ClimaInfo, 21 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

O DESMATAMENTO NO JAMANXIM VOLTOU A CRESCER

As áreas protegidas do Jamanxim voltaram a ser griladas e desmatadas. Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a região perdeu quase 60 km2 de floresta em abril e maio deste ano. Após a pressão feita no ano passado, acabou prevalecendo a vontade ruralista e uma área respeitável perdeu a proteção legal. O que o Imazon viu agora foi que área protegidas foram invadidas. A assessoria de imprensa do ICMbio declarou que “esse desmatamento está associado ao processo de grilagem de terras dentro da unidade de conservação, movido pela especulação imobiliária e pelo avanço da atividade pecuária que vem acontecendo na Flona”.

Avançar sobre áreas é crime. E o crime está compensando.
O prefeito de Novo Progresso, Ubiraci da Silva, disse para o jornalista Fabiano Maisonnave que “aqui, somos só um corredor. De um lado, é área indígena. O lado que tem a produção é aqui às margens da BR-163, e a Flona fica aqui pertinho. Se o governo não ceder, a nossa cidade vai se acabar, ficará um corredor de caminhão mesmo”.

Parar o desmatamento implica encontrar alternativas reais e dignas para quem, hoje, diz depender do desmatamento para viver.
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/06/alvo-de-controversia-floresta-do-jamanxim-no-para-tem-alta-no-desmate.shtml

 

SENADO AUTORIZA USINAS A VENDER ETANOL DIRETAMENTE AOS POSTOS

Na 3a feira, o senado revogou a proibição da venda direta de etanol pelas usinas aos postos de gasolina. Os defensores da medida dizem que os distribuidores ficam com 10% dos mais de R$ 250 bilhões gerados pelo setor, e que tirá-los do circuito reduziria o preço do álcool na bomba. Boa parte das usinas é contra a venda direta porque esta fragiliza o controle de qualidade do etanol, já que é mais viável fiscalizar poucas distribuidoras que centenas de destilarias. O governo federal e alguns governos estaduais também são contra, prevendo queda de arrecadação por sonegação. A revogação ainda precisa ser apreciada pela câmara dos deputados.

http://www.valor.com.br/politica/5606981/venda-direta-de-etanol-postos-passa-no-senado

http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-06/venda-direta-de-etanol-pode-reduzir-preco-para-o-consumidor-nos-postos

 

BATERIAS PODEM APARECER NO LEILÃO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE RORAIMA

A AES Tietê, recém comprada pela Enel, pediu à Aneel para participar do leilão de eficiência energética que deve ocorrer em Roraima. A AES quer ofertar armazenamento de eletricidade usando banco de baterias. A ideia é reduzir o consumo de energia por meio da eficiência energética. Uma bateria não reduz o consumo, mas pode servir para tornar o sistema mais eficiente. Para isto o regulamento do leilão precisaria ser modificado.
http://www.valor.com.br/empresas/5606953/aes-tiete-pede-para-incluir-baterias-em-leilao-em-roraima

 

POR QUE O PRAZO DO CAR FOI PRORROGADO MAIS UMA VEZ?

Para o promotor Eduardo Coral Viega, o fato de restarem poucas áreas a serem cadastradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR) indica que as grandes propriedades já o fizeram. De modo cristalino, Viega argumenta que, se os grandes proprietários fizeram a lição de casa, “o retardamento na implantação definitiva do sistema não acontece por interesse dos mais necessitados”, como alegado pela bancada ruralista; “Não são eles [os mais necessitados] que dominam as bancadas parlamentares e têm influência nos meandros do poder da capital federal”. Para Viega, as razões são outras e bastante claras:

– antes de findo o prazo do CAR, os Programas de Regularização Ambiental não entram em vigor; e

– ninguém é obrigado a responder por eventuais passivos relativos à reservas legais e de áreas de proteção permanente.

Simples assim, embora os argumentos de Viega sejam bastante densos.
https://www.conjur.com.br/2018-jun-16/ambiente-juridico-prazo-inscricao-cadastro-ambiental-rural

 

CASOS DE PUBERDADE PRECOCE SÃO ASSOCIADOS AOS AGROTÓXICOS

Pelo menos três meninas ainda muito pequenas estão manifestando mudanças que só deveriam acontecer anos mais tarde, quando entrassem na puberdade. Na mesma região, na Chapada do Apodi, no Ceará, foi constatada malformação em oito fetos. Os casos chamaram a atenção de pesquisadores que constataram que seis de sete domicílios visitados consumiam água contaminada por agrotóxicos. Testes de sangue e urina feitos em 17 pessoas revelaram a presença de organoclorados em 11. A médica responsável pela pesquisa, Ada Pontes Aguiar, disse em alto e bom som que “há uma série de outros fatores que também podem estar ligados a esses agravos, mas não restou dúvida de que os agrotóxicos têm relação com esses casos de malformação  e puberdade precoce”. Moradores da região disseram que tomam “banhos de veneno” quando agrotóxicos são aplicados em lavouras vizinhas, aplicação que é feita tanto por trator como por avião. No final de 2016, um dossiê da Abrasco reportou os vários problemas de saúde enfrentados por quem mora perto de onde se aplica agrotóxicos. O dossiê reuniu “informações de centenas de livros e trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais, que revelam evidências científicas e correlação direta entre uso de agrotóxicos e problemas de saúde”.
Estas informações são muito oportunas. Ontem, foi suspensa uma sessão da comissão especial que analisa o projeto de lei que enfraquece o pouco controle que o Estado tem sobre estes venenos. Mas o assunto deve voltar à pauta e a expectativa é que o relatório do deputado Nishimori seja aprovado.
E, por falar em pulverização de agrotóxicos por avião, o Ministério Público quer discutir regras com a ANAC para o controle e monitoramento do que estes aviões estão fazendo. Em seu documento, o MPF identifica que “a ausência de sistemas de monitoramento informatizados unificados e georreferenciados e a utilização de instrumentos de controle arcaicos (livros de registro, planos de voos manuais etc) fragilizam a atividade fiscalizatória e a identificação dos responsáveis por danos a terceiros e ao meio ambiente, contribuindo para a ocorrência de elevado número de situações irregulares e ilegais cujas graves consequências no âmbito da saúde, do meio ambiente e da segurança de voo são amplamente conhecidas”.

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/06/19/pesquisa-aponta-que-agrotoxicos-sao-causa-de-puberdade-precoce-em-bebes.htm

https://www.abrasco.org.br/site/publicacoes/24127/24127/

http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/regras-sobre-monitoramento-de-avioes-que-pulverizam-agrotoxicos-serao-submetidas-a-consulta-publica

http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/RecomendacaoAnacDefensivos.pdf

 

“TRABALHANDO A IMAGEM” DOS AGROTÓXICOS

Em meio à batalha dos agrotóxicos que se desenrola na câmara, a Confederação Nacional da Agricultura contratou o publicitário Nizan Guanaes para “trabalhar a imagem do setor”. Um produto do contrato já divulgado nas redes sociais diz serem fake news uma série de argumentos contrários ao pacote do veneno compilados de documentos da Anvisa, da Fiocruz, do Ibama e de outros organismos oficiais que vinham sendo difundidos por celebridades nas mesmas redes sociais.

Como “a internet não esquece” (Obrigado, Claudio Angelo.), o jornalista André Trigueiro lembrou no Twitter que Guanaes escreveu na Folha de S. Paulo há quatro anos que “a comida do futuro é orgânica… As pessoas estão cada vez mais preocupadas em comer e em dormir livres de substâncias químicas”; e o economista da UFRJ, Carlos Young (Cadu), também nas redes sociais, lembrou que Guanaes foi nomeado pela UNESCO um Goodwill Ambassador porque, em 2012, lançou a campanha The Future is Green and Blue durante a Rio+20, destacando o compromisso da UNESCO com o desenvolvimento sustentável, particularmente por meio da educação e respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. Cadu diz estar curioso para saber se a UNESCO concorda com a promoção do consumo de agrotóxicos por meio de técnicas de propaganda para “trabalhar a imagem” do produto.

https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2018/06/20/em-meio-a-polemica-dos-agrotoxicos-ruralistas-contratam-publicitario-nizan-guanaes-para-trabalhar-imagem-do-setor.ghtml

 

QUESTÃO DE VIDA OU MORTE PARA AS PETROLEIRAS

As petroleiras vivem um dilema existencial diário em relação a onde investir: nas renováveis, que podem lhes garantir um futuro, ou nos fósseis, que aumentam as receitas no presente. O CEO da Shell, quando perguntado se estava mais preocupado com a sobrevivência da empresa ou do planeta, saiu pela tangente dizendo que a segurança energética é uma questão de vida ou morte para milhões de pessoas ao redor do mundo. O dilema é ainda mais premente porque, de um lado, os acionistas estão pressionando por avanços na agenda climática e, por outro, as empresas ainda enfrentam o rescaldo da recessão de 2008-09, que ajudou a fazer o preço do barril de petróleo a despencar do confortável nível de US$ 120 para US$ 30. Como uma das consequências dessa queda, criou-se um clima de corte de custos de todo quanto é lado que dura até hoje e que teve como resultado um corte de quase 50% no capital investido entre 2010 e 2015. Com isso a Shell está tentando mudar sua imagem de petroleira para “uma companhia da transição energética” voltada para uma economia de baixa emissão. Assim, diariamente as petroleiras limpam cuidadosamente suas bolas de cristal para saber quando a demanda de petróleo vai atingir seu pico, depois do qual virá uma queda para níveis muito abaixo dos de sobrevivência.
https://www.ft.com/content/a41df112-7080-11e8-92d3-6c13e5c92914

 

SAI O CARVÃO, ENTRAM AS RENOVÁVEIS

Ontem, a Bloomberg publicou seu relatório anual sobre as fontes renováveis de energia. A principal conclusão diz que as fontes renováveis e baterias mais baratas mudarão fundamentalmente o sistema elétrico. Baterias baratas garantem que pelo menos metade da eletricidade gerada em 2050 virá de fontes renováveis: do vento e do Sol. Elena Giannakopoulou, chefe de economia energética da Bloomberg New Energy Finance, disse que “o carvão deverá ser o maior perdedor no longo prazo. Ele é superado, em custo pelas energias eólica e solar na geração de grandes quantidades de eletricidade, e em flexibilidade pelas baterias e pelo gás, razão pela qual o sistema elétrico do futuro se reorganizará em torno de fontes renováveis e baratas”.

Vale a pena dar uma lida nos pontos altos do relatório, disponível no site da organização.

https://about.bnef.com/new-energy-outlook/

http://www.valor.com.br/empresas/5605671/fontes-renovaveis-vao-tomar-lugar-do-carvao-no-mercado-de-energia

 

OS IRMÃOS KOCH AGEM CONTRA O TRANSPORTE PÚBLICO

Nos EUA, muitas decisões sobre o transporte acontecem em cidades por meio de plebiscitos. Recentemente, em Nashville, foi perguntado aos eleitores se a prefeitura deveria investir num plano de mobilidade envolvendo trens leves tipo VLT, um novo túnel para aliviar o trânsito e novas linhas de ônibus. Pouco antes da votação, equipes da Americans for Prosperity, uma organização bancada pelo irmãos fósseis Koch, chegou à cidade com os nomes e endereços dos que poderiam votar contra o plano para – usando com desculpa a realização de uma pesquisa – de fato influenciar o resultado. As equipes perguntaram aos potenciais votantes: “Você concorda que aumentar o imposto sobre o comércio ao mais alto nível no país tem que ser parado”? E emendavam na sequência: “Podemos contar com você para votar contra o plano de trânsito?” A Americans for Prosperity formou uma rede de ativistas que usa grandes bancos de dados e um serviço sofisticado de nome i360, bancado, claro, pelos irmãos Koch. Pesquisas de intenção de voto no plebiscito de Nashville indicavam que o plano de US$ 5,4 bilhões seria facilmente aceito pela população, mas a ação da Americans for Prosperity foi eficaz o suficiente para que o plano fosse rejeitado por larga maioria.

A Koch Industries é uma das maiores produtoras de gasolina e asfalto, mas o grupo também produz cintos de segurança, pneus e outros componentes automotivos. E, se a Americans for Prosperity briga contra o transporte público em cidades, as Koch Industries apoiam o uso de recursos federais para a construção de estradas.

https://mobile.nytimes.com/2018/06/19/climate/koch-brothers-public-transit.html

 

O CUSTO DO DESMATAMENTO PARA O CULTIVO DE PALMA

A União Europeia, na semana passada, passou uma resolução banindo o óleo de palma para a produção de biodiesel e ração animal em função do desmatamento na Indonésia e na Malásia. Um grupo internacional de pesquisa levantou o que acontece com o carbono quando se converte uma floresta tropical nativa em plantação de uma espécie arbórea específica. Na Sumatra, a maior ilha da Indonésia e a sexta maior do mundo, a conversão de florestas nativas em monoculturas de seringueira e palma emite 116 tCO2e e 174 tCO2e por hectare, respectivamente. Mais de 20% destas emissões vêm do carbono presente no solo que é liberado durante o desmatamento. Esta liberação é gradual e chega a durar mais de dez anos. Além das emissões em si, os pesquisadores constataram que a conversão pode comprometer a capacidade da plantação em prover os serviços ambientais que regulam o clima, a fertilidade do solo e os ciclos hídricos e de nutrientes. É interessante colocar ciência e números na constatação de que desmatar não faz bem para o planeta.

https://www.nature.com/articles/s41467-018-04755-y

 

ÍNDIA: MONÇÕES IRREGULARES, SECA E INSISTÊNCIA NO CARVÃO

As monções são parte importante da vida na Índia, mas estão cada vez mais irregulares por conta da mudança do clima. Nos últimos seis anos, chove menos do que a média histórica e, pelo terceiro ano consecutivo, choveu 11% menos nos primeiros cinco meses. A distribuição da chuva também é desigual. No estado de Chhattisgarh, choveu 10% menos. No litoral de Karnataka e nos estados do noroeste de Punjab e Haryana, choveu mais. Na média, o volume de chuvas durante as monções vem caindo desde 1870. No entanto, a Índia tem muitas térmicas a carvão funcionando a pleno vapor e os bancos continuam a financiar novas usinas. Como se estas não tivessem nada a ver com as alterações nas monções.

O último link desta nota tem um fact-sheet com o estado dos reservatórios e da meteorologia indiana.

http://www.indiaspend.com/cover-story/changing-monsoon-patterns-worsening-indias-water-crisis-conflicts-study-75842

https://www.business-standard.com/article/news-ians/government-banks-continue-to-fund-coal-projects-in-india-report-118061900518_1.html
http://202.159.215.252:83/DocumentUploadRoot/DocumentId_13604/05.10.2017_CWC_Bull.pdf

 

E FALTA CO2 PARA FABRICAÇÃO DE CERVEJA NA INGLATERRA

Em plena copa do mundo, uma das duas plantas de produção de dióxido de carbono, gás essencial para a fabricação de algumas cervejas, fechou para manutenção. Como diria Edward Murphy, é claro que isso ocorreria exatamente durante a Copa, quando o consumo de cerveja aumenta significativamente. Resultado: o mundo se esforçando para emitir menos CO2 e os ingleses se queixando da falta do gás. Sugerimos colocar mais água na Guinness.

https://www.bbc.com/news/business-44545010

 

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