ClimaInfo, 25 de junho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

A ESQUIZOFRENIA DA (IN)AÇÃO CLIMÁTICA BRASILEIRA

Enquanto parte da sociedade desmata inconsequentemente a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga (depois de ter praticamente acabado com a Mata Atlântica), cabeças pensantes propõem recuperar estes mesmos ecossistemas para sequestrar carbono da atmosfera. Enquanto o governo subsidia fortemente os combustíveis fósseis, uma parte deste mesmo governo trabalha seriamente no Ministério da Fazenda para criar um sistema de taxação das emissões de carbono capaz de sinalizar ao mercado a necessidade de alternativas limpas à energia que move o transporte e a indústria.
Na semana passada, o INESC nos mostrou o tamanho dos subsídios ao petróleo dado pelo governo brasileiro: 1% do PIB na média dos últimos anos. Na semana passada, também, o INPE nos mostrou que o Cerrado tomba mais rápido que a Amazônia e a climatologista Francis Lacerda nos lembrou que mais de 40% da Caatinga está ameaçada.

Para podermos aproveitar o potencial de sequestro de carbono da atmosfera dos ecossistemas naturais, temos que parar de desmatar. Assim como, para que sejam efetivos os sinais ao mercado de um sistema de precificação das emissões de carbono, acabar com os subsídios dados aos combustíveis fósseis é condição sine qua non.

https://nature4climate.org/

http://www.dpi.inpe.br/fipcerrado/dashboard/cerrado-rates.html

https://www.al.ce.gov.br/index.php/ii-conferencia-da-caatinga

http://www.inesc.org.br/noticias/biblioteca/publicacoes/subsidios-aos-combustiveis-fosseis-no-brasil-conhecer-avaliar-reformar/view

 

PROBLEMAS NO MERCADO DE TURBINAS À GÁS NATURAL

Na semana passada, o CEO da Siemens no Brasil, André Clark, defendeu em São Paulo, no Encontro Internacional sobre Precificação de Carbono, as termelétricas a gás natural como a melhor alternativa para a complementação das fontes renováveis solar e eólica na matriz elétrica brasileira. Enquanto isso a Siemens era forçada a comentar na Europa os rumores de que está pondo à venda sua divisão de turbinas. E não é só a divisão de turbinas da Siemens que está em maus lençóis. A GE viu os preços de suas ações caírem cerca de 50% desde o ano passado, o que as removeu do índice Dow Jones. Analistas preveem uma rodada de reestruturação nas duas empresas, com mais perdas de empregos, além dos 20 mil cortes já anunciados pela GE. Para Chris Goodall, este é o primeiro grande exemplo de destruição rápida de uma indústria causada pela mudança para renováveis.

https://us9.campaign-archive.com/?u=a336c39e55a6260d59adbffb0&id=6c73dee0a4

 

23 PAÍSES ASSUMEM COMPROMISSO COM AUMENTO DA AMBIÇÃO CLIMÁTICA; O BRASIL NÃO

Chamados pelas nações-ilha do Pacífico, 23 países assinaram uma declaração conjunta se comprometendo a apresentar metas climáticas mais fortes até 2020. A declaração também apoia a reunião climática convocada pelo secretário geral da ONU, Antonio Guterres, para setembro do ano que vem. O Brasil, um dos maiores emissores do mundo, não assinou. Sintomaticamente, também não assinaram outros grandes emissores: China, EUA, Índia, Rússia e Japão. Assinaram Alemanha, França, Reino Unido e Canadá. Nossos vizinhos Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica e México também assinaram.

Mais uma face da climática esquizofrenia nacional.

http://news.trust.org/item/20180621131500-aorjp/

 

MALHA DE TRANSPORTES DEVE PERMANECER PRECÁRIA

Um novo relatório da Fundação Dom Cabral dá conta do péssimo estado da malha de transportes e mostra que, mesmo se implantando tudo que está planejado, essa situação só tende a piorar até para além da próxima década. Pelas projeções, daqui até 2030, a produção nacional deve crescer 37% e a parte da produção transportada crescerá mais, 44%. Os autores do relatório entendem que a participação do transporte rodoviário ficará mais ou menos constante, só que a proporção de estradas razoáveis e boas deve cair de 55% para 42%, e a das estradas péssimas e inaceitáveis deve quase dobrar. O prejuízo econômico deve chegar a centenas de bilhões de reais.
O trabalho não estimou o aumento das emissões devido à ineficiência logística.
http://www.valor.com.br/brasil/5612833/malha-de-transportes-em-2025-estara-em-situacao-pior-que-atual-projeta-fundacao#

 

UM MAPA DA ACESSIBILIDADE DE SÃO PAULO

Um estudo da USP montou um mapa dos bairros de São Paulo com notas para aspectos da acessibilidade ao longo de três eixos: a) a mobilidade, que avalia a facilidade do deslocamento de um ponto a outro; b) a topografia, representada pela declividade dos terrenos; e c) o meio físico, que avalia os acessos internos às edificações. O mapa mostra que, não por acaso, o centro velho da cidade e as primeiras expansões são exatamente os bairros de maior acessibilidade. Parece que os tupiniquins que acolheram José de Anchieta sabiam o que faziam. Por outro lado, a zona leste e o extremo sul, as mais pobres da cidade, não têm topografias especialmente acidentadas, mas receberam notas baixas nos outros dois quesitos.

http://interscity.org/apps/acessibilidade/

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/06/mapa-demonstra-que-centro-tem-distritos-mais-acessiveis-de-sp.shtml

 

REGRAS DE BOAS (?) MANEIRAS RURALISTAS PARA ATROPELAR NO CONGRESSO

O jornalista Claudio Angelo, do Observatório do Clima, conta que, mesmo tendo maioria no congresso, os ruralistas seguem à risca uma cartilha de comunicação para angariar simpatias para sua (deles) causa. A primeira consiste em desautorizar adversários, como dizer que artistas e celebridades não entendem nada e nem deviam se manifestar – a não ser os contratados pela bancada, claro. Em relação à ciência, quando é usada contra, diga sempre que não há consenso, mas tenha no bolso alguém que se apresente como cientista para referendar suas teses. Seguindo a distópica novela “1984”, dê novo significado às palavras, como chamar agrotóxico de defensivo fitossanitário. Acuse seus detratores de servir aos interesses estrangeiros contra os dos bons brasileiros (como eles), apesar da advertência de Samuel Johnson de que “o patriotismo é o último refúgio do canalha”. Por fim, como crianças mimadas, diga que se não fizerem o que querem, levarão a bola embora ou, como diz Claudio, diga que “o país vai parar se você não conseguir o que quer”.
https://medium.com/@observatorioclima/o-playbook-do-agrot%C3%B3xico-ou-como-ganhar-qualquer-debate-tendo-maioria-no-congresso-afef11c56310

 

O MUNDO NA CONTRAMÃO DAS METAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Na semana passada, a ONU divulgou uma avaliação pessimista do progresso em direção ao cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS: o número de pessoas com fome aumentou pela primeira vez em dez anos; conflitos armados estão causando problemas de alimentação em 18 países; o número de pessoas que migraram também aumentou, seja pelos conflitos, pela fome ou por eventos climáticos extremos. Francesca Perucci, diretora assistente da Divisão de Estatística da ONU, disse que “os países estão enfrentando desafios que se acumulam: um clima que está mudando rapidamente, o aumento no número de conflitos e a desigualdade e os persistentes bolsões de miséria e fome”. A ONU estima que existam 2 bilhões de pessoas vivendo em regiões de estresse hídrico, caracterizado quando a demanda por água é maior do que a disponível, ou quando o suprimento é de baixa qualidade.

O secretário geral, Antonio Guterres, reforçou a mensagem de urgência no trato destas questões, dado o compromisso global pelo cumprimento dos ODS até 2030.

https://unstats.un.org/sdgs/report/2018/

https://www.reuters.com/article/us-un-goals-progress/conflict-climate-change-choke-efforts-to-cure-poverty-inequality-u-n-idUSKBN1JG32C

http://www.xinhuanet.com/english/2018-06/21/c_137268721.htm

 

NOVO ATLAS MUNDIAL DE DESERTIFICAÇÃO

Ontem foi o dia mundial da desertificação e a JRC.EC (centro comum de pesquisa da Comissão Europeia) mostrou que 75% da superfície da Terra já pode ser considerada degradada e que, na ausência de ações fortes, até 2050 a fração degradada chegará 90%. Os pesquisadores deram mais um alerta da urgência de tratar da degradação das terras e combater a desertificação. As três causas que estão na raiz do problema são o aumento da população, as mudanças de padrões de consumo e a mudança climática. Todo ano a área degradada aumenta 4,2 milhões de km2, o mesmo tamanho da Amazônia Legal, espalhados principalmente pela África e pela Ásia. O custo da perda de áreas agricultáveis é estimado em dezenas de bilhões de dólares e a redução da produtividade agrícola chega a 10%. Grande parte do problema ocorre na Índia, na China e na África subsaariana, onde a degradação pode vir a reduzir a produção agrícola à metade. Os autores ainda chamam a atenção para uma parte importante desta degradação, que vem do desmatamento acelerado, o que torna a mitigação da mudança climática muito mais complicada.
O site e o relatório têm imagens impressionantes usadas para dar suporte às conclusões do estudo. Ele está dividido em seis capítulos: introdução; os padrões globais do homem; para alimentar uma população crescente; limites à sustentabilidade; convergência da evidência; e soluções.

https://wad.jrc.ec.europa.eu/

 

ADAPTAR É MAIS QUE CONSTRUIR PAREDÕES PARA SEGURAR O MAR

Kate Marvel, climatóloga, diz que a mudança do clima forçará a humanidade a mudar a vida de modos ainda não imagináveis. Norte-americana, Marvel abre seu artigo dizendo que as ações de Trump, como separar crianças dos pais, são fichinha comparadas ao que o futuro nos reserva. Entre estas, migrações provocadas por quebras de colheitas, crises hídricas e eventos extremos. Marvel se pergunta se este futuro verá sociedades com soluções totalitárias, fruto de frustrações e privações. Assim, ela estende a ideia de adaptação para além da construção de muros no litoral ou de lavouras mais tolerantes ao calor e à seca. A adaptação aos impactos do clima deve englobar o reforço às instituições, leis e, para ela, a principal preocupação, a capacidade de reconhecer o humano no outro.
https://blogs.scientificamerican.com/hot-planet/adapting-to-climate-change-will-take-more-than-just-seawalls-and-levees

 

UM EDIFÍCIO QUE GERA MAIS ENERGIA DO QUE CONSOME

Um edifício experimental de escritórios, construído na universidade inglesa de Swansea, gera 1,4 vezes mais energia do que consome, o primeiro prédio com um balanço positivo de energia. O edifício tem 22 kWp de placas fotovoltaicas flexíveis, que acompanham o desenho do teto, e um sistema de absorção de calor. Para armazenar essa energia, foram instaladas 100 kWh de baterias de íon-lítio e um tanque de água para armazenar o calor, suficientes para tocar o prédio no dia seguinte. O sistema fornece energia para os 18 pontos sem fio que, entre outras coisas, alimenta o sistema de controle de consumo e demanda do prédio. De brinde, existem 3 pontos de recarga de carros elétricos.

http://www.swansea.ac.uk/press-office/latest-news/tomorrowsofficetoday-uksfirstenergy-positiveofficeopensinswansea.php

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/06/180620193729.htm

 

AS EMISSÕES DAS SALSICHAS DA COPA DO MUNDO

O pessoal da Nu3 estimou que 25 mil salsichas serão vendidas durante a Copa, o que gerará uma emissão agregada de 200 tCO2e, incluindo a criação dos animais, o processamento e transporte. Mais ou menos o que 50 carros emitem por ano. Nas somas das emissões de grandes eventos, como a Copa, a maior parte destas vem, de longe, dos voos internacionais e, como acontece na Rússia e aconteceu no Brasil, dos voos nacionais. Em tempo: flatulências não foram contabilizadas.
https://www.nu3.com/c/news-release/food-carbon-footprint-index-2018

https://www.nu3.com/c/food-carbon-footprint-index-2018/

https://climatenewsnetwork.net/sausages-inflate-world-cup-carbon-budget/

 

Para participar

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS PARA A DIMINUIÇÃO DA POBREZA

Na comemoração dos seus 10 anos, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) apresenta as lições que aprendeu em um webinar que contará com a participação de especialistas da ESPA (Programa de Serviços Ecossistêmicos para Redução da Pobreza), IIED (Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento) e da Natura Bolívia.
Amanhã, 3a feira, 26/8, a partir das 12h, horário de Brasília, na
plataforma Zoom. O password é poverty (em minúsculas).
http://bit.do/ESPA_WEBINAR

 

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