ClimaInfo, 15 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

NOVO GOVERNO TERÁ QUE ENCARAR A RESPONSABILIDADE PELOS COMPROMISSOS ASSUMIDOS EM PARIS

O Brasil não está a caminho do cumprimento de suas promessas para o clima, e mudanças recentes na política ambiental tendem a afastá-lo ainda mais de seus compromissos, na avaliação do Observatório do Clima (OC). A rede de mais de 40 organizações da sociedade civil lançou ontem um novo relatório que contém uma análise técnica das emissões brasileiras em cinco setores, e uma análise política da situação. A intenção do OC é a de oferecer à sociedade informações que explicam a trajetória recente das emissões de gases de efeito estufa nacionais e fazer recomendações aos candidatos à presidência. Para o OC, as “mudanças climáticas são o maior desafio ao desenvolvimento de qualquer nação neste século, e quem pretende comandar o país pelos próximos quatro anos precisa apresentar planos robustos para enfrentar o problema”.

O documento traz 10 recomendações para traduzir em propostas concretas os compromissos assumidos pelo país:

  1. Estabelecer uma governança climática eficaz baseada na ciência;
  2. Suspender projetos de lei que levem a retrocessos na legislação ambiental;
  3. Alinhar as metas nacionais com o esforço para limitar o aquecimento global em 1,5oC;
  4. Rediscutir o papel do petróleo na economia e reavaliar os subsídios e incentivos dados à sua exploração e consumo;
  5. Fortalecer e ampliar o Programa ABC (agricultura de baixo carbono);
  6. Precificar as emissões dando o sinal necessário para que a economia siga em direção à descarbonização;
  7. Adequar políticas públicas e planos de desenvolvimento às mudanças do clima;
  8. Aprimorar a gestão e planejamento da Política Nacional sobre Mudança do Clima com efetiva participação da sociedade;
  9. Implantar uma Lei de Responsabilidade Climática que consolide pactos internos para o cumprimento das metas assumidas em Paris; e
  10. Fortalecer a produção científica sobre o clima.

http://www.observatoriodoclima.eco.br/presidente-eleito-tera-de-retomar-trilha-da-responsabilidade-climatica-e-enfrentar-retrocesso

http://seeg.eco.br/wp-content/uploads/2018/08/Relatorios-SEEG-2018-Sintese-FINAL-v1.pdf

 

REPERCUTE NA MÍDIA INTERNACIONAL A RETIRADA DO BRASIL DO ACORDO DE PARIS PROMETIDA POR CANDIDATO-CAPITÃO

A ameaça à la Trump do capitão candidato à presidência – a de retirar o Brasil do Acordo de Paris – foi levada a sério pela mídia internacional, que coletou uma série de tuítes da família do candidato alardeando um forte ceticismo climático. O programa de governo do candidato não faz menção às mudanças climáticas, mas, em contrapartida, traz várias páginas sobre petróleo e gás natural. O programa promete reduzir o número de ministérios e colocar “Recursos Naturais e Meio Ambiente Rural” debaixo do Ministério da Agricultura. Deixando de lado um pouco o absurdo da intenção, nos parece que não avisaram o candidato de que a chave “recursos naturais” inclui petróleo, gás natural e todos os minerais.

http://www.climatechangenews.com/2018/08/14/brazils-bolsonaro-threatens-quit-paris-climate-deal/

 

OPORTUNIDADES DE REDUÇÃO DO DESMATAMENTO

Tanto a Política Nacional de Mudança do Clima quanto os compromissos assumidos junto ao Acordo de Paris têm metas claras de redução do desmatamento. Segundo um grupo de organizações e institutos, os recursos necessários para a criação de uma economia florestal mais atrativa do simples corte raso podem vir dos mercados de carbono existentes, e dos por existir, mundo afora. O grupo produziu um relatório analisando as perspectivas da inserção de ações de redução do desmatamento e da degradação florestal (REDD, no jargão das negociações climáticas) nesses mercados. Os atores estimaram que essas ações podem evitar a emissão de mais de 5 bilhões de tCO2e até 2030, o que poderia atrair recursos da ordem de US$ 72 bilhões. No evento de lançamento do trabalho realizado ontem em São Paulo, um dos palestrantes disse que não há como conter o aquecimento global em 1,5oC sem parar completamente o desmatamento das florestas tropicais e, mais, sem restaurar muito do que já foi destruído.

http://www.idesam.org.br/publicacao/redd-integrado-report.pdf

https://wp.bvrio.org/wp-content/uploads/2017/05/REDD-Brazil-Aliance-Integrated-REDD-proposal1.pdf

 

DESMATAMENTO AUMENTA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS NA AMAZÔNIA

Desmatar faz mal à saúde, é o que mostra um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre problemas de saúde na região Amazônica causados ou acirrados pelo desmatamento. O trabalho analisou dados dos quase 800 municípios da Amazônia Legal no período que vai de 2004 a 2012 e cobriu os casos de malária, leishmaniose, doença de Chagas, dengue, febre amarela, febre tifoide, hantavirose, leptospirose, raiva, peste e sarampo e rubéola. Constatou-se que o incremento de 1% na área desmatada leva a um aumento de 23% nos casos de malária e entre 8% e 9% nos casos de leishmaniose, ambas transmitidas por mosquitos. Nas palavras de Nilo Saccaro, pesquisador do Ipea, “o desmatamento impõe custos ao sistema de saúde que devem ser levados em consideração e existe uma sinergia entre as políticas de gerenciamento de malária e leishmaniose na Amazônia e as políticas de combate ao desmatamento.”

http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2142.pdf

https://projetocolabora.com.br/florestas/desmatamento-e-doencas-2

 

RASTREANDO O DESMATAMENTO ASSOCIADO À SOJA EXPORTADA

No imaginário do mundo desenvolvido, as cadeias de produção de óleo de palma, soja, carne e até de etanol de cana-de-açúcar estão por trás do desmatamento das florestas tropicais. Para combater o desmatamento associado às cadeias de valor das commodities agrícolas, surgiram várias roundtables propondo esquemas para assegurar produtos “desmatamento-free”, mas muitos destes não eram facilmente monitoráveis. Agora, uma parceria do Stockholm Environment Institute (SEI) e da Global  Canopy desenvolveu uma plataforma, a trase.earth, que busca ajudar na rastreabilidade das cadeias agropecuárias. Seu recém-lançado Anuário Trase 2018 aborda as exportações brasileiras de soja. Arnaldo Carneiro, diretor da Global Canopy e especialista no Cerrado, disse para o Valor Econômico que “podemos entender quanto desses fluxos (de soja) têm relação com trabalho escravo, quanto há de déficit relativo ao Código Florestal, quais empresas têm compromissos e por aí vai”. Os planos para a plataforma incluem estender a análise para outras commodities agrícolas e incorporar os impactos climáticos nessas lavouras. Para exemplificar, Carneiro diz que foram perdidas mais de 50 milhões de toneladas de soja nos últimos 15 anos devido a anomalias climáticas.

https://www.valor.com.br/agro/5732885/nova-solucao-servico-de-uma-soja-mais-sustentavel

https://trase.earth/?lang=pt_BR

 

ONDA DE CALOR E INCÊNDIOS DEVERIAM CONVENCER ATÉ OS MAIS CÉTICOS, MAS TRUMP & CIA SÃO INAMOVÍVEIS

A mega onda de calor que assola o hemisfério norte neste verão e os incêndios na Califórnia, Suécia, Sibéria, Grécia e Portugal deveriam ser suficientes para convencer até os mais céticos de que o clima mudou. Só que não. Trump tuitou acusando os ambientalistas pelos incêndios na Califórnia, já que estes seriam culpados por desviar água para o Pacífico, o que teria deixado os bombeiros na mão (nem tente entender). E seu secretário do Interior, Rick Zinke, acusou os mesmos ambientalistas por protegerem as florestas, contrariando os interesses da indústria madeireira, o que deixou muita árvore para queimar (sobre isso, especialistas disseram que a indústria só corta árvores maduras e que, sem elas, os incêndios se propagariam ainda mais rapidamente).

Marcelo Leite aproveita a deixa para manifestar seu cansaço e desapontamento com partes da raça humana. Para ele, “o silêncio dos céticos está ensurdecedor. Por muito tempo escolhemos lhes dar ouvidos, por razões ideológicas ou puro interesse, e eles se aproveitaram bem dessas fraquezas… cabe aos céticos, agora, retomar a palavra para o devido pedido de desculpas”.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloleite/2018/08/ceticos-do-clima-devem-pedido-de-desculpas-a-quem-acreditou-neles.shtml

http://thehill.com/policy/energy-environment/400637-trump-picks-fight-with-california-over-wildfires

http://thehill.com/policy/energy-environment/401550-zinke-on-california-fires-this-is-not-a-debate-about-climate-change

 

MODELO PREVÊ MAIS QUATRO ANOS DE CALOR INTENSO

Entre 2018 e 2022, o mundo deve experimentar temperaturas mais elevadas do que o normal, fruto da soma dos efeitos do aquecimento global com a parte alta de um ciclo natural de temperaturas no planeta. Este é o principal resultado de uma pesquisa que acaba de ser publicada na Nature e que, por ter sido publicada na esteira de uma das ondas de calor mais fortes já registradas no hemisfério norte, ganhou as manchetes mundo afora. Um dos autores, Florian Sévellec, do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas, da França), explica que o grupo de pesquisadores usou dados de vários modelos climáticos para determinar os cenários estatisticamente mais prováveis. Os resultados indicam que, em 2018, a probabilidade de temperaturas mais altas é duas vezes maior do que a determinada apenas pelo aquecimento global e que, no ano que vem, esta será três vezes maior. As contas não indicam em que lugares do planeta a temperatura será maior. Exceto pela indicação clara de que os oceanos esquentarão mais rapidamente do que a atmosfera, criando condições para mais furacões e tempestades tropicais. E mais fortes também. Comentando o trabalho, James Renwick, da Universidade Victoria de Wellington, disse que “a continuar a tendência de aquecimento causado pelos gases de efeito estufa, anos como este de 2018 serão a norma em 2040, e serão classificados como frios no final do século”.

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/08/14/previsao-indica-temperaturas-mais-quentes-entre-2018-e-2022.htm

https://www.theguardian.com/science/2018/aug/14/extreme-temperatures-especially-likely-for-next-four-years

https://www.nature.com/articles/s41467-018-05442-8

 

ESTUDO ENCONTRA MENOS ÁRVORES NOS TRÓPICOS E MAIS ÁRVORES NO RESTO DO MUNDO

Olhando daqui do Brasil, a área com florestas está diminuindo, e rapidamente. No entanto, uma pesquisa recente diz que, enquanto nos trópicos as florestas estão perdendo área, no todo do planeta, elas ganharam mais de 2 milhões de km2 entre 1982 e 2016, um aumento de 7%. Esse resultado deve ser visto com muito cuidado. Nos trópicos, a floresta é substituída por lavouras e pastos, com perda de carbono e biodiversidade. Os pesquisadores viram que as florestas novas estão em áreas que eram, antes, frias demais para as suportarem. Com o aquecimento global, agora a floresta floresce. Outro ponto a destacar é que a cobertura de vegetação natural perdeu mais de 1 milhão de km2, principalmente para a agricultura na Ásia. Os pesquisadores também puderam associar 60% das mudanças do uso da terra à atividades humanas e 40% a vetores indiretos como o aquecimento global.

https://www.nature.com/articles/s41586-018-0411-9

https://www.independent.co.uk/environment/tree-cover-increase-world-deforestation-farming-rainforests-forests-a8486096.html

 

COM PAINÉIS SOLARES, CARRO ELÉTRICO GANHA 30 KM DE AUTONOMIA

Uma startup alemã, a Sono Motors, espalhou painéis fotovoltaicos no teto, nas laterais e no capô do seu carro elétrico Sion. As baterias do Sion garantem uma autonomia de 250 km e os painéis dão ao carro 30 km adicionais em um dia ensolarado na Alemanha. O CEO da empresa disse que o preço dos painéis caiu tanto que está saindo mais barato instalá-los do que fazer uma pintura industrial tradicional.

https://thinkprogress.org/new-electric-car-with-solar-panels-charges-while-you-drive-eaba22c1153a

 

Erramos

Na nota de ontem sobre térmicas, dissemos que as térmicas a gás começaram a operar a partir de 2009. Erramos, foram as a óleo.

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