ClimaInfo, 13 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

CICLOVIAS REDUZEM MORTES, MAS SÃO REMOVIDAS

Um estudo das ciclovias na Vila Prudente, zona leste de São Paulo, mostrou uma redução significativa no número de acidentes e de suas vítimas. A prefeitura ignorou o resultado e decidiu eliminar um trecho importante de uma das ciclovias no bairro, dizendo que o ciclistas podem usar outra rota. O prefeito atual, Bruno Covas, como seu antecessor João Doria, frustra ciclistas, aumenta o número de carros na rua, o congestionamento na cidade e obriga o usuário do transporte coletivo perder mais tempo no trânsito.
https://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/sao-paulo-na-bike/prefeitura-removera-ciclovias-que-segundo-cet-reduziram-acidentes-e-mortes/

 

TRANSPORTE COLETIVO CADA VEZ PIOR, CIDADES CADA VEZ MAIS POLUÍDAS

O diretor regional das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Leo Heileman, observa que a poluição atmosférica é muito alta nas cidades da América Latina e do Caribe e que este problema “vai se intensificar de forma drástica”. Diz que a frota de carros que queima combustíveis fósseis cresce mais na América Latina e no Caribe do que em qualquer outro lugar do mundo, potencializando sua ineficiência na ocupação do espaço e do tempo dos habitantes das grandes cidades, além de aumentar a poluição e a emissão de gases de efeito estufa. Heilmann defende que a melhor solução é eletrificar o transporte coletivo e o particular o mais rápido possível.

A propósito da situação do transporte coletivo no Brasil, Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), descreveu no Estadão a situação de pré-colapso do setor: “Indicadores de perda de passageiros, de endividamento e de fechamento de empresas, além da visível deterioração da qualidade dos serviços prestados, são sinais evidentes desse lamentável processo que avançou sobre o setor”. Cunha responsabiliza as políticas de contenção das tarifas, mas, principalmente, as de incentivo ao carro por meio dos incentivos e subsídios que, no seu entender, seriam melhor aproveitados para o país se aplicados no transporte coletivo. Difícil discordar.

https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2018/08/10/onu-pede-que-america-latina-aposte-no-transporte-eletrico.htm

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,coletivo-urbano-esta-a-beira-do-colapso,70002443342

 

FURNAS INVESTIRÁ EM EÓLICAS E ESTUDA ACOPLAR PARQUES SOLARES

Furnas, empresa do grupo Eletrobras que tem um parque 10 GW entre hidrelétricas e térmicas, anunciou que investirá R$ 5 bilhões em parques eólicos nos próximos 4 anos, acrescentando mais 1 GW em sua capacidade de geração. A empresa também anunciou que “está estudando implementar geração solar complementar em todos os seus parques eólicos” e, também, em algumas de suas hidrelétricas.

http://ciclovivo.com.br/planeta/energia/furnas-quer-investir-r-5-bilhoes-em-energia-eolica/

 

SOBRE A CRISE FINANCEIRA DO SETOR ELÉTRICO

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, defendeu no Valor o uso do gás natural e atacou a operação do sistema que fica ligando as térmicas a óleo, mais caras, mais velhas, menos eficientes e mais impactantes para o aquecimento global. Pires diz que é por isso que a tarifa vermelha é tão alta. Ele não diz que os contratos atuais do tipo take-or-pay do gás natural pressionam a tarifa para cima (para remunerar a infraestrutura do gás, paga-se independente de queimar ou não o gás). Pires entende que as renováveis e as hidrelétricas sem reservatório não podem prescindir das térmicas fósseis. E aproveita a chance para dizer que também é preciso dar mais espaço para a iniciativa privada na governança do setor elétrico, mirando na EPE (planejamento), ONS (operação) e CCEE (mercado). É curioso Pires defender o setor privado no seu artigo e dar-lhe o título de “O desafio é eleger o consumidor”, que tem ainda menos presença da governança do setor.

Por sua vez, Claudio Salles e Richard Hochstetler, do Acende Brasil, um think-tank focado no setor elétrico, reforçam a crítica à governança e à regulação do setor. O artigo é mais interessante pela explicação do buraco regulatório em que se encontram geradores e concessionárias do que pela solução apresentada.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-desafio-e-eleger-o-consumidor,70002443075

https://www.valor.com.br/opiniao/5725229/solucoes-para-crise-da-geracao-hidreletrica

 

TARIFAS ELÉTRICAS NEGATIVAS NA EUROPA, EUA E AUSTRÁLIA

Neste primeiro semestre, as tarifas elétricas ficaram negativas durante quase 200 horas na Alemanha, 51 horas na Suíça e 42 horas na República Tcheca e na Eslováquia. Com características semelhantes, as tarifas ficaram negativas durante 76 horas na Califórnia e 66 horas nos estados da Nova Inglaterra e, também, durante 59 horas na Tasmânia, ilha ao sul da Austrália. Nestes e noutros lugares no mundo desenvolvido, foi adotada uma tarifa que varia a cada hora do dia. O consumidor sabe, assim, se é melhor deixar para lavar e secar a roupa numa hora de tarifa mais baixa. Neste sistema, quando há um forte sol no meio do dia, ou quando rajadas de vento batem no começo da manhã, como a demanda nestes momentos é baixa, pode acontecer da oferta ser maior do que a demanda. Nesta situação, a tarifa fica negativa, sinalizando para a geradoras desligarem as térmicas mais caras.

A tarifa negativa já não é exceção e o setor elétrico será obrigado a buscar novos modelos de negócio para se manter.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-06/negative-prices-in-power-market-as-wind-solar-cut-electricity

 

MONTADORAS SEGUEM TRAPACEANDO NOS TESTES DE POLUIÇÃO

A VW, após ser pega em flagrante no ‘dieselgate’, comprou carros da concorrência para testar. Segundo uma versão inocente, para usá-los como benchmark para descobrir aonde o software da VW tinha dado errado. A versão menos inocente, diz que a compra foi ordenada pela direção para investigar se as demais montadoras também enganavam a fiscalização, e como o faziam. Os testes mostraram um desastre completo. Os níveis de emissão encontrados eram significativamente maiores do que o especificado nos manuais técnicos. Segundo um técnico da empresa, “não é apenas a Volkswagen que está trapaceando”. Até agora, só a VW admitiu ter trapaceado e pagou indenizações de mais de US$ 25 bilhões. De lá para cá, os EUA aperfeiçoaram a fiscalização para que os carros submetidos a testes tenham comportamento igual aos que estão rodando em condições normais de trânsito. Na Europa, segundo Nick Molden, CEO da Emissions Analytics, empresa que realiza testes de emissões, “(os fiscais) acabaram com algumas das brechas; tornaram o ciclo mais rigoroso, mas ele ainda é mais suave do que as condições reais. Os compradores de carros ainda terão seus carros emitindo cerca de 20% a mais CO2 [do que em laboratório].”

https://www.valor.com.br/empresas/5725077/escandalo-de-emissao-de-gases-revela-brechas-nos-testes

 

MONSANTO CONDENADA A MULTA MILIONÁRIA POR PROVOCAR CÂNCER COM O GLIFOSATO

A Monsanto foi condenada numa corte norte-americana a pagar uma indenização de quase US$ 300 milhões para uma pessoa com câncer terminal decorrente de exposição ao glifosato, o herbicida mais popular da Monsanto. A empresa acaba de ser comprada pela Bayer, que decidiu aposentar a marca Monsanto por conta de condenações como esta. Durante o julgamento, foram revelados documentos internos mostrando que a empresa tem pleno conhecimento dos riscos do produto e as estratégias adotadas para escondê-los. Táticas usadas pela indústria do tabaco foram adaptadas, e a empresa manteve uma equipe “científica” sempre pronta para mostrar que o produto era seguro. Também ficou clara a proximidade da empresa com pessoas no nível gerencial da Agência de Proteção Ambiental (EPA), para que estas reforçassem a mensagem de segurança e ajudassem a suprimir evidências do mal causado pelo glifosato.

Quando foi divulgado o resultado do julgamento, uma juíza do Distrito Federal, Luciana Raquel Tolentino de Moura, concedeu tutela antecipada para que a União suspendesse por 30 dias no país o registro de todos os agrotóxicos à base de glifosato. A molécula é a mais utilizada na lavoura nacional, principalmente na produção de soja. Assim, não é de se espantar o ministro Maggi ter pedido à Advocacia Geral da União para entrar com uma ação para derrubar a suspensão. O ministro disse que a suspensão “será um retrocesso ambiental gigantesco”. O ministro evidentemente confunde seus interesses particulares, e os de seus companheiros sojeiros, com o meio ambiente e, pior, com a saúde dos brasileiros que para eles trabalham. Luiz Lourenço, diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, disse que “esse produto está no mercado há muitos anos. Essa questão ambiental está sendo defendida por pessoas apaixonadas que não entendem de agricultura. Precisamos iniciar o plantio em 30 dias. Então, não podemos esperar”.

Dada a paixão demonstrada pela lavoura e falta de entendimento sobre a saúde humana, fica a sugestão para Lourenço e Maggi aplicarem pessoalmente o herbicida em suas lavouras, com o mesmo grau de (des)proteção de seus trabalhadores. E que as crianças de suas famílias passem a assistir aulas nas mesma escolas sujeitas às pulverizações por aviões, como vem sendo denunciado. Também não podemos esperar.

https://www.valor.com.br/agro/5728145/monsanto-e-condenada-pagar-us-289-milhoes-em-acao-sobre-cancer

https://www.theguardian.com/business/2018/aug/11/one-mans-suffering-exposed-monsantos-secrets-to-the-world

https://www.valor.com.br/agro/5718911/agu-prepara-acao-para-derrubar-liminar-contra-glifosato

 

POR VAZAMENTO DE GÁS NATURAL, EMPRESA É CONDENADA A CAPTURAR METANO DE DEJETOS ANIMAIS

A Southern California Gas Co. foi condenada a capturar 109 mil toneladas de metano de fazendas de gado leiteiro, além de pagar quase US$ 120 milhões em multas. Em 2015, uma instalação da empresa explodiu ao norte de Los Angeles, liberando esta mesma quantidade de metano na atmosfera. O metano tem que ser injetado na rede de gás do estado e usado no transporte público do estado.

Olhando para as emissões nacionais calculadas pelo SEEG, vazam em torno de 280 milhões de toneladas de metano na extração e no transporte de gás natural. O dado oficial do governo é da ordem de 180 milhões de toneladas. Seria bacana a Petrobrás bancar biodigestores em fazendas de suínos e gado leiteiro para evitar a emissão desse monte de metano para a atmosfera.
https://insideclimatenews.org/news/09082018/natural-gas-leak-socal-settlement-climate-change-california-dairy-cows-methane-aliso-canyon

http://sirene.mcti.gov.br/documents/1686653/1706227/4ed_ESTIMATIVAS_ANUAIS_WEB.pdf/a4376a93-c80e-4d9f-9ad2-1033649f9f93

 

FALTA A ÁREA DE UM CANADÁ PARA QUE A DIETA DE TODOS FOSSE COMO A DOS NORTE-AMERICANOS SAUDÁVEIS

Para toda a humanidade se alimentar conforme recomenda o Departamento de Agricultura norte-americano, as lavouras ocupariam toda a área disponível para a agropecuária e ainda faltariam aproximadamente 10 milhões de km2, um Canadá inteiro de terras aptas à agricultura. Pesquisadores da universidade canadense de Guelph pegaram o Guia de Alimentação norte-americano e analisaram, em cada continente, se haveria área suficiente para aplicá-lo à toda a população. Nas Américas, sobra um pouco de terra, desde não se leve em conta que os norte-americanos comem bem mais e pior do que o indicado pelo Guia. O continente asiático seria praticamente neutro, com terra suficiente, mesmo contando que, hoje, a dieta média asiática é menos nutritiva do que a indicada no Guia. A Europa é deficitária e precisaria continuar importando alimentos, ou seja, terra dos outros. O problema é a África. Embora hoje haja muita terra não aproveitada, o nível nutricional é muito abaixo do indicado pelo Guia e a quantidade de alimentos necessários para elevar este nível supera de longe a disponibilidade de terra. “Os dados mostram que precisaríamos mais terra do que temos, se adotarmos as diretrizes deste Guia. Isso não é sustentável”, disse o Prof. Madhur Anand, diretor do Laboratório de Mudança Ecológica Global e Sustentabilidade, que conduziu a pesquisa. E ele acrescenta: “Precisamos encarar a dieta não apenas como um problema de saúde pessoal, mas como um problema de saúde dos ecossistemas.”

http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0200781

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/08/180809112407.htm

 

MAIS DO QUE “ESTUFA”, O PLANETA TERRA CAMINHA PARA SE TRANSFORMAR EM UMA INFERNAL FORNALHA

Frase de Clóvis Rossi na sua coluna na Folha de São Paulo de ontem a propósito da onda de calor no hemisfério norte.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2018/08/uma-fornalha-chamada-terra.shtml

 

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