ClimaInfo, 9 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

DEVE O BRASIL SUBSIDIAR A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E ACELERAR A MUDANÇA DO CLIMA?

A Folha de São Paulo publicou um precioso artigo de Carlos Rittl, do Observatório do Clima, sobre o contrassenso que é o subsídio dado às petrolíferas pelo governo Temer. Rittl lembra que o governo criticou duramente as várias contas que indicavam ser a renúncia fiscal de R$ 1 trilhão – ou de “apenas” algumas centenas de bilhões – sem nunca ter apresentado quais eram suas estimativas. Segundo Rittl, “a crise climática é muito maior que a nossa crise fiscal. Só as reservas conhecidas e estimadas do pré-sal contêm 18% de todo o carbono que a humanidade pode emitir se quiser ficar no limite de 1,5 grau Celsius de aquecimento global… Então, antes de oferecer subsídios bilionários por décadas ao setor de óleo e gás, governo e parlamentares deveriam avaliar com responsabilidade qual o espaço para o pré-sal no mundo de hoje. Não o fizeram… A indústria fóssil prometeu maravilhas ao Brasil para vir viver aqui seus últimos anos de festa. Estendendo os subsídios até 2040, o governo se casou com a proverbial noiva cadáver. Criou um risco econômico cuja conta será da sociedade”.

Por outro lado, em artigo no Estadão, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, comemorou 2017 como o da redenção do setor energético, dando grande destaque para os leilões dos campos de petróleo. Para Pires, parece que a salvação da energia do país passa pelo inferno do aquecimento global. Talvez para se redimir um pouco, Pires celebra os preços que as eólicas e fotovoltaicas alcançaram nos leilões elétricos em dezembro, dizendo que “o Brasil entra no seleto grupo de países que contratam renováveis a menos de US$ 40 o MWh”.

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/01/1948447-um-debate-de-1-trilhao-de-equivocos.shtml

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,a-redencao-do-setor-de-energia,70002134135

 

EM DISCUSSÃO: A GERAÇÃO DE ELETRICIDADE DEVE TER UM BENEFÍCIO LOCAL?

André Trigueiro, na sua coluna na Folha de São Paulo, voltou a criticar a cobrança de royalties das usinas eólicas proposta pelo deputado maranhense Heráclito Fortes. Trigueiro diz que seria o primeiro caso no mundo. Como produtos minerais são finitos, os royalties sobre sua exploração foram criados para compensar a economia local quando do encerramento das atividades, dado que é bem provável neste momento que a região venha a empobrecer. Isto não faz o menor sentido quando se trata de vento e sol, que são praticamente inesgotáveis.

Mas vale perguntar que benefício uma comunidade tem ao ter uma planta eólica na vizinhança. De um lado, a arrecadação do estado e do município aumentam. Só que, em muitos lugares, essa receita reverte pouco para a população local. Aliás, muito provavelmente, os royalties também não ficarão para os locais.

Fica a pergunta: a geração renovável certamente é boa para o país. Ela pode, também, ser boa para a população local?

http://m.folha.uol.com.br/colunas/andre-trigueiro/2018/01/1948386-brasil-pode-ser-o-primeiro-pais-a-cobrar-royalties-da-energia-eolica.shtml

http://m.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1945898-energia-traz-bilhoes-para-nordeste-mas-beneficio-fica-na-mao-de-poucos.shtml

 

CONTAS DE LUZ MAIS ALTAS À VISTA

A desorganização do setor elétrico brasileiro persiste. A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) deixou de repassar valores devidos às distribuidoras de eletricidade em novembro e dezembro de 2017 por falta de recursos financeiros, mesmo com a cobrança de encargos nas tarifas dos consumidores para fazer frente aos compromissos. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável pela gestão da CDE, disse que “os repasses referentes a novembro e dezembro foram realizados de forma parcial”. Traduzindo: faltaram cerca de 1 bilhão de reais nesses dois meses. A CCEE também “sinalizou aos órgãos competentes a possibilidade de insuficiência de recursos para cumprir com todas as despesas orçadas para o ano”. O fundo CDE, que também banca iniciativas como o programa de universalização do acesso à energia Luz Para Todos, teve orçamento programado de 16 bilhões de reais em 2017 e deve consumir 18,9 bilhões de reais neste ano. Detalhe: previsto para ser entregue até 31 de dezembro do ano passado, o plano estrutural para redução dos subsídios foi adiado para 30 de abril.

https://exame.abril.com.br/negocios/fundo-que-subsidia-contas-de-luz-atrasa-repasses-a-distribuidoras/

 

OS PASSOS PARA FINANCIAR A DESCARBONIZAÇÃO DA ECONOMIA GLOBAL

A reunião promovida em dezembro pelo presidente francês, Emmanuel Macron, foi analisada por Alfredo Sirkis e Emilio La Rovere no Valor de ontem. Os autores chamam atenção para o volume de recursos, na forma de fundos de investimento e de “green bonds”, que poderia ser colocado para que a economia mundial emitisse menos e contivesse a mudança do clima. O ponto chave para os autores é a redução dos riscos das operações nos países em desenvolvimento e, consequentemente, a redução do custo desse dinheiro na forma de juros mais baixos. Os autores ecoam vários agentes importantes, alguns presentes à reunião de Paris, na direção de um “Clube de Iniciativas Financeiras para enfrentar a Mudança Global do Clima, com mais governos além do da França, bancos centrais, bancos de desenvolvimento e agências multilaterais, fundos soberanos e investidores institucionais, dispostos a avançar na experimentação de novos mecanismos de financiamento baseados no valor das ações de mitigação”. Um desses mecanismos seria um fundo que desse garantias a operações em países em desenvolvimento que resultassem em redução efetiva de emissões.

http://www.valor.com.br/opiniao/5248593/financas-para-descarbonizacao#

 

EXPLORAÇÃO DE FÓSSEIS É AUTORIZADA NO ÁRTICO NORUEGUÊS E DESEJADA POR TRUMP EM TODAS AS ÁGUAS DOS EUA

Na virada do ano, a justiça norueguesa e o governo Trump abriram áreas pristinas para a exploração de petróleo. Na Noruega, ONGs tinham interposto uma ação para impedir que o governo continuasse a emitir licenças para exploração de petróleo no Ártico alegando que isso seria incompatível com as obrigações climáticas assumidas pelo país. Os juízes disseram na sentença que o país só é responsável pelas emissões em seu território e não pelo que outros países fazem com o petróleo norueguês.

Já Trump não tem esse tipo de prurido e quer retirar as restrições existentes e liberar 90% das águas continentais no Atlântico, no Pacífico e no Ártico. A Flórida do governador republicano Rick Scott vai pressionar para ficar fora da lista. Talvez por ter sido assolada por alguns furacões recentemente.

http://www.climatechangenews.com/2018/01/04/norwegian-campaigners-lose-court-case-arctic-oil-drilling/

https://elpais.com/internacional/2018/01/04/actualidad/1515091983_190733.html

https://www.politico.com/story/2018/01/04/trump-drilling-coasts-pacific-atlantic-florida-324025

http://thehill.com/policy/energy-environment/367442-floridas-gop-governor-opposes-trump-move-to-expand-offshore-oil

 

AS METAS CLIMÁTICAS DA ALEMANHA SUBIRAM NO TELHADO

Política é política em qualquer lugar do mundo, inclusive na Alemanha.  A falta de apoio político vivida pela chanceler Angela Merkel deve levar a um alongamento das metas climáticas do país. Segundo informações obtidas pela Reuters, esse é um dos caminhos da negociação entre os representantes do bloco conservador de Merkel e os social-democratas de centro-esquerda (SPD). Devido ao forte crescimento econômico e à imigração mais alta do que o esperado, seriam necessárias medidas mais rígidas para que o país alcançasse seu objetivo nacional de emissões para 2020. Porém, os futuros parceiros da coalizão preferem postergar a redução das emissões de CO2 em 40% em relação aos níveis de 1990 até os primeiros anos da década de 2020, um embaraço potencial para a chanceler Angela Merkel. As partes que devem formar a base do governo da primeira ministra ainda estão conversando sobre como alcançar um corte de 55% nas emissões até 2030. Usando a velha tática de fazer boas promessas para os outros cumprirem, as partes em negociação também concordaram que a participação das energias renováveis no consumo de eletricidade da Alemanha deve aumentar para 65%, mas até 2030. Atualmente, o governo planeja aumentar a quota de energia renovável para algo entre 45% e 55%, mas em um prazo cinco anos menor, até 2025. Um documento visto pela Reuters mostra que os negociadores também concordaram em reduzir o imposto sobre eletricidade para reduzir os custos de energia, e planejam oferecer mais 4 gigawatts de energia solar, além da capacidade de geração de energia eólica terrestre e offshore. O acordo, elaborado por especialistas em energia de ambos os lados, ainda deve ser aprovado pelos líderes do partido.

https://uk.reuters.com/article/uk-germany-politics/german-parties-agree-to-scrap-2020-climate-target-sources-idUKKBN1EX0OW

 

O VALOR DOS PREJUÍZOS CLIMÁTICOS NOS EUA

A NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) fez as contas: a temporada de furacões combinada com incêndios florestais e outros eventos climáticos extremos causaram um prejuízo recorde aos EUA em 2017: US$ 306 bilhões. O ano segundo colocado em perdas causadas pelo clima foi 2005, com prejuízos de US$ 215 bilhões turbinados pelos furacões Katrina, Rita e Wilma.

Uma das formas usadas pela NOAA para medir o clima extremo é o Índice de Extremos Climáticos, que leva em consideração temperaturas, precipitações, tempestades tropicais, furacões e outros fatores. Em 2017, o Índice alcançou o segundo maior valor no período de 108 anos, mais que o dobro da média. Somente 2012 apresentou valor maior para estes índice, quando o furacão Sandy visitou a costa leste norte-americana e deu uma passada rápida por Nova York.

http://mashable.com/2018/01/08/2017-record-year-billion-dollar-disasters-third-warmest/#7xctXATa4mqa

https://www.ncdc.noaa.gov/billions/

 

EPA CORRE PARA LANÇAR NOVA REGRA CLIMÁTICA EM 2018

O site Politico informa que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) recebeu ordens da administração Trump para fechar um substitutivo à lei climática do ex-presidente Obama até o final do ano, um prazo muito mais curto que o habitual. Fontes ouvidas disseram que isso não é impossível, embora esse cronograma implique revogar e substituir a regra climática do setor elétrico de Obama simultaneamente, mas em processos separados. A EPA também teria que terminar de revisar uma regra de carbono separada para futuras usinas fósseis. Nas últimas semanas, Scott Pruitt, chefe da EPA, parou de sugerir que a agência poderia optar por não substituir o Plano de Energia Limpa. Afinal, uma nova lei pode cumprir a promessa de Trump de afrouxar as metas norte-americanas e, ao mesmo tempo, dar a segurança jurídica que os players do setor demandam.

E começaram a correr boatos de que Pruitt quer ser procurador geral da república (Attorney General). Do ponto de vista do governo Trump, o procurador atual, Jeff Sessions, pisou na bola ao não interferir na investigação sobre o papel dos russos na eleição de Trump e pisou de novo ao ver seu substituto no Senado vir do Partido Democrata.

https://www.politico.com/story/2018/01/05/epa-climate-rule-2018-327113

https://www.politico.com/story/2018/01/05/scott-pruitt-us-attorney-general-position-326373

 

OS SUBSÍDIOS AOS FÓSSEIS NOS 20 MAIORES PAÍSES EMISSORES

A edição 2018 do Climate Scorecard Report examina as políticas e os subsídios dados aos combustíveis fósseis pelos vinte países que mais contribuem para o aquecimento global. Os EUA são disparados o que mais ajudam os fósseis, US$ 8,16 trilhões em 2015, e isso desde bem antes de Trump. O bloco seguinte gasta muito menos que os norte-americanos, mas certamente muito mais do que devia, algo entre US$ 20 e 40 bilhões por ano. Nesse bloco estão, pela ordem, a Arábia Saudita, Brasil, Canadá e Alemanha. Mas levando em conta a recente lei que Temer aprovou para o setor, o Brasil deve passar os árabes e assumir a segunda colocação, com mais de US$ 70 bilhões por ano até 2020. Isso apesar de todo o mundo, exceto Trump, ter aderido ao Acordo de Paris, e apesar também das muitas juras de eliminação desses subsídios feitas por ministros nas reuniões do G20.

http://climatescorecard.org/wp-content/uploads/2018/01/ClimateScorecardReport16.pdf

 

CALOR DE DERRETER ESTRADAS NO SUL DA AUSTRÁLIA

Uma onda de calor bateu no litoral sudeste da Austrália, muito longe do conhecido Outback. Num subúrbio de Sydney, a temperatura chegou a 47,8°C e em toda a região metropolitana as temperaturas foram as mais altas dos últimos 80 anos. A temperatura média histórica da região é de 26°C. Na autoestrada que liga Sydney a Melbourne, uma das mais movimentadas do país, um trecho do asfalto simplesmente derreteu na 6a feira, provocando um congestionamento monstro.

https://www.nytimes.com/2018/01/07/world/australia/heat-wave.html

https://www.theguardian.com/australia-news/2018/jan/08/sydney-heatwave-very-high-fire-danger-warning-for-new-south-wales

 

O OCEANO PERDE CADA VEZ MAIS OXIGÊNIO E BIODIVERSIDADE

O oceano tem áreas naturalmente mais baixas em oxigênio. Elas geralmente ficam na costa ocidental dos continentes devido à forma como a rotação da Terra afeta as correntes oceânicas. Mas essas chamadas zonas mortas estão se expandindo dramaticamente: desde 1950, elas aumentaram em milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à área da União Europeia. Neste período, o nível de oxigênio em todas as águas oceânicas caiu 2%, o equivalente a 77 bilhões de toneladas.

Esses são alguns dos dados coletados pela análise publicada na revista Science, a primeira análise abrangente sobre o tema. Ela mostra que hoje existem 500 zonas mortas perto das costas, enquanto em 1950, eram menos de 50. Por trás dessa mudança estão o aquecimento global (águas quentes retêm menos oxigênio) e a poluição provocada pelo esgoto e pela atividade agropecuária.

Os oceanos alimentam mais de 500 milhões de pessoas e empregam 350 milhões de trabalhadores em todo mundo. Estas serão apenas as mais diretamente afetadas. O estudo alerta: “Os principais eventos de extinção na história da Terra foram associados a climas quentes e oceanos com deficiência de oxigênio”.

O mapa do sufocamento dos oceanos foi publicado pelo The Guardian e nele é possível ver onde a costa brasileira é afetada.

http://science.sciencemag.org/content/359/6371/eaam7240

http://www.observatoriodoclima.eco.br/perda-de-oxigenio-no-oceano-quadruplicou-em-50-anos/

 

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