Big Oil sabia da relação entre combustíveis fósseis e mudanças climáticas há mais de 50 anos, diz Congresso norte-americano

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Relatório indica que as principais empresas petrolíferas não apenas sabiam do impacto de seus negócios sobre o clima global, mas agiram para atrasar respostas governamentais.

Um relatório conjunto divulgado por parlamentares do Partido Democrata no Congresso dos EUA revelou que as principais empresas de combustíveis fósseis do país reconheceram, de forma privada, que sabiam dos perigos decorrentes do consumo de seus produtos ao clima da Terra. Além de ter ciência do problema, essas empresas atuaram para silenciar críticos e obstruir leis e regulamentos que restringissem seus negócios por conta dos impactos climáticos.

A revelação se deu a partir da divulgação de comunicações corporativas levantadas pelo Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara dos Representantes e do Comitê de Orçamento do Senado durante investigações conjuntas entre 2021 e 2022. O esforço foi liderado à época pela maioria democrata, que comandava as duas Casas, mas se desfez no ano passado depois que o Partido Republicano, dominado pelo suprassumo do negacionismo climático nos EUA, obteve o controle da Câmara.

Empresas como ExxonMobil, Shell, BP e Chevron foram forçadas a repassar ao Congresso norte-americano documentos e comunicações internas que cobriram um período de mais de 50 anos, entre o final da década de 1960 e 2020. Os documentos mostram como essas empresas tinham conhecimento da relação entre a queima de combustíveis fósseis e alterações nos padrões climáticos globais desde muito antes do tema virar uma preocupação pública.

O “jogo duplo” das Big Oil em relação à crise climática já é de conhecimento público há algum tempo. Análises anteriores mostraram o esforço de empresas como ExxonMobil e Chevron para “enterrar” dados científicos que associassem os combustíveis fósseis ao aquecimento do planeta já na década de 1960. Mas o novo relatório do Congresso norte-americano joga luz sobre como essas empresas insistem nessa estratégia de desinformação nos dias atuais.

O relatório também aponta como a estratégia de desinformação adotada pelas Big Oil para questionar a ciência climática foi modificada na última década, desde a assinatura do Acordo de Paris, para sustentar a “necessidade” da economia global seguir consumindo combustíveis fósseis mesmo em face à crise climática.

“As provas descobertas mostram que as grandes empresas petrolíferas realizaram campanhas para confundir e enganar o público e que continuam a ocultar os fatos sobre seu modelo de negócio e minimizar os perigos reais dos combustíveis fósseis”, afirmou o deputado Jamie Raskin, que chefiou o Comitê de Supervisão e Responsabilidade da Câmara na legislatura passada. 

Axios, Desmog, Euronews, Financial Times, Guardian, Inside Climate News, NBC News e Washington Post, entre outros, repercutiram a notícia.

 

 

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ClimaInfo, 3 de maio de 2024.

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