ClimaInfo, 12 de dezembro de 2017

ClimaInfo mudanças climáticas

CICLO DE ENCHENTES E SECAS CADA VEZ MAIS SEVERAS NA AMAZÔNIA

Um artigo recente na Conservation Biology relata um estudo feito na Amazônia Peruana sobre o impacto das mudanças do clima na vida animal e das comunidades tradicionais. Durante sete anos, pesquisadores acompanharam mamíferos, pássaros, peixes e répteis na Reserva Nacional Pacaya-Samiria, no norte peruano, a 150 km da fronteira com o Brasil. A população de mamíferos quase desapareceu durante as enchentes que vieram durante cinco anos seguidos. A população de uma das espécies de piranha caiu pela metade na seca intensa de 2010. Os pesquisadores demonstraram sua preocupação com os povos indígenas que dependem desses animais para sua sobrevivência. Se acontecer uma sequência de anos de enchentes seguidos de uma sequência de anos secos, a população animal não terá tempo de se recuperar e as comunidades indígenas serão bastante afetadas, tendo que migrar ou morrer de fome. A soma dos efeitos do aquecimento global com a dos El Niños fortes pode vir a afetar definitivamente o meio de sobrevivência daqueles povos.

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/cobi.12993/full

https://news.mongabay.com/2017/12/extreme-seasonal-changes-in-amazon-river-levels-threaten-forest-conservation-by-indigenous-people/

 

ONU LANÇA ESTUDO SOBRE AS FRONTEIRAS DA TECNOLOGIA E OS DESAFIOS AMBIENTAIS QUE TRAZEM

A ONU Meio Ambiente, ex-PNUMA, lançou seu “Fronteiras 2017 – Questões Emergentes de Preocupação Ambiental” (Emerging Issues of Environmental Concern). A edição desse ano abarca seis temas: a dimensão ambiental da resistência microbiana, a aplicação do princípio da precaução aos nanomateriais, o enfrentamento do problema global das tempestades de areia e poeira, a aplicação da solar fotovoltaica em comunidades isoladas, a migração climática ou a mobilidade humana no Antropoceno e a garantia a zonas marinhas protegidas beneficiando o desenvolvimento sustentável. Na semana passada, na 3a Conferência da ONU Meio Ambiente, muitas discussões versaram sobre a resistência microbiana. Ontem, Daniela Chiaretti escreveu no Valor sobre a nanotecnologia, seus potenciais benefícios e os riscos e problemas que, desde já, são possíveis vislumbrar. Existe um mundo de desenvolvimentos na área com uma infinidade de aplicações. Por exemplo, existem nanomateriais que podem substituir dois dos maiores emissores de gases de efeito estufa: cimento e aço. A ONU quer ver prevalecer o princípio da precaução, lembrando o caso do amianto, que foi proibido depois de uma multidão de casos fatais na fabricação e na sua aplicação. A ONU explicita a mensagem de precaução: ‘nenhuma evidência de danos’ não é o mesmo que ‘evidência que não causa danos’.

https://www.unenvironment.org/resources/frontiers-2017-emerging-issues-environmental-concern

http://www.valor.com.br/internacional/5223495/onu-quer-evitar-reacoes-precipitadas-sobre-nanotecnologia

 

SAIR DA RECESSÃO DEPENDE DA AGRICULTURA, DA EXTRAÇÃO MINERAL E DE CARROS QUE SÃO CAMPEÕES EM EMISSÕES

Vinícius Torre Freire escreveu na sua coluna na Folha de São Paulo sobre como o país está saindo da recessão, dizendo que “o grosso do aumento da produção industrial vem de montadoras, (das indústrias do) petróleo e ferro e um pouco mais de produtos eletrônicos”. Ou seja, conclui, “dependemos do sucesso de agricultura, extração mineral e carros”. Junto vem a reforma trabalhista que vai acirrar ainda mais a desigualdade social antes da prometida cornucópia de empregos que viria de uma economia em franco crescimento. Daí sua preocupação com a fragilidade da recuperação e das agruras das camadas mais pobres da população. Onde acrescentamos que mais carro, ferro e petróleo são o que há de pior para a crise do clima.

http://m.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2017/12/1941344-pais-com-mais-carro-menos-supermercado.shtml

 

O BECO SEM SAÍDA DO CARRO INDIVIDUAL

Eduardo Vasconcellos, do Instituto Cidade em Movimento, escreveu um artigo interessante no site da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) sobre os custos que a sociedade tem para sustentar o carro particular. Só em São Paulo, com um milhão de carros na rua, há milhares de quilômetros de faixas asfaltadas que servem de estacionamento gratuito. O serviço de táxi, “um carro alugado com motorista” recebe um subsídio da ordem de R$ 250 milhões por ano. Sempre falando sobre São Paulo, ele lembra que 80% dos veículos nas vias principais da cidade são carros particulares que, para transportar muito menos gente, ocupam muito mais espaço, espaço do transporte público e do transporte ativo – ciclistas e pedestres. Vasconcellos defende que “é necessário que o custo cobrado (e percebido pelas pessoas) por usar o automóvel incorpore os seus impactos físicos, ambientais e econômicos”. E parar de querer melhorar o trânsito que só serve para atrair mais e mais carros para as ruas.

http://antp.org.br/noticias/clippings/o-transito-de-sao-paulo-tem-solucao-eduardo-vasconcellos.html

http://cidadeemmovimento.org/

 

ESTAÇÕES DE RECARGA ENTRE RIO E SÃO PAULO E CARROS ELÉTRICOS DA BMW DA GM

Os sinais de carros elétricos no país estão chegando. A BMW já tinha trazido seu modelo i3 no segmento de luxo. Na semana passada, a GM avisou que vai começar a trazer seu Bolt no ano que vem, posto que, nas palavras do seu presidente para o Mercosul, Carlos Zarlenga, “a questão não é mais se o Brasil vai ter veículos elétricos, mas quando”. As duas sabem que, pelo menos por enquanto, vão enfrentar resistências vindo do petróleo, do etanol e até de algumas montadoras concorrentes. Um dos campos de batalha já é as alíquotas de importação e seus impostos. A BMW, para mostrar que o elétrico é uma realidade, se juntou à elétrica EDP para instalar pontos de recarga ao longo da Rodovia Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo.

http://www.valor.com.br/empresas/5221837/gm-planeja-vender-carro-eletrico-no-brasil-em-2018#

http://www.brasilalemanhanews.com.br/destaque/bmw-instala-estacoes-de-recarga-em-rodovia-que-interliga-rio-e-sao-paulo/

 

3 MILHÕES DE HECTARES DE MATA ATLÂNTICA PODEM SER RECUPERADOS COM FLORESTAS

Bettina Barros escreveu no Valor sobre o potencial de recuperação florestal do bioma da Mata Atlântica e sobre áreas já recuperadas. Uma parceria entre o Serviço Florestal Brasileiro e a ONG SOS Mata Atlântica permitiu usar informações do Cadastro Ambiental Rural para estimar que existem cerca de três milhões de hectares nos quais o Código Florestal indica que a floresta precisa ser recuperada e preservada. Esse total corresponde a Áreas de Proteção Permanente e de Reserva Legal. Só de APPs, áreas às margens de cursos d’água e topos de morros, existem quase 400 mil hectares. Além de ajudar em uma das metas assumidas no Acordo de Paris, a de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares, a restauração da floresta traz outros benefícios como a regulação da hidrologia e do microclima e impactos positivos para a saúde pública.

http://www.valor.com.br/agro/5221747/vantagens-da-recuperacao-das-florestas-das-fazendas#

 

TÉRMICAS A CARVÃO INDIANAS NÃO CUMPREM PRAZOS E A POLUIÇÃO PARALISA SERVIÇOS E ESPORTES

A situação da poluição em Deli e outras cidades da Índia continua nas manchetes. O governo anunciou que pretende estender o prazo para que as grandes térmicas a carvão se adequem a limites de emissão de poluentes. O prazo expirou na semana passada e 60% das plantas continuam a poluir acima dos limites legais. Nenhuma planta na região ao redor de Deli foi multada nos últimos três anos. Chegou a um ponto em que a mais alta instância da justiça ambiental, o National Green Tribunal, questionou oficialmente a agência federal de controle da poluição (Central Pollution Control Board), sobre o porquê das plantas a carvão continuarem a ultrapassar os limites. Uma de suas declarações dizia “mostre uma única planta onde as regras tenham sido cumpridas”. Na semana passada, num importante torneio de cricket entre a Índia e o Sri Lanka, jogadores dos visitantes tiveram que interromper a partida porque estavam passando mal por conta da poluição do ar.

https://timesofindia.indiatimes.com/home/environment/pollution/over-300-coal-based-power-plants-continue-to-emit-more-as-deadline-to-comply-with-strict-emission-norms-ends/articleshow/61967541.cms

https://energy.economictimes.indiatimes.com/news/coal/coal-based-power-units-flouting-emission-control-norms-report/61974041

https://energy.economictimes.indiatimes.com/news/power/clarify-stand-on-thermal-plants-air-pollution-ngt-to-cpcb/61880767

 

AS 250 CORPORAÇÕES MAIS EMISSORAS DO MUNDO

Um novo relatório chama de G250 as 250 corporações globais que mais emitem gases de efeito estufa no planeta. Segundo o sumário executivo, “elas formam um grupo diversificado e interligado de corporações de capital aberto nos setores de óleo, gás, eletricidade, automotivo, aviação, aço, mineração, cimento e outras indústrias. Elas provêm produtos e serviços essenciais à economia global. Elas também representam cerca de um terço das emissões antrópicas quando se inclui suas cadeias de valor. Sem reduções contínuas das emissões desse grupo, não será possível uma mitigação efetiva dos riscos climáticos a longo prazo”. A Petrobras é a 14a da lista. A líder é a Coal India.

O trabalho foi patrocinado pelas CDP, Constellation e The 1 Gigaton Coallition, com o apoio da Thomas Reuters.

O infográfico no site da Downtoearth é muito bom e vale uma espiada.

https://blogs.thomsonreuters.com/sustainability/wp-content/uploads/sites/15/2017/10/GLOBAL-250-GREENHOUSE-GAS-EMITTERS-A-New-Business-Logic.pdf

http://www.downtoearth.org.in/dte-infographics/59269-global250.html

 

PUBLICAÇÃO SOBRE OS RISCOS E DESAFIOS DA REDUÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA

Muita gente fala que limitar o aquecimento em 1,5°C vai exigir mais do que reduzir drasticamente as emissões: vai exigir remover quantidades respeitáveis de CO2 da atmosfera, e rapidamente, processo que recebe o nome de “emissões negativas”. As propostas envolvem desde enterrar os gases em estruturas geológicas que os prendam por milênios até acelerar os processos naturais que capturam os gases na atmosfera e acabam por depositá-los no fundo do mar na forma de conchas e estruturas calcárias assemelhadas. Todas elas envolvem graus diferentes de sucesso e talvez até mais importante, envolvem graus diferentes de riscos para os ecossistemas, as comunidades e a própria vida sobre a Terra tal qual a conhecemos. No mês passado saiu um bom guia para entender esses riscos. O SEI (Stockholm Environment Institute) publicou um trabalho chamado “Os riscos da dependência das ‘emissões negativas’ de amanhã: um guia para as ações de mitigação de hoje”. Eles classificam os riscos em três grupos: o risco de que as opções acabem se provando inviáveis; o risco de não poderem ser adotadas em larga escala pelos impactos sociais e ecológicos que provocariam; e os riscos de que as emissões negativas acabem sendo muito menores do que o esperado, seja porque são revertidas pelo homem ou por forças naturais, seja porque os impactos climáticos se tornam irreversíveis. Eles nem olham para muitos dos processos chamados de geoengenharia, por estes caírem rapidamente tanto no primeiro quanto no segundo grupo. No trabalho, eles examinam com mais detalhe a restauração ecológica, a restauração de paisagens, o reflorestamento e a produção de bioenergia com a subsequente captura e armazenamento de CO2. A principal recomendação quanto às emissões negativas trata-se delas poderem criar uma sensação de que conseguem compensar uma sociedade que volte a emitir irresponsavelmente.

O SEI também publicou um segundo artigo onde sugere como distribuir um orçamento de carbono que limite o aquecimento em 1,5°C. Vale conferir.

https://www.sei-international.org/mediamanager/documents/Publications/Climate/SEI-PB-2016-Negative-emissions-land-based-measures.pdf

https://www.sei-international.org/mediamanager/documents/Publications/Climate/SEI-WP-2016-08-Negative-emissions.pdf

https://www.sei-international.org/publications?pid=3243

https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10784-017-9371-z

 

IMPOSTOS SOBRE O PECADO DA CARNE PARA ENFRENTAR AMEAÇAS DE CLIMA E SAÚDE

O “imposto sobre o pecado”, ou “sin tax”, é definido como o que incide sobre produtos e bens que causam danos à sociedade, como álcool e tabaco. Uma matéria no The Guardian coloca a carne como uma das prioridades para um imposto dessa categoria por causa da sua relevância nas emissões globais, cerca de 15%, e pelos riscos à saúde humana que traz. O imposto sobre a carne está sendo discutido nos parlamentos da Alemanha, da Dinamarca e da Suécia. E a China cortou sua recomendação de consumo de carne em mais da metade. Jeremy Coller, fundador da FARR (sigla em inglês da rede internacional de Risco e Retorno de Investimentos em Animais de Fazenda) apontou que “se políticos e tomadores de decisão quiserem cobrir o verdadeiro custo de epidemias humanas como obesidade, diabetes e câncer e epidemias de animais de criação como a gripe aviária e, ao mesmo tempo, enfrentar o duplo desafio da mudança do clima e do aumento da resistência a antibióticos, então parece inevitável passar do subsídio à taxação da indústria da carne”. A FARR estima que impostos deste tipo sobre a carne serão comuns em 15 a 20 anos.

Na mesma linha, Suzi Amis Cameron e James Cameron, diretor de filmes como Titanic e Avatar, junto com problemas de saúde e a parcela importante nas emissões globais, apontam para o fato da criação de carne e leite ocupar 70% da terra agricultável do mundo, segundo estudo da Worldwatch, além de ser considerada um dos vetores de desmatamento. Eles terminam seu artigo dizendo que a escolha é muito mais de cada indivíduo do que de governos.

Georges Monbiot também escreveu um artigo no The Guardian sobre o tema em outubro. Para recalcitrantes em abandonar as picanhas do final de semana, talvez os três artigos ajudem a reconsiderar escolhas.

https://www.theguardian.com/environment/2017/dec/11/meat-tax-inevitable-to-beat-climate-and-health-crises-says-report

https://www.theguardian.com/commentisfree/2017/dec/04/animal-agriculture-choking-earth-making-sick-climate-food-environmental-impact-james-cameron-suzy-amis-cameron

http://www.worldwatch.org/peak-meat-production-strains-land-and-water-resources-1

 

POR LIMITAR A DEFINIÇÃO DE GELEIRA, CIENTISTA ARGENTINO É ACUSADO DE FACILITAR LICENÇA AMBIENTAL DE MINERADORA

Marcelo Leite trouxe na Folha de São Paulo deste final de semana o caso do glaciologista argentino Ricardo Villalba, que corre o risco de ser considerado criminoso por um tribunal federal. Villalba é dos mais respeitados estudiosos das geleiras argentinas e, em seus trabalhos, usa fotos de satélites para acompanhá-las. No seu Inventário Nacional de Geleiras, trabalhou com uma área mínima de um hectare para excluir áreas temporariamente cobertas com neve e gelo. Internacionalmente, muitos pesquisadores trabalham com áreas mínimas maiores que um hectare. Acontece que existe uma lei argentina que protege as geleiras. Ao excluir áreas menores, Villalba está trombando com ambientalistas da província de San Juan que dizem que ele ajudou propositalmente a mineradora Barrick Gold a conseguir as autorizações sem precisar passar pelo crivo da lei de proteção às geleiras. Marcelo faz uma crítica bastante ácida aos ambientalistas da campanha contra o cientista.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2017/12/1941978-justica-indicia-cientista-argentino-acusado-de-favorecer-mineradora.shtml

 

RELATÓRIO ANUAL SOBRE O ESTADO DE MERCADO E FINANÇAS DO CARBONO FLORESTAL

Para quem acompanha os mercados de carbono e as finanças associadas, foi lançada ontem, a versão 2017 do State of Forest Carbon Finance (Estado das Finanças de Carbono Florestal), uma das mais tradicionais e respeitadas publicações na área. O estudo traz dados e tendências dos três eixos de financiamento: mercados de carbono compulsórios e voluntários e o pagamento por serviços na forma dos projetos de REDD+ (redução das emissões vindas do desmatamento e degradação de florestas). No site da Forest Trends, além de poder baixar o trabalho, há uma apresentação dos principais resultados.

http://forest-trends.org/releases/p/sofcf2017