ClimaInfo, 2 de março de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

SAMARCO SABIA DO IMPACTO POTENCIAL MESES ANTES DO DESASTRE DE MARIANA

O The Guardian mostra que, seis meses antes da catástrofe de Mariana, a Samarco já previa com precisão qual seria o impacto potencial de um tal desastre. A previsão havia sido feita em uma avaliação de risco. Mas os promotores federais afirmam que a joint venture entre Vale e BHP Billiton não tomou as medidas que poderiam ter impedido o desastre. Ao invés disso, a Samarco se concentrou em reduzir custos e aumentar a produção. O promotor José Adércio Sampaio disse ao Guardian que “eles priorizaram os lucros e deixaram a segurança em segundo lugar”.

A avaliação de risco está entre os milhares de documentos coletados pelos procuradores. O documento advertia que a perda máxima possível, na hipótese de uma ruptura por liquefação dos resíduos, implicaria até 20 mortes, sérios impactos sobre solos, recursos hídricos e a biodiversidade ao longo de 20 anos e custos da ordem de US$ 3,4 bilhões.

A matéria do Guardian se estende por muitos dos detalhes do caso e reporta que este foi retomado em novembro, quando um juiz decidiu que os e-mails e chats corporativos não poderiam ser incluídos no caso e decidiu separar os casos envolvendo réus estrangeiros.

A Samarco – e seus proprietários – está ansiosa para retornar à produção. Em dezembro, a empresa recebeu licenças preliminares do governo de Minas Gerais para um novo sistema de armazenamento de rejeitos de mineração, como já comentamos por aqui.

E o Guardian termina dizendo que o governo business-friendly de Temer quer fazer deslanchar a mineração no país, mesmo em áreas sensíveis como a da Amazônia, e tornar o licenciamento ambiental mais flexível.

https://www.theguardian.com/world/2018/feb/28/brazil-dam-collapse-samarco-fundao-mining?CMP=share_btn_tw

 

CÓDIGO FLORESTAL: AGORA É CUMPRIR A LEI

O STF referendou a constitucionalidade da maior parte do que está sendo contestado na revisão do Código Florestal. E o meio ambiente saiu derrotado. Entre outras coisas, na prática o STF garantiu a anistia aos que desmataram uma área próxima a 41 milhões de hectares. A prática da decisão desafia as evidências científicas quanto manter e recuperar florestas interessa para a sustentabilidade da produção, com atenuação das mudanças climáticas, das crises hídrica etc.

Mas as decisões do STF dão boas notícias para o agronegócio?

Para Luís Fernando Guedes Pinto, do Imaflora, a resposta é… depende.

A turma de visão curta pode achar que as notícias são muito boas. Dá pra imaginar na cabecinha desta turma um raciocínio mais ou menos assim: “não segui a lei e estou dispensado de reparar o que deveria ter feito, ótimo”. Mas, para o produtor sério e responsável, aqueles que sempre cumpriram a lei, fica a sensação de ter sido o trouxa da festa, e a certeza de que cumprir a lei não vale a pena.

Na visão de Guedes Pinto, não existe uma visão de longo prazo para o Brasil, e muito menos uma priorização do interesse público. Se a existência de florestas interessa a todos, mas esta pode ter impactos sobre os produtores, precisamos de instrumentos que garantam a sua renda sem que esta dependa necessariamente da imposição de custos ao meio ambiente e ao interesse coletivo.

De uma maneira ou de outra, temos agora uma lei julgada e definida. Apesar de toda a controvérsia, agora ela deve ser cumprida. Como diz Guedes Pinto: “agora é fazer valer a lei”.

https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/codigo-florestal-agora-aplicar-lei-22444294#ixzz58VOU0CSIstest

 

O OBSCURANTISMO DE GILMAR MENDES

No seu peculiar estilo “deixa que eu chuto”, Gilmar Mendes disse no plenário do STF que as posições da comunidade científica contrárias à redução de APPs não passavam de “mero achismo”. Com toda razão, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências reagiram indignadas. Uma longa nota das duas mais respeitáveis – e respeitadas – instituições que congregam as ciências brasileiras, afirma que os pesquisadores “jamais fariam declarações científicas com base em ‘achismos’.” E sugerem que, “caso o ministro ainda desconheça os argumentos científicos defendidos e publicados pela SBPC/ABC, ainda é tempo dessa atualização científica, pois o livro e centenas de artigos técnico-científicos sobre o tema estão disponíveis no site da SBPC e nos demais sites de revistas científicas, de laboratórios de pesquisas, etc., que discutem e divulgam conhecimento científico de qualidade”.

Ô Gilmar, se estiver nos lendo, o livro a que se refere a nota está no primeiro link abaixo.

http://portal.sbpcnet.org.br/publicacoes/codigo-florestal/

http://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/cientistas-rebatem-declaracao-de-gilmar-mendes-sobre-codigo-florestal/

 

MPF CONTRA A CARTA BRANCA DO CONAMA AOS POLUIDORES

O Ministério Público Federal enviou ofício ao ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho – quem também é presidente do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) – sobre possíveis desvios de conduta da Câmara Técnica de Qualidade Ambiental do Conselho.  Motivo: em uma controversa votação, aquela Câmara decidiu não adotar prazos para a despoluição do ar no Brasil. Isso representa uma verdadeira carta branca para os poluidores. Segundo os promotores, não há justificativas técnicas e científicas para a proposta dos representantes governamentais, liderados pelo representante do estado do Rio de Janeiro.

Este é um bom exemplo de como os sistemas participativos precisam ser revistos e atualizados: a ausência de prazos se deveu à pressão dos governos federal, estaduais e municipais, bem como setores econômicos – juntos, eles detêm 80% dos votos na Câmara, sendo que apenas 20% representam ambientalistas e a sociedade civil. O resultado é que o Conselho de Meio Ambiente deixou de defender o meio ambiente – e, por consequência, a saúde das pessoas.  Já é de conhecimento notório que a ausência de atualização tecnológica dos motores a diesel e a falta de filtros adequados nos escapamentos dos veículos causam milhares de mortes por ano, gerando gastos milionários com a saúde pública.

http://m.jb.com.br/pais/noticias/2018/02/23/conama-nao-estipula-prazo-para-despoluicao-de-ar-no-brasil/

 

PROJETO DA HIDRELÉTRICA CASTANHEIRA É INVIÁVEL

A Conservação Estratégica (CE) apresentou ontem na Câmara dos Deputados um estudo mostrando a inviabilidade econômica do projeto de construção da hidrelétrica Castanheira, no norte do Mato Grosso. O projeto pretende instalar uma hidrelétrica de 140 MW na bacia do rio Arinos e alagar 9,4 mil hectares do município de Juara, a um custo de R$ 1,5 bilhões. Pedro Gasparinetti, da CE, disse que “o projeto da Castanheira é um mau negócio” e que pode acarretar em prejuízo de aproximadamente R$ 400 milhões. A recomendação da CE é rever o projeto vis-a-vis outras alternativas.

Na Câmara, Andreia Fanzeres, da Operação Amazônia Nativa (OPAN), lembrou que as primeiras audiências públicas sobre a Usina Castanheira estão marcadas para março, mesmo sem o cumprimento de pré-requisitos básicos. Fanzeres também lembrou que o empreendimento dificultará a piracema e a reprodução dos peixes ao longo do rio de 720 km de extensão. Segundo Fanzeres, aquele “é o rio que realiza o maior transporte de sedimentos em toda a bacia do rio Juruena e é um rio que tem o maior movimento de peixes migradores. O processo de licenciamento desse empreendimento está andando a passos largos sem que o estudo de impacto ambiental tenha sido finalizado. Fanzeres também destacou que o projeto está violando o direito de consulta não só dos povos indígenas – Munduruku, Apiaká, Kaiabi, Rikbaktsa, Itapaiuna – como também das comunidades ribeirinhas e dos agricultores familiares que terão suas terras diretamente alagadas”.

O projeto é um dos mais de 100 projetos hidrelétricos pensados para a bacia do rio Juruena.

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/RADIOAGENCIA/553928-PROJETO-DA-USINA-DE-CASTANHEIRA,-NO-MATO-GROSSO,-PODE-SER-REDISCUTIDO.html

 

FABRICANTES DE AUTOPEÇAS DOS EUA QUEREM CARROS MENOS POLUENTES

Cinco grupos que representam os principais fornecedores de autopeças dos Estados Unidos lançaram uma declaração conjunta pedindo que o país mantenha as políticas climáticas de Obama para o setor. Elas preconizam que as montadoras quase dupliquem a economia média de combustível de carros novos e caminhões leves até 2025, o que pode vir a eliminar a emissão de até seis bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. Isso sem falar em uma possível economia de mais de US$ 1 trilhão com combustíveis ao longo da vida útil dos carros afetados.  

Como você, caro(a) leitor(a), já deve estar imaginando, o governo Trump estuda uma possível revisão, a pedido da poderosa indústria automotiva norte-americana. Os fabricantes de automóveis alegam que essas regras não levam em conta a crescente demanda por veículos maiores, que poluem mais. A Agência de Proteção Ambiental tem prazo de fim de março para decidir se deve ou não rever as regras. A Administração da Segurança do Tráfego das Estradas Nacionais, que estabelece os padrões de economia de combustível, também deverá liberar propostas para mudanças das regras no final de março. Hoje, os veículos automotores dos EUA emitem mais gases de efeito estufa do que as usinas de energia daquele país.

Os fornecedores de autopeças resolveram ficar ao lado do clima porque a migração para carros mais limpos exigirá o desenvolvimento de novas tecnologias, potencialmente favorecendo seus lucros – um claro exemplo de como a transição para uma economia de baixo carbono abre oportunidades.

https://www.nytimes.com/2018/03/01/climate/auto-parts-emissions-regulations.html

 

VISA QUER 100% DE RENOVÁVEIS ATÉ 2019

A Visa, gigante dos meios de pagamento, acaba de se unir à iniciativa RE100 com a ambiciosa meta de sair da atual média de 35% de renováveis, entre solar, eólica e hidrelétrica, e chegar a 100% até o ano que vem. Segundo a empresa, a estratégia para isso será buscar opções disponíveis em cada mercado junto a provedores locais, públicos ou privados e fazer investimentos próprios onde possui grandes instalações, incluindo quatro locais nos EUA e no Reino Unido que, juntos, representam 80% do seu uso global de eletricidade.

https://3blmedia.com/News/Visa-Commits-100-Renewable-Electricity-End-2019

 

Para Ler:

CANSADO DE PROJEÇÕES DE FUTURO CATASTRÓFICAS? VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO!

Quantas vezes você não sentiu vontade esquecer essa história de aquecimento global e comer tranquilamente um churrasquinho (emissões da pecuária) numa praia (elevação do nível do mar) distante (emissões dos transportes)? Pois bem: você não está sozinho. Segundo o psicólogo Per Espen Stoknes, autor do livro What We Think About When We Try Not to Think About Global Warming, o excesso de notícias com viés catastrófico faz com que as pessoas sintam uma espécie de ‘fadiga do apocalipse’. Para quem trabalha com comunicação, ele dá sugestões de abordagem para, como o carteiro Jaiminho do seriado Chaves, evitar a fadiga. E alerta: nosso conhecimento sobre como as pessoas respondem à ciência do clima ficou para trás, em relação aos avanços da ciência do clima, e essa distância precisa ser reduzida urgentemente.

https://greatergood.berkeley.edu/article/item/how_to_overcome_apocalypse_fatigue_around_climate_change  

 

Para Ir:

FEIRA SÃO PAULO SAUDÁVEL – PRODUÇÃO LOCAL COM TOQUE DE SUSTENTABILIDADE

Para quem está em São Paulo, neste domingo rola uma feira de produtos locais e artesanais, organizada pelo portal e agência de eventos São Paulo Saudável.

Para esta edição, primeira de várias outras, serão cerca de 30 expositores que estão mudando o cenário do consumo paulistano, celebrando a produção local em espaços públicos, que devem ser habitados e compartilhados pela população.

Quando: dia 4 de março (domingo)

Onde: Aldeia 455 (Rua Lisboa, 445), das 10h às 18h

http://envolverde.cartacapital.com.br/feira-sao-paulo-saudavel-vem-toque-de-sustentabilidade/

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews