ClimaInfo, 27 de março 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

SENADO PODE DAR HOJE TIRO NO PÉ DO ETANOL BRASILEIRO
O Senado quase votou na semana passada o projeto de lei do ruralista Flexa Ribeiro (PSDB-PA) que libera o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia Legal. A priori, a votação ficou para hoje. O PL reverte uma proibição que já tem mais de 10 anos, e que tem uma função estratégica, além de ambiental: impedir que o biocombustível seja visto como destruidor da floresta no mercado internacional. Em termos ambientais, teme-se que a produção de etanol na Amazônia empurre a pecuária para novas áreas para dar lugar à lavoura de cana-de-açúcar, estimulando a devastação.

O projeto é visto com maus olhos pela Unica, a maior associação empresarial do setor, e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), pelos efeitos nocivos que pode causar ao açúcar a ao álcool brasileiros no mercado internacional. O projeto também foi duramente criticado pelos ex-ministros do meio ambiente Izabella Teixeira, Carlos Minc, Marina Silva, José Carlos Carvalho e Rubens Ricupero, e por organizações ambientalistas como o Observatório do Clima, a Fundação SOS Mata Atlântica, o Greenpeace Brasil e o WWF, entre muitas outras.

Os protestos destas organizações chamaram a atenção internacional e o The Guardian relatou o assunto. E a Science Letters publicou ontem uma carta assinada por Lucas Ferrante e Philip M. Fearnside, na qual os pesquisadores se posicionando fortemente contra a liberação do plantio de cana na Amazônia.
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,ambientalistas-protestam-contra-cana-na-amazonia,70002242253

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,industria-do-etanol-diz-ser-contra-projeto-que-coloca-cana-na-amazonia,70002243498

http://www.observatoriodoclima.eco.br/liberacao-de-cana-na-amazonia-joga-contra-florestas-e-o-etanol-brasileiro/

https://www.theguardian.com/world/2018/mar/26/brazil-senate-considers-lifting-ban-on-sugarcane-production-in-amazon?CMP=twt_a-environment_b-gdneco

http://science.sciencemag.org/content/early/2018/03/26/science.aat4208

 

AS METAS DO RENOVABIO E A IMPORTAÇÃO DE ETANOL

Na 2a feira, o MME publicou portaria sacramentando o Renovabio. Dentre outras, o MME criou o Comitê RenovaBio. Já na próxima semana, o Comitê se reúne pela primeira vez para aprovar seu plano de trabalho e abrir para consulta pública as “metas nacionais de redução de emissões compulsórias para a matriz de combustíveis”. Essas servirão de base para definir quantos certificados cada distribuidora terá que apresentar ao final de cada ano. Cada certificado corresponde a um litro de etanol e cada usina recebe os certificados conforme sua produção mais um bônus em função das emissões de gases de efeito estufa. As metas das distribuidoras começam a ser definidas a partir de junho próximo. Mas só definir as metas não basta. O Comitê também está encarregado de outras tarefas um tanto espinhosas: estabelecer os critérios, diretrizes e parâmetros para a certificação de biocombustíveis e o credenciamento de firmas certificadoras que vão conferir se as usinas estão emitindo o que declaram.

O Renovabio foi pensado para, aos poucos, tornar a gasolina menos competitiva que o etanol. De lambuja, servirá como barreira para a importação de etanol dos EUA, visto que este não vem com certificados.

Falando em importação, a Raizen, um dos principais players no mercado de etanol, acaba de anunciar que estuda a importação de etanol norte-americano. A empresa está produzindo etanol de 2a geração e estudando se entra no milho também.

http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/outras-noticas/-/asset_publisher/32hLrOzMKwWb/content/portaria-da-inicio-as-atividades-do-comite-renovabio;jsessionid=3362073B4B15A40A555657E550A35142.srv155

http://www.jb.com.br/pais/noticias/2018/03/26/mme-define-funcionamento-do-comite-renovabio/

http://www.valor.com.br/agro/5395479/raizen-ve-chance-para-importar-etanol#

 

INPE MOSTRA PERDA DE 25 MILHÕES DE HECTARES DO CERRADO

Ontem, comentamos alguns dados presentes em um dos relatórios da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Entre eles que o Cerrado, nos últimos 15 anos, teria perdido mais de um milhão de hectares de vegetação nativa. Acontece que este dado sobre a perda da vegetação nativa refere-se somente à expansão da fronteira agrícola em direção ao Cerrado do nordeste do Brasil, muito dentro do chamado Matopiba, como nos informou o especialista em Cerrado Arnaldo Carneiro Filho. Os dados do INPE mostram que a perda em todo o Cerrado foi 25 vezes maior: mais de 25 milhões de hectares foram perdidos entre 2001 e 2015.
http://www.dpi.inpe.br/fipcerrado/dashboard/cerrado-rates.html

 

NOSSA VELHA FROTA E AS PROPOSTAS PARA REDUZIR AS EMISSÕES VEICULARES

Na semana passada, a Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) entregaram à presidente do Ibama, Suely Araújo, uma proposta para incluir as emissões de gases de efeito estufa nas metas do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) para veículos novos nos próximos 15 anos. Seria mais um instrumento que o país teria para cumprir com as metas de Paris.

Enquanto isso, o Sindipeças, uma das associações empresariais do mundo automotivo, publicou seu relatório do ano passado. O que mais chama a atenção foi o envelhecimento da frota nacional, ou melhor, que a crise econômica fez vender menos carros novos nos últimos três anos. A idade média da frota é de nove anos e sete meses, 11% mais velha do que em 2013. Lembrando que um carro velho polui mais por ser velho e, em geral, desregulado, e polui mais por ser menos eficiente do que os modelos novos. Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, onde o carro velho paga mais impostos, nosso IPVA acaba incentivando o aumento da poluição ao taxar proporcionalmente mais o carro novo do que o velho.

http://www.ambiente.sp.gov.br/sma-e-cetesb-apresentam-nova-proposta-para-regulamentacao-veicular/

http://www.sindipecas.com/area-atuacao/?co=s&a=desempenho-do-setor-de-autopecas#.V7HCq5grKUk

http://www.valor.com.br/empresas/5407711/crise-envelhece-frota-de-veiculos#

 

TARIFAS ELÉTRICAS DISPARAM E MME QUER EVITAR QUE ANGRA 3 AS FAÇAM SUBIR AINDA MAIS

Confirmando o que dissemos na semana passada: uma das principais consultorias do setor elétrico avisou que o reajuste médio nas tarifas elétricas esse ano será de 15%, sendo que a inflação no ano passado ficou abaixo de 3% e a desse ano deve ficar abaixo de 4%. O reajuste é explicado porque choveu menos nas represas de grandes geradoras que se viram obrigadas a comprar energia no mercado spot para o cumprimento de seus contratos. O preço no spot ficou boa parte do tempo acima do valor de venda que constava nos contratos. O governo decidiu, então, socializar os prejuízos para evitar uma quebradeira geral.

Um pequeno sinal de que as tarifas não aumentarão ainda mais veio de de gente do MME que não quer incluir a conclusão das obras de Angra 3 nas contas deste ano. Há um imbróglio envolvendo a Eletronuclear, que ainda é parte da Eletrobrás, que talvez venha a ser privatizada. Os sinais indicam a não inclusão da empresa nuclear no pacote privatizável. Mas, por outro lado, o governo busca algum consórcio internacional que se interesse por terminar e operar o monstrengo. Concorrendo, estão os chineses da CNNC, os russos da Rosatom e o consórcio franco-japonês EDF/Mitsubishi, estes últimos vindos das pátrias de Chernobil e Fukushima.

http://www.valor.com.br/brasil/5407683/seca-de-2017-deve-levar-reajuste-de-15-na-tarifa-de-energia-em-2018#

http://www.valor.com.br/brasil/5407685/mme-resiste-proposta-de-aumento-de-preco-para-retomar-obras-de-angra-3#

 

SHELL FALA DO SEU FUTURO E O DO CLIMA

A petroleira Shell, a exemplo de suas irmãs, publicou sua visão de futuro para tentar aplacar a pressão de um grupo de acionistas. Ela foi um pouco mais ambiciosa do que as irmãs, prometendo cortar à metade sua pegada de carbono até 2050. No fundo é pouco. Analistas apontam que  o cenário anunciado ontem passa longe de ser uma contribuição real à limitação do aquecimento global em 2⁰C. Pelas contas feitas a partir dos dados do IPCC e dos compromissos de Paris, as petroleiras teriam que cortar ⅔ de suas emissões. Mark van Baal, do grupo de acionistas Follow This, submeteu uma resolução exigindo metas mais agressivas.
A Shell também pôs muitas fichas no que chama de “gerenciamento de gases de efeito estufa”, talvez olhando para esquemas de captura e armazenamento. Das petroleiras, a Shell sempre se apresentou como uma das mais entusiasmadas com a transição para regimes de baixa emissão, e vem investindo US$ 2 bilhões ao ano em renováveis. Só que isso não se compara aos mais de US$ 25 bilhões que ela mesma investe em fósseis.

Dois outros pontos chamam a atenção no relatório. Ele não menciona o que acontecerá com seus ativos, suas reservas de petróleo e gás, quando a demanda cair e a empresa passar a valer cada vez menos. Esse é um dos pontos mais espinhosos no diálogo de todas as petroleiras com seus acionistas. O outro ponto se refere ao hidrogênio, que a Shell colocou numa posição de destaque no futuro da energia no mundo. A empresa diz que o transporte de carga ainda estará queimando diesel em 2050, mas que o biodiesel, a eletricidade e o hidrogênio serão cada vez mais importantes.

https://www.shell.com/energy-and-innovation/the-energy-future/scenarios/shell-scenario-sky.html

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-26/shell-says-saving-planet-probably-means-sucking-co2-from-the-air

https://www.ft.com/content/fae8e478-2eba-11e8-9b4b-bc4b9f08f381

 

CAMBRIDGE ANALYTICS INCENTIVOU NEGACIONISTAS CLIMÁTICOS

O site desmog, do Reino Unido, foi atrás dos mapas de conexão da Cambridge Analytics (CA) e descobriu fortes ligações com a família Mercer, uma das mais poderosas fundações norte-americanas a patrocinar think tanks que negam a mudança do clima. Aliás, a empresa também tem fortes ligações com os próprios think tanks. A CA, segundo o desmog, recebeu US$ 5 milhões dos Mercers. Do outro lado do Atlântico, a CA apoiou o partido de extrema-direita na campanha do Brexit e, depois que Theresa May teve que fazer uma aliança com um partido da direita irlandesa, a CA passou a apoiar o tal partido também. A CA virou pivô de um enorme escândalo ao ser revelado que havia roubado 50 milhões de perfis Facebook usados na campanha de Trump em 2016.

https://www.desmog.uk/2018/03/21/web-power-how-cambridge-analytica-sits-heart-brexit-trump-and-climate-science-denial

 

CARROS ELÉTRICOS MELHORES E MAIS BARATOS E A VOLTA DA KOMBI

Artigo da Bloomberg diz que, até 2025, os carros elétricos estarão mais baratos do que as enormes SUVs beberronas. Isso se a queda no preço das baterias seguir a tendência atual. A Bloomberg estima que o preço atual das baterias, de mais de US$ 200 por kWh, teria que cair para por volta de US$ 95 por kWh em 2025. Outro fator que deve ajudar a baratear os elétricos é a possibilidade de redução da quantidade de aço empregada na sua montagem. Como o elétrico é mais leve, mais plástico poderá substituir metais mais caros, sem prejudicar a segurança e a dirigibilidade. Mais uma indicação de que o protecionismo de Trump pode sair pela culatra.

E uma notícia para o saudosistas da VW. A empresa lançará um modelo elétrico da Kombi, agora rebatizada de “The Buzz”, um trocadilho com um dos apelidos da Kombi lá fora: o ônibus, “the bus”.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-03-22/electric-cars-may-be-cheaper-than-gas-guzzlers-in-seven-years

https://www.reuters.com/article/us-autos-electric-factbox/factbox-automakers-put-pedal-to-the-metal-on-electric-vehicles-idUSKBN1GX2RH

https://cleantechnica.com/2018/03/25/enough-lies-electric-cars-far-greener-gas-cars-basta/

http://www.hypeness.com.br/2018/03/volkswagen-anuncia-a-volta-da-kombi-e-ela-sera-eletrica-e-com-design-futurista/

 

NEM AS PETROLEIRAS ACREDITAM EM TRUMP

Há pouco tempo atrás, Trump baixou uma das suas ordens executivas abrindo mais leilões de concessão de áreas de exploração de óleo e gás nas costas norte-americanas. Um dos primeiros desses leilões deu com os burros n’água. Um campo no Golfo do México, de mais de 300 mil km2, não atraiu quase ninguém, e só 1% da área pegou um precinho muito abaixo do esperado. O governo arrecadou meros US$ 125 milhões. Analistas ouvidos pelo New York Times disseram que as empresas estão em compasso de espera, entendendo que o preço atual do barril, em torno de US$ 60, não é muito animador.

https://www.nytimes.com/2018/03/21/business/energy-environment/oil-auction-gulf.html

 

A EUROPA ESTUDA FORMAR UMA ÚNICA REDE ELÉTRICA COM A CHINA

A Europa começa a levar a sério a ideia de ligar as redes elétricas chinesas com as europeias. Os obstáculos são um custo astronômico e a desconfiança em relação aos “parceiros”. As vantagens são inúmeras. A carga diária, que lá, como aqui, tem um pico de manhã cedo e outro que pega parte da tarde e parte da noite, passaria a ficar muito mais constante pela diferença de fuso horário. Isso significa um melhor aproveitamento das usinas e de todo sistema, quando comparado com a operação atual. Pelo mesmo motivo, um dia de sol duraria as 8 horas normais mais a diferença de 8 horas entre Shanghai e Londres. E boa parte deste dia de 16 horas de sol aconteceria entre o Afeganistão e os desertos árabes, o melhor sol do planeta.

https://www.euractiv.com/section/eu-china/news/eu-looks-into-benefits-of-energy-silk-road-to-china/

 

A EXTENSÃO DE GELO NO INVERNO ÁRTICO É A MENOR JÁ REGISTRADA

Nas semanas passadas, o gelo Ártico atingiu sua extensão máxima neste inverno e, junto com as extensões registradas em 2015, 16 e 17, são as menores já registradas na história. Isso não altera diretamente o nível do mar, mas indica que as geleiras terrestres da Groenlândia terão menos obstáculos neste verão para que derretam e, aí sim, elevem o nível no mar.
http://nsidc.org/arcticseaicenews/2018/03/arctic-sea-ice-maximum-second-lowest/

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/03/180323141334.htm

 

Siga o ClimaInfo nas redes sociais: www.facebook.com/climainfo e www.twitter.com/climainfonews