ClimaInfo, 12 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

AMAZÔNIA: A VENDA DE TERRAS PÚBLICAS QUE NÃO FOI FEITA

O MMA desmentiu veementemente uma fake news divulgada pelo site Notícias Agrícolas, ligado ao agronegócio, segundo a qual o ministério teria vendido 3 milhões de hectares da Amazônia para ambientalistas a R$ 20 por hectare.

Na verdade, o MMA assinou um contrato com o Banco Mundial (Agência implementadora), o FUNBIO e a Conservação Internacional (Agências executoras) para a gestão do projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia, que tem por meta criar e consolidar áreas protegidas, buscando assim combater o desmatamento da Amazônia. O Projeto envolve a criação de novas áreas de conservação em três milhões de hectares, a implantação de práticas de manejo sustentável em 5 milhões de hectares de UCs já existentes, a recuperação da vegetação nativa e o apoio ao Cadastro Ambiental Rural e aos Programas de Regularização Ambiental.

A matéria também inventou ao situar essas terras num tal de “Corredor Triplo A” ao longo da fronteira norte do país, que teria despertado oposição dos militares. O MMA declarou que “em nenhum momento e em nenhum documento existente sobre o projeto (Paisagens Sustentáveis da Amazônia), se menciona essa iniciativa (Corredor Triplo A)”.

Neste ano de eleições e paixões, vai ser importante manter os olhos bem abertos para todas as fake news que essa gente vai plantar.

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/01/11/141181-ministerio-do-meio-ambiente-rebate-denuncia-de-venda-de-terras-na-amazonia.html

https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/politica-economia/205363-governo-brasileiro-vende-3-milhoes-de-hectares-da-amazonia-por-us-60-milhoes-aos-ambientalistas.html#


RESULTADOS DA MORATÓRIA DA SOJA E A PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA

Ontem saiu a 10a edição do relatório da Moratória da Soja indicando que, na safra 2016-17, a soja ocupou quase 50 mil hectares que não devia, área que foi desmatada depois da assinatura da Moratória. A nota da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) explica que isso representa 1% da área plantada com soja e 1,2% da área desmatada desde 2009.

Comparado com a situação anterior à Moratória, não há dúvida do progresso feito. Resta acompanhar de perto para ver se esses 50 mil hectares desaparecem de vez dos relatórios.
http://www.abiove.org.br/site/_FILES/Portugues/10012018-094820-relatorio_de_monitoramento_2017.pdf

http://www.mma.gov.br/index.php/comunicacao/agencia-informma?view=blog&id=2792

http://www.valor.com.br/agro/5253117/cultivo-de-soja-em-area-desmatada-da-amazonia-cresceu-27


ROBERTO RODRIGUES: É MAIS BARATO DESMATAR O CERRADO DO QUE USAR TECNOLOGIA E AUMENTAR A PRODUTIVIDADE

O ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, é o entrevistado do mês do Instituto Escolhas e traz algumas visões interessantes sobre o agronegócio e seu futuro. Ele acha que o desmatamento não acabou porque sai mais barato desmatar do que pagar por tecnologias de aumento da produtividade da terra. E sai mais barato porque a fiscalização é fraca e boa parte da sociedade não tem interesse no assunto.

Rodrigues lembra que boa parte da pecuária brasileira é atrasada, usa muita terra para produzir pouca carne. Para ele a valorização da terra virá da agricultura, com a chamada Integração Lavoura-Pecuária, que deve aumentar a produtividade geral, e o aproveitamento dos pastos degradados existentes tiraria a pressão pelo desmatamento.

O ex-ministro defende fazer do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC, parte da política de mudanças climáticas brasileira voltada ao setor agropecuário) um programa prioritário para o aumento da produção e a contenção do desmatamento. 

Perguntado sobre quando acabará a necessidade de expandir a área ocupada pelo agronegócio, Rodrigues diz que com a tecnologia não será mais preciso abrir mais áreas, que o zoneamento ecológico-econômico (ZEE) é central no processo, que o pagamento por serviços ambientais (PSA) pode valorizar uma “atitude ambientalista” no momento em que “se valorize mais a árvore em pé que a deitada” e que o Código Florestal compatibilizou economia e meio ambiente “na base do achismo. Tem que botar ciência nisso”.

http://escolhas.org/entrevista-do-mes-roberto-rodrigues/


A VISÃO DO SETOR ELÉTRICO SOBRE OS CUSTOS SOCIOAMBIENTAIS

Partiu do AcendeBrasil, um think tank do setor elétrico, a estimativa de que os custos socioambientais de grandes hidrelétricas representam 20% do custo do projeto, enquanto que, há 20 anos, eram só 6%. Eles se queixam de que esse encarecimento não trouxe mais previsibilidade e rapidez aos processos de obtenção das licenças para construir e operar as usinas.

Os analistas do grupo fazem quatro recomendações. As duas primeiras dizem respeito a orçar melhor os custos socioambientais e a aprender a avaliar sua efetividade, o que interessa a todos os envolvidos.

Já as duas últimas repetem velhas cantilenas. Numa afirmam ser necessário “identificar e expurgar do processo de licenciamento as questões que têm provocado aumento de custos e judicialização”, sem se darem conta de que isso anularia completamente as duas primeiras recomendações, que aceitam a responsabilidade pelos impactos das obras.

A última recomendação quer “responsabilizar os atores que provocam interferências sobre o licenciamento ambiental, mas que não se responsabilizam pelos impactos de suas ações”. Não fica claro a quais atores os autores se referem.

Se estiverem se referindo aos funcionários a cargo dos processos, os autores sabem muito bem que, perante a lei, todo funcionário público é pessoalmente corresponsável pelos danos causados por suas ações. A valer a sugestão do Acende, o funcionário é processado se causar “atrasos” ao licenciamento ou é processado se acontecer algum desastre na obra ou na operação por falta de rigor. Quem vai querer tocar em qualquer um desses processos?

Por outro lado, se estiverem se referindo ao Ministério Público e às organizações que representam a sociedade civil e os atingidos pelos impactos das obras, os autores correm o risco de serem acusados de rasgarem a Constituição.

http://acendebrasil.com.br/media/estudos/2017_WhitePaper_19_CustosSocioambientais.pdf


RENOVÁVEIS NO BRASIL AVANÇAM, APESAR DOS OBSTÁCULOS

Matéria do Nexo Jornal mostra os avanços da energia solar e eólica. Por um lado, recordes de crescimento. Segundo a Absolar, o país acaba de entrar no seleto grupo de 30 nações que alcançaram a marca de 1 gigawatt de capacidade instalada em projetos de energia solar em operação. Os dois maiores empreendimentos de solar na América Latina de 2017, por exemplo, ficam em Minas Gerais e Piauí. Em dezembro do ano passado, pela primeira vez as empresas da área conseguiram ofertar em um leilão energia mais barata que a gerada por biomassa, termelétrica ou pequena hidrelétrica. Por outro lado, até há muito pouco tempo, a solar não passava pelo radar dos entendidos em energia. O primeiro leilão que aceitou projetos solares aconteceu não faz 3 anos. E só no ano passado, ela passou a entrar nas contas do Plano Decenal de Energia. Devia ser pela dificuldade de estocar Sol.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/01/10/As-dificuldades-para-a-expansão-da-energia-solar-no-Brasil


OPRAH WINFREY NA ROTA DOS DESASTRES CALIFORNIANOS

Boatos sobre uma eventual candidatura de Oprah Winfrey à presidência dos EUA rolam desde que ela roubou a cena com o discurso feminista feito na entrega do Globo de Ouro. Se ela realmente chegar à Casa Branca, poderá promover avanços não só em questões de gênero. Afinal, a apresentadora tem testemunhado pessoalmente os efeitos das mudanças climáticas. Ontem, por exemplo, a apresentadora publicou no Instagram um vídeo mostrando sua casa atingida pelos deslizamentos de terra e escombros que ocorrem na Califórnia provocados por uma forte tempestade que deixou pelo menos 17 mortos nesta 4a feira (10/1). Em dezembro passado, sua casa quase foi atingida por um dos maiores incêndios florestais já registrados no estado, que queimou mais de 1.000 quilômetros quadrados de florestas. No dia 16 de dezembro Oprah escreveu no Twitter que seguia “ainda rezando pela nossa pequena cidade. Os ventos desta manhã criaram uma tempestade perfeita do mal para os bombeiros”.

Resta saber se os democratas abririam espaço para ela.

https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/oprah-winfrey-esta-pensando-ativamente-em-concorrer-a-presidencia-dos-eua-diz-tv.ghtml

http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,deslizamentos-danificam-mansao-de-oprah-winfrey-na-california,70002147021

http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,metade-dos-incendios-na-california-esta-controlada-diz-autoridades,70002124764


AS 7 PRAGAS CLIMÁTICAS CONTRA O FARAÓ TRUMP

O Êxodo bíblico conta as sete pragas que Deus jogou sobre o faraó do Egito para libertar o povo de Israel. Olhando para o que aconteceu no último ano nos EUA de Trump, e para o que continua a acontecer nesse comecinho de ano, há quem queira colocar as barbas do profeta de molho.

Na Califórnia, nesta semana, um deslizamento de lama matou 17 pessoas e ocorreu onde, semanas antes, um enorme incêndio florestal também fez vítimas e muitos danos materiais (veja nota anterior). Aliás, os incêndios florestais na Califórnia foram manchetes várias vezes ao longo do ano. E dá para lembrar que 2017 nem bem tinha começado quando uma chuva torrencial provocou grandes inundações e a maior represa da região quase rompeu. Saindo daquele estado, que, afinal, não votou em Trump, ainda no ano passado, o furacão Harvey alagou Houston e o Irma atingiu a Flórida. Na virada do ano, o ciclone-bomba de frio congelou Nova York e a onda de ar polar que desceu pelo Canadá trouxe neve para a Flórida pela primeira vez em décadas.

Trump e seu pessoal continuam a pressionar por mais combustíveis fósseis e a fazer piadas com o aquecimento global, enquanto é bem possível que 2018 traga mais pragas para suas terras norte-americanas.

https://www.nytimes.com/2018/01/10/us/montecito-mudslides-california.html

http://www.valor.com.br/internacional/5253221/california-lidera-resistencia-politicas-de-trump#


PAINÉIS SOLARES RESIDENCIAIS AUMENTAM A RESILIÊNCIA DOS SISTEMAS ELÉTRICOS

Em países da África subsaariana está ficando cada vez mais comum encontrar telhados com painéis fotovoltaicos e lâmpadas LED no interior das casas. Fruto de projetos de governos com organizações internacionais e bancos multilaterais, é notável a melhoria da qualidade de vida dos que recebem estes equipamentos. Um trabalho que acaba de sair mostra que a resiliência tanto do sistema elétrico local como de seus usuários é aumentada pela existência dos painéis. É como se um benefício familiar potencializasse o aumento do bem-estar da comunidade toda.

https://www.odi.org/sites/odi.org.uk/files/resource-documents/11955.pdf

EM CUBA, UM PLANO DE ADAPTAÇÃO PARA 100 ANOS

Cuba lançou a “Tarea Vida”, projeto para se defender dos impactos das mudanças do clima. A tarefa ficou mais urgente depois que o furacão Irma passou perto o suficiente de Havana para lançar ondas de 10 metros contra a avenida beira-mar, o famoso “El Malecón”, e causar inundações e prejuízos na parte norte da ilha. O centro do projeto é aumentar a resiliência das comunidades vulneráveis. O projeto abrange um leque grande de ações. Proibir a construção em áreas de risco, realocar pessoas em áreas já sob ameaça de invasão pelo mar, afastar lavouras das áreas de risco e aumentar as barreiras litorâneas.

O governo vai submeter um pedido de US$ 100 milhões para o Fundo Global do Clima e outras fundações beneficentes.

O que não é nada comum, é que o plano enxerga um horizonte de um século, sinal de que a ciência tem presença forte nos círculos governamentais cubanos. Por exemplo, um dos estudos científicos mostrou que os corais que circundam a ilha gozam de boa saúde e que desempenham um papel importante em dispersar a energia das ondas, reduzindo seu impacto em terra. Um dos braços da “Tarea Vida” é de monitorar e proteger os corais.

http://www.sciencemag.org/news/2018/01/cuba-embarks-100-year-plan-protect-itself-climate-change

EL NIÑOS FORTES PROVOCAM GRANDES MUDANÇAS NAS PLATAFORMAS DE GELO NA ANTÁRTICA

Um artigo publicado na Nature nesta semana estudou a correlação entre as variações da altura das plataformas de gelo na Antártica com as mudanças na circulação atmosférica e nas temperaturas das águas em torno do continente causadas pelo El Niño. Em duas das principais plataformas do Mar de Amundsen, a altura aumentou, mas como a densidade da neve acumulada é menor do que o gelo basal, o aumento do derretimento deste fez com que a massa da plataforma diminuísse. Essas plataformas funcionam com barreira para o escoamento das geleiras em terra. Ficando mais fracas, aumenta a velocidade das geleiras e mais gelo terrestre vai para o mar, produzindo a elevação do nível dos oceanos. Os autores apontam que o aquecimento global, com ou sem El Niño, alimenta o mesmo mecanismo.

https://www.nature.com/articles/s41561-017-0033-0

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/01/180108121618.htm


EVIDÊNCIAS DA MUDANÇA DO CLIMA PARA CONVENCER SEU VIZINHO CHATO NO ELEVADOR

O pessoal do Observatório do Clima atualizou uma lista de evidências de que o clima mudou, daquelas para usar no elevador ou no bar para convencer os recalcitrantes. Eles pegam dados recentes de temperaturas médias anuais (desde 1935 nenhuma ficou abaixo do normal); nenhum ciclo natural explica esse aquecimento tão rápido; os modelos climáticos mostram que a humanidade é a grande responsável; faz 3,5 milhões de anos que a concentração de CO2 na atmosfera não é tão alta; parte do Ártico já derreteu e o resto está a caminho; a Antártica está se esfacelando em icebergs; o mar subiu; os furacões estão mais fortes; o corais estão mais brancos e mortos; as ondas de calor mais fortes e mais frequentes. Podemos acrescentar que tudo isso está matando mais gente e piorando a vida de muito mais.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/dez-evidencias-conclusivas-para-apresentar-aos-amigos-no-bar-de-que-mudanca-climatica-e-real/


Para ver
VOZES DA AMAZÔNIA

O curta Vozes da Amazônia traz depoimentos de vários povos indígenas das bacias do Tocantins, Xingu e Teles Pires contando o que passaram quando as grandes hidrelétricas da Amazônia foram erguidas.

Do press-release dos autores: “Os indígenas denunciam as consequências das obras para a sua soberania alimentar, e os desastrosos Planos de Compensação Ambiental implementados pelas empresas construtoras que, em muitas vezes, acarretaram impactos maiores do que os causados pelas obras. O documentário foi dirigido pela jornalista e pesquisadora Monise Vieira Busquets, com apoio do Fundo Socioambiental CASA e da Rede de Pesquisa em Barragens Amazônicas/Amazon Dams Network”.

http://amazondamsnetwork.org/vozes-da-amazonia-aborda-os-impactos-causados-por-grandes-obras-em-terras-indigenas/


Para ver e usar
MAPBIOMAS VERSÃO 2.3

Acaba de sair a atualização do MapBiomas. Para quem ainda não viu, ele traz o mapeamento anual da cobertura e do uso do solo no Brasil. A Iniciativa envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia. As novidades dessa versão são: 1) simplificação das legendas; 2) análise completa de acurácia dos mapas de cobertura e uso do solo; 3) consistência da série temporal; e 4) simplificação do acesso aos mapas e dados para análise. Os dados estatísticos de cobertura e transições consolidados por município, estado e biomas, estão disponíveis para download em planilha Excel.

http://mapbiomas.org/

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