ClimaInfo, 24 de abril de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

PROPOSTA DE EMENDA À MP DE CAUSAS HUMANITÁRIAS VIOLA DIREITOS INDÍGENAS EM RORAIMA

A situação dos refugiados venezuelanos que chegam a Roraima está servindo de pretexto para o desrespeito à terras indígenas.

Boa Vista é a única capital brasileira não conectada ao Sistema Integrado Nacional e o projeto de uma linha de transmissão que ligaria Boa Vista a Manaus tem enfrentado sérias dificuldades, já que atravessaria a terra indígena Waimiri Atroari, onde vivem 1,6 mil indígenas em 31 aldeias. Os projetos elétricos dos brancos trazem péssimas lembranças aos Waimiri Atroari. Durante a ditadura militar, a construção da hidrelétrica de Balbina literalmente massacrou milhares de índios que estariam “atrapalhando o progresso”. Daí que eles não querem nem ouvir falar de eletricidade, e de brancos em suas terras.

Entretanto, a situação dos venezuelanos em Roraima motivou a edição de uma medida provisória emergencial para ajudar o governo do estado a lidar com a crise. Aproveitando-se da situação, dois deputados, os senhores Jhonatan de Jesus (PRB/RR) e César Halum (PRB/TO), estão tentando plantar uma emenda que pode afetar seriamente os Waimiri Atroari. O jaboti autoriza “as obras de infraestrutura de energia elétrica de cunho estratégico a serem instaladas na faixa de domínio de rodovias ou ferrovias” a serem feitas “independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai”. A emenda vai em sentido contrário a um pedido do Ministério Público acatado pela justiça em fevereiro. Segundo a determinação da justiça, os “empreendimentos de grande impacto não podem ser realizados na Terra Indígena Waimiri Atroari sem o consentimento prévio da comunidade”.

Alguém precisa dizer aos senhores Jesus e Halum que é muito baixo usar a crise provocada pela imigração venezuelana como pretexto para o desrespeito aos indígenas.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mp-da-crise-humanitaria-tem-jabuti-para-liberar-linha-de-transmissao-em-roraima,70002275752

http://radioagencianacional.ebc.com.br/direitos-humanos/audio/2018-02/justica-federal-determina-que-obras-na-terra-indigena-waimiri-atroari

 

OS MUITOS OBSTÁCULOS À PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS

O desejo do governo de vender a Eletrobras para fazer caixa – e assim cobrir parte de seu déficit – está sofrendo decepção atrás de decepção. O governo diz que os consumidores receberiam um serviço melhor se a empresa fosse desmembrada e vendida às grandes da energia, e acusa o pessoal do contra de jogar na defesa de feudos que congressistas costumam garantir para “correligionários” e familiares. Enquanto isso, o pessoal do contra desencava contas e passivos financeiros ocultos da Eletrobras e suas subsidiárias que assustam qualquer interessado em comprar pedaços da estatal. Além disso, os congressistas do contra conseguiram enfiar na medida provisória que autoriza a venda da estatal uma ressalva que joga sua aprovação para depois das eleições.

Até a Fiesp entrou na briga porque o preço do gás que a Petrobras vende para muitas térmicas teria que ser reajustado, elevando em algumas vezes o custo de geração e, portanto, as tarifas elétricas. Esse pessoal adora um mercado livre, transparente e sem a intervenção do estado, desde que não tenha que pagar nada por isto.

http://www.valor.com.br/brasil/5473321/ressarcimento-distribuidoras-pode-inviabilizar-privatizacao

http://www.valor.com.br/empresas/5470319/aleluia-sobre-ons-quem-esta-insatisfeito-e-porque-nao-foi-indicado

http://www.valor.com.br/empresas/5470471/fiesp-fara-%3Fo-possivel%3F-para-venda-da-eletrobras-nao-passar-como-esta#

http://www.valor.com.br/brasil/5468727/ressalva-em-decreto-poe-em-risco-privatizacao-rapida-da-eletrobras

 

A PETROBRAS QUER VENDER PARTE DE SUAS REFINARIAS

A Petrobras anunciou que venderá quatro de suas refinarias para a iniciativa privada como parte do programa de recapitalização da empresa por meio da venda de ativos. No pacote, as refinarias do Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco, que respondem por 28% da capacidade de refino e, basicamente, por toda esta capacidade no Nordeste e no Sul. Entre as elencadas está a Refinaria Abreu e Lima, Pernambuco, objeto da Operação Lava Jato. Apesar do anúncio, o governo e a Petrobras sabem que o processo durará para além das eleições e que este pode ser interrompido pelo próximo presidente. Se concluir a venda, a Petrobras manterá as grandes refinarias de São Paulo, Minas e Rio.

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,privatizacao-de-refinarias,70002279728

http://www.valor.com.br/empresas/5468629/petrobras-vendera-quatro-refinarias#

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,deficit-no-refino-de-combustivel-deve-crescer-com-retomada-da-economia,70002276101

http://epbr.com.br/venda-de-refinarias-e-eleicoes-para-presidente-estao-ligadas

 

OS PROBLEMAS DO DUTO DE MINÉRIOS DA ANGLO AMERICAN

A Anglo American teve que interromper as operações de seu “escorregador” de minério, o mineroduto Minas-Rio, por causa dos repetidos vazamentos que contaminaram solos e corpos d’água. O mineroduto de 525 km liga suas operações em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas até o Porto do Açu, no norte do estado do Rio. Além da perda de 1.000 toneladas de minério, a Anglo terá que pagar uma multa de R$ 200 milhões pelos danos ambientais. Com a paralisação do duto, a empresa pode ter que deixar de produzir 10 milhões de toneladas de minério, mais da metade do que vendeu em 2017.

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-mineroduto-de-problemas-da-anglo,70002278268

 

EMPRESA QUER RETOMAR OBRAS DE SISTEMA DE ALCOOLDUTOS

A construção de um sistema de alcooldutos no Sudeste começou em 2010. Atualmente, o sistema liga Uberaba, no triângulo mineiro, a Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, passando por Ribeirão Preto e pela refinaria de Paulínia, ao lado de Campinas. A próxima etapa, que a empresa Logum quer iniciar no ano que vem, levará o duto até as refinarias de Mauá e de São José dos Campos. Na etapa seguinte, o duto descerá a Serra do Mar até Santos, onde o álcool será embarcado para o resto do Brasil, e o estenderá, também, desde São José dos Campos até a refinaria Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O projeto atrasou porque seus principais sócios eram as grandes empreiteiras envolvidas na Lava Jato.

http://www.valor.com.br/agro/5473185/logum-quer-retomar-expansao-em-2019

 

É POSSÍVEL DESENVOLVIMENTO SEM IMPACTO NO CLIMA?

Dois artigos, um na Economist e outro no Financial Times, se fazem, basicamente, a mesma pergunta. Como as limitações de emissões impostas pelo Acordo de Paris impactam as perspectivas de desenvolvimento dos países pobres? Os dois artigos dão mais atenção à África e ao Sudeste Asiático, e analisam a chamada “convergência econômica”, a ideia de que, eventualmente, o mundo todo chegue a ser desenvolvido. Para a Economist, quando se fala de mudança do clima na África, normalmente pensamos o continente como vítima de impactos como secas, fome, inundações e epidemias. Mas a revista mostra que continuam pipocando térmicas a carvão em todo o continente. E que em países como a Zâmbia o desmatamento está superando o do Brasil. Numa reunião recente da cúpula africana do clima, os países reconheceram o dilema: respeitar o Acordo de Paris retardará o desenvolvimento? A saída para a África, do ponto de vista da Economist, será aproveitar mais do sol e do vento e, para isso, o dinheiro dos países ricos precisa parar de correr atrás de megaprojetos, em geral fósseis.

Já o Financial Times toma outro caminho. Diz que, ao contrário do sucesso de emergentes como a Coreia de 40 anos atrás, os países mais pobres, hoje, enfrentam três novos desafios: o repúdio à ideia da globalização, a mudança do clima e a automação.

Sobre a globalização, o FT diz que um país como a Índia, por exemplo, não pode mais contar com mercados globais abertos às suas exportações. Uma tentativa de forte expansão das exportações por parte da Índia certamente enfrentaria múltiplos obstáculos protecionistas.

Quanto às mudanças climáticas, o FT lembra que a história do desenvolvimento registrou a transferência de grandes contingentes de trabalhadores do campo para a cidade, o que só foi possível por conta dos aumentos de produtividade das lavouras gerados pela aplicação da tecnologia. Mas agora, a mudança do clima ameaça desfazer muitos destes ganhos de produtividade e, também, reduzir a área agricultável, de modo que sustentar a população urbana passará a ser um desafio novo para o mundo. Quanto à automação, dentre as grandes mudanças correntes, está aumentando o fosso entre os que têm base educacional para pegar a onda e a imensa maioria que parece estar condenada a suprir serviços cada vez menos produtivos e rentáveis. Os olhares das duas publicações, no fundo, compartilham um certo pessimismo.

https://www.economist.com/news/middle-east-and-africa/21740796-can-they-continue-developing-and-still-uphold-paris-climate-agreement-africas

https://www.ft.com/content/14cd59d0-43a8-11e8-97ce-ea0c2bf34a0b

 

ALEMANHA ESTUDA PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEIS SINTÉTICOS A PARTIR DE ELETRICIDADE RENOVÁVEL

A Alemanha está levando muito a sério a produção de combustíveis sintéticos a partir de sobras de eletricidade geradas pelo seu parque renovável. A receita sempre começa com o uso da eletricidade para separar o hidrogênio do oxigênio que compõem a água. Em seguida, o hidrogênio é combinado com o CO2 para a produção de metano, o qual recombinado, pode formar hidrocarbonetos maiores. Os benefícios são múltiplos. De cara, se evita que o CO2, por exemplo da chaminé de uma caldeira ou forno, vá para a atmosfera. Além disso, o estoque de combustíveis sintéticos produzido pode ser empregado tanto para tocar veículos, substituindo diesel e gasolina, como, quando houver pouco vento e pouco sol, ser queimado para gerar eletricidade novamente. Por hora, uma planta de combustíveis sintéticos é cara o suficiente para que estes não concorram com os fósseis. Mas os alemães crêem que a escala resolverá este obstáculo. Ainda mais se puderem usar energia das usinas fotovoltaicas que estão sendo projetadas para os países árabes e do norte da África. Se e quando a tecnologia funcionar por lá, os combustíveis sintéticos serão mais uma peça a ajudar a reduzir as emissões do setor de transportes.

https://www.agora-energiewende.de/en/press/agoranews/news-detail/news/electricity-based-fuels-as-much-as-needed-for-the-sake-of-the-climate-as-little-as-possible-for-the-sake-of-efficiency-1/News/detai/

 

ESTOCANDO ENERGIA POR MEIO DA GRAVIDADE

Muitos devem se lembrar das aulas de física sobre energia potencial e cinética. A Gravitricity está desenvolvendo um sistema de armazenamento de energia elétrica que, segundo ela, é mais eficiente do que as baterias de lítio-íon. Para começar, é preciso achar um poço muito profundo (a empresa está construindo seu piloto no poço do elevador de uma velha mina de carvão); no poço, instale um peso de, por exemplo, 3.000 toneladas. Quando você solta o peso, sua queda fará girar o eixo de um gerador, produzindo eletricidade. Para levantar o peso, a ideia da Gravicity é usar a eletricidade que sobra, por exemplo, quando está ventando à noite e a demanda está baixa. As especificações da Gravitricity dizem que a empresa pode instalar o sistema em poços de 150 a 1.500 metros de profundidade e fornecer uma capacidade de 1 MW a 20 MW. Newton e sua maçã ficariam orgulhosos.

https://www.gravitricity.com/

 

O PRIMEIRO CAMINHÃO ELÉTRICO DA VOLVO

A Volvo anunciou seu primeiro caminhão 100% elétrico para operações logísticas em áreas urbanas ou para usos especiais como o da coleta de lixo. Os elétricos são ideais para operação urbanas, nas quais as distâncias percorridas são menores e, portanto, requerem baterias com autonomia menor e que podem ser recarregadas com mais frequência. E também porque aproveitam as frenagens para converter energia mecânica em carga de bateria. A Volvo está aproveitando a grande experiência que tem com ônibus elétricos que vêm rodando há quase 10 anos. A versão inicial terá capacidade de carga de 16 toneladas e um tempo de recarga completa de 10 horas. Em pontos de carga rápida, esse tempo cai para 2 horas.

http://www.volvogroup.com/en-en/news/2018/apr/news-2879838.html

 

TRANSFORMANDO DESEMPREGO FÓSSIL EM EMPREGO RENOVÁVEL NO CANADÁ

Um artigo simpático do jornal canadense Globe and Mail fala de ex-empregados da indústria fóssil que estão sendo treinados para trabalhar com painéis fotovoltaicos e geradores eólicos, e do sucesso que estão tendo na nova atividade. A província de Alberta é sede de uma grande exploração de gás e óleo betuminosos. As pressões ambientais e o Acordo de Paris estão, aos poucos, inviabilizando certas áreas e desempregando muita gente. Gente que, por esta razão, não simpatiza muito com as fontes limpas. Várias escolas começaram a oferecer cursos para este pessoal que tem grande experiência de campo e conhecimento de equipamentos sofisticados, e o resultado tem sido o aparecimento de empresas de instalação e manutenção de sistemas que vão desde simples painéis fotovoltaicos residenciais até de plantas eólicas de porte. O artigo estima que, como ainda tem muito sol e vento a serem aproveitados, a quantidade de empregos na área só tende a crescer.

https://www.theglobeandmail.com/opinion/article-to-the-oil-workers-of-alberta-we-care-about-you/

 

GENERAL DOS EUA DIZ QUE “É ESTÚPIDO” IGNORAR AS AMEAÇAS CLIMÁTICAS

O general da reserva John G. Castellaw disse com todas as letras que qualquer um que não leve a sério a ameaça das mudanças climáticas “é estúpido”. Ele faz parte daquela minoria de conservadores norte-americanos que entende a ciência do clima, ainda que ache que o mercado daria conta do recado sozinho. Em uma entrevista para o The Revelator, Castellaw lembra que todo comandante militar tem que conhecer o terreno e o ambiente onde opera. Se esse ambiente e suas condições estão sendo modificados pelo aquecimento global, o comandante tem que entender as dinâmicas e estar preparado para as mudanças que virão. No final da entrevista, perguntado sobre como encara a batalha morro acima que é a luta contra a mudança do clima, Castellaw respondeu bem simplesmente que “no exército, sempre tivemos que lutar morro acima, faz parte dos desafios da vida. Quando se olha para um problema como a mudança do clima, o melhor a fazer é batalhar para subir o morro. Porque é a coisa certa a se fazer.”

http://therevelator.org/climate-change-national-security/

 

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