ClimaInfo, 28 de novembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

VALE E PETROBRÁS DOMINAM INVESTIMENTOS NO BRASIL

Dos R$ 367 bilhões em investimentos programados para os próximos quatro anos, quase R$ 200 bilhões virão do plano de negócios da Petrobras e R$ 44 bilhões da Vale. As duas devem responder por quase 70% de tudo que será investido no país entre 2018 e 2021.

Quatro estados que abrigam grandes projetos das duas empresas ficarão com 76% dos investimentos previstos para o período: Rio de Janeiro, Pará, São Paulo e Espírito Santo. No Rio, por exemplo, 83% dos investimentos previstos são da petroleira, e, no Pará, 88% da mineradora. O Nordeste deve receber apenas 9% dos investimentos previstos. A situação seria ainda pior na região se não fosse pelos investimentos em parques eólicos e solares que estão sendo lá desenvolvidos.

A consultoria AFPartners, responsável pelo mapeamento, considerou somente os megaempreendimentos em estágio avançado, como os que obtiveram licenças ambientais ou estão em construção.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,vale-e-petrobras-dominam-investimentos-no-brasil,70002097267

 

FUNDO SOCIAL DO PRÉ-SAL, ENTRE A BONANÇA E O PRESSÁGIO

O professor Beni Trojbicz pergunta no Valor se estaremos preparados para resistir ao uso dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal ao sabor da pressão política. A pressão certamente virá conforme os recursos forem se acumulando e, de certa forma, foi antecipada na discussão do projeto no congresso. O projeto original do governo Dilma se inspirava no Fundo Soberano da Noruega e tentava garantir um mínimo de justiça intergeracional ao destinar a maior parte dos recursos à educação. Mas, durante a tramitação multiplicaram-se as áreas destino (educação, cultura, esporte, saúde pública, ciência e tecnologia, meio ambiente e mitigação das mudanças climáticas), o que, para Trojbicz, “indica certa aleatoriedade na influência da ação política”.

Trojbicz defende a justiça intergeracional no uso destes recursos por conta do petróleo ser uma riqueza não renovável cujo processo de exploração leva à exaustão das reservas, de forma que o consumo destes recursos implica privilegiar as gerações presentes em detrimento das futuras.

O artigo é bastante denso e quase impossível de resumir. Vale a pena uma leitura atenta.

Em tempo: frente à urgência da redução global das emissões de gases de efeito estufa, e frente aos custos dos impactos das mudanças climáticas que as novas gerações enfrentarão, ficamos aqui nos perguntando se haverá alguma justiça intergeracional qualquer que seja os destinos de um Fundo gerado pela exploração de petróleo.

http://www.valor.com.br/opiniao/5207285/fundo-social-do-pre-sal-entre-bonanca-e-o-pressagio

 

BALÃO DE ENSAIO DE ALCKMIN: TRANSPOSIÇÃO DO RIO TOCANTINS

Ainda pré-candidato, o governador tucano de São Paulo busca bases no Nordeste e usa a água, ou melhor, propostas de obras de abastecimento como passaporte para tornar-se mais conhecido na região e, quem sabe, montar uma chapa com um candidato nordestino a vice-presidente.  Além de emprestar bombas d’água da Sabesp para Ceará, Paraíba, Sergipe e Pernambuco, Alkmin propôs na semana passada, no Recife, transpor águas do Rio Tocantins para o São Francisco. Nas palavras dele: “Merece estudo a questão (da transposição) do Rio Tocantins com o São Francisco. Essa é uma tendência futura. Com a energia mais barata, você produz alimento até em Nova York… Somos favoráveis à transposição do São Francisco. Ajudamos para que a água chegasse mais depressa. Na Paraíba, pôde chegar 40 dias antes por causa das bombas que emprestamos”.

Em tempo: o governador não disse uma palavra sobre revitalizar a bacia do São Francisco.

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,alckmin-aposta-na-transposicao-do-rio-tocantins-para-o-nordeste,70002098154

 

A EFICÁCIA DO RENOVABIO POSTA EM QUESTÃO
Samuel Pessoa escreveu na sua coluna deste domingo sobre o RenovaBio, o programa que o governo lançou para estimular o consumo de biocombustíveis, em especial o etanol. Na COP23, o ministro Sarney Filho fez questão de anunciar o programa como uma das mais importantes ações do país para reduzir suas emissões. Samuel aponta que o programa pretende estimular o consumo de etanol e desestimular o consumo de gasolina, mas que vai ter um custo elevado por conta das auditorias que os usineiros terão que fazer anualmente, por conta dos custos que as distribuidoras de combustíveis terão para gerenciar o cumprimento de suas metas e por quanto o governo terá que gastar para manter o sistema funcionando. Pessoa defende que aumentar uma das contribuições que incide sobre a gasolina, a CIDE, teria o mesmo efeito de elevar o preço da gasolina estimulando, assim, o consumo de etanol. A alternativa não teria o custo com auditorias nem o de um departamento no governo para cuidar. E, ainda por cima, aumentaria a arrecadação do Tesouro Nacional, o que contribui para reduzir o déficit fiscal do governo, portanto as taxas de juros, portanto a inflação.
À pergunta sobre quem vai ganhar mais com o RenovaBio do que com o aumento da CIDE, Pessoa sugere que os usineiros têm o potencial de ganhar duas vezes: uma ao vender cada vez mais etanol e outra ao negociar os créditos de biocombustíveis que são o motor do RenovaBio.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2017/11/1938289-renovabio-uma-ma-ideia.shtml

 

SOLAR CRESCE MAIS DE 50% NAS NAÇÕES EM DESENVOLVIMENTO EM 2016

A instalação de sistemas de energia solar está crescendo a um ritmo impressionante nos mercados emergentes, impulsionada pelo baixo custo dos equipamentos e por aplicações inovadoras que estão ampliando o acesso para milhões de “sem energia”. Em 2016, foram instados 34 gigawatts solares nos 71 países emergentes estudados pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF). A capacidade de geração solar acumalada cresceu 54% e mais do que triplicou em três anos. A China, claro, foi a líder em instalações, com 27 gigawatts, seguida pela Índia, com 4,2 gigawatts. Enquanto isso, Brasil, Chile, Jordânia, México, Paquistão e outras nove nações conseguiram duplicar ou mais que duplicar suas capacidades fotovoltaicas em 2016. No cômputo geral, a energia solar representou 19% de toda a capacidade de geração elétrica adicionada nos países analisados, ante 10,6% em 2015 e 2% em 2011.

O uso de energia fotovoltaica em micro-redes, sistemas de baterias, lanternas, bombas de água e até torres de telefonia móvel está proliferando, muitas vezes sem conexão com programas governamentais e liderados por empresas.

http://global-climatescope.org/en/

 

SUBSÍDIOS AOS FÓSSEIS PODEM SER ELIMINADOS POR MEIO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Apesar da pressão constante para que os governos eliminem os subsídios dados aos combustíveis fósseis, muito pouco foi feito de efetivo até agora. E a cada COP, volta o mantra de que não será possível limitar o aquecimento global sem a completa eliminação destes subsídios. Um novo estudo preparado pelo Stockholm Environment Institute e o Global Subsidies Initiative traz uma nova abordagem: usar a Organização Mundial do Comércio (OMC), em especial aplicar o Acordo sobre Subvenções e Medidas de Compensação para os subsídios aos fósseis. O estudo aponta exemplos concretos de como o Acordo poderia ser acionado e foi lançado agora em tempo para ser examinado na Conferência Ministerial da OMC, em Buenos Aires, em dezembro.

http://climatestrategies.org/wp-content/uploads/2017/11/CS-Report_FFS-2017.pdf

 

UMA BOLA DE CRISTAL PARA O PREÇO DO PETRÓLEO EM 2018

Jim O’Neil, ex-diretor do Goldman Sachs Asset Management, tem uma longa história analisando os altos e baixos dos vários preços de petróleo. No começo do ano, ele previa que um principal preço de referência, o Brent não iria continuar sua trajetória de queda e que, possivelmente, iria até dar uma subidinha. Como todo mundo, ele não previu que haveria um golpe branco na Arábia Saudita que fez o preço do barril de Brent pular do patamar de US$ 50 para US$ 60, um aumento de 20% em menos de uma semana. Numa conferência no começo do mês, os analistas presentes concordaram que o preço vai ficar nos US$ 60 durante boa parte do ano que vem. Menos O’Neil que acha muito difícil o preço ficar constante um ano inteiro, por um lado porque a economia mundial parece que vai continuar crescendo e, portanto, também a demanda por petróleo, e, por outro, ninguém tem muita clareza do que aconteceu na Arábia Saudita e como o drama vai se desenrolar, portanto, face aos riscos, todos querem se proteger de surpresas aumentando o preço do Brent. Finalmente, ninguém tem mais clareza se a Arábia Saudita vai levar a cabo o plano de abrir parcialmente o capital da maior petroleira do mundo, a Aramco. O’Neil acha provável que o preço do barril de Brent chegue a US$ 80 daqui a um ano.

Isso faria a felicidade de quem apostou no pré-sal. E a tristeza de quem quer que a temperatura global não suba mais do 1,5°C.

https://www.project-syndicate.org/commentary/oil-prices-in-2018-by-jim-o-neill-2017-11

 

FUNDO VERDE DO CLIMA AJUDA VIETNÃ A PROTEGER SUA ZONA COSTEIRA CONTRA IMPACTOS CLIMÁTICOS

O Fundo Verde do Clima foi criado lá atrás para ajudar países em desenvolvimento a mitigar suas emissões, a mitigar os impactos do clima e a avançar a agenda de adaptação às mudança que vêm por aí. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) anunciou que receberá quase US$ 30 milhões do Fundo para ajudar comunidades do litoral do Vietnã a se preparem para os impactos da mudança do clima. A abordagem do programa é focada nas pessoas e em aumentar a resiliência nas 28 províncias mais vulneráveis ao longo da costa e, construído a partir de experiências anteriores do PNUD, vai trabalhar na construção de casas mais resistentes a enchentes e tempestades e reforçar os manguezais para aumentar sua capacidade de absorver ondas e marés elevadas. Também devem aumentar o acesso e a comunicação de eventos climáticos importantes.

No começo de novembro, o tufão Damrey, tido como o mais forte a atingir o país em 16 anos, matou mais de 100 pessoas e deixou milhares desabrigados.

http://adaptation-undp.org/undp-green-climate-fund-project-benefit-coastal-communities-vulnerable-climate-related-impacts-viet

 

HIDROGÊNIO JÁ SUBSTITUI DIESEL EM TRENS E CAMINHÕES

A Alstom, empresa franco-alemã da área de energia e transporte, assinou um contrato para construir 14 trens movidos a hidrogênio nos próximos quatro anos. O hidrogênio é tido como o combustível do futuro porque não polui, já que sua queima resulta em vapor d’água. No projeto da Alstom, um tanque de hidrogênio vai dar ao trem uma autonomia de 1.000 km a uma velocidade de 140 km/h.

A Toyota, por sua vez, está projetando um caminhão a hidrogênio para o transporte pesado de cargas nos portos de Long Beach e Los Angeles, na Califórnia. No press-release, a Toyota diz para ninguém ficar assustado quando um enorme caminhão passar sem quase fazer barulho.

Tanto os trens quanto os caminhões usarão hidrogênio gerado em células de combustível (fuel cells). As células, alimentadas por corrente elétrica, aproveitarão a eletricidade excedente de plantas de renováveis.

https://futurism.com/hydrogen-powered-trains-are-coming-to-germany-in-2021/

https://futurism.com/toyotas-trucks-that-only-emit-water-vapor-are-moving-goods-in-la/

 

DERRETIMENTO DE GELEIRAS ANTÁRTICAS TALVEZ NÃO IMPLIQUE INÍCIO DO APOCALIPSE

Na semana passada, demos uma nota sobre duas geleiras no Mar de Amundsen que poderiam estar servindo de rolha para uma quantidade monstruosa de gelo que, se derretido, elevaria o nível do mar em muitos metros, inundando as metrópoles a beira-mar, provando milhões de refugiados. Ainda na semana passada apareceu um artigo dizendo que dificilmente as rolhas vão derreter da maneira descrita. Se derreterem, o processo vai levar um bom tempo; tempo suficiente para evacuar quase todo mundo. Possivelmente haverá tempo suficiente para construir novas moradias em terras mais altas e secas e instalar todo mundo. O artigo não fez contas de quanto isto custaria e o que pode acontecer nos países que ou não têm recursos e/ou não têm território para tamanha mudança.

https://www.theguardian.com/science/head-quarters/2017/nov/23/climate-change-how-soon-will-the-ice-apocalypse-come-antarctica