ClimaInfo, 15 de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

ARGUMENTOS E NÚMEROS DO AGRO POP SÃO DESMONTADOS MAIS UMA VEZ

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, divulgou um artigo seguindo a toada do ministro Maggi e seus 240 ruralistas. Usando os números de sempre, Lopes reafirma que ninguém protege mais a natureza nem produz mais alimentos do que o agronegócio brasileiro. O jornalista Claudio Angelo desmonta um por um os vários números usados por Lopes e sugere que este faria melhor preservando sua história de pesquisador e cientista sério, parando de imitar seu chefe.
http://scienceblogs.com.br/curupira/2018/02/mauricio-lopes-um-ruralista-chique/

https://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/artigos-principais/207862-fatos-e-mitos-sobre-agricultura-e-meio-ambiente-por-mauricio-lopes.html


SECA NA AMAZÔNIA PODE SER QUASE TÃO NOCIVA AO CLIMA QUANTO O DESMATAMENTO

O Brasil deu uma grande contribuição ao esforço global para estabilizar o clima do planeta reduzindo o desmatamento na região amazônica em período recente, mas esta contribuição corre o risco de ser devorada pelo fogo. Ondas de seca, somadas a uma maior vulnerabilidade a incêndios criados pelos desmates do passado, entre outros fatores, andam produzindo fogaréus que têm efeito quase tão nocivo para o clima quanto as derrubadas propriamente ditas.
Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE – acabam de mostrar que as secas que atingiram a região entre 2003 e 2015 aumentaram as emissões em 36%, quando comparadas com o período anterior. Estes incêndios florestais foram capazes de lançar na atmosfera cerca de 1 bilhão de toneladas de gás carbônico num único ano, o equivalente a mais da metade dos gases produzidos pelo desmatamento propriamente dito.
Isto já era previsto – e temido – pelos especialistas. Os modelos climáticos já previam que a estação seca na Amazônia ganharia força ao longo do século 21. Previam, também, que eventos climáticos extremos, que incluem estiagens severas, também devem se tornar mais comuns ao longo das próximas décadas. A novidade é que o pessoal do INPE conseguiu verificar o efeito na realidade, e calcular seu tamanho.
A continuar a tendência, será necessário desenvolver e implantar estratégias mais inteligentes de controle do fogo na região, tanto para proteger a biodiversidade amazônica quanto para reduzir as emissões de CO2. em conformidade com o prometido junto ao Acordo de Paris.

Além disso, pode ser necessário modificar os cálculos das emissões florestais de gases de efeito estufa. Hoje elas são calculadas com base no desmatamento da Amazônia e de outros biomas. Nada mais razoável. Mas os resultados obtidos pelo INPE mostram que existem outras fontes destes gases que não estão sendo levadas em consideração.
Mais informações no artigo de Reinaldo José Lopes publicado na Folha de São Paulo e no paper publicado pela Nature Communications.
https://www.nature.com/articles/s41467-017-02771-y

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/02/seca-na-amazonia-pode-ser-tao-nociva-para-o-clima-quanto-desmate.shtml


COMBATE AO GARIMPO ILEGAL DEMANDA AÇÃO COORDENADA DE VÁRIOS SETORES DO ESTADO

A Folha de S. Paulo fez em editorial uma pesada crítica à política governamental para a Amazônia. A partir de uma matéria recente sobre a luta dos Mundurukus contra o garimpo ilegal, o editorial cita explicitamente Temer e a bancada ruralista. Compara o orçamento da Funai, R$ 524 milhões, com os R$ 611 milhões dedicados ao tradicional colégio carioca Dom Pedro II, dando uma ideia clara das prioridades do governo. Abre e expõe a ferida que o garimpo ilegal provoca na floresta, nos índios e em muitos dos próprios garimpeiros. O editorial termina profetizando: “Complexo, o combate ao garimpo ilegal demanda ação coordenada de vários setores do Estado, da Polícia Federal, aos órgãos ambientais. Sem isso, o risco de derramamento de sangue é elevado.”
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/02/faroeste-caboclo.shtml


BRASÍLIA SOFRE COM AS CONTRADIÇÕES DA GESTÃO DA ÁGUA

Choveu bastante em Brasília e ainda deve chover mais. Durante o Carnaval, o nível do Reservatório do Descoberto chegou a 50% e as comportas do Lago de Paranoá tiveram que ser abertas porque o lago estava a ponto de transbordar. O que é no mínimo estranho, posto que o racionamento no Distrito Federal continua valendo. A explicação é que as instalações de captação da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) no lago estão tirando toda a água que conseguem, mas, apesar disso, o lago continuou enchendo de tanta água que caiu. Assim, o pessoal do DF continua sem água na torneira e vendo a dita cuja ir embora através das comportas. Maurício Luduvice, presidente da Caesb, avisou que a crise hídrica ainda não passou. Ele está buscando recursos para instalar mais estações de bombeamento para não ter de jogar água fora em época de eleições, quer dizer, crise hídrica.
https://www.canalenergia.com.br/clippings/53051505/contradicao-em-plena-crise-hidrica


UMA REFLEXÃO INTERESSANTE SOBRE O PAPEL DO TRANSPORTE COLETIVO FEITA PELA ANTP

Artigo publicado pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) diz em seu título que “Melhorar o transporte coletivo deve ser missão de Estado, e não atrativo para tirar carro da rua”. A reflexão constata que muitos motoristas dizem que deixariam o carro em casa se o transporte público fosse melhor, mais pontual, mais confortável, menos cheio. A Associação diz que o transporte coletivo não é assim porque não é prioridade do Estado. Para ser pontual, a ANTP pensa que os ônibus não deveriam competir com os carros pelo espaço da cidade, que acabam privilegiando os automóveis. Estes estacionam ocupando espaço nas ruas e têm pistas e mais pistas nas marginais e nas linhas coloridas. A ANTP diz que “tornar um sistema de ônibus de boa qualidade não deve ter como objetivo básico atrair os usuários de automóveis. Isso seria, quando muito, uma consequência. O objetivo de qualquer sistema de transporte público é servir à maioria, elevar o padrão de vida de todos os moradores, melhorar sua condição de trabalho, dar-lhes a riqueza do tempo.” Segundo a ANTP, “melhorar uma cidade para o transporte coletivo é tornar uma cidade melhor para todos”.
http://www.antp.org.br/noticias/editorial-e-destaques-da-semana/melhorar-o-transporte-coletivo-deve-ser-missao-de-estado-e-nao-atrativo-para-tirar-carro-da-rua.html


COMPARTILHAMENTO CHEGA AO TRANSPORTE COLETIVO

A ideia de compartilhamento está avançando sobre pedaços do transporte coletivo. Startups nacionais estão oferecendo o compartilhamento de ônibus e vans fretados. O fretamento é típico de quem trabalha num grande centro urbano, mas prefere viver longe. Os aplicativos abrem vagas para usuários e para quem quer oferecer sua van ou ônibus. Por enquanto, a legislação e o fisco ainda são um risco para o negócio, mas soluções estão sendo testadas. O preço para o usuário chega a ser 1/3 menor que o do serviço convencional.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/02/empresas-de-tecnologia-tentam-desatar-os-nos-do-transito.shtml

 

COLETIVOS ELÉTRICOS A CAMINHO

O diretor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), José Mauro Coelho, acha que os híbridos farão mais sucesso por aqui do que os elétricos puros. Ele fez esta afirmação em um seminário sobre o RenovaBio no começo do mês. Coelho também acha que os elétricos terão mais espaço em nichos como ônibus urbanos, táxis e os carros compartilhados.

É coerente. Se tudo isso e, também, os carros particulares virem a ser elétricos, muito de sua diretoria perde a razão de ser.

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53050849/veiculos-eletricos-ocuparao-nichos-de-mercado-diz-diretor-da-epe


O QUE PODE DETONAR UMA EPIDEMIA URBANA DE FEBRE AMARELA

A BBC foi atrás de especialistas para ver o risco de a febre amarela começar a ser transmitida pelo Aedes Aegypti e tornar realidade o pesadelo de uma epidemia urbana. Até agora, os casos registrados tiveram origem em picadas de mosquitos silvestres. Segundo o pessoal entrevistado, as condições para que um esquadrão de Aedes dissemine a doença são: existirem uma ou mais pessoas infectadas em uma certa região; alguns dos Aedes picarem os infectados durante o curto período de incubação do vírus; e, ainda, esta região abrigar muitas pessoas não vacinadas. Com um único indivíduo infectado numa região com poucos Aedes, dificilmente a doença se propaga. Um monte de Aedes infectados numa região com muita gente vacinada também não propagam a doença. Hoje, estima-se que possam existir focos de Aedes em 5% das residências no país. Na África, nas regiões onde a febre amarela é endêmica, esse número chega a 20%. Então, possível é, mas, por enquanto, pouco provável.
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-42976321


FIOCRUZ DIVULGA NOTA PÚBLICA CONTRA CENSURA AOS PESQUISADORES

Fernando Carneiro, pesquisador da Fiocruz Ceará, está sendo processado por ter, numa audiência pública, mostrado que o Estado é o terceiro maior usuário de agrotóxicos do país por área plantada. O pessoal da Faec (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará) quis proibir o funcionário de usar o termo “agrotóxico” e obrigá-lo a usar eufemismo “defensivo agrícola”, apesar dos rótulos destes trazerem a famosa caveira com ossos cruzados indicando que o produto é, de fato, um veneno. A Fiocruz saiu em defesa de seu funcionário em comunicado público, dizendo que vinha “a público se manifestar contra a censura e a intimidação de pesquisadores e pelo direito de se produzir ciência para a defesa da vida… Vemos com muita preocupação a tentativa de censura e de intimidação ao trabalhador da Fiocruz. A comunicação em saúde é um direito da população e um dever do Estado, por meio de suas instituições públicas de saúde”. O comunicado termina dizendo: “Devemos responder de forma contundente para que os trabalhadores e estudantes em saúde possam continuar desenvolvendo e publicando, sem nenhum constrangimento, suas pesquisas sobre os impactos socioambientais gerados pelos agrotóxicos e tenham condições de exercer o seu trabalho, tendo a defesa do direito à saúde e da cidadania ampla como valores centrais da Fiocruz.” O comunicado é assinado pelo Conselho Deliberativo da Fiocruz.
https://agencia.fiocruz.br/node/10168


GOVERNO DO PARANÁ ATROPELA CONSELHO PARA APROVAR MEGAEMPREENDIMENTO POLÊMICO

O Governo do Paraná atropelou conselho para aprovar obras que destruirão a Mata Atlântica e favorecerão a instalação de um porto privado em frente à Ilha do Mel. Mesmo frente a vários questionamentos e a um pedido de vistas feito por organizações da sociedade civil e pela Universidade Federal do Paraná, o Conselho de Desenvolvimento Territorial do Litoral do Paraná aprovou as obras. Estas preveem a construção de uma nova rodovia de 20 km de extensão e um canal de drenagem ligando a Praia de Leste à zona portuária e industrial de Pontal do Paraná, em frente à Ilha do Mel.
A construção da rodovia destruiria 500 hectares de Mata Atlântica em uma região que concentra a maior área contínua do bioma no Brasil em bom estado de conservação. As obras também expulsariam comunidades tradicionais que ocupam a região há séculos.
A narrativa oficial diz que a rodovia vai desafogar o trânsito e beneficiar o turismo e o comércio. No entanto, a estrada vai favorecer o trânsito intenso de caminhões e viabilizar a construção de um porto privado em Pontal do Paraná. Este seria feito a 3 km da Ilha do Mel, a qual é um patrimônio natural protegido por lei. Na região fica, também, a Baía dos Golfinhos, um berçário dos botos cinzas, animais ameaçados de extinção.
Além da estrada, os projetos incluem canal de drenagem, gasoduto, ferrovia, termelétrica e linha de transmissão de energia. Organizações da sociedade civil estão pedindo assinaturas a uma petição que busca conter a destruição do patrimônio natural que faz da Ilha do Mel um atrativo turístico muito importante e singular.

http://salveailhadomel.com.br/


A EUROPA EXIGE QUE SEUS PARCEIROS COMERCIAIS RATIFIQUEM E CUMPRAM O ACORDO DE PARIS

A Comissão Europeia apoiou a declaração do Ministro das Relações Exteriores da França e avisou que “todo país que assinar um acordo comercial com a União Europeia tem que implementar o Acordo de Paris para valer”. E acrescentou que “os EUA sabem o que esperar”. Um dos membros da Comissão citou o exemplo de um acordo assinado com o Japão no ano passado, no qual foi incluída uma referência explícita à ratificação e à implantação de fato do Acordo de Paris. O site ThinkProgress chamou as declarações de “uma linha (demarcatória) traçada na areia”.
https://thinkprogress.org/eu-paris-us-decd4aad9145/

http://www.climatechangenews.com/2018/02/02/france-us-no-paris-agreement-no-trade-agreement-1/


REDUZIR SUBSÍDIOS AOS FÓSSEIS REDUZ AS EMISSÕES GLOBAIS?

Um artigo interessante na Nature estima que retirar todos os subsídios aos combustíveis fósseis não reduz muito as emissões de gases de efeito estufa. Gente que estuda esses subsídios aponta que os valores estão entre centenas de bilhões a alguns trilhões de dólares por ano. Os pesquisadores usaram cinco modelos econométricos e um valor alto e outro baixo para o preço do petróleo. A redução de emissões varia conforme o modelo, mas ficou entre meio e dois bilhões de toneladas de carbono equivalente por ano. Isso é menos do que o Brasil vem emitindo nos últimos anos, e menos de 5% das emissões globais. Na modelagem, Europa e EUA têm menos subsídios e, portanto, a retirada destes não afeta muito suas emissões. Já nos países do Oriente Médio, onde o subsídio é monstruoso, sua retirada causa uma redução importante nas emissões dos países. Os modelos também mostraram que a retirada dos subsídios prejudica mais as classes mais baixas do que as mais altas. Isto não chega a ser novidade, mas é bom ter bons números por trás dessas afirmações.
https://www.nature.com/articles/nature25467.epdf

https://www.scientificamerican.com/article/new-study-finds-cutting-oil-subsidies-will-not-stop-climate-change/

 

INVESTIDORES AGORA TÊM UM GUIA PARA A ESTABILIZAÇÃO DO CLIMA

Pesquisadores da Universidade de Oxford enunciaram princípios orientadores para ajudar investidores e administradores de fundos de investimento a direcionar seus recursos em direção à estabilização do clima. A lista, curta, começa pelos compromissos com a “emissão líquida zero” feitos pelas empresas e empreendimentos. Além disso, os investidores devem buscar atividades e produtos lucrativos que, ainda assim, tenham emissão líquida zero. Finalmente, as empresas e empreendimentos devem ser transparentes e apresentar planos de trabalho com datas e metas intermediárias claras e factíveis.

https://www.nature.com/articles/s41558-017-0042-4


O CUSTO BILIONÁRIO DO TRÁFEGO URBANO

Acaba de sair o boletim da INRIX atualizando os custos aparentes e escondidos do tráfego de veículos nas grandes cidades do mundo. Só nos EUA, eles estimam estes custos em US$ 305 bilhões no ano passado, US$ 10 bilhões à mais do que em 2016. O estudo examinou 1.360 cidades em 38 países. São Paulo está no 4o lugar entre as que queimam mais dinheiro pelos escapamentos dos veículos, atrás somente de Los Angeles, Moscou e Nova York. Vale dar uma olhada nas 44 páginas do estudo da INRIX.
http://inrix.com/scorecard/

https://trib.al/anjphGH

 

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