClimaInfo, 18 de outubro de 2019.

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