ClimaInfo, 21 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

TOCANTINS: USO DA ÁGUA NA JUSTIÇA E PLANTIO DE ARROZ COM MENOS ÁGUA

Duas importantes notícias sobre a água vêm do Tocantins, estado que vê secarem os rios Tocantins e Araguaia.

Em Cristalândia e Puim, na bacia do Rio Formoso, bem entre os dois grandes rios, a justiça suspendeu temporariamente a retirada de água para irrigação, dando prioridade à captação para abastecimento da população. Se num primeiro momento a determinação foi acatada, as autoridades sabem que a medida não pode ser duradoura, por afetar a produção dos municípios. Assim, foram instalados medidores de captação para que a justiça possa acompanhar a retirada e ter critérios técnicos para balancear as demandas.

Perto de lá, 55 km na direção do Rio Araguaia, começou-se a plantar arroz com menos água. O arroz chegou à região pelas mãos de plantadores gaúchos que aproveitaram os alagadiços perto da Ilha do Bananal para plantar como faziam no sul, sob uma lâmina d’água. A área plantada, inclusive com soja, praticamente dobrou de tamanho desde 2010. André Reis, pesquisador da ESALQ, observou que o arroz que ficava acima da lâmina era mais forte e começou a cultivar as plantas sem a lâmina, conseguindo com isto um aumento de 15% de produtividade usando metade da água. Usando o método, uma fazenda da região produz 140 sacos de 60kg por hectare, enquanto que com a lâmina, produzia 120. O arroz usado é o de inundação mesmo, diferente do arroz de sequeira que dá, em média, 70 sacos por hectare.

O artigo de Cristiane Barbieri no Estadão termina se perguntando se a seca atual vai virar a norma por causa da mudança do clima ou se é só um episódio esporádico.

https://istoe.com.br/uso-de-recursos-hidricos-chega-a-justica/

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,no-tocantins-um-novo-jeito-de-plantar-arroz,70002089488

 

CAR REDUZ DESMATAMENTO, MOSTRA PESQUISA

Um artigo publicado no final de outubro na Conservation Letters analisou o impacto do Cadastro Ambiental Rural (CAR) na taxa de desmatamento do Pará e do Mato Grosso entre 2005, antes do Código Florestal, e 2014, quando boa parte das propriedades rurais dos dois estados já havia declarado seu CAR. Os autores estimam que o desmatamento teria sido 10% maior na ausência do CAR. Foram escolhidas áreas amostrais em função da existência de desmatamento antes de 2005 e levantou-se seu histórico a partir dos dados do Prodes. Os autores assumiram que, durante o período estudado, as propriedades permaneceram como foram cadastradas no SICAR.

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/conl.12414/full

https://m.phys.org/news/2017-11-analysis-brazil-deforestation-registration.html

 

ESTUDO SOBRE EMISSÕES DAS NOVAS HIDRELÉTRICAS NA AMAZÔNIA

Pesquisadores da Unicamp apresentaram um trabalho numa conferência latino-americana de ciclo de vida analisando as emissões associadas à construção e à operação de hidrelétricas na Amazônia. Eles utilizaram um banco de dados europeu para contabilizar emissões de materiais e do processo construtivo, e acrescentaram as provenientes da mudança direta do uso da terra, basicamente a área inundada e a decomposição de matéria orgânica nos reservatórios. O principal resultado foi a constatação de que as usinas com reservação emitem substantivamente mais do que as a fio d’água, como a trinca Belo Monte, Jirau e Santo Antônio. Os resultados foram apresentados agregando os dois tipos de usinas. Assim, a conclusão de que “considerando que a expansão da hidroeletricidade se dará em usinas a fio d’água, que são mais eficientes (sic) do que as com reservação, o perfil de emissão da geração na Amazônia Legal, em 2024, será menor e terá um impacto menor na pegada de carbono. Essa é a razão pela qual um aumento de 76% na geração na Amazônia Legal por plantas novas trará apenas um aumento de 14% nas emissões de CO2e”. O estudo peca por não mostrar o peso das emissões de materiais e da obra numa usina como Belo Monte. Também não foi possível verificar se foi levado em conta o desmatamento pela abertura de estradas e canteiros de obra, e pela construção de linhas de transmissão que só existem por causa de usinas como Belo Monte e Jirau.

Sobre o mesmo tema, Philip Fearnside, do INPA, publicou um novo artigo com uma crítica aos projetos hidrelétricos na Amazônia, citando, inclusive os interesses das ex-grandes empreiteiras em grandes e caras obras por lá. Partindo dos inúmeros conflitos, disputas e dos impactos que as obras e a operação das últimas três megausinas Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, Fearnside mostra um futuro sombrio desenhado por outro megaprojeto, o do aproveitamento da bacia do Juruena – Teles Pires e Tapajós. Pelo lado mais luminoso, Fearnside coloca na mesa o potencial eólico e fotovoltaico que o Brasil ainda mal começou a aproveitar.

https://connect.eventtia.com/en/dmz/cilca2017/website

https://e360.yale.edu/features/how-a-dam-building-boom-is-transforming-the-brazilian-amazon

 

MAIS UM MOVIMENTO QUER QUE FÓSSEIS PERMANEÇAM ENTERRADOS

A Declaração de Lofoten, assinada por 220 organizações de 55 países (até agora), diz que “é responsabilidade urgente e obrigação moral dos ricos produtores de combustíveis fósseis liderar o fim do desenvolvimento dos fósseis e gerenciar o declínio da produção atual”. As organizações acrescentam que “fontes renováveis, limpas e seguras já estão redefinindo nosso entendimento da energia e é hora de as nações apoiarem completamente a energia do século 21 e eliminarem os combustíveis fósseis”.

O SEI (Instituto Ambiental de Estocolmo) publicou um trabalho defendendo que os fósseis – petróleo, gás natural e carvão – devem permanecer enterrados se o mundo quiser cumprir com a meta de manter o aquecimento global abaixo de 2°C. Os pesquisadores levantam os mecanismos do Acordo de Paris pelos quais os países poderiam trabalhar para reduzir a demanda por fósseis.

http://www.lofotendeclaration.org/

https://www.sei-international.org/mediamanager/documents/Publications/SEI-2017-WP-addressing-fossil-fuel-production.pdf

 

FAZENDEIRO PERUANO PROCESSA EMPRESA ALEMÃ DE ENERGIA

E O GREENPEACE PROCESSA OS FÓSSEIS DA NORUEGA

Um fazendeiro peruano está processando uma das maiores corporações de energia alemã por prejuízos que o clima trouxe à cidade de Huaraz. Ele tinha perdido em primeira instância, mas conseguiu reverter a aceitação do caso no tribunal de apelação. A RWE não tem nenhuma operação na região, mas foi responsabilizada por contribuir para o aquecimento global por suas muitas térmicas a fósseis na Europa e no mundo. O caso em si não vai mudar muito a vida de Luciano Lliuya, nem da RWE, mas, dependendo do resultado, pode abrir a caixa de Pandora de recursos legais contra os emissores de gases de efeito estufa.

O Greenpeace foi mais direto ao ponto e está processando o governo norueguês pelas movimentações que está fazendo para liberar uma imensa área praticamente intacta do Ártico para a exploração de petróleo e gás. A acusação diz que o governo vai violar um preceito constitucional que garante a todos os cidadãos um meio-ambiente saudável.

No mês passado, a Economist trazia um artigo falando dos impactos da mudança do clima nos sistemas judiciários do mundo todo, na medida em que processos dessa natureza vão sendo cada vez mais aceitos pelas cortes.

https://www.climateliabilitynews.org/2017/11/14/climate-change-peru-germany-rwe/

http://www.dw.com/en/climate-change-peru-farmers-claims-against-german-energy-giant-rwe-admissible-in-court/a-41367787

https://www.theguardian.com/world/2017/nov/14/peruvian-farmer-sues-german-energy-giant-rwe-climate-change

https://www.theguardian.com/environment/2017/nov/14/norway-sued-over-arctic-oil-exploration-plans

https://www.economist.com/news/international/21730881-global-warming-increasingly-being-fought-courtroom-climate-change-lawsuits

 

MUDANÇA DO CLIMA NÃO EXISTE NO PROJETO DE RECONSTRUÇÃO DO TEXAS E PODE DEIXAR DE SER RISCO POR PRESSÃO DOS FÓSSEIS

O governador do Texas está pedindo recursos a Washington para a reconstrução das áreas atingidas pelo furacão Harvey e para construir sistema de prevenção e proteção contra futuros “Harveys”. Em toda a documentação enviada, a expressão “mudança do clima” não aparece explicitamente uma única vez nas mais de 300 páginas. O texto emprega expressões como o “futuro do clima” e “prevenção contra o futuro”.

Mas a situação pode piorar significativamente nos próximos dias. O grande lobby fóssil em Washington está pressionando para simplesmente deletar o risco climático da legislação. Think tanks bancados pelos irmãos Koch e pela carbonífera Peabody querem revogar uma determinação da EPA (Agência de Proteção Ambiental), de 2009, a qual declara que a mudança do clima é um risco para a saúde e o bem-estar humanos. Sem isso, mesmo as legislações estaduais ficam ameaçadas de perder seu valor legal. Na atual configuração de poder, muitas petroleiras foram obrigadas por seus acionistas a contemplar os riscos que a mudança do clima traz para seus negócios e dificilmente apoiarão declaradamente uma mudança deste estatuto na EPA. Mesmo as automobilísticas, fonte primeira da demanda de combustíveis fósseis, e que estão sendo pressionadas a migrar para os veículos elétricos, não poderão defender abertamente a exclusão do risco climático da legislação. Myron Ebell, um dos lobistas negacionistas mais fortes e que presidiu a transição na EPA quando Trump assumiu, disse achar “que (essa mudança) vai receber o apoio majoritário das legislaturas estaduais que compõem a força tarefa (para deletar o risco climático), mas os membros privados estarão divididos”. No que é complementado por David Pomerantz, diretor de um instituto que apoia as fontes renováveis, que disse “esse não é um confronto que a Exxon ou as concessionárias elétricas desejariam. Não seria sua primeira incursão no negacionismo, mas ultimamente elas têm ficado bem quietas a respeito”.

https://www.eenews.net/stories/1060066829

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-15/coal-funded-alec-prods-trump-to-say-climate-change-not-a-risk

 

QUEDA NA DEMANDA GLOBAL POR TÉRMICAS A GÁS FAZ SIEMENS CORTAR PESSOAL E OPERAÇÕES

A Siemens avisou em 16 de novembro que vai cortar cerca de 6 mil postos de trabalho e fechar fábricas, principalmente na Alemanha, por conta da queda na demanda pelas grandes turbinas a gás usadas para a geração elétrica. A Siemens estima que o mercado não comprará mais do que 110 turbinas de capacidade maior que 100 MW por ano, enquanto a capacidade mundial de produção é estimada em 400 destas turbinas. Analistas dizem que isso corresponde a um mercado de 35 GW por ano, enquanto só a fonte fotovoltaica deve crescer 100 GW por ano nos até 2020.

https://www.siemens.com/press/en/pressrelease/

 

CAMINHÕES E ÔNIBUS ELÉTRICOS NO HORIZONTE

Elon Musk apresentou o caminhão elétrico Tesla, prometendo uma autonomia de 800 km, além de 640 km adicionais com recarga de meia hora. Como nos carros elétricos, a mecânica é bem mais simples e o custo de manutenção bem mais em conta. E a Tesla projetou uma aerodinâmica mais eficiente.

Um dos vários artigos a respeito do lançamento sugeriu que operações em comboio com um caminhão andando no vácuo do da frente, poderiam ser conduzidos autonomamente, à exceção do caminhão líder, reduzindo ainda mais o custo do frete.

Entre os vários artigos, vale destacar um que analisa o que fará os donos de frotas decidir se vão comprar a ideia e o caminhão. O primeiro desafio é o preço da bateria. Existem estimativas de que, a cada vez que a demanda de baterias dobrar, o preço cai quase 20%. O mercado dos pesados de percurso longo é o mais desafiador e Musk poderia decidir entrar primeiro nos semipesados urbanos, como os do segmento de lixo ou de cimento. E aqui aparece outra vantagem dos elétricos num ambiente urbano: a possibilidade de dimensionar a capacidade das baterias e a configuração dos motores elétricos conforme a distância média de recarga e a carga transportada. Isso dá uma versatilidade de configurações e, portanto, de preço que os caminhões a diesel não têm.

A Cummins também lançou seu caminhão elétrico, mas para o mercado dos semipesados urbanos. A capacidade de carga e a autonomia são menores do que o Tesla, mas têm a possibilidade de aumentar a autonomia usando outras soluções de propulsão.

A Daimler optou por entrar no mercado dos ônibus e, já no ano que vem, começará a produzir em escala. Os planos são para chegar em 2030 com a linha dos elétricos representando 70% de todos os ônibus novos. Um analista comentou essa meta dizendo que, “com a velocidade com que os chineses estão passando para baterias, a meta parece bem modesta”.

Uma última nota sobre ônibus: em Londres vai começar um teste com um biodiesel feito a partir de borra e outros restos de café das muitas cafeterias da cidade. Desenvolvido por uma parceria entre um desenvolvedor inglês e a Shell, o biodiesel é misturado ao diesel comum, formando um B20 que vai tocar os ônibus vermelhos da cidade.

http://epocanegocios.globo.com/colunas/Tecneira/noticia/2017/11/o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-caminhao-eletrico-da-tesla.html

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-17/tesla-truck-could-threaten-big-chunk-of-oil-demand-if-it-works

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-15/what-tesla-s-semi-truck-must-do-to-seduce-truckers

https://www.tecmundo.com.br/mobilidade-urbana-smart-cities/121454-cummins-apresenta-caminhao-eletrico-rivalizar-tesla.htm

https://www.daimler.com/products/buses/mercedes-benz/citaro-e-cell.html

http://theicct.org/blog/staff/zero-emission-buses-are-worth-reaching-for

http://www.bio-bean.com/bio-diesel/

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-11-20/london-s-iconic-red-buses-to-run-on-biofuel-made-from-old-coffee

 

ESTA AMEAÇA NÃO VEM DO CLIMA, NEM DA POLÍTICA:

PREVISÃO DE GRANDES TERREMOTOS EM 2018

No último congresso da Geological Society of America foi apresentado um trabalho que estudou a correlação entre terremotos fortes e ligeira redução periódica da velocidade média de rotação da Terra. De tempos em tempos, o dia médio fica alguns milissegundos mais longos ou, a Terra gira um pouquinho mais lentamente. Os pesquisadores dizem que entre 5 a 6 anos depois que isso acontece, há um aumento do número de terremotos fortes, principalmente em regiões tropicais, como nos arquipélagos da Malásia, Indonésia e Filipinas, além de no Caribe. Eles contam, por exemplo, que desde 1900, 80% dos terremotos fortes que ocorreram ao longo da linha que percorre as ilhas das Antilhas, aconteceram cinco anos após o máximo de retardamento da velocidade de rotação. O último período de retardamento desses aconteceu entre 2011 e 2012 e, se os pesquisadores estiverem certos, é possível que vejamos um 2018 com terremotos fortes.

https://gsa.confex.com/gsa/2017AM/webprogram/Paper300667.html

https://www.theguardian.com/world/2017/nov/18/2018-set-to-be-year-of-big-earthquakes