ClimaInfo, 3 de abril 2018

3 de abril de 2018

PETROLEIRAS DE TODO O MUNDO DE OLHO NO BRASIL

Em 2017, petroleiras estrangeiras investiram mais R$ 30 bilhões na compra de direitos de exploração de áreas do pré e do pós-sal. Pelo jeito continuam com apetite: só no leilão da semana passada, a Exxon investiu quase R$ 3 bilhões, o que evidencia que os relatórios cheios de sustentabilidade que estas empresas publicam ainda não chegaram aos departamentos estratégico-financeiros.

O Brasil é uma das bolas da vez para as multinacionais do setor, porque o governo quer fazer caixa urgentemente e a Petrobrás não tem mais cacife – político ou econômico – para tudo arrematar, como soía acontecer. Talvez pelas diferenças nas rentabilidades físicas, talvez pela diferença nos incentivos, Trump não teve a mesma sorte de Temer. Seu recente leilão de áreas no Golfo do México teve resultados pífios, arrecadando muito menos do que esperava e não recebendo ofertas para muitas das áreas colocadas em leilão.

Enquanto isso, em Nova York, a petroleira EOG Resources notou que um grupo de investidores pretendia votar uma resolução comprometendo a empresa a reduzir suas emissões. Em um movimento ágil, a EOG conseguiu da SEC (sigla da Comissão de Valores Mobiliários de lá) uma autorização prévia desobrigando-a do cumprimento da resolução. Algo parecido com os Habeas Corpus preventivos que andam ultimamente frequentando as manchetes no Brasil. O frustrado grupo de acionistas disse que a resolução da SEC “parece com uma interferência no mercado (coisa que não devia) e colocou seu julgamento acima do que acionistas e investidores pensam e querem fazer”.

http://www.valor.com.br/empresas/5421711/estrangeiras-ampliam-presenca-na-exploracao#

https://www.axios.com/major-oil-companies-flock-to-brazils-offshore-auction-1522414286-16c9e4ba-d1d8-4bab-aff0-fc6dc7e443d7.html

https://www.axios.com/oil-producers-climate-change-exemption-e3887656-42c0-4510-ad0d-6118cc3aef94.html

 

MARICÁ, NITERÓI E ILHABELA BUSCAM MINORAR OS (INEVITÁVEIS) MALES DO PETRÓLEO

Estes três municípios são os que mais estão recebendo royalties do pré-sal e, aparentemente, não querem repetir a história de Campos – e outros – que gastaram seus bilhões e depois faliram. Os três montaram fundos de investimento para garantir o rendimento de boa parte do que recebem. O restante, ao invés de ser gasto em obras faraônicas ou no inchaço de máquinas públicas feito em troca de votos, foi usado na criação de programas de transferência de renda e um sistema de bolsas de estudo para alunos de baixa renda. Em Maricá, a prefeitura não pretende mexer no fundo por dez anos e quer acumular pelo menos R$ 1,2 bilhão. Ilhabela vai separar para o fundo pelo menos 5% do que receberá de royalties neste ano e irá aumentando o que pinga neste até 25% em 2022; com isso, pretende poupar R$ 1 bilhão em dez anos e R$ 3 bilhões em 30 anos. Se as videntes do mercado estiverem certas, a demanda de petróleo deve atingir o pico antes destes 30 anos. Mas até lá, se continuarem  bem comportados, estes municípios terão cofres cheios para minorar os impactos da mudança do clima que a exploração deste petróleo causará.

http://www.valor.com.br/brasil/5421837/municipios-montam-fundos-para-poupar-royalty#

 

NORUEGA POSA DE SUSTENTÁVEL, MAS INVESTE EM PETRÓLEO E NA JBS

Soube-se ontem que o Fundo Soberano da Noruega é sócio em três das maiores empresas do setor de carnes no Brasil: detém mais ou menos 1% da JBS, da Marfrig e da Minerva. Apesar de todas as juras feitas junto à moratória da carne, suspeita-se que parte dos bois abatidos por estas empresas têm origem em áreas desmatadas.

A revelação confirma a hipocrisia norueguesa. No ano passado, o governo norueguês ‘causou’ ao acusar o Brasil pelo não cumprimento das promessas de contenção do desmatamento, quando cortou o aporte previsto ao Fundo Amazônia. Talvez fosse mais coerente para a Noruega – e seu megafundo soberano – usar seus poderes de sócio para cobrar destas empresas a aderência à moratória e, assim, aliviar a pressão sobre o desmatamento.

E tem mais: cometendo outro pecado climático, a Noruega participou dos leilões de áreas de exploração de petróleo promovidos pela ANP por meio de sua Statoil. Ah, e tem também o caso da Norsk Hydro, empresa que deveria estar de castigo pela contaminação que causou em Barcarena, no Pará, e pelas tentativas ingênuas de acobertamento do desastre ambiental que provocou.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/04/mecenas-da-amazonia-noruega-investe-em-frigorificos-no-brasil.shtml

 

O CLIMA VAI MAL, OBRIGADO

Marcelo Leite mostrou em sua coluna de ontem na Folha de S. Paulo que a situação climática é feia. O artigo comenta a extensão cada vez menor da camada de gelo no Ártico, lembra que a Agência Internacional de Energia mostrou que as emissões relativas ao consumo global de energia aumentaram em 2017 depois de três anos seguidos de (pequena) queda, e que, por mais que as renováveis continuem a ser instaladas no mundo todo, e numa velocidade acima do previsto, mais de 80% da energia mundial continua sendo fóssil. As consequências, segundo Marcelo Leite, estão em várias das manchetes do ano passado: furacões e tornados, secas e incêndios florestais, tempestades fortíssimas e enchentes. Finalmente, Marcelo lembra também que a temperatura média global, aquela que não pode passar de 1,5oC, já subiu 1,1oC.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/04/mas-novas-pioram-clima-no-planeta.shtml

 

DÓRIA DEIXA A PREFEITURA DE SP DEPOIS DE GASTAR EM PUBLICIDADE O QUE NÃO GASTOU NO COMBATE A DOENÇAS INFECCIOSAS

Duas notícias sobre o que fez e anda fazendo o prefeito de São Paulo, João Dória – que sai da prefeitura até 6a feira para tentar o governo do estado nas eleições de outubro – saíram em jornais diferentes, mas devem ser lidas juntas. A primeira mostra que as despesas com vigilância em saúde, que incluem combate ao Aedes Aegypt e, portanto, à febre amarela, à dengue e às doenças irmãs, caíram de R$ 86 milhões em 2016 para R$ 78 milhões, o suficiente para sucatear a estrutura dedicada às ações, já manifesta na falta de carros para os agentes circularem pela cidade fazendo o trabalho de prevenção. A outra notícia dá conta que Dória gastou R$ 66,4 milhões em publicidade só no último trimestre do ano passado, quase o equivalente ao gasto na caça aos mosquitos.

Talvez o prefeito conte com os votos do Aedes e família em outubro, afinal, eles os deixou picarem soltos.

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/04/combate-a-mosquito-com-aplicacao-de-inseticida-despenca-na-gestao-doria.shtml

http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,de-saida-doria-dobra-verba-de-publicidade,70002250876

 

COMEÇA HOJE REUNIÃO PARA REDUÇÃO DAS EMISSÕES DA NAVEGAÇÃO

Hoje começa a reunião da IMO (sigla em inglês da Organização Marítima Internacional) que discutirá as propostas de redução das emissões de carbono da navegação internacional. Um negociador indiano disse que China, Índia e Brasil aceitam o estabelecimento de metas, mas com datas distintas para os diferentes países, e demandam a aplicação do velho e roto princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. A China é o maior operador de frota marítima do mundo e o terceiro em termos de tonelagem. Em comparação, Brasil e Índia, juntos, mal chegam a 2% do mercado mundial. A proposta mais substantiva sobre a mesa foi feita pelas Ilhas Marshall e quer ver a navegação zerar suas emissões de carbono até 2035. Até a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aceitou discutir o zero e a data. Na semana passada, eles soltaram um estudo com muitos números e seu pensamento. Além dos desafios técnicos, o setor espera dobrar de volume até 2035 e continuar crescendo 3% ao ano até 2050, ou seja, vai ter cada vez mais navio precisando zerar suas emissões.

Em tempo: o surrado argumento das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” se referia às emissões dos países industrializados que emitiram um monte de gases de efeito estufa durante décadas antes que China, Brasil, Índia e os outros aparecessem no mapa das emissões. Estender o argumento para a navegação é esticar a corda para além da imaginação.

https://in.news.yahoo.com/imo-begin-talks-reducing-ship-emissions-095203517.html

https://www.itf-oecd.org/sites/default/files/docs/decarbonising-maritime-transport.pdf

 

CALIFORNIA BANE OS HFCs, GASES QUE AFETAM O CLIMA USADOS EM CONDICIONADORES DE AR

Os gases dos aparelhos de ar condicionado sempre foram problemáticos. A primeira família a ser usada, a dos CFCs (clorofluorcarbono), quase destruiu a camada de ozônio antes de ser banida pelo Protocolo de Montreal, em 1990. A segunda família, os HFCs (hidrofluorcarbono), tem, entre seus membros, alguns dos mais potentes gases causadores do efeito estufa e é objeto da Emenda de Kigali, um anexo ao Protocolo de Montreal, que determina prazos para que os países se livrem dos HFCs. Na semana passada, a Califórnia deu o passo previsto em Kigali e proibiu os HFCs em seu território. De quebra, cutucou Trump e seus asseclas, dizendo que o passo foi dado depois que uma corte determinou, no ano passado, que a EPA (Agência de Proteção Ambiental) não tem autoridade para regular os HFCs. Interessante que a corte queria proteger os fabricantes da interferência do governo Obama, que assinou o acordo em Kigali. Mas a Califórnia agora usa a sentença contra o governo federal de Trump.

https://insideclimatenews.org/news/30032018/california-hfc-ban-short-lived-climate-pollutants-global-warming-refrigerators-air-conditioners

 

COMBUSTÍVEIS BEM MAIS LIMPOS COMEÇAM A SER VENDIDOS EM DELHI AGORA, E NO RESTO DA ÍNDIA ATÉ 2020

O ministro do petróleo da Índia disse que o diesel e a gasolina vendidos na capital, Delhi, passaram a ter a qualidade compatível com a exigida pelos motores do padrão europeu mais restrito em termos de poluição, o Euro-6. As emissões de particulados destes motores caem, na prática, a zero pois o valor admitido é mais baixo do que a sensibilidade de muitos medidores. O teor de enxofre dos combustíveis compatíveis com o Euro-6 cai, também, a praticamente zero. A emissão de óxido de nitrogênio do Euro-6 cai para 0,8 g/km rodado. Assim, o governo indiano espera que a poluição na cidade deixe de ser manchete internacional, evitando mortes e doenças pulmonares, além dos prejuízos com faltas ao trabalho. O plano inicial do governo era lançar esses combustíveis até 2020. Mas foi possível adiantar os prazos e, agora, a data de 2020 foi determinada para a extensão da norma a todo o país. Treze das maiores cidades indianas vão padronizar os novos combustíveis até o começo do ano que vem.

E se o CONAMA baixar norma equivalente, será que a Petrobras topa?

https://timesofindia.indiatimes.com/business/india-business/worlds-cleanest-petrol-diesel-now-in-delhi/articleshow/63581253.cms

 

GOVERNO TRUMP QUER CARROS MAIS POLUENTES

A Agência Ambiental Norte-Americana (EPA) vai rever para baixo os padrões de emissão de veículos nos EUA. As metas estabelecidas há seis anos exigiam que as montadoras quase dobrassem a economia média de combustível dos novos carros e caminhões para 54,5 milhas por galão até 2025. Se totalmente implantadas, estas regras teriam reduzido o consumo de petróleo em cerca de 12 bilhões de barris – e a poluição por dióxido de carbono em cerca de seis bilhões de toneladas.  Sem meias palavras, Scott Pruitt, administrador da Agência de Proteção Ambiental, disse em comunicado à imprensa que “a determinação do governo Obama estava errada”. Pruitt também atirou na concessão, dada por uma isenção federal à Califórnia, que permitia que o estado e outros 12 seguissem regras mais rigorosas de poluição do ar. O objetivo não declarado é evitar que os fabricantes tenham que fazer carros menos poluentes para alguns estados, o que elevaria custos e complicaria a logística de produção.
O anúncio foi feito por meio de um comunicado à imprensa, que não informa quando as regras antigas começarão a ser revertidas.  Originalmente, o plano era anunciar as mudanças em evento de um distribuidor da marca Chevrolet, na Virgínia. Mas a ideia não foi adiante porque revendedores da marca não quiseram associar sua imagem à iniciativa.

https://www.nytimes.com/2018/04/02/climate/trump-auto-emissions-rules.html

https://www.ft.com/content/f83bb1b6-36ac-11e8-8b98-2f31af407cc8

 

SECA NA ARGENTINA E URUGUAI GERA PREJUÍZO CLIMÁTICO DE BILHÕES

Neste verão, choveu muito menos do que a média histórica na Patagônia, no norte da Argentina, e em algumas áreas do Uruguai. Por conta disso, estima-se que os prejuízos nas colheitas de soja, milho e trigo cheguem a quase US$ 4 bilhões, um recorde absoluto. A conta maior, em termos proporcionais, ficou para o Uruguai, onde estimam-se perdas de quase US$ 600 milhões só com a soja. Em Rosário, na Argentina, a seca afetou mais de 80% da região. No país como um todo, esse verão foi considerado o mais seco dos últimos 50 anos. O governo argentino está estudando pacotes de alívio para os agricultores.

Secas mais fracas que esta costumam acompanhar o efeito La Niña. Mas a seca deste ano foi muito mais forte que o normal. Segundo Carlos Di Bella, diretor do Instituto de Clima y Agua (INTA), a região sofrerá tanto com falta, quanto com excesso de chuvas, de forma mais frequente e mais intensa, por causa do aquecimento global e as mudanças nos padrões climáticos globais: “alguns ciclos se aceleram e isso impacta bastante na variabilidade das chuvas”.

http://g1.globo.com/economia/videos/t/agronegocio/v/argentina-enfrenta-uma-de-suas-piores-secas-da-historia/6627004/

https://www.wunderground.com/cat6/most-expensive-weather-disater-2018-39-billion-drought-argentina-and-uruguay

https://www.elobservador.com.uy/falta-lluvias-restara-unos-us-600-millones-zafra-soja-respecto-2017-n1195678

https://www.infobae.com/campo/2018/03/05/la-sequia-avanza-y-ya-afecta-al-80-de-la-region-nucleo/

 

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