ClimaInfo , 16 de agosto de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

DESPEJANDO O BEBÊ JUNTO COM A ÁGUA DO BANHO

Mal tomou posse, o novo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone da Nóbrega, disse querer retirar o subsídio dado às fontes renováveis de energia. Neste ano, as renováveis receberão R$ 8,7 bilhões dos recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Pepitone não disse se quer ou não retirar os subsídios dados ao carvão mineral, que saem da mesma conta, nem mencionou as centenas de bilhões de Reais em subsídios e isenções para a exploração de petróleo e gás dados por meio da MP do Trilhão, aprovada pelo congresso no final do ano passado.

Se é para acabar com os subsídios, senhor diretor, tem muito espaço de ação na regulação das fontes fósseis que são poluentes e afetam o clima. Não é razoável começar pelo bebê solar ou pelo infante eólico.

https://www.valor.com.br/brasil/5736285/nova-aneel-tenta-conter-subvencao-fonte-limpa

https://www.valor.com.br/brasil/5736289/distribuidoras-querem-fim-de-contratos-com-termicas-oleo

 

AS OPORTUNIDADES DA BIOENERGIA NA AMÉRICA LATINA E NA ÁFRICA

O programa Bioenergia da Fapesp publicou um policy-brief sobre as vantagens e a necessidade da expansão da produção e do uso dos biocombustíveis na América Latina e na África. Repetidas vezes os autores explicam porque é possível uma produção em grande escala sem que esta compita com a produção de alimentos ou com as áreas de floresta. A ênfase não é gratuita. Em muitos foros de países desenvolvidos, existe a percepção de que a produção de bioenergia implica necessariamente em menos comida e menos floresta nativa. O paper menciona que existe um estoque de entre 500 a 900 milhões de hectares de terras aptas à produção de biocombustíveis sem o comprometimento da segurança alimentar ou da biodiversidade. Cita o sucesso da produção que consorcia lavoura, pecuária e floresta. Afirma que somente o etanol brasileiro poderia, até 2045, atender a quase 14% da demanda de petróleo e reduzir 5,6% das emissões globais (base 2014). Os biocombustíveis podem substituir 30% dos combustíveis fósseis queimados nos transportes até 2060 sem precisar invadir áreas de preservação florestal ou de produção de alimentos. Estima que o custo do desenvolvimento e a expansão da produção de biocombustíveis não chegaria a US$ 100 bilhões até 2040. E, finalmente, compara este valor com os subsídios aos fósseis estimados, na toada atual, em US$ 33 trilhões.

Coincidentemente, a Nature Communications publicou um trabalho sobre a eficácia da remoção de CO2 da atmosfera por meio da produção de bioenergia acoplada à captura e estocagem geológica de carbono, grupo de tecnologias conhecido pela sigla BECCS. Dizem os autores que “se BECCS envolvem a substituição de ecossistemas de alta densidade de carbono por lavouras, então a mitigação baseada em florestas é mais eficiente na remoção de CO2 atmosférico do que os BECCS”. Ou seja, em muitas situações, preservar e restaurar florestas é uma estratégia mais eficaz para a remoção de CO2 do que a produção de bioenergia aliada à captura e estocagem de carbono.

O trabalho publicado na Nature ilustra bem o porquê da preocupação dos pesquisadores do programa Fapesp e da repetição recorrente da importância da bioenergia para o esforço global de contenção do aquecimento global, e que esta pode ser possível sem que se toque nas florestas ou na área usada para a produção de alimentos.

http://bioenfapesp.org/scopebioenergy/index.php/policy-brief/2018

https://www.nature.com/articles/s41467-018-05340-z#article-info

https://www.carbonbrief.org/guest-post-why-beccs-might-not-produce-negative-emissions-after-all

 

SIEMENS ALINHA SEU FUTURO AO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

Em entrevista ao Valor, André Clark, CEO da Siemens no Brasil, diz que o tamanho do setor elétrico brasileiro e a dinâmica das mudanças em andamento são mais importantes para os planos da empresa do que as turbulências e incertezas na política e na economia nacionais. Clark puxa um dado interessante: a “energia é responsável por cerca de 70% da receita [da empresa] no país. A representatividade mostra o quanto o setor é relevante para o conglomerado, dado que no balanço mundial a fatia é de 40%”.

https://www.valor.com.br/empresas/5736247/setor-eletrico-e-grande-aposta-da-siemens

 

VALE A PENA TERMINAR A CONSTRUÇÃO DE ANGRA 3?

Dois artigos publicados ontem defendem a conclusão da usina nuclear Angra 3, após quase 40 anos, assinados, um pelo novo diretor-presidente da Aneel e outro pelos consultores Adriano Pires e Gustavo de Marchi. Os dois principais argumentos são, no mínimo, questionáveis. Um dos argumentos diz que já foram gastos R$ 7 bilhões que não podem ser jogados fora. Ora, as estimativas dão conta que será preciso investir outros R$ 14 bilhões para terminar a obra. Aqui talvez valha o velho dito segundo o qual torrar R$ 7 bilhões é humano, mas insistir com mais R$ 14 bilhões é quase sobrenatural. André Pepitone, da Aneel, acha que Angra é imprescindível, posto que o país precisa de reservas energéticas para quando faltar vento, sol e/ou chuva. Ele complementa dizendo que “Angra 3 colabora para a segurança energética nacional e só a manutenção da obra parada resulta em custo de dezenas de milhões de reais por ano”. Ao que respondemos que melhor seria, talvez, desistir de vez da obra e parar de gastar os milhões anuais. Já Pires e de Marchi colocam outro argumento estranho na mesa, dizendo que a economia do estado do Rio de Janeiro vai muito mal e os tais R$ 14 bilhões poderiam gerar emprego e renda para muita gente até a obra terminar.

Fica a sugestão: pegar os bilhões, ou mesmo até mesmo as dezenas de milhões por ano, e promover mais eólicas e solares no Rio e oferecer cursos de capacitação para a instalação e manutenção das instalações. Já se mostrou que as fontes renováveis de energia promovem mais e melhores empregos que as demais fontes, e sem os riscos inerentes à exploração da energia nuclear.

Em tempo: depois de algumas décadas de operação, é preciso descomissionar as usinas nucleares, o que custa, hoje, muitas centenas de milhões de dólares.

https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/retomar-a-construcao-de-angra-3-e-imperativo-para-o-rio/

https://www.valor.com.br/brasil/5736287/pais-precisa-de-angra-3-e-hidreletrica-diz-pepitone

 

ÁRVORES DE SÃO PAULO CONTAM A HISTÓRIA DA POLUIÇÃO DA CIDADE

Árvores sugam água do subsolo e acumulam sinais da qualidade do ar e do solo ao longo do tempo. Pesquisadores da USP tomaram amostras de uma espécie comum nas ruas de São Paulo, a tipuana, numa das avenidas mais arborizadas, para usar os anéis de crescimento bem definidos para traçar a linha do tempo da poluição na cidade. A pesquisa se focou em seis metais: chumbo, cádmio, cobre, níquel, sódio e zinco. Os resultados deixam claro o efeito da proibição da adição de chumbo à gasolina a partir de 1989. E também mostram a queda da concentração de outros metais correlata à saída das indústrias pesadas da cidade. Se o orçamento para a ciência permitir, os pesquisadores querem estender a coleta de amostras a toda a cidade. Será, então, possível contar a história de São Paulo a partir da poluição.

http://agencia.fapesp.br/rvores-revelam-evolucao-da-poluicao-ambiental-em-sao-paulo/28464/

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,arvores-monitoram-evolucao-da-poluicao-em-sp,70002452205

 

EGITO OBTÉM PREÇOS BAIXOS PELA ENERGIA FOTOVOLTAICA

A Egyptian Electricity Transmission Company fez um leilão para uma planta fotovoltaica de 200 MW. Duas participantes ofereceram preços abaixo de 3 centavos de dólar por kWh. A espanhola Fotowatio ofereceu 2,971 centavos e a saudita ACWA ofereceu 2,799. O preço mais alto dentre as seis participantes foi de 3,5 centavos de dólar por kWh.

Em fevereiro, num leilão na Arábia Saudita de uma planta de 300 MW, a vencedora foi a ACWA, que ofertou então o kWh a 2,34 centavos.

A moda bem que podia pegar por aqui: no último leilão, em abril, os preços variaram em torno de 3,6 centavos de dólar por kWh.

https://www.pv-magazine.com/2018/08/07/egypt-receives-two-bids-under-0-03-kwh-in-200-mw-solar-tender/

https://reneweconomy.com.au/egypt-200-mw-solar-tender-boasts-sub-0-03-bids-87950/

https://cleantechnica.com/2018/02/06/acwa-power-develop-first-ever-utility-scale-renewable-project-saudi-arabia-record-breaking-tariff/

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/04/leilao-de-energia-viabiliza-investimento-de-r-53-bi-em-novas-usinas.shtml

 

EUROPA: PREÇO DO CARBONO SOBE E PODE AFETAR O CARVÃO

Aos poucos, o mercado de carbono europeu vai retomando o espaço que ocupou até 2012. Os ajustes nas regras que passarão a valer a partir de 2020 já estão agitando o mercado e, na 2a feira, o preço do carbono chegou a €18 por tCO2e. Interessante é que no período anterior, o preço do carbono era basicamente um sinal da relação do preço da geração elétrica a gás e a carvão. Um gás mais barato levava a menos emissões e uma demanda menor por permissões. Quando o preço do gás subia, o carvão ficava mais competitivo e isso aumentava a demanda e o preço das permissões. Agora, o preço do carbono voltar a valores altos é indício do carvão estar em baixa na Europa. Analistas dizem, no entanto, que o preço do carbono precisaria ser o triplo para viabilizar as renováveis sem a necessidade de subsídios.

O mercado de carbono europeu quase desapareceu porque a recessão, iniciada em 2009, reduziu a demanda de energia e as empresas ficaram com um excesso de permissões de emissão em carteira, levando seu preço a quase zero.

Um relatório divulgado ontem a respeito do mercado voluntário de carbono aponta seu crescimento por conta de existirem mais corporações e consumidores querendo contribuir para evitar o aquecimento global e comprando créditos de carbono. O relatório também pleiteia que os créditos de carbono voluntários possam ser usados para compensar as emissões da aviação e da navegação internacionais.

https://www.theguardian.com/business/2018/aug/13/blow-for-coal-companies-eu-price-carbon-emissions-hits-ten-year-high

https://www.forest-trends.org/wp-content/uploads/2018/08/Q12018VoluntaryCarbon.pdf

 

TRIGO É BOM INDICADOR DOS IMPACTOS CLIMÁTICOS NA ECONOMIA

A produção de trigo será menor neste ano por conta da onda de calor que assola o hemisfério norte, mas não faltará trigo, já que os estoques estão cheios como resultado da safra anterior. Entretanto, já tem gente apostando na bolsa de Chicago que o preço atingirá o nível mais alto dos últimos tempos. Em 2010, uma onda de calor na Rússia fez um tremendo estrago e o governo proibiu a exportação do grão para evitar uma crise doméstica. O preço do cereal no mercado internacional simplesmente dobrou, elevando o preço do pão em todo o mundo. A Bloomberg diz que, por ora, parece não haver perturbações deste nível, mas, se outra onda de calor ocorrer no ano que vem, os estoques estarão mais baixos e o potencial de crise aumentará.

https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-08-14/why-scorched-wheat-fields-threaten-to-scald-economies-quicktake

 

SENEGAL: SECA DEIXA 245 MIL PESSOAS SEM COMIDA

O Senegal está sofrendo a terceira seca consecutiva em seis anos. Lavouras e pastagens secaram deixando 245 mil pessoas sem alimento. Fabrice Carbonne, diretor da ONG Ação Contra a Fome disse ao El País que “a consequência da seca é o aumento da insegurança alimentar”. A matéria conta que se está no final do período seco e os estoques de comida acabaram. Carbonne acrescenta que “a temporada das chuvas está começando e estamos cruzando os dedos.”

https://elpais.com/elpais/2018/08/13/planeta_futuro/1534161007_683471.html

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