ClimaInfo, 15 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

70% DOS ALIMENTOS CONSUMIDOS NO PAÍS VÊM DA AGRICULTURA FAMILIAR

A agricultura familiar é a grande produtora dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. São 4,4 milhões de agricultores familiares, donos de 90% de propriedades rurais e responsáveis por 38% da produção agropecuária do País. Nestas propriedades trabalham 74% dos trabalhadores rurais.

O que se vê na mídia, em geral, é a produção para exportação dos 10% dos grandes e médio proprietários que plantam monoculturas intensivas em capital e tecnologia, voltadas para a exportação. Estes são os que recebem mais recursos do governo. No Plano Safra de 2017, enquanto à agricultura familiar foram destinados R$ 7,5 bilhões, o agronegócio teve R$ 190 bilhões à sua disposição.

Quando os representantes do agronegócio dizem que alimentam o mundo, entenda que, na verdade, eles estão produzindo soja e milho para a ração de animais chineses e europeus. Feijão, arroz e legumes, quem planta são os pequenos.

http://m.dw.com/pt-br/quem-produz-os-alimentos-que-chegam-%C3%A0-mesa-do-brasileiro/a-42105492

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,aperitivo-delicioso,70002149845

 

QUATRO MOTIVOS PARA ZERAR O DESMATAMENTO

Beto Veríssimo, do Imazon, dá quatro fortes argumentos para demonstrar que o país não precisa mais desmatar um hectare sequer da Amazônia, além dos 20% da floresta já perdidos nos últimos 40 anos.

1) 70% do que foi desmatado é subutilizado e, assim, há terra suficiente para a expansão da agropecuária. É só aproveitar bem.

2) O desmatamento não melhorou nem o PIB da região nem a qualidade de vida de quem vive por lá. Desmatar mais só melhora a vida de uma pequena minoria.

3) Agora se sabe que a floresta em pé é vital para o regime de chuvas no centro-sul, onde vive a maioria dos brasileiros.

4) Várias iniciativas internacionais estão proibindo o consumo de produtos vindos de áreas de desmatamento. As moratórias da soja e da carne são um exemplo. O Consumer Goods Forum prega o desmatamento zero a partir de 2020.

Veríssimo diz que é preciso “uma política de desenvolvimento para a região que enfatize o uso intensivo das áreas já desmatadas, a economia florestal com seus ativos da biodiversidade e serviços ambientais, a valorização da imensa riqueza cultural e étnica e a conservação da vegetação remanescente”.

http://epoca.globo.com/ciencia-e-meio-ambiente/noticia/2018/01/esta-na-hora-do-desmatamento-zero.html

 

ESTRESSE HÍDRICO EM SÃO PAULO OUTRA VEZ EM ANO DE ELEIÇÕES

Alerta amarelo para o Sistema Cantareira, aquele que vazio, em 2014, fez o governo Alckmin fazer um racionamento que disse nunca ter feito. Apesar das chuvas da virada do ano, as represas estão com menos de 40% da capacidade. Pelas previsões para os próximos meses, os sistemas Cantareira e Piracicaba-Capivari-Jundiaí, os quais, juntos, abastecem 14 milhões de pessoas, fecharão o período das chuvas com nível semelhante ao de 2013, ano que antecedeu o omitido racionamento. Alckmin fez o que pôde para esconder o racionamento e conseguiu se reeleger governador. Agora, pré-candidato à presidência, deve estar acendendo velas para seu santo de devoção pedindo que as emoções de 2014 não se repitam. A La Niña pode vir a ser uma eleitora importante do governador.

http://www.valor.com.br/brasil/5257231/cenario-nas-bacias-do-sistema-cantareira-e-preocupante-diz-consorcio#

 

EÓLICAS EM EXPANSÃO E COM MAIS RECURSOS NO NORDESTE

Segundo o Banco de Informações de Geração da Aneel, quase metade da capacidade instalada que começou a operar no ano passado veio de plantas eólicas. Houve um aumento de 2,1 GW em 86 novas plantas. Até 2023, estão contratados quase 250 novos parques, com capacidade de mais de 5 GW. Com isso, o Brasil passa a Itália em capacidade eólica instalada. Em abril, um novo leilão de geração atraiu quase 1.000 novos projetos.

O Banco do Nordeste vai disponibilizar recursos da ordem de R$ 27 bilhões para projetos de infraestrutura na região, dos quais R$ 13 bilhões só para projetos de energia. E as eólicas são candidatas a um bom pedaço desses recursos. No ano passado, o banco tinha alocado R$ 16 bi para infraestrutura. O limite por projeto passou a ser de R$ 1,6 bi, e os recursos podem ser usados para cobrir até 80% do custo.

http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm

http://www.valor.com.br/brasil/5251365/capacidade-instalada-de-energia-eolica-no-pais-tem-alta-de-19-em-2017#

http://www.valor.com.br/financas/5255181/bnb-preve-r-13-bi-em-credito-para-setor-de-energia#

 

GOLDEMBERG VOLTA A DIZER QUE BENEFÍCIO DAS HIDRELÉTRICAS AMAZÔNICAS É MAIOR DO QUE A INUNDAÇÃO DA FLORESTA

O Professor Goldemberg voltou a defender a necessidade de construção de grandes usinas hidrelétricas com reservatórios na Amazônia. Goldemberg compara as taxas atuais de desmatamento, de mais de 5 mil km2, com “inundar algumas centenas de quilômetros quadrados de florestas”, citando o exemplo de Belo Monte, que fica sem água durante parte do ano. Mas ele não menciona o projeto original de Belo Monte, que previa inundar 1.200 km2, nem que Tucuruí inundou quase 3 mil km2, e que existe um projeto para uma usina próxima a Marabá, no Pará, que prevê a inundação de 1.100 km2. A soma destas áreas é equivalente ao, diga-se, ainda pornográfico desmatamento anual da Amazônia. “Algumas centenas” foi o efetivamente inundado pelas hidrelétricas “fio d´água” de Belo Monte (516 km2), Jirau (258 km2) e Santo Antônio (422 km2).

Goldemberg volta a atacar o movimento ambiental dizendo uma vez mais que “o ruído feito por certos grupos de pressão, incluindo leigos de toda espécie, tem dominado o debate”.

Alguém tem que dizer ao eminente professor que os tais grupos de pressão incluem especialistas, muitos deles seus alunos, que têm demonstrado a existência de alternativas economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis às hidrelétricas na Amazônia.

http://www.valor.com.br/opiniao/5255447/reabilitacao-das-usinas-hidreletricas#

 

FEBRE AMARELA, SINTOMA DE ‘ATRASO TROPICAL’ DO SÉCULO PASSADO

A febre amarela chegou à região metropolitana de São Paulo depois de percorrer as matas do Vale do Rio Doce, Espírito Santo e Rio. No estado, já são 40 casos confirmados e 21 mortes. Um artigo da BBC Brasil recorda que o mosquito Aedes Aegypti foi combatido e praticamente exterminado por Oswaldo Cruz no comecinho do século 20 e que, pelo jeito, jogaram a receita fora. Pelo menos a receita de como mobilizar governos para zelar por seus cidadãos está fazendo muita falta. No Horto Florestal de São Paulo, a epidemia matou todos os bugios que habitavam o parque. O Horto fica na zona norte da capital, a 13 km da Praça da Sé.

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41919604

http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,febre-amarela-mata-todas-as-familias-de-macacos-bugios-do-parque-horto-florestal,70002146957

 

CLIMA VOLTA À MESA DE TRUMP, AGORA COMO ASSUNTO DE SEGURANÇA NACIONAL

Um grupo de mais de 100 legisladores dos dois grandes partidos norte-americanos enviou uma carta a Donald Trump pedindo que ele reconsidere a omissão das mudanças climáticas na estratégia de segurança nacional de sua administração. Os 106 membros do Congresso que assinaram a carta – quase um quarto da casa – disseram ter ouvido de cientistas e líderes militares que as mudanças climáticas são uma “ameaça direta” ao país.

Em tempo: em dezembro de 2017, um novo documento de estratégia de segurança nacional dos EUA eliminou a descrição do ex-presidente Barack Obama sobre as mudanças climáticas como uma ameaça à segurança nacional. Recentemente, um funcionário da administração Trump vazou que o clima também será omitido de um documento de estratégia do Pentágono a ser lançado no final deste mês.

https://www.reuters.com/article/us-usa-climate-security/make-security-strategy-include-climate-again-lawmakers-urge-trump-idUSKBN1F12DC

 

PREÇO DAS FONTES RENOVÁVEIS NA CASA DOS CENTAVOS

A Irena (sigla em inglês da Agência Internacional de Energia Renovável) divulgou um relatório com os custos atuais do kWh de fontes renováveis no mundo. Em leilões recentes, o kWh da fotovoltaica ficou abaixo de R$ 0,10 em Abu Dhabi, no Chile, em Dubai, no México, no Peru e na Arábia Saudita. Por aqui, num leilão em dezembro, o preço do kWh ficou abaixo de R$ 0,15. As eólicas daqui venderam o kWh a menos de R$ 0,10 e lá fora, estão vendendo por volta de R$ 0,04. O relatório da Irena prevê que o preço da fotovoltaica no mundo ainda vai cair pela metade, assim como o das eólicas offshore.

Para comparação, ainda nos leilões do final do ano, as térmicas a gás e as pequenas centrais hidrelétricas pegaram preços acima de R$ 0,20. E há mais de dez anos, as hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio foram arrematadas entre R$ 0,07 e R$ 0,08.

http://www.irena.org/publications/2018/Jan/Renewable-power-generation-costs-in-2017

http://mobile.valor.com.br/empresas/5257129/custo-da-energia-eolica-cai-23-no-mundo-aponta-pesquisa

 

NOS EUA, ESTADOS LITORÂNEOS NÃO QUEREM EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NAS SUAS COSTAS

No finzinho do ano, Trump e seu secretário do interior, Ryan Zincke, começaram uma campanha para liberar todo o litoral norte-americano à exploração de petróleo, no Ártico, no Pacífico e no Atlântico. No começo do ano, a Flórida conseguiu se excluir da lista porque, apesar de ter um governo republicano, tinha sofrido com os furacões do ano passado. Na semana passada, 12 governadores de estados na costa do Atlântico e do Pacífico mandaram cartas a Zinke pedindo o mesmo e foram reforçados por uma carta assinada por 22 senadores. Até ontem, só a Flórida escapou e, mesmo assim, por enquanto.

http://thehill.com/podcasts/hillcast/368428-listen-coastal-states-push-back-on-offshore-drilling-expansion-and-todays

https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/1/10/16870450/ocs-offshore-drilling-oil-gas-lease-zinke-florida

 

CIDADES PROCESSAM PETROLEIRAS PELOS SEUS IMPACTOS NO CLIMA

Uma das notícias mais importantes da semana passada foi a decisão do prefeito de Nova York de processar as petroleiras pelos impactos climáticos que a cidade sofre e sofrerá. Ainda há muito o que recuperar depois da passagem do furacão Sandy, em 2012, e o prefeito quer o dinheiro das Exxon e BPs para cobrir os custos. Na mesma toada, outras cidades também estão indo às cortes contra as petroleiras para custear projetos de recuperação, prevenção e adaptação ao novo clima que já chegou.

Em entrevista dada à Vice, especialista discute a chance de vitória das cidades, os tempos envolvidos e as possíveis estratégias e táticas de defesa das empresas.

Não há notícia de que alguma cidade ou grupo esteja pensando em processar a Petrobrás.

https://www.vice.com/amp/en_us/article/yw5qxy/the-next-millennial-trend-is-suing-big-oil-for-destructive-climate-change

 

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