ClimaInfo, 30 de julho 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

DADOS DO CENSO AGROPECUÁRIO VERSUS DESMATAMENTO

Nos 11 anos entre 2006 e 2017, a área ocupada pela agropecuária avançou 5% no Brasil, ocupando 16,6 milhões de hectares adicionais, área maior que a do estado do Ceará (14,9 milhões de hectares) ou que a do Acre (15,3 milhões de hectares). Este crescimento se deu em grandes propriedade: apenas o acréscimo de áreas nos 3,2 mil grandes estabelecimentos (com mais de 1 mil hectares) elevou a área ocupada em 16,3 milhões de hectares, quase toda a área adicionada à atividade no período; enquanto isso, a área ocupada pelos estabelecimentos médios (entre 100 e mil hectares) reduziu-se de 33,8% para 32%; nestes, a perda foi de 814 mil hectares. Em 2017, 41% do território brasileiro, ou 350 milhões de hectares, servia à produção agropecuária, incluindo lavouras, pastagens, matas naturais e plantadas.

Giovana Girardi chama a atenção, no Estadão, para o fato de 77% desta expansão ter ocorrido no Pará e no Mato Grosso. Infelizmente, os dados do IBGE são autodeclarados e, portanto, não são diretamente comparáveis com dados espaciais de Satélites ou do Cadastro Ambiental Rural, de modo que não dá para saber os locais exatos da expansão. Mas Giovana lembra que, no mesmo período, o Pará foi o líder do desmatamento da Amazônia, com cerca de 4 milhões de hectares devastados, no que foi seguido pelo Mato Grosso, com pouco mais de 2 milhões de hectares desmatados (além disso, o Mato Grosso perdeu outros 1,8 milhão de hectares de Cerrado). Para Giovana, “não dá para dizer com base nos dados atuais do IBGE que o avanço da agropecuária se deu sobre a vegetação nativa, mas cientistas que trabalham com geo-dados têm um prato cheio aqui se cruzarem o censo com o mapeamento de satélite e com o CAR”.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/analise-censo-da-agropecuaria-x-desmatamento/

https://www.valor.com.br/opiniao/5691789/censo-mostra-progressos-e-atrasos-no-meio-rural

 

BAIXO PREÇO DAS TERRAS PÚBLICAS SUBSIDIA A GRILAGEM

A cobrança de preços de mercado nos processos de regularização fundiária de terras públicas na Amazônia desestimularia novas invasões e permitiria arrecadar recursos para investimentos em ordenamento territorial. É o que defende Brenda Brito, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em artigo publicado na Folha de S. Paulo. Em algumas regiões do Pará – em especial nas que possuem aptidão para agropecuária -, o valor cobrado hoje representa apenas 7% do preço de mercado do hectare. Praticando os preços atuais, o governo paraense deixará de arrecadar até R$ 9 bilhões com a titulação de 8.053 médios e grandes imóveis, segundo estimativa feita pelo Imazon. Este quadro foi agravado pelas alterações feitas, em 2017, nas regras de regularização na Amazônia Legal. Na oportunidade, o governo Temer estabeleceu que o valor a ser pago na titulação de médios e grandes imóveis seria irrisório: 10% a 50% do mínimo definido pelo Incra. Considerando imóveis em regularização até 2016, isso representa uma perda de até R$ 21 bilhões para os cofres públicos.

https://folha.com/sr73onxg

 

OS DONOS DO CONGRESSO-2: A BANCADA RURALISTA

O Estadão publicou, ontem, a 2a parte da série ‘Os Donos do Congresso’, desta vez sobre a bancada ruralista (a primeira parte falava da bancada dos servidores públicos). A matéria é abrangente, cheia de infográficos e compilações de informação, mostra quem são os principais articuladores, os deputados que a compõem, como estes votaram em questões polêmicas como a licença para processar Temer, a reforma trabalhista e os perdões de dívidas, o apoio indireto recebido pela bancada das traders e agroquímicas por meio do braço institucional Instituto Pensar Agropecuária, e fala das principais vitórias e dos planos futuros. Entre as vitórias, o Estadão destaca a aprovação da reforma trabalhista e a derrubada do veto presidencial ao perdão da dívida do Funrural. Entre as principais pretensões do grupo, a matéria destaca a reforma da previdência, a mudança do licenciamento ambiental, a indicação das direções da Funai e do Ibama, a aprovação da lei dos agrotóxicos, o parcelamento de dívidas e o fim da cobrança do passivo do Funrural e o fim da prioridade de compra de alimentos para merenda escolar vindos de assentamentos de sem-terra e de comunidades indígenas e quilombolas.

http://infograficos.estadao.com.br/public/politica/eleicoes/2018/os-donos-do-congresso/agro/

 

PLATAFORMA BRASILEIRA DE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

O capital natural do Brasil confere ao país as condições necessárias para transformar a conservação e o uso sustentável de seus ativos ambientais em oportunidades de desenvolvimento e de promoção da prosperidade socioeconômica. Porém, isto só será possível se o papel da biodiversidade for reconhecido e incentivado. É o que conclui o primeiro diagnóstico de biodiversidade e serviços ecossistêmicos elaborado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Os autores do relatório dão como exemplo dos serviços ecossistêmicos a polinização (das 141 culturas agrícolas aqui cultivadas, 85 dependem de polinização por abelhas e outros animais) e a geração de energia renovável (mais de 40% da produção de energia primária no país são provenientes de fontes renováveis).

No sumário executivo, os autores chamam a atenção para as pressões e ameaças sofridas pelos ecossistemas: a atual destruição e degradação das florestas, por exemplo, coloca em risco o ciclo hidrológico que mantém, em grande parte, a produção agrícola brasileira. O documento diz que “o uso insustentável de recursos naturais no país precisa ser urgentemente interrompido em face dos vários sinais de colapso ambiental”. Os autores sugerem que, a fim de assegurar às futuras gerações no mínimo as mesmas riquezas naturais que a sociedade brasileira dispõe hoje será preciso, urgentemente, incorporar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos às políticas de desenvolvimento do país. Além disso, é fundamental promover o cumprimento das leis ambientais existentes e inovar no desenho de políticas que integrem componentes sociais, econômicos e ambientais.

http://agencia.fapesp.br/diagnostico-brasileiro-de-biodiversidade-e-servicos-ecossistemicos-e-apresentado/28313/

 

TEM SENTIDO UM LEILÃO DE TÉRMICAS DE RESERVA?

Políticos do Nordeste e empresas do setor de óleo e gás têm pressionado por um leilão de compra de energia de reserva que, caso ocorra, acrescentaria mais R$ 1 bilhão à conta de luz do país (e um bom tanto de CO2 à atmosfera). A proposta quer construir uma ou várias térmicas com capacidade de algo entre 1,5 GW e 2,5 GW. Não há consenso nos órgãos envolvidos e a Folha de S. Paulo diz que há até uma celeuma no Operador Nacional do Sistema: a área de planejamento defende o leilão, mas outras áreas não, incluindo a diretoria-geral.

Os defensores alegam risco de desabastecimento por causa da prolongada seca no Nordeste, defendem autossuficiência regional e dizem ser necessário construir segurança energética em meio à crescente participação das renováveis eólica e solar. Além disso, avaliam serem superestimadas as sobras atuais de energia e que, se o país voltar a crescer, haverá um apagão.

Os que se opõem ao leilão afirmam que, por conta da retração econômica prolongada, o consumo caiu, há sobra de energia e não há possibilidade de racionamento no horizonte que justifique a contratação das térmicas. Dizem não ser o momento para um aumento de gastos e que a conta de luz precisa ser reduzida. A Abrace (associação de grandes consumidores de energia) critica a opção por um leilão de reserva por este ser “um contrato sem risco para o empreendedor, o ônus fica com o consumidor”. O argumento da autossuficiência regional é o mais questionado; a matéria da Folha diz que “o Brasil chegou a se tornar exemplo internacional por ter um sistema interligado e não faria sentido falar em regionalização”.

Na discussão não são ao menos citadas alternativas às termelétricas a gás, nem aparece uma única palavra sobre o impacto das eventuais termelétricas no cumprimento das metas apresentadas pelo país ao Acordo de Paris.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/07/governo-avalia-leilao-de-termica-que-eleva-conta-de-luz-em-r-1-bilhao.shtml

 

CALIFÓRNIA: PLANO DE US$ 3 BILHÕES QUER TRANSFORMAR HIDRELÉTRICA HISTÓRICA EM BATERIA GIGANTE

A barragem Hoover Dam foi construída nos anos 1930, no rio Colorado. A atual capacidade instalada de 2 GW atende às necessidades de eletricidade de 8 milhões de pessoas no Arizona, no sul da Califórnia e no sul de Nevada. Agora uma ideia típica do século 21 quer transformar a barragem num reservatório de eletricidade excedente. O Departamento de Água e Energia de Los Angeles, projeta equipá-la com um sistema de bombeamento de água alimentado por energia solar e eólica a um custo de US$ 3 bilhões. A estação de bombeamento, à jusante, ajudaria a regular o fluxo de água que passa pelas turbinas da hidrelétrica, enviando a água de volta ao reservatório nos momentos de sobra de geração renovável. Esta seria novamente solta nos momentos de pico de demanda. Assim, o sistema desempenharia a mesma função das baterias gigantes de íons de lítio desenvolvidas para o armazenamento de energia. A meta do Departamento é concluir o projeto até 2028, inspirando outros projetos semelhantes e alavancando vários bilhões de dólares em projetos eólicos propostos pelos bilionários Warren Buffett e Philip Anschutz. A matéria do New York Times explora alguns obstáculos políticos que precisarão ser enfrentados, incluindo preocupações ambientais e os interesses daqueles que usam o rio para abastecimento, recreação e outros serviços.

https://www.nytimes.com/interactive/2018/07/24/business/energy-environment/hoover-dam-renewable-energy.html

 

BANCO DOS BRICS REPASSA US$ 600 MILHÕES PARA PROJETOS ‘AMIGOS DO CLIMA’ NA ÁFRICA DO SUL E NA CHINA

O Novo Banco de Desenvolvimento criado pelos BRICS aprovou recentemente empréstimos de US$ 300 milhões para projetos de redução de emissões de CO2 e aumento da eficiência energética na África do Sul, e de outros US$ 300 milhões para uma nova linha de metrô na cidade de Luoyang, na China. Com estes dois projetos, a carteira de empréstimos do banco chegou a US$ 5,7 bilhões.

https://energy.economictimes.indiatimes.com/news/renewable/brics-bank-approves-600-million-loans-for-south-african-chinese-projects/65111800

 

AQUECIMENTO GLOBAL TORNOU ONDA DE CALOR NA EUROPA MAIS PROVÁVEL, DIZEM CIENTISTAS

Temperaturas extremas, tempestades devastadoras e incêndios enlouquecidos têm sido notícia no verão do hemisfério norte, o que mais uma vez levantou a dúvida sobre os eventos serem ou não consequência do aquecimento global. Desta vez, um grupo de pesquisadores europeus fez uma força-tarefa para buscar responder à questão, analisando especialmente o que ocorre no norte da Europa.

A conclusão da força-tarefa é que a probabilidade de ocorrência de ondas de calor como esta – ou até de piores – é hoje mais de duas vezes maior por causa das mudanças climáticas do que seria se a humanidade não tivesse alterado o clima: “A lógica que a mudança climática segue é inevitável – o mundo está se tornando mais quente, e ondas de calor como esta estão se tornando mais comuns”, disse Friederike Otto, vice-diretor do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford, em comunicado à imprensa. “O que antes era visto como um clima excepcionalmente quente se tornará comum. Em alguns casos, já aconteceu. É algo para o qual a sociedade pode e deve se preparar – mas também não há dúvida de que podemos e devemos restringir a crescente probabilidade de todos os tipos de eventos climáticos extremos, limitando as emissões de gases de efeito estufa da forma mais rápida possível”.

O calor virou trend topic. Imagine quando o normal for Teresina.

O primeiro link abaixo leva para a matéria na qual Giovana Girardi descreve para o Estadão os detalhes do estudo. Os demais links levam para várias notícias sobre os eventos extremos que estão ocorrendo neste verão do hemisfério norte.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/ambiente-se/aquecimento-global-torna-ondas-de-calor-na-europa-mais-provaveis-dizem-cientistas/
https://www.bbc.com/portuguese/geral-44950980

https://www.telegraph.co.uk/news/2018/07/25/wildfires-third-europe-heatwave-hit-north-seeing-huge-increases/

https://www.dw.com/en/germany-braces-for-sweltering-temperatures-in-europe-wide-heat-wave/a-44814768

https://www.express.co.uk/news/world/993250/greece-fire-athens-wildfire-attica-greek-state-of-emergency-20-dead-70-injured

https://www.valor.com.br/internacional/5688395/mudancas-climaticas-explicam-calor-extremo

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-07-25/the-world-s-on-fire-blame-a-kink-in-the-jet-stream-the-climate

https://g1.globo.com/google/amp/g1.globo.com/natureza/noticia/2018/07/26/mundo-deve-ter-onda-de-calor-a-cada-dois-anos-efeitos-incluem-mortes-incendios-e-prejuizos-economicos.ghtml


ACIDEZ NOS MARES PODE ATINGIR NÍVEIS NÃO VISTOS NOS ÚLTIMOS 14 MILHÕES DE ANOS

Até o final deste século, os oceanos podem estar mais ácidos do que em qualquer momento dos últimos 14 milhões de anos devido ao impacto da mudança climática induzida pela humanidade, de acordo com um estudo publicado na Earth and Planetary Science Letters. Segundo os pesquisadores, este cenário representaria uma grande ameaça à vida marinha. A acidificação oceânica ocorre quando da absorção do CO2 da atmosfera pela água do mar, o que rebaixa o pH das águas. Mais ou menos ⅓ do CO2 liberado pela queima de carvão, petróleo e gás natural é dissolvido nos oceanos. Desde o início da era industrial, cerca de 525 bilhões de toneladas de CO2 foram absorvidas pelos oceanos. Se as emissões seguirem a tendência atual, até 2100 o CO2 atmosférico pode chegar a 930 partes por milhão (atualmente estamos pouco acima das 400 partes por milhão); com isso, o pH dos oceanos seria inferior a 7,8, em comparação aos 8,1 de agora. Os pesquisadores lembram que a escala do pH é logarítmica, o que significa que uma queda de apenas 0,1 unidades de pH representa um aumento de 25% na acidez.

https://www.scotsman.com/news/environment/acidity-in-seas-to-reach-levels-not-seen-in-14-million-years-1-4772919

https://www.cardiff.ac.uk/news/view/1235229-ocean-acidification-to-hit-levels-not-seen-in-14-million-years

 

GOVERNANÇA AMBIENTAL: QUE TAL OLHAR PARA OS FATOS?

O jornalista Claudio Angelo lembra dos alertas feitos, em livro publicado em 2011, pela SBPC e pela Academia Brasileira de Ciências contra a aprovação do Código Florestal. Infelizmente, o governo de plantão e o congresso não ouviram os cientistas e as previsões se realizaram: em 2012, ano em que o novo código foi aprovado, a taxa de desmatamento na Amazônia interrompeu seu ciclo de queda. Áreas frágeis em torno de rios, inclusive na protegida mata atlântica, continuam a ser devastadas. E a recuperação ambiental prometida pelos deputados e pelo governo federal em troca da “pacificação do campo” que a nova lei traria nunca veio.

A lembrança vem para alertar aos atuais e aos futuro governo e congresso que, uma vez mais, a ciência está alertando da possibilidade do desmatamento sair do controle por conta da nova ofensiva ruralista. Em artigo publicado em julho na Nature Climate Change, pesquisadores brasileiros projetam que, no pior cenário, o desmatamento pode chegar por volta de 2030 novamente ao patamar de 27 mil quilômetros quadrados por ano na Amazônia. No cenário mais provável, o desmatamento cresceria dos atuais 7.000 quilômetros quadrados para 17.000 em 2030. Nos dois casos, o Brasil deixaria de cumprir sua NDC, o compromisso de corte de emissões feito no âmbito do acordo do clima de Paris. A ciência também está dizendo, desde 2015, que daqui a 20 anos as mudanças do clima impactarão a agricultura e a infraestrutura do Brasil, secando hidrelétricas, inundando portos e reduzindo safras.

Claudio termina seu artigo dizendo que “o(a) futuro(a) presidente terá uma lista enorme de tarefas, e todas elas são prioritárias, entre elas dar uma discreta virada no timão que possa tirar o transatlântico do rumo do desastre nos próximos anos. Uma boa maneira de começar é aprendendo a ouvir os cientistas”.

https://www.huffpostbrasil.com/claudio-angelo/governanca-ambiental-que-tal-olhar-para-os-fatos_a_23488128/

 

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