ClimaInfo, 22 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

APAGÃO ATINGE O NORDESTE E O NORTE DO PAÍS

Todos os nove estados do Nordeste e o Amazonas sofreram um apagão que começou no meio da tarde. As causas ainda não foram reveladas, mas parece que o problema começou com testes no linhão de transmissão da usina de Belo Monte que desestabilizaram o sistema Norte que, para se proteger, desligou o sistema Nordeste. Na cascata, o sistema Sudeste-Centro Oeste cortou a conexão com o Nordeste evitando que a escuridão descesse. Mesmo assim, pequenas regiões do Rio e de São Paulo ficaram sem luz. Quando o sistema elétrico sofre uma perturbação grande, como a interrupção numa linha de transmissão importante como a de Belo Monte, os sistemas de proteção começam a desligar tudo, para evitar sobrecargas. Assim, em questão de minutos, a carga total do sistema no país caiu de quase 80 GW para 62 GW. Os 18 GW desligados correspondem a quase toda a capacidade de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio juntas. No Nordeste, a energia começou a voltar no final da tarde, gradativamente.

http://ons.org.br/Paginas/Noticias/20180321-notaaimprensa.aspx

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apagao-atinge-estados-do-norte-e-nordeste-do-brasil,70002236672

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/03/21/apagao-atinge-os-nove-estados-do-nordeste.htm

 

AS MUITAS CONTAS A PAGAR DO SISTEMA ELÉTRICO

Os prejuízos da economia e da sociedade não entram nas contas que muita gente do setor elétrico faz ao discutir sua reforma. O foco está no jeito que as regras atuais dividem responsabilidades e riscos entre geradoras, distribuidoras e consumidores de diferentes tamanhos. Hoje, uma usina promete entregar um tanto de energia para uma ou mais distribuidoras. Só que chove menos do que o dono esperava e a usina não consegue gerar tudo que foi vendido. O dono da usina tem que ir para o mercado livre e comprar o faltante. O preço da energia no livre mercado pode vir a ser maior do que o preço pelo qual o dono vendeu a energia para as distribuidoras. A conta desta diferença, segundo analistas, está batendo na casa dos bilhões de reais. O governo autorizou aumentos na nossa conta de luz que as distribuidoras repassarão às geradoras para ajudar a cobrir o rombo. A reforma do setor elétrico, tão propalada, quer acertar a partilha de responsabilidades e riscos.

Outra conta bilionária que ameaça entrar na nossa conta de luz é o término da obra da usina nuclear de Angra 3. O projeto é dos anos 80, as obras mal começaram e pararam, e só foram retomadas mais recentemente. E foram parar na Lava Jato que prendeu o “dono” de todo o programa nuclear brasileiro por corrupção. Agora o governo diz querer terminar a obra e passar a conta. Para quem? O consumidor, claro.

Em tempo, os prejuízos do apagão de ontem não entram em nenhuma dessas contas.

http://www.valor.com.br/opiniao/5395675/quanto-custa-nao-fazer-mudancas-do-setor-eletrico#

http://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/governo-estuda-passar-para-a-conta-de-luz-custo-extra-bilionario-com-angra-3-4bjz4q235i0rl1wkt39zdshdh

 

OS PLANOS BRASILEIROS DA SHELL E DA STATOIL

Se lá fora as declarações da Shell e da Statoil falam da transição para uma economia de baixa emissão, por aqui a conversa é outra. Mauro Andrade, executivo da Statoil, disse que a empresa tem projetos para mais 30 ou 40 anos de exploração de petróleo e gás no pré e no pós-sal. Até hoje, ela já investiu mais de R$ 10 bilhões comprando empresas e arrematando lotes de exploração. “Temos um belo portfólio no país, mas continuamos olhando oportunidades no Brasil”, disse. Já a Shell fechou um contrato de venda de gás para uma térmica que vai ser construída no norte do estado do Rio. Seu CEO, André Araujo, disse que a empresa ainda tem “bastante apetite” pelo Brasil, demonstrado ao pagar US$ 100 milhões nas rodadas do pré-sal de 2017. Em janeiro, a Shell arrematou 19 lotes no Golfo do México. Imaginem se elas não estivessem pensando numa economia de baixo carbono.
http://www.valor.com.br/empresas/5398433/shell-e-statoil-avaliam-ampliar-negocios-no-brasil#

 

O INTERESSE DA CHINA ATRAVESSA TODA A AMAZÔNIA

Os chineses compram muita soja daqui e, por isso, estão muito interessados em como baratear o custo de levá-la daqui para lá. Um problema é a dificuldade manifesta deles em realizar consultas públicas e obter consentimento de populações tradicionais, coisas que têm aos montes ao longo dos projetos que estão interessados na Amazônia. Isso foi demonstrado na construção do linhão de Belo Monte, que acabou impondo um custo adicional que a contratada chinesa não esperava. Os chineses manifestaram interesse em financiar a Ferrogrão, que liga Sinop, no norte de Mato Grosso, com o porto de Miritituba, no Pará. Também assinaram um protocolo de intenções com o governo do Pará para construir a Ferrovia Paraense que atravessa o estado de Sul a Norte, saindo da fronteira com a soja do norte de Mato Grosso até os portos de Barcarena e Belém. E tem o projeto faraônico da Ferrovia Bioceânica ou Transoceânica que, na sua última versão disponível, vai partir do norte de Goiás, atravessar o Mato Grosso e Rondônia e de lá atravessar a fronteira com o Peru, escalar os Andes e terminar em um porto no Pacífico peruano. O nome Transoceânica veio na versão original do projeto que ligaria o Porto do Açu no litoral fluminense com o porto peruano. Nesses projetos, os chineses estão oferecendo financiamento, empreiteiras e operadores logísticos. Interessante observar que os projetos são mais para longas esteiras de grãos do que ferrovias que transportam carga e pessoas nos dois sentidos.

http://amazonia.inesc.org.br/destaque/grandes-projetos-na-amazonia-expoem-influencia-da-china-em-violacoes-socioambientais/

 

ESTIAGEM INTENSA NO ALTO RIO NEGRO

Três municípios no Alto Rio Negro, na fronteira entre o estado do Amazonas e a Colômbia, decretaram estado de alerta por conta da forte estiagem que atinge a região. A navegação no Rio Negro está interrompida em vários trechos por que o rio está raso demais. Cidades ao longo do rio já estão racionando água. Enquanto isso, o sul do estado registra chuvas acima da média histórica.

https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/alto-rio-negro-em-estado-de-alerta-devido-a-intensa-estiagem

 

ÁGUA, DA DESSALINIZAÇÃO NO CEARÁ ÀS MEIAS VERDADES DE ALCKMIN

Depois de anos projetando e debatendo, o Ceará vai receber os dois estudos técnicos para a construção de uma usina de dessalinização perto de Fortaleza. A usina deve custar por volta de R$ 500 milhões. Os dois proponentes defendem tecnologias distintas para fornecer 1m3 de água tratada por segundo, o equivalente a 12% do consumo na cidade.

Já o governador de São Paulo, e candidato à presidência em outubro, aproveitou o Fórum Mundial da Água para enaltecer o trabalho dele durante a crise de água na capital em 2014. Só que ele não contou que forçou um racionamento, principalmente nas regiões mais distantes do centro, ao reduzir a pressão na rede. E, como era ano de eleição, ele se negou a decretar um racionamento oficial, como se negou até hoje a abrir os dados operacionais daquele período. Falou das obras que o governo está fazendo para ampliar o fornecimento, mas não falou que duas estão atrasadas e o projeto de uma terceira está arrumando a maior encrenca com a população do município litorâneo de Bertioga, que corre o risco de perder parte de seu abastecimento. Alckmin também não explicou porque a Sabesp não consegue reduzir as perdas na sua rede, estimadas em mais de 30% da água que trata.

http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,ceara-vai-usar-agua-do-mar-para-consumo,70002235792

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/de-olho-na-presidencia-alckmin-omite-erros-para-recontar-a-crise-da-agua.shtml

 

CETESB PROPÕE NOVA REGULAMENTAÇÃO PARA VEÍCULOS

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) propôs ao Ibama uma nova regulamentação para o licenciamento de novos  veículos, que pode valer para os próximos 15 anos do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). Segundo a CETESB, a proposta inclui o controle das emissões de CO2 e dos demais gases de efeito estufa e está alinhada às promessas feitas pelo Brasil ao Acordo de Paris. A empresa do governo paulista diz, também, que este controle de CO2 exigirá, indiretamente, maior eficiência energética dos veículos. Para o cumprimento das regras propostas, as montadoras teriam que alinhar as tecnologias empregadas aos melhores padrões internacionais, reduzindo, assim, a enorme defasagem existente no mercado brasileiro em relação aos países desenvolvidos. A redução desta defasagem habilitaria uma participação efetiva no mercado de veículos elétricos, de geração solar e eólica e de redes inteligentes, além da integração da indústria sucroenergética ao novo contexto. A proposta prevê, também, a inclusão da prevenção contra mecanismos eletrônicos que burlam sistemas de medição e controle de poluição, semelhantes aos que provocaram o “dieselgate” que envolveu a Volkswagen e outras montadoras nos Estados Unidos e na Europa.

http://www.ambiente.sp.gov.br/sma-e-cetesb-apresentam-nova-proposta-para-regulamentacao-veicular/

 

TRANSPORTE PÚBLICO GRATUITO EM PARIS?

A prefeita socialista de Paris, Anne Hidalgo, lançou um potente balão de ensaio: ela quer transporte público gratuito em toda a cidade e quer que a cidade discuta esse projeto antes das eleições municipais de 2020. Para explicar, ela disse que para melhorar a mobilidade de todos, melhorar a qualidade do ar e reduzir as emissões, é preciso reduzir o número de carros andando nas ruas e o meio mais eficaz é tornar o transporte público mais atrativo. E mais, “para melhorar o transporte público, não basta apenas estender seu alcance, torná-lo mais regular e mais confortável. É preciso repensar o sistema de tarifas”. Ela já enfrenta a oposição de Valérie Pécresse, presidente conservadora da província onde se localiza Paris, que diz não fazer sentido transferir a arrecadação de 3 bilhões de euros pagos pelos usuários dos transportes para o contribuinte. As duas podem se enfrentar nas eleições de 2020. A agência europeia de estatística fez uma pesquisa em 2015 que apontou o serviço de transporte público de Paris como um dos mais usados na Europa, com mais de 60% da população usando metrô, ônibus e trens, enquanto apenas 25% diz ir de carro ao trabalho. Outras cidades francesas menores já tornaram o transporte público gratuito, mas nada na escala do que pretende Hidalgo.

http://br.rfi.fr/franca/20180320-sob-pressao-prefeita-de-paris-propoe-gratuidade-no-transporte-publico

https://uk.reuters.com/article/uk-france-paris-transportation/paris-mulls-free-public-transport-to-reduce-pollution-idUKKBN1GW1M9

 

AS RENOVÁVEIS AVANÇANDO PARA UM FUTURO SEM SUBSÍDIOS

Um trabalho da Aurora Energy Research estima que, no Reino Unido, a queda nos preços da geração fotovoltaica e da eólica offshore atrairá investimentos de quase US$ 30 bilhões até 2030 e que, a partir de 2025, ela não dependerá mais de subsídios. Até lá, os riscos inerentes aos investimentos devem ser divididos entre as empresas e os governos. A Aurora acrescentou que em seu cenário para 2030 serão adicionados 18 GW à rede britânica, metade eólica, metade fotovoltaica. Nas últimas contas, o governo de sua majestade havia previsto a necessidade de construir mais 7 GW de térmicas à gás natural, mas a Aurora acha que 1 GW será mais que suficiente.

https://www.theguardian.com/business/2018/mar/20/uk-subsidy-free-renewable-energy-projects-set-soar-aurora-energy-research-analysts

 

PESQUISAS MOSTRAM COMO CIDADES ATIRAM BALAS CLIMÁTICAS NOS PRÓPRIOS PÉS

Três trabalhos apareceram em março falando dos impactos dos espaços urbanos nas chuvas e na temperatura das cidades. O primeiro, desenvolveu modelos numéricos e dados de satélite para estudar a cidade de San Miguel de Tucumán, ao pé dos Andes, no noroeste da Argentina. A modelagem da interação entre a urbanização – que segue em direção às montanhas – com os ciclos de precipitação, mostra que esta pode reduzir de 20 a 30% a quantidade de chuva na cidade ao longo do ano. Outro trabalho do mesmo grupo comprovou, para o caso de Mumbai, a forte correlação existente entre bolsões urbanos de alta densidade e a quantidade de chuvas muito fortes. O terceiro trabalho analisou as ilhas de calor em mais de 50 cidades ao redor do mundo, apontando uma forte correlação entre o aumento da temperatura média à noite e o que os pesquisadores chamam de “textura urbana”, medida pela função de distribuição de edifícios e o fator de visão do céu.

https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2017GL076834

https://www.nature.com/articles/s41598-018-22322-9

https://journals.aps.org/prl/abstract/10.1103/PhysRevLett.120.108701

http://www.anthropocenemagazine.org/2018/03/cities-make-their-own-weather-in-ways-that-may-intensify-with-climate-change/

 

Oportunidades:

 

  1. PROGRAMA ECOMUDANÇA DO ITAÚ-UNIBANCO

Para projetos de energia renovável, tratamento de resíduos, recuperação de áreas degradadas, agricultura sustentável e sistemas agroflorestais. Para organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que queiram receber um apoio de até R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Propostas devem ser enviadas até 12/04/2018.
A inscrição é feita inteiramente na internet por meio da plataforma Ekos Social. Para mais informações, o site do Programa Ecomudança é: https://www.itau.com.br/sustentabilidade/riscos-e-oportunidades-socioambientais/ecomudanca/

 

  1. PETROBRAS SOCIOAMBIENTAL

A Petrobras selecionará projetos que contribuam para a conservação do meio ambiente, para a melhoria das condições de vida nas comunidades do entorno de suas operações, para a mitigação dos riscos sociais relacionados aos negócios da empresa e para o desenvolvimento local nas áreas onde atua. Podem se inscrever projetos afeitos à uma destas seis linhas: biodiversidade; florestas e clima; água; educação; direitos da criança e do adolescente; e esporte. A única restrição geográfica é que projetos envolvendo os direitos da criança e adolescente e de educação e esportes devem estar localizados nas comunidades na área de abrangência das unidades de operações da empresa.
http://sites.petrobras.com.br/socioambiental/selecoes-publicas/selecao-2018/

http://www.valor.com.br/empresas/5398435/petrobras-amplia-aportes-para-acoes-socioambientais#

 

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