ClimaInfo, 10 de abril 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

RECURSOS DO FUNDO AMAZÔNIA DESTINADOS AO IBAMA REDUZEM A TAXA DE DESMATAMENTO

O Ibama vem recebendo parcelas de um total de R$ 140 milhões do Fundo Amazônia para bancar suas operações de fiscalização no bioma. Mais de R$ 120 milhões são dedicados ao apoio logístico de veículos e aeronaves. Isso ajudou a recompor o orçamento do órgão, um tanto minguado pela ação do ministério da fazenda. Antes de deixar o ministério, na semana passada, o agora deputado Sarney Filho disse que o monitoramento do INPE aponta uma queda de 20% na taxa de desmatamento ilegal entre agosto de 2017 e janeiro deste ano. Observe-se que o ex-ministro se referiu ao desmatamento ilegal, embora haja discussões sobre o que isto quer dizer exatamente.

http://www.ibama.gov.br/noticias/436-2018/1407-fundo-amazonia-destina-r-140-milhoes-para-a-fiscalizacao-do-ibama

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-04/em-6-meses-queda-no-desmatamento-atinge-20-diz-ministro-do-meio-ambiente

 

INDÚSTRIA PRESSIONA PELO LICENCIAMENTO FLEX

O pessoal da CNI (Confederação Nacional da Indústria) saiu a campo para pressionar a Câmara a aprovar o substitutivo do projeto de lei que flexibiliza a lei de licenciamento ambiental a ponto de desfigurá-lo totalmente. Até o ano passado, a bandeira era conduzida pela bancada ruralista, cujo foco era retirar da propriedade rural a obrigação de revalidar anualmente as licenças ambientais. E, também, retirar da União muitas das responsabilidades e transferi-las para estados e municípios. Isso enfraqueceria sobremaneira o rigor do licenciamento porque quebraria a uniformidade da regulamentação país afora. E, estranhamente, este é um dos pontos principais defendidos pela indústria. Estranho porque abre uma brecha para inúmeros processos legais, judicializando ainda mais os processos de licenciamento, tudo que o setor privado não deveria querer. Ainda não nos foi possível entender o raciocínio.

Em tempo: o relator do PL, Mauro Pereira, não é mais deputado. Ele era um dos suplentes que substituíam secretários do governo do Rio Grande do Sul que reassumiram suas cadeiras de deputado na 6a feira.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/industria-pressiona-por-regras-mais-brandas-para-licenca-ambiental.shtml

 

A NORSK VOLTA A NEGAR VAZAMENTO DE REJEITOS EM BARCARENA

A Norsk Hydro voltou atrás na admissão de culpa pela contaminação de rios e igarapés em Barcarena e passou ao ataque. Contratou uma auditoria para checar se houve vazamento de resíduos que, num relatório ainda preliminar, disse não ter encontrado nada. Mesmo sendo preliminar, foi o suficiente para a direção da empresa voltar a afirmar que não houve vazamento e dizer que vai processar o Instituto Evandro Chagas e o Ministério Público. E exige que seja liberado o pleno funcionamento da planta. Logo depois do vazamento, a planta só pode voltar a operar a 50% de sua capacidade. A troca de acusações continua.

Curiosamente o site da consultoria SGW, aparentemente uma empresa nacional, não apresenta seus executivos, nem seu time. Também não apresenta qualquer certificação que lhes confira reconhecimento internacional.

http://www.valor.com.br/empresas/5438953/norsk-hydro-auditoria-contratada-diz-que-nao-houve-vazamento-no-pa#

http://www.valor.com.br/empresas/5439335/norsk-hydro-processara-mpf-e-quer-revisao-de-laudo-do-evandro-chagas

 

AGRICULTORES QUEREM AUMENTO DE SUBSÍDIOS

Os Planos Safra sempre ofereceram empréstimos a juros subsidiados. Durante um bom tempo, a referência foi a dupla Selic/TJLP do BNDES. Como esta última foi extinta, e a Selic segue caindo, os juros do Plano Safra, neste momento, estão um ponto acima da Selic. Incomodado, o ministro Blairo Maggi já conversa com o ocupante do ministério da fazenda, buscando baixar os juros do crédito agrícola. Interessante notar que os produtores agrícolas nunca pagaram juros tão baixos quanto agora. Juros que, segundo analistas, continuarão baixos por um bom tempo. Conclui-se que o vício do subsídio deve ser muito difícil de abandonar.

http://www.valor.com.br/agro/5403913/comeca-o-cabo-de-guerra-em-torno-do-plano-safra-201819#

 

RAINHA ELIZABETH DIZ A SIR DAVID ATTENBOROUGH QUE PLANTARÁ ÁRVORES PARA COMBATER A MUDANÇA DO CLIMA

Os dois nonagenários tomaram um chá no jardim do Palácio de Buckingham, para uma série que Attenborough está gravando para a BBC sobre a mudança do clima. Ele quer deixar uma mensagem sobre a gravidade destas mudanças e não está usando o tom fofinho com o qual contou as histórias dos lêmures de Madagascar. Durante o chá, a rainha falou de um projeto que está conduzindo que pretende plantar muitas árvores por todo os países da Comunidade Britânica, projeto que ela batizou de Dossel Real da Comunidade. O programa “O planeta da rainha verde” será transmitido por lá no dia 16/4.

Por falar no Reino Unido, na Escócia as turbinas eólicas viram sua participação na geração de eletricidade aumentar em 44% no primeiro trimestre deste ano, quando comparada com igual período do ano passado. Em 2017, as renováveis supriram mais de 60% da eletricidade consumida pelos escoceses.

http://www.dailymail.co.uk/news/article-5591359/Queen-plans-plant-forests-Commonwealth-countries.html

http://www.heraldscotland.com/news/homenews/16145665.Scotland_continues_at_forefront_of_eco_friendly_energy_use/

 

O MUNDO FINANCEIRO E A MUDANÇA DO CLIMA

O presidente do Banco Central da França, François Villeroy de Galhau, defendeu a imposição de um “fator de penalização marrom” sobre projetos de carvão, petróleo e gás destinado a aumentar o custo de seus financiamentos. A proposta foi apresentada na primeira Conferência Internacional sobre Riscos Climáticos para Supervisores Financeiros, que reuniu representantes de mais de 30 países e de mais de 50 organizações para discutir como os riscos relacionados ao clima e ao meio ambiente podem afetar as instituições financeiras e, portanto, o mandato dos supervisores financeiros.

A conferência mostrou que o risco climático é agora visto como um fator determinante para a estabilidade financeira dos bancos centrais e reguladores em todo o mundo. Em seu discurso, o presidente do Banco Central Francês também defendeu que os testes de estresse relativos ao carbono voltados para o futuro, tanto para as companhias de seguro quanto para os bancos, contemplem um horizonte de tempo mais longo que o usual.

Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, o banco central inglês, destacou o que chamou de “transição de pensamento” que ocorre entre as instituições financeiras em relação ao risco climático, observando que um número significativo de instituições financeiras, que gerenciam US$ 80 trilhões em ativos, estão apoiando publicamente a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD). Entre estas se incluem 20 bancos globais, 8 dos 10 principais gestores globais de ativos, os maiores fundos de pensão e seguradoras do mundo, o maior fundo soberano e as duas empresas que dominam os serviços de consultoria a acionistas. Carney também afirmou que o Banco da Inglaterra publicará os resultados completos de uma pesquisa sobre os riscos financeiros enfrentados pelo sistema bancário do Reino Unido colocados pela mudança climática “nos próximos meses”.

O encontro aconteceu na mesma semana na qual um estudo da ONG Oil Change International alertou sobre os riscos da “bolha de carbono”, que pode estar sendo amplificada pelo fato de que a Agência Internacional de Energia (AIE) não estar conseguindo prever com precisão a rápida expansão do setor de renováveis. “Qualquer governo ou instituição financeira que use esses cenários como base para investimentos em petróleo e gás está trabalhando com informações ruins”, alerta Greg Muttitt, diretor de pesquisas da Oil Change International.

https://www.banque-france.fr/sites/default/files/media/2018/04/06/06.04.2018_discours_fvg_international_climate_risk_conference_for_supervisors.pdf

https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/speech/2018/a-transition-in-thinking-and-action-speech-by-mark-carney.pdf

https://www.dnb.nl/en/news/news-and-archive/Nieuws2018/dnb374348.jsp

https://uk.reuters.com/article/us-britain-boe-carney/bank-of-englands-carney-sees-progress-in-push-for-low-carbon-economy-idUKKCN1HD23W

https://www.theguardian.com/business/2018/apr/06/mark-carney-warns-climate-change-threat-financial-system

 

CHINA E AUSTRÁLIA EXPORTAM EMISSÕES DO CARVÃO

A China divulga com vigor os investimentos maciços que faz em fontes renováveis de energia e a luta que trava para desligar termelétricas a carvão na busca da redução da poluição nas suas grandes cidades. Mas, ao lado disto, o país está exportando a indústria carvoeira – engenharia, equipamentos, mão de obra e até mesmo o próprio carvão – para vários países. O movimento é parte importante do programa Belt and Road e serve para transferir a capacidade carvoeira que vai sendo desligada na China para países africanos e da Ásia Central. A China financia, instala, opera, enfim, cobra o tiro de meta, corre para marcar o gol e para o abraço da galera. Entre 2013 e 2016, instituições financeiras chinesas despejaram US$ 15 bilhões em projetos carvoeiros. Para não dizerem que pegam no pé só da China, uma pesquisa do Greenpeace revelou que bancos japoneses também investiram algo próximo de US$ 10 bilhões em geração fóssil longe das suas ilhas.

Empresas australianas, como a Adani, também não saem das manchetes por conta de seus mega projetos polêmicos. Um dos maiores, envolvia uma rota de transporte de carvão que passaria por cima da Grande Barreira de Corais australiana. A Adani, agora, está tentando implantar uma termelétrica a carvão nos Sundarbans, os mangues do sul de Bangladesh, uma das mais biodiversos do mundo e, também, um dos mais vulneráveis. A mudança do clima já está afetando a região e tudo que ela não precisa é de uma mega usina de carvão por perto.

https://www.cnbc.com/2018/04/06/china-is-massively-betting-on-coal-outside-its-shores–even-as-investment-falls-globally.html

http://ieefa.org/ieefa-report-proposed-godda-power-project-just-another-financially-unviable-prop-for-adani/

 

A IMPORTÂNCIA DA ÍNDIA PARA AS METAS DE PARIS

Nos últimos meses, a Índia foi colocada em (mais) evidência como um dos países chave para o sucesso do Acordo de Paris. A relevância começa pelo tamanho da sua população e de seu território. E passa pela sua matriz energética, fortemente dependente do carvão. Na inevitável comparação com a vizinha China, sobressaem duas diferenças importantes: não há um governo central tão forte, e a desigualdade social é maior, mais complexa e enraizada. Isto tudo limita, de certa maneira, a implantação de políticas que poderiam acelerar o fim da era carvão, sempre chamado à frente na hora de implantar programas dedicados a ligar mais gente às redes elétricas. E a economia liberal indiana pode trazer problemas, mesmo para os poderosos. Estima-se que os bancos tenham feito empréstimos para o setor carvoeiro cuja inadimplência anda na casa dos US$ 40 bilhões, cerca de 20% do que foi emprestado. Um belo rombo, causado, dentre outras, pelo fato do país ter que importar quase 20% de carvão que queima para gerar eletricidade.

Não é fácil para a Índia suprir com renováveis, na velocidade e capacidade suficientes para a substituição do carvão num prazo curto, ao mesmo tempo em que luta para reduzir sua desigualdade social.

https://capx.co/countries-cannot-power-their-way-to-prosperity-on-renewables-alone/

https://www.carbonbrief.org/guest-post-why-indias-co2-emissions-grew-strongly-in-2017

https://energy.economictimes.indiatimes.com/news/power/banks-stare-at-38-billion-new-dud-loans-from-power-sector-report/63615069

 

A MUDANÇA DO CLIMA E A DESIGUALDADE DE GÊNERO

Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção Clima da ONU, escreveu por esses dias que “a mudança do clima continua sendo um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento sustentável e seus efeitos frequentemente recaem com mais força sobre as mulheres. Mais mulheres que homens morrem em desastres naturais, e mulheres e crianças frequentemente são as últimas a receberem assistência humanitária quando de choques climáticos. A busca diária por água, combustível e lenha – frequentemente responsabilidade das mulheres – é uma luta ainda maior, tanto durante eventos extremos, como pelo aumento incremental da mudança do clima”. Figueres termina dizendo a todas as mulheres que usem “a hashtag #MeToo para reconhecer a dor das injustiçadas e das vítimas, mas também para declarar nossa determinação coletiva para um futuro melhor”.

A Science também publicou um artigo sobre a mudança do clima e a desigualdade de gênero em países em desenvolvimento. O trabalho chama a atenção para:

– o aumento da desigualdade entre gêneros aumentado pela mudança do clima;

– este aumento ser impulsionado pela vulnerabilidade à mudança do clima;

– este impacto ser influenciado pela riqueza e pelas políticas de Estado, assim como pela dependência em relação à agricultura; e

– que as políticas de mitigação e adaptação devem incluir as questões de gênero.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0305750X18300664

https://www.iied.org/harnessing-metoo-momentum-drive-climate-action

 

AS MILHARES DE MORTES CAUSADAS POR FOGÕES PRIMITIVOS EM AMBIENTES FECHADOS

Durante milhares de anos, cozinhou-se sobre fogueiras acesas em ambientes fechados. A queima incompleta na fogueira libera partículas de fuligem que enchem os pulmões dos moradores, principalmente de mulheres e crianças, abreviando suas vidas. Nos últimos quinze anos, várias campanhas vêm distribuindo ou ensinando a construir fogões fechados equipados com chaminés que levam a fumaça para fora dos ambientes. Fogões mais eficientes precisam de menos lenha ou estrume e permitem aumentar a frequência de uma atividade básica: ferver água. Os efeitos destas campanhas são quase imediatas: redução na incidência de doenças entéricas e respiratórias. Só que, segundo um artigo publicado na Economist desta semana, o esforço é claramente insuficiente. O artigo declara já na chamada que estas campanhas globais falharam, e coloca números para demonstrar essa insuficiência e alertar que, mesmo onde as campanhas instalaram fogões mais eficientes, depois de alguns anos, os moradores tinham voltado aos métodos antigos.

Várias destas campanhas chegaram a ser financiadas por créditos de carbono, obtidos pelo desmatamento evitado pela redução da demanda por lenha.

https://www.economist.com/news/international/21739952-global-campaigns-have-failed-change-how-poor-people-heat-their-food-household-smoke-may

 

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