CONGRESSO DEVE INVESTIGAR DECRETO DE EXTINÇÃO DA RENCA
Mais de 200 deputados e 28 senadores assinaram pela criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar, nas palavras do deputado Alessandro Molon “denúncias de favorecimento a empresas estrangeiras que supostamente foram informadas antes da extinção da reserva e poderiam ser beneficiadas com o decreto”. É possível que a instalação da CMPI se dê ainda nesta semana. Também nesta semana o ministro Coelho Filho, das Minas e Energia, vai até a Câmara falar sobre a extinção da Renca e sobre a privatização da Eletrobrás. A audiência acontecerá nesta 3a feira, às 14:00 hs.
Em tempo: na semana passada o ministro Coelho Filho disse que a tragédia de Mariana tinha sido uma “fatalidade” e que essas coisas “acontecem”. O pessoal do Nexo foi atrás dos processos e dos autos para que o ministro pare de insultar as vítimas, mortos e atingidos, e a nossa inteligência.
http://amazonia.org.br/2017/09/parlamentares-protocolam-pedido-de-cpi-da-reserva-da-amazonia/
JUSTIÇA AUTORIZA A POLÍCIA A PARAR A OBRA EM BELO MONTE
A justiça já tinha mandado a Norte Energia parar as obras em Belo Monte, até que ela mostrasse que está cumprindo o combinado e alojado condignamente as famílias que tiveram que deixar suas terras. A justiça entendeu que as casas construídas no local em que foram construídas não atendem o que a Norte Energia prometeu fazer. Na semana passada, a justiça autorizou a polícia a paralisar as obras de conclusão da usina.
Lembrando: a Eletrobrás é dona de quase 50% da Norte Energia e, apesar de estatal, parece não estar minimamente preocupada com os impactos sociais que Belo Monte causou.
LEILÃO DE NOVAS ÁREAS DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO
Nesta 4a feira, a ANP vai leiloar 287 blocos para a exploração de petróleo. Contra o baixo preço internacional do petróleo, o governo oferece regras mais flexíveis, conseguindo atrair a inscrição de 36 empresas nesta que será a 14a rodada de licitações. As exigências de aquisição de equipamentos e serviços nacionais foram abrandadas. Em vez de cumprir porcentuais mínimos de aquisição local para cada item contratado, as petroleiras, a partir de agora, vão ter de comprovar o cumprimento no conjunto de cada fase – na exploração e no desenvolvimento da produção. Os porcentuais mínimos de conteúdo local foram também bastante reduzidos: nos promissores blocos marítimos, os percentuais que variavam entre 37% e 65% caíram para entre 18% e 40%.
A consultoria Wood Mackenzie acredita que a demanda por petróleo deve atingir o seu pico a partir de meados da próxima década, o que fez países de todo o mundo entrarem numa corrida para ver quem terá papel de protagonismo no abastecimento do mercado global. O chefe da consultoria no Brasil, Pedro Camarota, pensa que este é o momento para que o Brasil explore seus recursos. Não é o que pensa a 350.org. A organização está promovendo a campanha#LeilãoFóssilNão buscando parar “todos os projetos ligados a combustíveis fósseis, pedindo a instituições e governos no mundo todo uma transição imediata para economias baseadas em energias 100% renováveis, livres e acessíveis para todos”.
http://www.valor.com.br/empresas/5129296/leiloes-testam-governo-e-podem-render-mais-de-r-13-bi-uniao
http://www.valor.com.br/empresas/5129292/pais-tem-oportunidade-de-se-tornar-produtor-relevante
https://www.facebook.com/naofrackingbrasil/
GUSTAVO FRANCO ADVERTE CONTRA A CEGUEIRA DA SÚBITA RIQUEZA DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO
Gustavo Franco escreveu, no Estadão, advertindo os novos royalty-ricos municípios a não seguirem o mau exemplo dos municípios do norte fluminense do Estado do Rio de Janeiro, que gastaram como se a Bacia de Campos fosse eterna e como se o preço do barril não pudesse cair abaixo de US$ 100.
Nós já escrevemos isso, mas agora é Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central de FHC e sócio do Rio Bravo, fundo private equity que administra R$ 11 bilhões, quem fala que a pior parte de tudo que acontece no Rio veio das “autoridades locais calibrarem despesas pensando que o petróleo vai ficar em US$ 100 para sempre, que a produção e os royalties iam se multiplicar pela eternidade e que a Petrobras ia continuar investindo US$ 40 bilhões todo ano”.
O Estadão publicou neste domingo uma matéria sobre Ilhabela, o município paulista que mais recebe royalties do pré-sal, o que triplicou suas receitas. Ilhabela está fazendo um upgrade na sua infraestrutura – principalmente voltada para o turismo – e construiu uma nova sede para a prefeitura.
Os recados são simples: resistam à tentação de comprometer receitas futuras, não inchem a máquina pública e promovam a melhoria da qualidade de vida de quem é morador. Esperemos que Ilhabela não sofra no futuro o que sofre o Rio hoje.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,royalties-do-pre-sal-enriquecem-ilhabela,70002013691
ROTA 2030 DERRAPA NA DISPUTA ENTRE A FAZENDA E AS MONTADORAS
O plano de continuar subsidiando as montadoras automobilísticas está difícil de sair porque a Fazenda quer limitar o rombo de arrecadação, que o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e as montadoras querem abrir ainda mais. Tudo começou quando Dilma achou que aliviando os impostos desse pessoal, eles investiriam e contratariam de modo a fazer todo mundo feliz. Não funcionou. O plano de Dilma, o Inovar Auto, condicionava a redução do PIS/Cofins ao aumento de eficiência dos carros nacionais.
As montadoras protelaram a entrega da tal eficiência e, hoje, estima-se que boa parte dos carros novos não o faça. Nesse caso, o Inovar Auto previa que a União poderia cobrar os impostos não pagos. Parece que as montadoras não querem saber de pagar o que devem. Para piorar, a Organização Mundial do Comércio (OMC) acatou uma moção contra o Brasil por estar protegendo a indústria “nacional” além do permitido. Desconfia-se que isto esteja acontecendo porque o Inovar Auto também aumentou o IPI dos importados. O que o MDIC, a CNI e as montadoras querem é um refresco no que devem e a continuação da moleza, agora rebatizada de Rota 2030.
As metas de eficiência seriam apertadas e o prazo estendido até 2030. O pessoal do Itamaraty alerta que o país deve sofrer penalizações da OMC. O pessoal da Fazenda não quer abrir mão da arrecadação. Mas a indústria aqui instalada – Volkswagen, Ford, Fiat, GM, Peugeot, Honda, Toyota e as demais – insiste que sofreria competição injusta dos importados e que precisam do alívio fiscal para Pesquisa e Desenvolvimento. Apesar da VW, Ford, Fiat, GM, Peugeot e as outras já terem há muito tempo carros melhores e mais eficientes lá fora.
Celso Ming, escrevendo no Estadão, fala do desenvolvimento dos carros elétricos lá fora e do gargalo da bateria que está sendo resolvido. Enquanto isso, como se para ajudar a vender mais carros, 80 vagões novinhos da CPTM estão apodrecendo num pátio em Hortolândia, esperando sua vez de passar pela inspeção. Quem anda de trem na Grande São Paulo sabe a falta que esses vagões estão fazendo.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-carro-eletrico-la-fora-e-aqui,70002012570
A VW TENTA SE REINVENTAR APÓS O DIESELGATE APOSTANDO NOS ELÉTRICOS
A Volkswagen está tentando sair do lamaçal do dieselgate, que pegou no caixa, já que as multas somam US$ 30 bilhões, mas, talvez principalmente, na reputação. A estratégia é abandonar o diesel e se posicionar na busca de veículos sustentáveis. Nos próximos oito anos, a empresa pretende lançar 30 híbridos plug-in (motor elétrico, motor a gasolina ou gás, bateria recarregável na tomada) e 20 elétricos puros, o que demandará investimento de mais US$ 20bi. Além disso, suas co-marcas Audi e Porsche, que anteriormente investiam em categorias de corrida para desenvolvimento de tecnologia dos motores a combustão, agora puseram todas as fichas na Fórmula-E, categoria de carros elétricos.
Com relação ao caixa, além das multas que continuam a se somar, a VW teve que bancar o recall de centenas de milhares de carros. Aqui no Brasil, onde o único diesel de linha é a caminhonete Amarok, a empresa foi condenada, na semana passada, a pagar R$ 64 mil a cada proprietário, uma conta que ultrapassa R$ 1 bilhão. La fora, a Mercedes vai investir US$ 1 bilhão nos EUA para fabricar carros elétricos e baterias. Ela vai converter uma fábrica que produzia sua linha de carros a gás. Um dos modelos será a primeira SUV Daimler que deve ser lançada em 2020.
http://jornaldocarro.estadao.com.br/primeira-classe/dieselgate-2-anos-o-que-mudou-no-reino-vw/
http://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/nova-volkswagen-aposta-alto-nos-carros-eletricos/
BRASIL EM CHAMAS
O mapa de incêndios florestais no Brasil mostrava um aumento em 50% o número de incêndios do começo do ano até agora, em comparação com mesmo período do ano passado. No Pará, o número de incêndio deste ano é mais que o triplo do registrado no ano passado. Em segundo lugar vem São Paulo, com 76% de aumento, depois o Rio de Janeiro, com 62%, o Distrito Federal, com 45%, e Mato Grosso, com 41%. No estado do Rio, a Serra da Bocaina está queimando há dias. O coordenador do Programa de Queimadas e Incêndios do INPE, Alberto Setzer, fez questão de ressaltar que “raios e fenômenos espontâneos são responsáveis por, no máximo, 1% dos focos de incêndio registrados. A baixa umidade do ar apenas cria condições favoráveis aos incêndios, mas é a ação humana que causa a queimada (…) em geral é alguém botando fogo mesmo”.
http://www.inpe.br/queimadas/situacao-atual
http://www.observatoriodoclima.eco.br/um-pais-em-chamas/
EMISSÕES DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS DEVEM AUMENTAR SIGNIFICATIVAMENTE NO MUNDO ATÉ 2025
A análise feita por uma equipe da Wood Mackenzie da produção de combustíveis fósseis das grandes corporações e das emissões ao longo de toda cadeia estimou que, até 2025, as emissões vão aumentar 17% em relação a hoje. Eles apontam três culpados: o gás natural liquefeito (GNL), o óleo de areias betuminosas e o óleo pesado. Enquanto os dois últimos não surpreendem, o GNL aparece não só como surpresa, mas também como o maior culpado. Isso porque o GNL vinha sendo alardeado com o mais verde dos fósseis e o que a Wood Mackenzie observou foi que o processo de liquefação está emitindo muito mais gases de efeito estufa do que as petroleiras vêm reportando.
Esse relatório despeja um balde de água fria sobre um trabalho publicado pela Bloomberg na semana passada, que usou dados fornecidos pelas petroleiras que indicavam que o GNL reduziria a pegada de carbono destas. A acompanhar os próximos capítulos. Enquanto isso, do lado da demanda, finalmente está se revelando a crônica da tragédia anunciada. O preço do barril de petróleo parece que se estabilizou em US$ 50, arrastando para baixo os preços internacionais da gasolina e do diesel. O resultado é um aumento do consumo e a volta dos carros grandes ao topo da lista de vendas. No momento, a eficiência deixou de ser um dos principais critérios de compra.
https://www.woodmac.com/ms/carbon/positioning-for-the-future/
http://theenergymix.com/2017/09/22/fossil-emissions-set-to-grow-another-17-through-2025/
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/09/1921225-paises-ricos-voltam-a-devorar-petroleo.shtml
UNIÃO EUROPEIA QUER EMISSÃO-ZERO ATÉ 2050
A União Europeia está preparando a atualização do seu mapa do caminho para a metade do século e quer colocar como meta zerar suas emissões líquidas até lá. Olhando o orçamento de carbono no mundo, se deram conta que a meta anterior, de cortar 80% das emissões, não ia ser suficiente. O trabalho político está feito e, a partir de agora, começa o detalhamento do que cada setor e cada país deve fazer para chegar lá.
A AUSTRÁLIA PODE ESTOCAR MUITO MAIS ENERGIA DO QUE VAI PRECISAR NO FUTURO
Uma análise da Australian National University descobriu que o país tem uma quantidade enorme de locais para reservatórios reversíveis, mais que suficientes para sustentar uma matriz totalmente renovável. Reservatórios reversíveis são construídos em locais altos para onde a água é bombeada. Quando necessário, a água estocada desce movimentando as turbinas. Nos momentos que as eólicas e fotovoltaicas estão gerando mais do que a demanda, o sistema bombeia água para cima. Quando a demanda cresce demais ou quando tem vento e sol de menos, o sistema manda água para baixo na quantidade necessária.
A pesquisa varreu o país todo. Só no estado de New South Wales, eles estimam que há potencial para o armazenamento de 29 TWh (terawatts-hora, trilhões de watts-hora) em quase 8.600 sítios. Se forem somados os potenciais dos estados de Vitória e da acidentada Tasmânia, haveria um potencial de armazenagem de 46 TWh em mais de 15.000 sítios. Segundo o estudo, isso é mais que o suficiente para a Austrália fechar todas as usinas a carvão e gás, atuais e futuras.
Por aqui, existiram estudos para transformar uma das mais antigas usinas, a Henry Borden, em Cubatão, em uma reversível e bombear a água nos 720 metros de altura da escarpa da Serra do Mar. Na época, acharam que não valia a pena. Mas então não existiam eólicas e fotovoltaicas. Talvez hoje as contas fechem. E, na época, buscaram-se usinas existentes onde valeria a pena bombear água de volta. Os australianos foram atrás de locais bons para reservar água onde não existe nem lago, nem usina pronta. A conta é mais alta, mas mesmo assim, talvez feche.
A LINGUAGEM DO OTIMISMO CLIMÁTICO FOI DESASTROSA. É HORA DA LINGUAGEM DA EMERGÊNCIA.
Num artigo curto escrito para o Guardian, Elli Mae O’Hagan defende que é hora de comunicar a emergência da situação climática. Ela conta rapidamente que no começo do debate público climático, os cientistas contavam dos desastres que o aquecimento global provocaria, mas aos poucos, as histórias começaram a falar do copo cheio e mostrar que uma mudança era possível para afastar o perigo. A linguagem do terror climático criou a situação descrita por George Marshall em seu livro “Nem pense nisso (Don’t even think about it), onde a mudança do clima é “um crime perfeito e indetectável cometido por todo mundo, mas pelo qual ninguém tem motivo.
É, ao mesmo tempo, afastado demais e perto demais para que possamos internalizá-lo: perto demais porque pioramos a situação com cada ato na nossa vida diária; longe demais porque é algo que afeta os outros, em outros países ou só num futuro que concebemos efemeramente”. Elli diz que, após Harvey e Irma, a realidade da mudança do clima entrou na vida de todo mundo com muita força. Ela diz que esses eventos mudaram o jogo e que é o momento certo para começar a debater uma nova maneira de comunicar a mudança do clima. Elli termina se perguntando que, se o momento para um movimento de massa não for agora, pode ser que não haja um.
https://www.sul21.com.br/jornal/mudanca-climatica-e-apos-a-grande-marcha-por-george-marshall/