ClimaInfo, 19 de fevereiro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

IBAMA EMBARGA ÁREAS QUEIMADAS ILEGALMENTE NA AMAZÔNIA

Em uma ação destinada a punir queimadas ilegais na Amazônia, o Ibama embargou 53 áreas que somam 1.200 km2. Segundo o órgão “a medida foi adotada de forma cautelar para conter os danos ambientais e garantir a recuperação da área degradada”.

Na semana passada, um artigo de pesquisadores do INPE dizia que, só em 2015, os focos de incêndio na região aconteceram numa área de quase 800 mil km2. Em 2017, o bioma viu um recorde de incêndios. Marcelo Leite fez um provocativo artigo a respeito desse trabalho na sua coluna de ontem dizendo, no final: “Quem achar alguém preocupado com isso, no Planalto ou na Faria Lima, que atire a primeira fagulha – ou um novo candidato na fogueira.”
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/02/16/141863-ibama-embarga-120-mil-hec

tares-por-queimadas-ilegais-em-florestas-da-amazonia.html

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/02/a-amazonia-esta-secando-mas-o-brasil-so-quer-farra.shtml


RECUPERAÇÃO DO SÃO FRANCISCO É ALTERNATIVA A MULTAS AMBIENTAIS

A possibilidade das empresas converterem multas ambientais em apoio financeiro a projetos estratégicos do Ibama e do ICMbio foi regulamentada na 6a feira passada no Diário Oficial. O Ibama priorizará programas de recuperação das extensas áreas degradadas nas bacias do rio São Francisco, em Minas Gerais e Bahia, e na bacia do rio Parnaíba, no Maranhão e Piauí. Durante esta semana o Ibama escolherá os projetos que receberão estes recursos.

A empresa que paga a multa não poderá ter nenhuma ligação com o projeto que receberá os recursos. Interessantes estes tempos nos quais até isso tem que ser gravado em pedra.
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=515&pagina=69&data=16/02/2018

http://www.ibama.gov.br/noticias/422-2017/1361-ibama-publica-instrucao-normativa-sobre-conversao-de-multas-ambientais

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,multas-ambientais-vao-bancar-recuperacao-da-bacia-do-sao-francisco,70002191722


EMISSÕES DA PECUÁRIA EM PAUTA

A emissões de gases de efeito estufa do setor agropecuário competem com os combustíveis fósseis pelo 2o lugar nos inventários nacionais. Boa parte destas vêm do rebanho bovino, seja pelo arroto de metano, seja pela decomposição de parte dos dejetos. Em artigo para a Folha de S. Paulo, Marcos Jank coloca em dúvida as metodologias de cálculo destas emissões e o impacto do metano no aquecimento global. E aproveita o embalo para criticar quem diz que se gasta 15 mil litros de água para produzir um quilo de carne (a esse respeito, recomendamos o artigo de Hoekstra sobre a pegada de água de carnes e lavouras no link abaixo). Por coincidência, Jank escreve o artigo na mesma semana em que vários jornais deram destaque à possibilidade de exportarmos carne para a Indonésia.
Melhor fariam Jank e amigos se olhassem para a nuvem quente que se abaterá sobre o agronegócio brasileiro por conta do aquecimento global. Ao invés de enterrar a cabeça na areia tentando contradizer a ciência, deveriam pressionar o pessoal dos fósseis a reduzir suas emissões e tentar se adaptar às temporadas de secas que os modelos climáticos dizem estar logo alí na esquina.
Observemos que, enquanto os produtores de soja brasileiros comemoram as chuvas provocadas pela La Niña deste verão, a região produtora de soja argentina sofre com uma seca que levará a uma safra abaixo do esperado. E lembremos que não existe a possibilidade de Las Niñas todos os anos.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-jank/2018/02/clima-e-agua-na-pecuaria-bovina.shtml

http://waterfootprint.org/media/downloads/Hoekstra-2012-Water-Meat-Dairy.pdf

http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/ultimos-videos/16396134/carne-bovina-impulsiona-exportacoes-do-agronegocio.html

https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/Soja/noticia/2018/02/rally-da-safra-colheita-de-soja-pode-ser-recorde.html

http://www.valor.com.br/agro/5322539/problemas-climaticos-geram-perdas-produtor-argentino#

https://deolhonosruralistas.com.br/2018/02/07/deputado-ruralista-dono-de-um-dos-maiores-abatedouros-de-aves-do-pais-o-diplomata-e-denunciado-pela-pgr/


IBAMA APERTA O CERCO AOS HCFC QUE DESTROEM A CAMADA DE OZÔNIO E AUMENTAM O AQUECIMENTO GLOBAL

O Ibama soltou uma instrução exigindo às importadoras de HCFC que cortem a importação em quase 40%. Esta família de gases pertence ao clube das que destroem a camada de ozônio e são reguladas pelo Protocolo de Montreal. As empresas têm até o fim de 2019 para se adequar. Em 2020, o corte subirá a 51,6%. Os HCFC são gases usados para expandir espumas em colchões e para construir os isolamentos térmicos de geladeiras e aparelhos de ar condicionado. Os HCFC são gases de efeito estufa, de impacto semelhante ao do CO2. Mas, na fabricação de alguns destes gases, liberam-se outros hidrofluorcarbonos com impacto específico 10 mil vezes maior do que o CO2.
https://g1.globo.com/natureza/noticia/brasil-regulamenta-reducao-de-gas-que-destroi-camada-de-ozonio.ghtml

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=16/02/2018&jornal=515&pagina=68&totalArquivos=126 (e páginas seguintes)

 

 

STF RETOMA ANÁLISE DO CÓDIGO FLORESTAL NESTA SEMANA

Na pauta do STF desta semana está a volta das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIN) relativas ao Código Florestal. Ontem, Jean Paul Metzger, professor de ecologia da paisagem da USP, criticou pontos do Código que enfraquecem os ecossistemas, como o tamanho das APPs (áreas de preservação permanente), que foi reduzido do que era no código anterior, e as possibilidades de recomposição das áreas de reserva legal, que ele gostaria de ver voltar ao seu estado natural o mais rápido possível. Estes pontos foram discutidos durante o processo-trator no legislativo que pariu o Código atual. Segundo Metzger, “as evidências científicas sobre a importância estratégica da vegetação nativa já existem e foram amplamente divulgadas. Esperamos que os ministros do STF consigam utilizá-las de forma imparcial, para uma tomada de decisão consciente. Ainda é tempo de corrigir as graves distorções da lei, sem comprometer a segurança jurídica e as atividades econômicas dos que vivem ou dependem do campo.”
Na outra ponta do ringue, Evaristo de Miranda, da Embrapa, defensor empedernido da parte mais retrógrada do agronegócio brasileiro, torce para que o STF rejeite as ADINs atacando nada menos do que o princípio da precaução. Pois é justamente este princípio que deveria estar regendo o agronegócio brasileiro, ameaçado que está pelas mudanças do clima. Talvez demore para “cair a ficha”, mas o clima já mudou um tanto, parte do território nacional está ameaçado por secas, ondas de calor e crises hídricas que mudarão o perfil da produção agropecuária do país. E, possivelmente, será tarde demais quando os agroboys se derem conta de que aquelas árvores que não plantaram nas APPs e Reservas Legais os teriam ajudado a mitigar os impactos do novo normal climático.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/02/jean-paul-metzger-decisao-deve-seguir-evidencias-cientificas.shtml

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-stf-e-o-codigo-florestal,70002191263


1,5°C: UMA META QUASE IMPOSSÍVEL?

O relatório do IPCC que vazou recentemente tenta responder a três perguntas simples:
– Quão piores são os impactos de um aquecimento de 2°C quando comparados aos de 1,5°C?
– O que precisa ser feito para limitar o aumento sob 1,5°C?
– Como isso prejudica os objetivos de desenvolvimento sustentável?
O principal resultado do trabalho é que o risco de ultrapassarmos os 1,5°C é muito alto. Por exemplo, a continuar na toada atual, chegaremos lá antes de 2040. Esquecer os 1,5°C e mirar em 2°C implica mais enchentes, mais secas, tempestades tropicais mais fortes e 10 cm à mais no nível do mar. Para ficarmos dentro dos 1,5°C seria preciso acelerar o abandono dos combustíveis fósseis e aprender rapidinho a enterrar quantidades monumentais de CO2. O relatório adverte contra soluções de geoengenharia pelos riscos que trazem, incertezas sobre seu funcionamento e os impactos de sua interrupção. E termina dizendo que para ficar nos 1,5°C, a sociedade terá que mudar. Terá que comer menos carne, economizar energia e esquecer que um dia usou carros.
http://www.climatechangenews.com/2018/02/13/leaked-draft-summary-un-special-report-1-5c-climate-goal-full/

http://thehill.com/policy/energy-environment/373906-draft-un-report-very-high-risk-global-warming-will-exceed-key

http://www.climatechangenews.com/2018/02/13/11-takeaways-draft-un-report-1-5c-global-warming-limit/


CONFLITOS E TERRORISMO COMO CONSEQUÊNCIA DA MUDANÇA DO CLIMA

A secretária-executiva da UNFCCC, Patrícia Espinosa, deu uma entrevista à Deutsche Welle respondendo sobre a mudança do clima estar – ou não – na origem de conflitos e grupos terroristas. Diplomática, ela disse que os conflitos têm múltiplas causas e que a mudança do clima pode ser uma delas. Ela apontou o Sahel como uma das regiões onde a seca, embalada pelas mudanças do clima, está por trás do agravamento da situação. Diz Espinosa que a seca quebrou safras, forçou homens a sair de suas vilas em busca de trabalho, deixando mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade aguda. E que os jovens podem acabar sendo atraídos pelos grupos terroristas da região.

A Ambiente Brasil publicou um outro artigo da Deutsche Welle detalhando a situação no Sahel, falando sobre o Boko Haram, que atua no norte da Nigéria; sobre os conflitos pela água entre criadores de gado e agricultores; e sobre a crescente tensão gerada pelo desaparecimento gradativo do Lago Chade nos últimos 50 anos.

A mudança do clima foi tema de discussão na Conferência da ONU sobre Segurança em Munique que acabou ontem.
http://www.dw.com/en/espinosa-climate-change-is-a-driver-of-conflict/av-42601090

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/02/17/141880-mudanca-climatica-tambem-gera-terreno-fertil-para-o-terror.html


ADAM SMITH GANHA BRAÇO DE FERRO CONTRA TRUMP E EUA PODEM CUMPRIR AS METAS DE PARIS

Em um artigo publicado na Environmental Science e Technology, pesquisadores da Carnegie Mellon mostram os resultados de simulações que fizeram sobre as emissões norte-americanas depois que Trump revogou o plano de Obama para as renováveis, o Clean Power Act. Os pesquisadores observaram que a tendência do gás natural deslocar o carvão mineral tem tudo para acelerar e que esta, quase que sozinha, daria conta do cumprimento das metas apresentadas pelos EUA em Paris. Os EUA, assim como o Brasil, assumiram como linha de base as emissões de 2005. De lá para cá, as emissões do país caíram cerca de 30% – de 2,7 para 1,9 bilhões de tCO2e. O motivo principal foi o preço da eletricidade gerada com gás natural ter caído continuamente, tornando antieconômica a geração a carvão. Com isso, os EUA já ultrapassaram uma meta que Obama anunciou em Copenhagen para 2025. E faltam “só” 2% para eles chegarem ao compromisso feito junto a Paris para 2030.

Parece que a mão invisível de Adam Smith é mais forte do que o famoso aperto de mão de Donald Trump e seus mineiros.
https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acs.est.8b00407

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180216110502.htm


OS ALEMÃES ESTÃO PLANEJANDO ZERAR A TARIFA DO TRANSPORTE PÚBLICO

O governo alemão está sendo pressionado pela União Europeia e por seus eleitores desde que a primeira-ministra Angela Merkel disse que seria difícil cumprir as promessas feitas junto ao Acordo de Paris. Para superar o problema, uma das ideias sobre a mesa dos planejadores é tornar o transporte público gratuito em todo o país. Com isso, querem que os alemães deixem seus carros em casa, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e a poluição atmosférica gerada pelos seus amados carros à diesel. A proposta prevê testes piloto em Bonn, Essen, Reutlingen, Mannheim e em uma cidade perto de Stuttgart, uma das mais poluídas e sede da poderosa Porsche. Não está claro quem pagará a conta do transporte público, e falta explicar como se vai aumentar a oferta de transporte público, principalmente em locais onde já há pouco espaço para sua expansão.
Merkel enfrenta dois problemas sérios para reduzir suas emissões: a dependência da geração elétrica a carvão, desde que mandou desligar as usinas nucleares, e o que fazer com toda a força de trabalho ligada à indústria automotiva, ainda voltada à produção de carros fósseis.
http://m.dw.com/pt-br/contra-poluição-alemanha-cogita-transporte-publico-gratuito/a-42575166

https://g1.globo.com/natureza/noticia/contra-poluicao-alemanha-cogita-transporte-publico-gratuito.ghtml


60 MIL SOLDADOS CHINESES VÃO PLANTAR ÁRVORES

No começo do mês, a China anunciou que deslocará 60 mil soldados da fronteira norte para plantar árvores. Em tamanhos chineses, eles são só um regimento, coisa que aqui teria por volta 1.000 soldados. Segundo o Asia Times, eles estão felizes em deixar para trás a gélida fronteira com a Sibéria e poder ajudar no combate às mudanças climáticas e à poluição atmosférica no clima mais ameno do sul do país. A China tem cerca de 208 milhões de hectares com 34 bilhões de árvores. A meta é plantar mais 8,5 milhões hectares só neste ano e, até 2020, mais 120 milhões de hectares. Para comparar, nossa NDC prometeu plantar 12 milhões de hectares até 2030.
http://www.atimes.com/article/china-re-assigning-60000-troops-plant-trees/

http://www.independent.co.uk/news/world/asia/china-tree-plant-soldiers-reassign-climate-change-global-warming-deforestation-a8208836.html

https://medium.com/world-economic-forum/china-has-sent-60-000-soldiers-to-plant-trees-32fec95fb14d

 

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