ClimaInfo, 24 de janeiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

“NOVO BRASIL” APRESENTADO EM DAVOS NÃO TEM NADA DE NOVO

O atual governo anuncia com pompa e circunstância que o Brasil está de volta a Davos, de cujo Fórum Econômico Mundial tem estado ausente desde 2014. Este foi o mote do artigo de Temer publicado pelo Valor Econômico esta semana. A tentativa de ‘vender o Brasil’, no trocadilho talvez nem tão involuntário do presidente, inclui energia. Grande parte da agenda brasileira na Suíça tratará da captação de investimentos, principalmente para o setor de energia, além de propagandear as próximas etapas das reformas, segundo informa o Estadão. Segundo detalhes apurados pela Folha, Temer tentará dar destaque à venda de parte da Eletrobras, com a qual o governo pretende levantar cerca de R$ 12 bilhões. Temer também realçará a fase de recuperação vivida pela Petrobras, segundo o mesmo jornal, que também fala que Temer recebeu pedido de reunião do CEO da Shell (para agradecer pela MP 795?). Ou seja, embora o discurso oficial se diga o de “um novo Brasil”, é mais do mesmo velho modelo calcado em combustíveis fósseis, mais uma vez fora do espírito da nossa época.

http://www1.valor.com.br/opiniao/5271089/davos-o-brasil-voltou

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,temer-chega-a-suica-para-promover-nova-narrativa-sobre-brasil,70002161831

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2018/01/1951996-sem-previdencia-temer-acenara-com-privatizacao-da-eletrobras-em-davos.shtml

http://www.valor.com.br/politica/5276581/temer-encontra-ambev-e-shell-e-diz-que-e-momento-de-vender-o-brasil

 

AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO MAIS PREOCUPADAS COM OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Já que Temer e sua trupe estão em Davos, eles poderiam aproveitar as conversas para entender a dimensão dos planos das agências de classificação de títulos, como a Moody’s e a S&P, que, segundo a Bloomberg, estão pensando em reforçar a incidência da previsão de desastres no cálculo das notas que dão a governos e empresas. Apenas nos EUA, no ano passado, os eventos climáticos e meteorológicos causaram danos de mais de US$ 300 bilhões. Muitas vezes, esse risco não se reflete nas classificações de dívidas.  

Há anos que essas agências analisam e emitem relatórios sobre estes riscos, mas nos últimos meses estão trabalhando para integrar a pesquisa às suas avaliações. Em novembro, a Moody’s advertiu cidades e estados costeiros dos EUA para enfrentarem seus riscos climáticos ou encararem possíveis rebaixamentos. Um mês depois, a agência emitiu um relatório destacando 18 pequenas ilhas, de Fiji às Bahamas, que eram “particularmente suscetíveis às mudanças climáticas”. Como sabemos, rebaixamento nestas classificações significam custos maiores de financiamento.

Em uma revisão recente de sua pesquisa, a S&P encontrou 717 casos, entre meados de 2015 e meados de 2017, nos quais preocupações ambientais e climáticas foram fatores nas classificações de crédito corporativo. Isso equivale a cerca de 10% das atualizações da pesquisa – duas vezes mais que o registrado no biênio anterior. Mas, em alguns casos, a mudança foi positiva: ao rever uma classificação com base na questão climática, a S&P fez um upgrade em 44% dos casos. Isto pode acontecer, por exemplo, ao se elevar a possibilidade de receita para um produtor de lítio porque a demanda por baterias de carros elétricos está aumentando. Definitivamente, não é o caso de empresas de petróleo, ainda mais as que operam nos arriscados campos offshore.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-01-23/climate-change-could-make-borrowing-more-expensive

 

O GÁS DA SIEMENS E DA PETROBRAS

Andre Clark, novo presidente da Siemens no Brasil, falou ao Valor sobre os planos da empresa. Embora a gigante alemã concentre sua atuação no tripé eletrificação, automação e digitalização, é no setor elétrico, onde está presente em toda a cadeia de valor (desde a geração, passando pela transmissão, distribuição e serviços, até termogeração a gás e energias renováveis eólica e solar, além de armazenamento em baterias) que a Siemens tem tirado quase a metade de seu faturamento local. Só que a nova estratégia de crescimento, que passa por parcerias com investidores em projetos, em especial no setor elétrico, deverá replicar casos como a associação na holding Gás Natural Açu (GNA), com a Prumo e a BP, que montaram um empreendimento de termogeração a gás, no Porto Açú (RJ), por conta do impulso do gás do pré-sal. Outros projetos semelhantes ao de Açú serão replicados pela costa brasileira, e Clark declarou que olhará para todos. Em óleo e gás, Clark aponta a volta dos leilões de áreas no pré-sal e lembra a quantidade de gigantes multinacionais que estão voando em bando para cá com apetite renovado: Exxon, Shell, Total, as chinesas e outras. Clark também lembrou da recuperação financeira da Petrobras, traçando o cenário que podemos esperar para os próximos anos: drill, baby, drill!

O pessoal da Siemens deve ter ficado muito feliz com a declaração feita em Davos por Pedro Parente, segundo a qual a Petrobras incrementará a participação de gás natural em seu mix de produção, usando o surrado argumento de que o gás é o combustível da transição. Numa tentativa de lobby para o setor do qual faz parte, Parente lembrou da criação da Iniciativa Climática de Petróleo e Gás (OGCI, na sigla em inglês), que reúne dez petroleiras globais e que, em 2016, criou um fundo para investimentos em tecnologias e projetos de baixas emissões de poluentes, sem detalhar quais foram os resultados obtidos até então.

Diante da queda nos custos das renováveis, de nossa parte resta apenas lembrar a ambos do difícil momento pelo qual a GE está passando justamente por ter, no passado, apostado no gás.

http://www.valor.com.br/empresas/5274825/para-dobrar-faturamento-no-brasil-siemens-adota-modelo-de-parcerias  

http://www.valor.com.br/empresas/5276281/em-davos-parente-diz-que-petrobras-deve-incrementar-producao-de-gas

https://qz.com/1150061/ge-cuts-12000-jobs-from-its-power-division-as-fossil-fuel-energy-demand-drops/

 

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PREPARA ESTRATÉGIA PARA CUMPRIMENTO DE PROMESSAS FEITAS AO ACORDO DE PARIS

Embora não tenha falado sobre os resultados do encontro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou que seus técnicos se reuniram com o pessoal da Embrapa para criar a estratégia de implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do setor agropecuário brasileiro ao Acordo de Paris. Segundo a área de comunicação do ministério, este processo “contará com a participação do setor agropecuário para definir qual será a contribuição brasileira” (sic) e “deverá estar concluído no primeiro semestre deste ano”.

A divulgação inclui elogios ao Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), mas não menciona que este representa uma parcela ínfima do financiamento agrícola. Segundo o próprio ministério, para que o Plano ABC alcance os objetivos traçados para o período entre 2011 e    2020, serão necessários recursos da ordem de R$ 197 bilhões, quase o mesmo que o Plano Safra destinou para o financiamento convencional da safra 2017/2018:  R$ 190,25 bilhões.  

http://www.agricultura.gov.br/noticias/mapa-prepara-estrategia-para-reducao-de-gases-de-efeito-estufa-na-agropecuaria  

http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/plano-abc/financiamento  

http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-07/produtor-pode-solicitar-recursos-do-plano-safra-20172018-partir-de-hoje

 

TEMOS QUE APRENDER A VIVER COM MENOS ÁGUA

“A sociedade precisa estar preparada para viver com menos água”, disse Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa, Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal. Os sucessivos racionamentos – declarados ou não – estão ensinando isso a quem ainda não sabia. O diretor também fala da necessidade de insistir no reuso da água ao longo de toda a cadeia, desde de o usuário residencial até às estações de tratamento de esgoto. E no litoral do Nordeste, usinas de dessalinização. Onde acrescentamos: desde que não tocadas pelas usinas a carvão de Fortaleza e São Luiz do Maranhão.

Este ano, a Brasília do racionamento vai receber o 8o Fórum Mundial da Água, entre 18 e 23 de março. É a primeira vez que o Fórum se reúne no Hemisfério Sul.

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-01/especialista-diz-que-sociedade-precisa-estar-preparada-para-viver-com-menos

 

INPE COM MENOS VERBAS LEVA BRASIL A PERDER VISÃO

Em 2017, o orçamento do INPE teve um corte de 44%, chegando ao menor valor dos últimos dez anos. Os recursos que sobraram pagaram o pessoal e o nível mínimo de manutenção das instalações. Se não vierem mais recursos, o país poderá perder parte da capacidade de previsão meteorológica, pois o único supercomputador que temos, o Tupã do INPE, ultrapassou seu prazo de validade e vai passar a funcionar com remendos. O Tupã chegou a parar por dois dias em novembro. O pedido de verbas para trocar a máquina vem passando de orçamento em orçamento. Foi feito um investimento pesado no satélite Amazonas I, que tem que ser lançado até 2019, senão vários componentes perdem a validade e quase todo esforço vai para o lixo. Para sobreviver, esse governo está rifando o monitoramento do clima e do tempo, como se isso fosse frescura. Pelo menos aqui, a bancada ruralista, que depende da meteorologia para ser lucrativa, poderia dar um toque no Meirelles para ver se ele entende que a balança comercial brasileira depende de poder enxergar o tempo. E que precisamos ver o que acontece com a floresta amazônica, porque os efeitos climáticos também vão recair sobre o setor agropecuário. Simples assim.

https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/com-repasse-de-r-40-milhoes-inpe-tem-menor-verba-em-dez-anos-e-tenta-driblar-falta-de-recursos.ghtml

 

EMBRAPA: MAIS CORTES DE VERBA

O orçamento da Embrapa também deve passar pela guilhotina da Fazenda, agravando crises internas e externas que vêm estourando, inclusive na mídia. O corte para este ano está estimado em 20%, sendo que 85% do orçamento do ano passado foi para a folha salarial. O ministro Maggi andou mandando bala contra a Embrapa dizendo que ela “vive dos louros do passado” e que a saída passa por uma reestruturação completa da empresa. Possivelmente abrirão um daqueles programas de demissão voluntária e fecharão algumas unidades de pesquisa. E aí mora a questão. A Embrapa tem linhas de pesquisa para um leque bem amplo de lavouras, como declarado na sua missão. E com a mudança do clima, essas pesquisas se tornam imprescindíveis para a adaptação das lavouras. Mas talvez o ministro – e muita gente da bancada ruralista – só se interesse por algumas poucas e se proponha a cortar aquelas que não lhe trazem benefícios imediatos. Quem perde mais, claro, é a mesa e o poder de compra do brasileiro.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,embrapa-enfrenta-sua-maior-crise-em-45-anos,70002158390#cap-70002158401

 

ESTÁ MAIS CARO ABASTECER COM ETANOL EM QUASE TODO O PAÍS

Em 23 estados e no Distrito Federal sai mais caro rodar um flex com etanol do que com gasolina. O preço da gasolina subiu mais de 20% desde julho, dentre outras porque o barril de petróleo também subiu no final do ano. E, mesmo assim, o preço do etanol na bomba sobe mais. Um mistério. Aceitam-se explicações.

http://www.valor.com.br/agro/5273869/etanol-sobe-para-motoristas-de-23-estados-e-do-df-segundo-anp

 

A PRIVATIZAÇÃO DA PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRÁS

O plano do governo para privatizar a Eletrobrás enfrenta chumbo de todo lado. Primeiro porque ele está sendo feito simplesmente para fazer caixa para o Tesouro nacional e não como parte de um programa político ungido pelas urnas. E, não menos importante no contexto legislativo atual, porque vai mexer nas indicações de políticos aos cargos executivos da estatal e suas associadas, que são tratadas como propriedade privada. Estão sendo feitos movimento para tirar a Chesf e Furnas das privatizáveis, assim como outras similares. Ontem, um dos deputados mais ativos no setor elétrico declarou que vai manobrar para protelar qualquer decisão enquanto a empresa X ou Y estiver na lista. Assim caminha a politiquinha energética de Temer.

http://www.valor.com.br/brasil/5274977/aleluia-diz-que-usara-todo-o-tempo-para-discutir-eletrobras

 

TRUMP IMPÕE SOBRETAXA SOBRE PAINÉIS SOLARES CHINESES

Trump deu os dois primeiros tiros na guerra comercial para “fazer a América grande novamente”: um contra painéis solares e outro contra máquinas de lavar roupa. Impôs uma sobretaxa para importar painéis durante seu governo de 30% neste ano, 25% no ano que vem, 20% em 2020 e 15% em 2021. E ela só conta a partir da entrada dos primeiros 2,5 GW. Os chineses parecem já ter feito parcerias com outros países para montar e exportar a placa, dando um rolê na sobretaxa.

http://www.valor.com.br/internacional/5274929/trump-impoe-sobretaxa-contra-china-e-coreia-do-sul#

 

SEM NOVOS SUBSÍDIOS, CARVOEIRA DEMANDA AUMENTO DO PREÇO DAS OUTRAS FONTES DE ENERGIA NOS EUA

No começo do mês, Rick Perry, o secretário de energia de Trump, tomou uma negativa do órgão regulador à sua proposta de subsidiar a geração à carvão e nuclear alegando uma tal de “segurança energética”. Antevendo essa possibilidade, uma das mais fortes empresas do setor elétrico norte-americano, a PJM, preparou uma proposta para que o governo desse uma mão para aumentar o preço da eletricidade no atacado. O aumento seria calibrado para viabilizar as térmicas a carvão e as nucleares. Uma sutil mudança, a de passar a cobrar o custo mais elevado do carvão de todos os consumidores, ao invés do contribuinte.

Aproveitando o gancho, a Economist fez uma matéria sobre um dos mais poderosos carvoeiros americanos, Bob Murray. Por exemplo, o plano que Perry levou aos reguladores veio de Murray. Este repete uma frase sobre a “segurança energética” à exaustão: “Se a geração a carvão baixar de 30%, as luzes se apagarão e a vovó morre congelada e no escuro”. No ano passado, um dos fotógrafos do Departamento de Energia tirou uma foto de um abraço entre Perry e Murray na qual aparece a capa de um documento que Murray entregara a Perry que levava o sugestivo título de “plano de ação”. As fotos vazaram e o fotógrafo perdeu o emprego.

https://thinkprogress.org/coal-industry-supports-pjm-plan-4c176578b583/

https://www.economist.com/news/united-states/21735025-mr-murray-has-message-america-cherish-coal-or-grandma-gets-it-bob-murray-coal

https://www.nytimes.com/2018/01/17/business/rick-perry-energy-photographer.html

 

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