ClimaInfo, 14 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A CONTABILIDADE CRIATIVA DO AGRO-POP

O debate público entre ambientalistas e porta-vozes do agro-pop continua. Desta vez, Raoni Rajão, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e integrante do Observatório do Código Florestal, e Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, publicaram um artigo no Medium em resposta ao texto cheio de imprecisões assinado por Maurício Nogueira que saiu recentemente no Valor Econômico. Por exemplo, a alegação de que o Brasil estaria recuperando mais florestas do que perdendo. Todas as fontes primárias de dados de cobertura e uso da terra no Brasil mostram que houve perda líquida de cobertura florestal em toda a série histórica. A recuperação registrada, principalmente de regeneração natural, alcança apenas três de cada dez hectares desmatados, muito longe dos 13 hectares sugeridos por Nogueira. Os autores também desmistificam o utópico bife “carbono zero” e apresentam evidências sobre a real área ocupada pelo agronegócio no Brasil. Mas além de esclarecer, o artigo lembra os motivos pelos quais o agronegócio deveria lutar com unhas e dentes para manter as florestas em pé, mostrando porque a eliminação do desmatamento não deveria ser uma agenda somente dos ambientalistas, mas também da atividade agropecuária. E exalta o agronegócio moderno, que pensa sistemicamente e em longo prazo, e que vê valor em cumprir as leis, em contraposição ao lado ruim do setor, baseado na grilagem de terras, numa pecuária primitiva que gera emissões, destrói a biodiversidade compromete os mananciais, e em trabalho análogo à escravidão. Esta “banda podre”, infelizmente, é a que encontra maior ressonância no Congresso Nacional, constatam os autores.

https://medium.com/@observatorioclima/a-matemática-particular-do-agropop-d1f7397fd2e9

 

FLEXIBILIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL PODE SER VOTADA NA PRÓXIMA SEMANA

Se depender do relator do projeto de lei do licenciamento ambiental, o deputado Mauro Pereira (MDB-RS), o PL que “flexibiliza” o licenciamento ambiental será votado na próxima 3a feira, dia 20 de março. Como o presidente do Congresso, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não se comprometeu com datas durante almoço com integrantes da bancada ruralista nesta 3a feira, fica difícil saber se há mesmo condições para a votação, ou se o discurso é apenas um wishful thinking.

Independente disso, o problema permanece: o texto traz um artigo que dá a estados e municípios a decisão sobre o grau de rigor do licenciamento. O relator afirmou que a frente ambientalista concordou em discutir os pontos em que não há convergência diretamente no plenário. Associações e entidades ligadas à defesa do meio ambiente divulgaram carta pública em que negam existência de acordo para votação do projeto do licenciamento ambiental. Nela, ambientalistas dizem que ao repassar aos estados a possibilidade de fazerem suas próprias regras de licenciamento, o projeto “induz o país a uma verdadeira guerra fiscal ambiental, com entes federativos afrouxando regras para atrair empreendimentos… Tal medida, inconstitucional, traria reflexos negativos no ambiente de investimentos e nos custos de crédito”, afirmam no documento. Aliás, como comprovou o recente escândalo com a Norsk Hydro, detentora de um impressionante histórico de impunidades, esta descentralização pode ter consequências nefastas ao ambiente. Ontem mesmo descobriram outro duto – que, como todo o resto, curiosamente nunca havia sido notado em vistorias anteriores.

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,relator-quer-votar-licenciamento-ambiental-na-camara-no-dia-20,70002225318

http://www.observatoriodoclima.eco.br/nao-ha-acordo-para-votar-licenciamento-dizem-ambientalistas-maia/

http://conexaoplaneta.com.br/blog/descoberto-novo-duto-ilegal-da-mineradora-norueguesa-no-para/

http://m.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-493227-para-advogado-ex-secretario-de-meio-ambiente-sempre-protegeu-a-hydro.html?v=604

 

FUNDO VERDE DO CLIMA ALOCA QUASE US$ 200 MILHÕES PARA PROJETO BRASILEIRO

O GCF (sigla em inglês para Fundo Verde do Clima) vai colocar US$ 195 milhões em 36 municípios que receberão atualização tecnológica da iluminação pública e medidas de eficiência energética em indústrias instaladas em suas áreas. A meta é reduzir 17 milhões de tCO2e por ano, investindo um pouco mais de US$ 10 por tCO2e reduzida. O GCF é aquele fundo que, a partir do Acordo de Paris, deveria receber US$ 100 bilhões dos países desenvolvidos para ajudar os demais a crescerem sem aumentar suas emissões. Se funcionar, essa redução representa 0,7% das emissões nacionais.

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2018/03/08/142262-brasil-assegura-recursos-para-o-clima.html

 

PROJETOS BRASILEIROS RECEBEM APOIO DO THE LAB FOR CLIMATE FINANCE

A iniciativa The Lab se propõe a incentivar, desenvolver e bancar ideias inovadoras e transformadoras no campo das finanças sustentáveis. Pretende, assim, dirigir bilhões de dólares privados para transformar a economia em baixa emissora. Há dois anos, entendendo o peso do Brasil nas emissões globais e os desafios dos nossos compromissos assumidos junto ao Acordo de Paris, a iniciativa abriu o Laboratório Brasileiro de Inovação de Finanças Climáticas. Seu site diz que “o Brasil Lab identifica, desenvolve e apoia a implementação de instrumentos transformadores para o financiamento climático que podem direcionar fundos para as prioridades climáticas nacionais”. Três projetos nacionais já estão recebendo apoio do Brasil Lab. Um sobre energias renováveis, outro incentivando a produção em áreas já desmatadas e de baixa utilização  como instrumento de combate a mais desmatamento e, o último, incentivando a produção e comercialização de produtos da floresta de comunidades ribeirinhas associado a programas de restauração de áreas da floresta amazônica. O The Lab também desenvolve ações na Índia e outras ações globais. Eles já captaram mais de US$ 1 bilhão de fundações filantrópicas e de programas governamentais de países europeus.

https://www.climatefinancelab.org/

https://www.climatefinancelab.org/the-labs/brasil/

http://www.valor.com.br/brasil/5377681/pais-entra-nas-prioridades-de-ong-de-baixo-carbono#

 

DEFENSORES DA “BIOECONOMIA” QUEREM UM PREÇO DO CARBONO PARA TODA A ECONOMIA

Em conversa com o Valor, Bernardo Silva, presidente ABBI, Associação Brasileira Biotecnologia Industrial, disse que “precisamos de uma precificação do carbono para toda economia. Sem isso, a gente não consegue ser competitivo no curto, médio e longo prazos”. Parte dessa bioeconomia diz respeito a biocombustíveis que, em tese, substituem combustíveis fósseis e, assim, evitam um aumento maior no aquecimento global. Mas parte dela está voltada para novos materiais, como plásticos verdes, que, em tese só tem uma pegada de carbono menor quando se inclui a destinação final pós-uso. Como muitos, Silva pede uma precificação do carbono pensando só na competitividade do seu setor. Como se a conta não fosse parar no bolso do consumidor. Se o etanol compete com a gasolina dos carros e, portanto, afeta mais a classe média, mexer com embalagens e outros quetais pode afetar o bolso do pessoal do andar de baixo, acirrando ainda mais a tremenda desigualdade social brasileira. É imperioso acelerar a transição para uma economia de baixo carbono, mas não às custas de mais desigualdade.
http://www.valor.com.br/agro/5380599/industria-ja-ve-nova-era-da-bioeconomia#

 

GOVERNOS E DESMATAMENTO

Em visita ao Mato Grosso, o em breve ex-ministro do meio ambiente, Sarney Filho, prometeu reduzir em 20% a taxa de desmatamento em relação à do ano passado. Isso significa que, no período que vai de agosto de 2017 até julho de 2018, serão desmatados, a corte raso, mais 5.300 km2, área equivalente à do Distrito Federal. O triste é que isso é dito como se fosse “da hora” desmatar só 5.300 km2. Mais adequado seria se o ministro se penitenciasse dizendo que só conseguiu salvar 1.300 km2.

Já o secretário de meio ambiente do Acre promete acabar com o desmatamento ilegal até 2020. O plano do secretário “pretende chegar ao desmatamento ilegal zero até 2020. Então, para isso, tem uma série de ações na área de comando e controle, que chamamos de fiscalização e monitoramento, um segundo eixo que é de produção sustentável e o terceiro que é a regularização fundiária e estruturação do território”. O plano, claro, talvez não dure até o final deste ano, quando talvez um novo governo tome posse.

http://www.olhardireto.com.br/agro/noticias/exibir.asp?id=26107&noticia=em-cuiaba-sarney-filho-anuncia-que-brasil-deve-reduzir-em-20-taxa-de-desmatamento

https://g1.globo.com/ac/acre/noticia/acre-quer-zerar-desmatamento-ilegal-ate-2020-diz-secretario-de-meio-ambiente.ghtml

 

TRUMP TROCA EX-PRESIDENTE DA EXXON POR ALIADO DOS IRMÃOS KOCH

O agora ex-secretário de estado americano “T-Rex” Tillerson foi sempre visto como um estranho no ninho de Trump. Se tinha planos para o segundo cargo mais importante dos EUA, Trump tratou de esvaziá-los com cortes no orçamento, não autorizando a substituição de diplomatas em países chave e usando sua refinada arte de tuitar contra tudo e todos. Tillerson não sabia do encontro de Trump com o presidente norte-coreano e não teve voz na desastrada atuação na guerra civil na Síria. Para seu lugar, Trump deslocou o diretor geral da CIA. Mike Pompeo tem como padrinhos os irmãos Koch, petroleiros e financiadores de think tanks negacionistas e de extensas campanhas contra a ciência do clima. É sabido que Tillerson não queria que os EUA saíssem do Acordo de Paris. Pompeo deve agir para tirar o clima da política externa norte-americana. Quem achava “o fim” ter no departamento de estado o ex-presidente de uma das maiores e mais antigas petroleiras do mundo, talvez venha a sentir saudades de T-Rex.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/03/trump-demite-rex-tillerson-e-mike-pompeo-sera-novo-secretario-de-estado.shtml

 

NOVIDADES SOBRE VEÍCULOS ELÉTRICOS NA ÍNDIA E NA VOLKSWAGEN

O governo indiano primeiro anunciou que não precisava de um plano para acelerar a entrada de carros elétricos no país, mas parece que já voltou atrás, sugerindo que, sim, haverá um plano, principalmente voltado a garantir a recarga das baterias dos carros. A parte não trivial é que existem extensas áreas do país com instalações elétricas precárias e que terão que ser reforçadas para aguentar a carga das baterias desses carros. Junto, vem a preocupação em não aumentar o consumo de carvão, afinal, não tem a menor graça substituir gasolina por carvão.

Por seu lado, e nessa semana, a Volks anunciou que vai começar a produzir os carros elétricos em 16 fábricas mundo afora e que vai assinar contratos no valor de US$ 25 bilhões para garantir o suprimento de baterias. As fábricas devem estar produzindo até 2022

http://campaign.r20.constantcontact.com/render?m=1129780019958&ca=066faa31-5f4e-4142-8653-98c1dba9d25d

https://electrek.co/2018/03/13/vw-electric-vehicle-production-plan-battery-cell-contracts/

 

O CARRO ELÉTRICO PODE SALVAR O SETOR ELÉTRICO NORTE-AMERICANO

O setor elétrico norte-americano, assim como o de todo o mundo, foi montado para uma economia crescente com aumentos contínuos na demanda por eletricidade. Só que em vários países, como nos EUA, a economia continua crescendo, mas a demanda não. Isso configura uma espiral da morte para o setor elétrico: demanda estagnada implica receitas estagnadas e menos investimentos em equipamentos e menos recursos para manutenções. Significa que, para evitar um colapso de suas redes, as geradoras e distribuidoras precisam arrumar mais dinheiro, ou seja, precisam aumentar as tarifas. Mas o aumento das tarifas induz o consumidor a ainda maiores economias e mais eficiência no consumo, reduzindo ainda mais a demanda.

Um artigo publicado na Vox diz que a entrada dos carros elétricos no mercado pode ser a “salvação da lavoura”, ao menos indicar um crescimento da demanda e uma “volta aos bons tempos”; e com “um plus a mais”, as baterias do carros podem ajudar a resolver o problema da intermitência das fontes renováveis solar e eólica. O artigo não examina o impacto do compartilhamento dos automóveis e do aumento do transporte público, que podem reduzir a velocidade e o tamanho do crescimento da demanda necessária para a sobrevivência do setor elétrico tal qual o conhecemos.

Aqui no Brasil, a situação deve ser um pouco diferente, principalmente pela tremenda desigualdade social que sinaliza que ainda não chegamos ao ponto de crescer sem aumentar a demanda de eletricidade. O boom de vendas de aparelhos de ar-condicionado anterior a 2015 indica claramente que há uma demanda reprimida por aparelhos elétricos. Mas a situação norte-americana não deixa de ser um bom aviso de problemas que talvez tenhamos que enfrentar.

https://www.vox.com/energy-and-environment/2018/3/13/17108590/utilities-electrify-everything

 

MELHORIA NA MEDIÇÃO DA TEMPERATURA DOS MARES MOSTRA QUE ESTES ESTÃO ESQUENTANDO

Medir a temperatura dos oceanos sempre foi complicado. Primeiro foram usados navios com termômetros, depois satélites com sensores infravermelho (para medir calor), cada um com suas limitações. Desde 2000, o projeto Argo vem espalhando equipamentos de medição com muito mais precisão. Hoje, são mais de 4 mil desses equipamentos que, a cada ciclo de dez dias, mergulham a até 2.000 metros de profundidade e voltam à superfície, medindo temperatura e salinidade. Só agora, os cientistas começam a ter um volume de dados que permite entender a dinâmica de eventos extremos. Já se sabia que os primeiros três metros de profundidade contém mais calor do que toda a atmosfera. Quando passa uma tempestade ou furacão, quanto desse calor acaba dinamizando o furacão ou a tempestade? E, sendo os oceanos um sorvedouro de calor da atmosfera, a que taxas o aquecimento desta é transferido para os mares? Respostas a estas perguntas começam a ser encontradas a partir das medições dos instrumentos do Argo. Sabe-se agora que, no último século, a temperatura média dos oceanos já subiu quase 1⁰C.

http://www.argo.ucsd.edu/

https://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2018/03/daily-chart-6

 

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