ClimaInfo, 22 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

DESMATAMENTO DO CERRADO

O cerrado perdeu mais de 7.400 km2 de vegetação natural no ano passado, um aumento de 9% em relação ano anterior. Lembrando que,  entre agosto de 2016 e julho de 2017, o desmatamento na Amazônia foi de 6.947 km2. Os dados vem do Prodes do cerrado, os primeiros a serem publicados. A partir deste ano, o INPE vai monitorar o cerrado usando o Deter B, capaz de dar muito mais detalhes sobre o uso do solo. O pico do desmatamento do cerrado aconteceu em 2015, quando quase 12 mil km2 foram convertidos em pasto e plantação de soja. Mesmo com a queda da área perdida a cada ano, a taxa de desmatamento é maior do que a que está acontecendo na Amazônia.

http://www.dpi.inpe.br/fipcerrado/dashboard/cerrado-rates.html

http://www.observatoriodoclima.eco.br/desmatamento-no-cerrado-sobe-9-em-2017/

http://ipam.org.br/nota-sobre-o-anuncio-de-desmatamento-no-cerrado-em-2016-e-2017/

 

DESMATAMENTO DA CAATINGA

O Inventário Florestal Nacional do Ceará apurou a caatinga cobre 88% da área do estado e, segundo Francis Lacerda, climatologista do Laboratório de Mudança Climática do Instituto Agronômico de Pernambuco, o processo de degradação do bioma atinge mais do que os 40% que constam da literatura, pela ação antrópica e pela mudança climática. Lacerda cunhou a expressão “plantar água”, lembrando que uma das funções importantes da vegetação da caatinga é a retenção de água nos solos e, consequentemente, a recarga dos aquíferos. Vários projetos e experiências foram apresentados e discutidos nesta semana na 2a Conferência da Caatinga, que tem por tema “Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade”.

Em tempo: o Ceará tem neste momento 26 municípios em estado de emergência por falta de água.

https://www.al.ce.gov.br/index.php/ii-conferencia-da-caatinga

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/caatinga-cobre-88-do-ceara-mas-carece-de-preservacao-1.1957532

http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/ceara/ceara-tem-26-municipios-em-estado-de-emergencia-por-escassez-de-agua/

 

PAMPA AMEAÇADO

O pampa também está perdendo seus campos nativos para as plantações de soja, de eucalipto e de pinus. O bioma só ocorre no Rio Grande do Sul, onde chegou a cobrir ⅔ da área do estado, mas hoje metade do pampa está degradada. Proporcionalmente, só o bioma da Mata Atlântica foi mais devastado no país. O pico da conversão do pampa em silvicultura ocorreu entre 2000 e 2009. De lá para cá, esta conversão continua, mas num ritmo menor. A matéria d’(o) Eco traz informações interessantes sobre esse que é o 2o menor dos biomas brasileiros.

http://www.oeco.org.br/reportagens/soja-e-silvicultura-tornam-o-pampa-o-2o-bioma-mais-ameacado-do-pais/

 

SOLUÇÕES NATURAIS PODEM CONTRIBUIR COM ⅓ DA META PARA 2030

Um grupo de 16 instituições criou a iniciativa Nature4Climate para promover ações voltadas à remoção de carbono da atmosfera e sua fixação no solo pelo emprego de soluções baseadas em ecossistemas. Até agora, o uso da terra tem sido observado, principalmente, pela ótica das emissões associadas ao desmatamento. Mas um estudo feito no ano passado mostrou que o reflorestamento, a conservação das florestas e a proteção de manguezais aumentam a capacidade de absorção e armazenamento de carbono pela natureza. Estima-se que estas ações possam responder por ⅓ das remoções de carbono da atmosfera necessárias para a manutenção do aquecimento global abaixo de 2oC. A iniciativa Nature4Climate quer ampliar a importância das soluções baseadas em ecossistemas, que hoje recebem somente 3% dos recursos dedicados à mitigação das mudanças climáticas, embora sejam a única solução disponível e economicamente viável para a remoção de carbono da atmosfera na escala necessária.

A iniciativa trabalhará junto a entidades subnacionais em apoio ao Desafio 30×30 Florestas, Alimento e Terra, que tem como meta entregar 30% das soluções climáticas necessárias até 2030.

A iniciativa entende que a adesão de corporações também é fundamental. Com o setor florestal, o grupo está analisando práticas que aumentam a captura de carbono e o uso de madeira em construções, evitando as emissões do cimento. No setor agropecuário, busca soluções que reduzem o consumo de água e de fertilizantes sintéticos. Achim Steiner, administrador do PNUD (Programa das Nações para o Desenvolvimento), lembra que, além do aquecimento global, estas iniciativas geram cobenefícios que colaboram com o cumprimento das Metas de Desenvolvimento Sustentável.

https://nature4climate.org/

https://climatelandchallenge.org/

https://www.euractiv.com/wp-content/uploads/sites/2/2018/06/N4C-PR-GCAS-FINAL-20-June-2018.docx

 

OS PROBLEMAS DO ETANOL E A ALTA DO BIODIESEL

O senado aprovou a venda direta de etanol aos postos de combustível alegando querer remover intermediários (distribuidores) e reduzir o preço do etanol nas bombas. A notícia se converteu rapidamente em mais um fla-flu. Tem gente dizendo que o preço pode baixar apenas no estado de São Paulo, onde se concentra boa parte da produção e boa parte da demanda. Outros dizem que as distribuidoras são fundamentais para a simplificação da arrecadação de tributos e, em certa medida, a logística do transporte. Outros ainda argumentam que a venda direta pode comprometer a qualidade do etanol nas bombas e a arrecadação das receitas federal e dos estados. Além disso, como a distribuição de combustíveis (não só do etanol) está concentrada em poucas empresas, enquanto o número de usinas é levemente maior, parece que a medida favorece, também, quem está longe dos radares da fiscalização  de qualidade e dos fiscais tributários. Aliás, tanto as associações dos distribuidores quanto a Unica, associação de produtores, têm se manifestado contra a liberação da venda direta.

Por falar em biocombustíveis, nesta semana aconteceu mais um leilão de biodiesel e, pela primeira vez, o preço subiu bastante. No leilão ocorrido na 4a feira, o preço subiu quase 10%, coisa inédita até o momento. O problema é que, como a lei determina uma mistura de 10% de biodiesel ao diesel fóssil, o aumento no preço do biocombustível acaba se tornando mais um impeditivo para baixar o preço do diesel.

http://www.valor.com.br/agro/5609983/comercializacao-direta-gera-divergencia

http://www.valor.com.br/agro/5608505/venda-direta-de-etanol-funcionaria-em-sao-paulo-nao-em-todo-o-pais#

http://www.valor.com.br/agro/5609681/preco-do-biodiesel-sobe-85-em-leilao-e-compromete-controle-de-precos#

 

PLANOS DE MOBILIDADE URBANA SÃO ADIADOS MAIS UMA VEZ

O prazo para que as prefeituras apresentem seus planos de mobilidade foi postergado mais uma vez na 4a feira. Foi estendido até abril do próximo ano. Em parte porque os “novos” prefeitos não tiveram tempo hábil, em parte porque inexiste qualquer menção a uma governança que transcenda o prefeito e a câmara de plantão. Para as cidades médias, o adiamento compromete a qualidade de vida de seus habitantes por muitos anos, posto que Planos desta envergadura deveriam balizar investimentos em prazos maiores do que os mandatos. Junto com a prorrogação, veio uma maldade adicional para quem mora nas metrópoles: foi vetada a possibilidade das regiões metropolitanas apresentarem um Plano integrado porque, segundo a justificativa de Temer, isto “poderia admitir a interpretação da substituição dos planos de mobilidade municipais das cidades envolvidas, que são mais amplos, específicos e abarcam soluções das formas mais básicas de deslocamento”. A consequência é a manutenção dos pequenos poderes que agentes locais detêm nos municípios que gravitam em torno dos grandes centros. O preço da irracionalidade recai, claro, sobre quem mora em nas metrópoles, trabalhando em um município, estudando em outro e indo para casa num terceiro.

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/CIDADES/559375-SANCIONADA-LEI-QUE-PRORROGA-PRAZO-PARA-MUNICIPIOS-CONCLUIREM-PLANOS-DE-MOBILIDADE-URBANA.html

 

ÍNDIA ANUNCIA LEILÃO DE 100 GW DE FOTOVOLTAICAS ENQUANTO O BRASIL AS EXCLUI DE LEILÕES

O ministro da energia indiano, R.K. Singh, sinalizou a realização de um megaleilão de compra de 100 GW de eletricidade fotovoltaica, de longe o maior até hoje. Pelo tamanho da operação, justifica-se a obrigatoriedade da inclusão da fabricação das células e estações de armazenamento no país. Embora Singh não tenha deixado claro, analistas imaginam que uma oferta deste porte pode significar um processo de alguns anos até a decisão final.

Enquanto isso, por aqui, um leilão programado para agosto excluiu a participação das fotovoltaicas. Enquanto a Índia dá dois passos para frente, o Brasil dá dois passos atrás.

https://reneweconomy.com.au/india-energy-minister-flags-massive-100gw-solar-tender-76760/

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53065461/azevedo-descarta-inclusao-de-energia-solar-no-leilao-a-6

 

PAGANDO PARA AS PESSOAS IREM DE BICICLETA AO TRABALHO

A Holanda está estudando um mecanismo para pagar aos cidadãos que passem a ir de bicicleta ao trabalho. Isso poderia “economizar” três bilhões de km percorridos por veículos fósseis. Os benefícios “colaterais” seriam cidades mais limpas e cidadãos menos doentes. Hoje na Holanda, mais da metade das viagens ao trabalho têm menos de 7,5 km, e mais da metade da população mora a 15 km do trabalho. Um prato cheio para menos emissões e mais saúde. https://www.independent.co.uk/news/world/europe/netherlands-cycling-pay-use-bicycle-road-congestion-dutch-companies-a8408146.html

 

A INDÚSTRIA FÓSSIL NUNCA ESTEVE TÃO FRACA?

As notícias sobre o clima costumam ser ruins, seja pelos impactos físicos, seja pela falta de ações políticas fortes e determinantes. Mesmo assim, a indústria fóssil se vê cada vez mais sob holofotes e tomatadas. Grandes filantropos colocam recursos substantivos em projetos e estudos que ajudam populações desassistidas a se preparar para o que vem por aí. Corporações que passaram da fase de relatórios de “sustentabilidade para acionistas”, começam a equacionar as decisões dos investimentos levando em conta as gerações futuras num clima cambiante. E as grandes petroleiras sabem que a maximização dos resultados no momento pode levá-las, mais adiante, a serem detentoras passivos ambientais e reservas fósseis que permanecerão sob a terra. Elas sabem, também, que a inação pode ser uma solução tática que, estrategicamente, é insustentável no médio e longo prazos. O que afasta cada vez mais investidores, inclusive os de porte, como seguradoras e congêneres. Sem investimento, a indústria desaba mais rápido do que uma velha mina de carvão.

https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/jun/21/climate-change-fossil-fuel-industry-never-been-weaker

 

COMO A PREVISÃO DO TEMPO INCORPOROU A MUDANÇA CLIMÁTICA

É cada vez mais frequente as mulheres e homens do tempo incluírem temas climáticos em seus programas. Por mais céticos que um dia tenham sido, o peso do conhecimento científico adquirido sobre as causas e efeitos da mudança do clima acabou por incluir na pauta dos programas de previsão do tempo os crescentes riscos que a mudança do clima traz para regiões metropolitanas. Uma das organizações chave dessa tendência é a Climate Central, cujo foco é a educação e a transmissão de conhecimento e informação sobre a ciência da mudança do clima. A iniciativa chegou a 500 mil profissionais da mídia. Para o pessoal do clima, a variância da meteorologia esconde a complexidade da propagação de calor e de frio. Felizmente clima e meteorologia têm dados as mãos e caminhado cada vez mais juntos.

https://www.nbcnews.com/news/us-news/global-warming-now-brought-you-your-local-tv-weathercaster-n884831

 

DESERTIFICAÇÃO INUTILIZA 120 MIL KM2 TODOS OS ANOS

Domingo é o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, e a diretora geral da UNESCO, Audrey Azoulay, disse que 120 mil km2 se tornam inférteis todos os anos, por causa da desertificação. Isto corresponde às áreas de Pernambuco e Alagoas, juntas. Azoulay avisa que, para mudar essa tendência, é preciso mudar o padrão de consumo no mundo todo.

https://nacoesunidas.org/onu-pede-mudanca-nos-padroes-de-consumo-para-evitar-seca-e-desertificacao/

 

Para ver

AQUARTELADAS

A Amazônia Real lançou no Youtube o documentário “Aquarteladas” sob a ótica das mulheres da Comunidade de Remanescentes Quilombolas do Forte Príncipe da Beira. O filme conta a história e a opinião delas sobre o conflito territorial com o Exército brasileiro, que ocorre há mais de 14 anos, em Rondônia. Leia mais sobre o filme e assista nos links abaixo.
http://amazoniareal.com.br/amazonia-real-lanca-documentario-aquarteladas-sobre-voz-das-mulheres-do-quilombo-forte-principe/

https://youtu.be/9S1mNrRVG-c

 

Para ir

FÓRUM LATINO-AMERICANO DE PRECIFICAÇÃO DE CARBONO

Promoção do GVces e da Fundação Konrad Adenauer. No primeiro dia do evento serão apresentados estudos e artigos sobre precificação de carbono e uma sessão com a equipe da PMR Brasil, com participação de Santiago Afonso, da PMR Argentina. No segundo dia, serão realizados painéis com especialistas e tomadores de decisão.
Dias 25 e 26 de junho das 9h às 18h, na FGV em São Paulo.
Programação e inscrição em:
http://gvces.com.br/forum-latino-americano-de-precificacao/

 

Para apresentar projetos

I CONVOCATÓRIA DE PROJETOS PROGRAMA SUL AMERICANO – PSA 2018

O Fundo Socioambiental CASA está selecionando propostas que possam contribuir para:
– Criar e fortalecer estratégias regionais que confrontem os grandes impactos produzidos por projetos de energia na América do Sul;
– Ajudar a fortalecer grupos locais a promover a proteção ambiental e a defesa de direitos perante os impactos de investimentos de infraestrutura para energia;
– Apoiar grupos para que tenham voz no desenvolvimento de políticas de investimentos e práticas de Instituições Financeiras Internacionais como o BNDES, o Banco Mundial, Investimentos Chineses, BID, entre outros.
O prazo final para o envio dos projetos se encerra em 31 de julho. Mais informações, regras e modos de envio de propostas no link abaixo.

http://www.casa.org.br/pt/2018/06/15/i-convocatoria-de-projetos-programa-sul-americano-psa-2018/

 

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