PRECISAMOS DISCUTIR O PAPEL DA ELETRICIDADE E DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO FUTURO DO TRANSPORTE DE CARGA
Em entrevista motivada pela greve dos caminhoneiros, André Ferreira, diretor do Instituto de Energia e Meio Ambiente, falou à rádio CBN no sábado sobre a poluição do ar provocada pela queima de combustíveis nos veículos de transporte. No que toca ao transporte urbano, Ferreira vislumbra um futuro movido a eletricidade e biocombustíveis. As tecnologias existem e os custos são já bem razoáveis e seriam decrescentes com a ampliação da escala de uso. Com a eletrificação e os biocombustíveis se reduziria em muito o impacto à saúde gerado por poluentes de efeito local, como o material particulado, o ozônio e seus precursores. Ferreira vislumbra mais problemas para a despoluição do transporte de cargas interurbanos e interestaduais. Isto porque os trens, que seriam mais facilmente eletrificáveis, podem não ter papel significativo no transporte em distâncias relativamente curtas, por volta de algumas centenas de quilômetros. Esta é a ordem de grandeza das distâncias entre as principais origens e destinos do transporte geral de cargas no Brasil, que acontece em mais de 70% no eixo São Paulo-Rio-Belo Horizonte. Sem trens dedicados a esta importante parcela do transporte da carga, seguiremos em grande parte dependentes dos caminhões. E é aí que a porca torce o rabo. Segundo Ferreira, a greve dos caminhoneiros mostrou que será difícil abandonar o diesel fóssil com instrumentos econômicos como um preço para o carbono, o qual, em tese, desincentivaria o uso do diesel e favoreceria alternativas como o biodiesel ou os caminhões elétricos que começam a despontar no mercado internacional. Isto porque o aumento do custo do diesel criaria conflitos distributivos enormes, como o que estourou nas duas últimas semanas. Para Ferreira, a solução passa pela desoneração dos combustíveis mais limpos e da eletrificação do transporte rodoviário de carga.
E SE FOSSE ELÉTRICO?
Durante a greve dos caminhoneiros, as frotas de ônibus tiveram que reduzir o número de viagens por falta de diesel. Muita gente se perguntou por que não se usa mais e mais ônibus elétricos ou outros meios de transporte coletivos elétricos. A diretora da Eletra, uma fabricante brasileira de ônibus elétricos, disse que, hoje, as baterias garantem uma autonomia de 20 km, o suficiente para muitas das viagens em cidades. A recarga poderia ser feita em equipamentos instalados nos pontos finais, como os existentes para carros elétricos. Também podem ser instalados cabos aéreos em trechos da rota com os quais os veículos se conectam e são carregados. Ou, como o sistema em testes na Suécia, por cabos enterrados que induzem a carga nas baterias enquanto o veículo está em movimento.
O engenheiro Tasso Azevedo escreveu n’O Globo contando, com bom humor, o quão surreal é um sistema de transporte baseado na queima de um líquido geológico que polui e aquece o planeta. Sistema que, ainda por cima, está por trás do caos vivido durante a greve dos caminhoneiros. A isto, Azevedo contrapõe o veículo elétrico, cuja energia pode, em muitos lugares, ser gerada localmente por meio de painéis solares. Azevedo termina lançando críticas a ações governamentais como o programa Rota 2030, que dá incentivos fiscais à fabricação de carros movidos a gasolina e a revogação, em São Paulo, da lei que determinava que, em 2018, 100% da frota de ônibus municipais seria movido a fontes renováveis.
https://oglobo.globo.com/opiniao/e-se-fosse-eletrico-22729711
“O CARRO É O NOVO CIGARRO” (JAIME LERNER)
Na semana passada, várias das nossas cidades experimentaram a vida com menos carros na rua por conta do desabastecimento de combustíveis durante a greve dos caminhoneiros. N’O Globo, urbanistas de vários matizes, inclusive o autor da frase título desta nota, falam sobre um futuro próximo no qual automóveis devem vir a ser raridade nas áreas urbanas. Se depender de cidades de países desenvolvidos, este futuro deve chegar em breve. Alguns países da Europa já proibiram a venda de carros à diesel em prazos que vão de 7 a 12 anos. Outros, pensam em proibir a venda de todos os carros movidos a combustíveis fósseis a partir de 2030. As proibições buscam reduzir a poluição urbana e abrir espaços para pedestres, ciclistas e para o transporte urbano. Além do transporte ativo, a população seria servida pelo transporte compartilhado de veículos elétricos autônomos e pela completa eletrificação do transporte público.
Enquanto isto, a China continua preocupada com a poluição do diesel. O governo anunciou medidas para favorecer o trem no lugar do caminhão. Pelo menos do ponto de vista da poluição, um trem carregado emite muito menos por tonelada transportada e por quilômetro do que o mais eficiente dos caminhões. Os caminhões chineses representam menos de 6% da frota do país, mas respondem por mais da metade da poluição atmosférica.
E em Hamburgo, Alemanha, a prefeitura proibiu a circulação de caminhões que não atendam o padrão Euro-6 em duas das vias, onde a poluição é mais concentrada. A partir desta experiência, a intenção é estender a proibição a cada vez mais vias.
https://oglobo.globo.com/cultura/como-serao-as-cidades-do-futuro-sem-carros-22739590
https://www.nytimes.com/2018/05/30/business/energy-environment/hamburg-germany-diesel.html
Se a moda pega
PROTESTO CONTRA PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS PARA TRÂNSITO NA ÍNDIA
Importantes vias das cidades gêmeas de Bhubaneswar e Cuttac, no estado de Odisha, Índia, foram bloqueadas ontem por 6 horas em protesto contra os altos preços do petróleo. O protesto demandou do governo central a redução do imposto sobre o consumo de combustível, e, do governo do estado, o corte do imposto sobre o valor agregado (IVA) que incide sobre os combustíveis fósseis. O “Chakka Jam” convocado por parlamentares do Congresso de Odisha impediu o tráfego entre as 6h e as 12h. Ativistas do Congresso fizeram piquetes com cartazes e bandeiras, queimando pneus e exortando as pessoas a não usarem seus veículos em sinal de protesto. Vários manifestantes foram detidos pela polícia.
UMA CRÍTICA FEROZ À MEGALOMANIA DA PETROBRAS
Rodrigo Zaidan, professor da Fundação Dom Cabral, fez uma crítica ácida à Petrobras e à megalomania alavancada pelas descobertas do pré-sal em artigo escrito para a Folha de S. Paulo. Segundo ele, os pecados podem ser agrupados em três categorias: ética, ecológica e de eficiência. Zaidan levanta histórias e números para mostrar como a Petrobras deixou a desejar nas três categorias. Quase no final do artigo, Zaidan parece condenar o país ao último piso do inferno de Dante: “Os investimentos no pré-sal e o novo-desenvolvimentismo resultaram num retrocesso institucional. Simplesmente não temos maturidade para desenhar políticas industriais decentes. O ideal seria a empresa fazer somente os investimentos básicos para explorar os poços muito viáveis e se planejar para, em 30 a 40 anos, não mais existir… Pelo visto, nossa incapacidade de aprender com erros passados continua intacta.”
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rodrigo-zeidan/2018/06/a-maldicao-do-pre-sal.shtml
IBAMA FAZ NO INTERIOR DE SÃO PAULO A MAIOR APREENSÃO DE MADEIRA DO AMAZONAS
O Ibama apreendeu mais de 1.800 mil metros cúbicos de madeira serrada sem documentação em Tietê, no interior de São Paulo, em uma empresa que se declara a “líder mundial em pisos maciços de madeira tropical”. A empresa negou qualquer irregularidade. A madeira apreendida encheria 72 carretas das grandes.
GOVERNO PRORROGA MAIS UMA VEZ O PRAZO FINAL DO CAR
Pela quarta vez, os ruralistas conseguiram prorrogar o prazo para que os proprietários rurais façam o Cadastro Ambiental Rural (CAR) de suas propriedades. O Cadastro faz parte do Código Florestal, que os próprios ruralistas criaram, forçaram a aprovação e comemoraram efusivamente. Só que não querem cumprir. O Código prevê que o acesso a financiamento dos bancos públicos será negado a quem não fizer o CAR. O responsável pela consolidação das informações, o Serviço Florestal Brasileiro, diz que falta cadastrar um número pequeno de propriedades. Pelo jeito, o número pode ser pequeno, mas seu poder certamente não é. O prazo agora é 31 de dezembro, o último dia de Temer na presidência.
PAPA FRANCISCO ENCONTRARÁ CEOs DAS MAIORES PETROLEIRAS PARA FALAR DO CLIMA
O Papa Francisco convidou os CEOs das maiores petroleiras do mundo para uma conferência nesta semana, na qual o clima será o principal assunto. O dilema, segundo um dos executivos, é a crescente demanda por energia necessária para combater a pobreza, de um lado, e os impactos do aquecimento global, de outro. A conferência leva o título de “Transição energética e a nossa casa comum”. Exxon, BP, a italiana ENI, a mexicana Pemex e a norueguesa Equinor (antiga Statoil) confirmaram presença. A Shell ainda não respondeu. Não descobrimos se a Petrobras foi convidada.
O ESTADO GLOBAL DAS FONTES RENOVÁVEIS
A REN21 (Rede de Políticas de Energia Renovável para o século 21) é uma associação ligada à ONU Meio Ambiente que reúne governos, empresas, ONGs e a academia para o desenvolvimento de políticas e implantação de ações conjuntas em torno da transição global para as fontes renováveis de energia. A Rede lançou ontem seu relatório anual sobre o estado das renováveis no mundo. As principais conclusões foram:
– Em 2017, o crescimento das renováveis bateu o recorde anterior, embora sua penetração continue a se dar de forma desigual no mundo. Estas fontes estão próximas de representar 20% de toda a energia consumida no mundo.
– O relatório levanta a preocupação com o crescente uso de energia para climatizar ambientes, principalmente para resfriá-los. Temperaturas mais altas e classes médias crescendo, sobretudo na China e na Índia, exigirão cada vez mais energia.
– A eletrificação do transporte está aumentando, mas ainda lentamente, e a inserção dos biocombustíveis tem se deparado com a preocupação com seus impactos sobre o meio ambiente e sobre a segurança alimentar.
– O foco das políticas energéticas continua a ser a geração de eletricidade, mas, mesmo assim, os fósseis continuarão a dominar o cenário por um bom tempo. China e Índia continuam a depender fortemente do carvão.
O relatório de mais de 300 páginas apresenta em detalhe o status das renováveis no mundo todo.
http://www.ren21.net/gsr-2018/
REUNIÃO DO G7 COMEÇA NA 6ª, MAS PRESSÕES DE INVESTIDORES E DENÚNCIAS DE SUBSÍDIOS AOS FÓSSEIS JÁ COMEÇARAM
Nesta próxima 6ª feira começa a reunião de dois dias do G7, o grupo dos países mais ricos do mundo que inclui EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão e o Canadá, país-sede da reunião. Há mais de dez anos a mudança climática é um dos temas mais importantes e as declarações conjuntas emitidas ao final das reuniões têm repetido compromissos de mitigação do aquecimento global. No ano passado, a reunião terminou com uma declaração final assinada por seis países, sem os EUA. Pouco tempo depois, Trump anunciou que estava retirando os EUA do Acordo de Paris.
Um grupo de grandes investidores institucionais, detentores de ativos que valem mais de US$ 25 trilhões, mandou um documento para os países do G7 dizendo que é preciso aumentar os esforços para conter a elevação da temperatura do planeta. Mas a expectativa é que Trump venha com muita cera no ouvido.
Ontem, o think tank europeu Overseas Development Institute (ODI) publicou a última versão de seu relatório sobre o estado global dos subsídios aos combustíveis fósseis analisando o comportamento de cada um dos 7 países. No total, são mais de US$ 100 bilhões em subsídios anuais ao carvão, ao petróleo e ao gás, o que, no mínimo, dificulta a inserção das fontes renováveis, reduz a velocidade da transição para uma economia de baixa emissão e despeja uma sombra escura nas fotos dos líderes dos países do grupo.
https://www.odi.org/publications/11131-g7-fossil-fuel-subsidy-scorecard
NORUEGA PROÍBE EMISSÕES EM SEUS FIORDES A PARTIR DE 2026
Os fiordes ao longo da costa norueguesa não são famosos por seu ar poluído. Ainda assim, o parlamento aprovou uma resolução para torná-los emissão-zero até 2026. Isso significa que nenhuma embarcação que venha a navegar pelos fiordes poderá queimar combustíveis fósseis. Já existem balsas elétricas para travessias curtas e o desenvolvimento das baterias aumentará esta autonomia. Existem projetos para instalar as boas e velhas velas para o aproveitamento dos fortes ventos da região. Os fiordes recebem centenas de milhares de turistas todos os anos e as embarcações são a principal fonte de emissão por lá.
https://www.inverse.com/article/44507-norway-zero-emission-fjords
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SÃO PAULO NO CLIMA – DIÁLOGO TALANOA
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo inicia nesta 5ª feira o Diálogo Talanoa de cidades e regiões para as questões climáticas no Brasil, a partir da perspectiva do estado. O evento seguirá as três perguntas norteadoras do Diálogo Talanoa proposto pelas Ilhas Fiji (Onde estamos? Onde queremos chegar? Como faremos?) em mesas redondas e rodas de conversa.
7 de junho, das 9h às 17h30, no Auditório Augusto Ruschi, Av. Professor Frederico Hermann Jr., 345 – São Paulo.
Programa e inscrições no link abaixo.
http://www.ambiente.sp.gov.br/evento/sao-paulo-no-clima-dialogo-de-talanoa-area-internacional
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O FUTURO DO USO DA TERRA E AS ELEIÇÕES 2018
A Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura avança em duas frentes: a Visão 2050 discutindo a visão de longo prazo sobre o uso do solo e a Plataforma Eleições 2018 com discussões as propostas que comporão uma carta compromisso que a Coalizão Brasil levará aos principais candidatos às eleições deste ano.
Tuca Arena, Rua Monte Alegre, 1024, São Paulo.
13 de junho, das 13h30 às 18h.
Inscrições: envie e-mail com nome e RG para o e-mail abaixo. [email protected]
ERRATA
Na semana passada cometemos um erro grave quando dissemos que índio não vota. Vota. A Constituição garantiu aos indígenas todos os direitos enquanto cidadãos brasileiros. Pedimos sinceras desculpas.
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