ClimaInfo, 14 de setembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

E OS PRESIDENCIÁVEIS SE ESQUECERAM DO MEIO AMBIENTE

Com pouquíssimas exceções, temas como clima, meio ambiente e energia renovável, quando aparecem nos programas dos presidenciáveis, são condensados em platitudes. Bernardo Esteves coletou para a Piauí a visão de vários cientistas sobre o porquê do meio ambiente ser relegado a quase nada e, sobre as consequências disto para o clima, a biodiversidade e a água no futuro governo. Mesmo os biocombustíveis, que ganharam o Renovabio, que têm patrocinadores importantes, e que forma manchete recorrente ao longo deste ano, só foram mencionados, de leve, nos programas de Marina Silva e Álvaro Dias. O petróleo e o pré-sal receberam muito mais espaço nos programas e, pelo jeito, nos corações dos presidenciáveis. O que diz muito sobre nosso futuro.

https://piaui.folha.uol.com.br/crise-ecologica-some-dos-debates-presidenciais/

https://www.valor.com.br/agro/5834393/maior-parte-dos-candidatos-presidencia-ignora-renovabio

 

GRANDES EMPRESÁRIOS DOAM PARA GARANTIR A BANCADA RURALISTA

Duas matérias publicadas ontem no Valor tratam das doações de pessoas físicas às campanhas eleitorais deste ano. Comparados aos bilhões da campanha de 2014, os recursos andam bem mais escassos, mas alguns números e doadores chamam a atenção. Por exemplo, o senhor Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan, uma das maiores na indústria da cana-de-açúcar, doou R$ 3,6 milhões para 28 candidatos, quase todos ligados à bancada ruralista. Aliás, parece que as campanhas do pessoal da bancada estão proporcionalmente mais bem abastecidas do que as dos demais mortais. A matéria lista outros doadores e diz que os apoios visam garantir sua influência no Congresso Nacional.

Acontece que esta é primeira eleição em nível nacional desde que o financiamento de campanhas políticas por empresas foi proibido, e mesmo as doações de pessoas físicas têm uma série de restrições. Duas são realmente importantes. A primeira limita o total das doações das pessoas físicas a 10% do que o declarado no Imposto de Renda do ano anterior. Quem desobedecer a esta regra paga uma multa entre 5 a 10 vezes o montante ultrapassado. A outra restrição veda o recebimento de doações de pessoas físicas que exerçam atividades comerciais decorrentes de concessão ou permissão governamental. Os doadores apontados pelo Valor certamente estão ligados a empresas que receberam concessões de energia elétrica, de distribuição de combustíveis, de telefonia e por aí vai. Provavelmente, nas minúcias legais destes casos haverá como configurar que as tais pessoas físicas não exercem tais atividades. Mas o espírito da lei está longe de ser respeitado.

https://www.valor.com.br/politica/5835073/dono-da-cosan-e-o-maior-doador

https://www.valor.com.br/politica/5835071/empresarios-articulam-eleicao-de-bancadas-para-manter-influencia

 

OS SUBSÍDIOS ÀS FONTES RENOVÁVEIS EM UM SETOR ELÉTRICO CADA VEZ MAIS ATRAPALHADO

Elbia Gannoum, da Abeeólica, e Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, escreveram um artigo para o Valor dizendo que está na hora de abrir a discussão sobre os subsídios às fontes renováveis. Na verdade, como eles mesmo dizem, os atores olham para um desconto que estas fontes têm na parte da tarifa referente à transmissão e à distribuição de eletricidade. A primeira é para levar a eletricidade das plantas de geração até – basicamente – às cidades e à distribuição aos consumidores. Eles explicam um pouco da complexidade do reino elétrico brasileiro e colocam uma lupa sobre o mercado livre, aquele que só é aberto aos grandes consumidores. Os autores advogam uma retirada lenta dos subsídios, com regras claras e boa governança.

Por coincidência, uma outra matéria aborda um problema do mercado livre. A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) estima que um grande número de consumidores passará para o mercado livre, atraído pelos descontos das tarifas de transmissão e distribuição, e pelos aumentos das tarifas das concessionárias. Estima-se que isto provocará um déficit de quase 5.000 TWh. Até esse ano, esses déficits eram compensados pelas sobras no mercado cativo do reino elétrico. Mas a regulação mudou neste ano, e a mudança esqueceu de criar mecanismos que possam fazer esse ajuste. Tanto a Aneel quanto a CCEE dizem que tudo se arranja em tempo. A ver. Mas isso levanta outra questão: se as tarifas das concessionárias estão sofrendo aumentos brutais porque faltou água e foi preciso ligar as térmicas, de onde vem a energia que está sobrando para transferir para o mercado livre? E, se houver energia sobrando, as receitas obtidas com essa transferência pode abater um pouco do aumento das tarifas?

https://www.valor.com.br/opiniao/5835333/subsidios-de-fontes-renovaveis

https://www.valor.com.br/empresas/5835027/ccee-aponta-deficit-para-mercado-livre

 

TEMER NÃO SABE QUAL É O DIA DO CERRADO

Temer e seu governo deram mais uma demonstração explícita de descaso com o meio ambiente. Ontem foi o Dia do Cerrado. Nem o Planalto, nem um ministério sequer, nem mesmo um único órgão do governo se lembrou da data.

http://www.diretodaciencia.com/2018/09/12/criado-por-decreto-dia-nacional-do-cerrado-foi-esquecido-pelo-governo/

 

REGRAS CLIMÁTICAS DA UNIÃO EUROPEIA PODEM CAUSAR DESMATAMENTO ‘CATASTRÓFICO’

Uma pesquisa publicada na Nature Communications analisou a diretiva para as energias renováveis da União Europeia (UE) e concluiu que esta pode “sugar tanta lenha importada quanto toda a colhida pela Europa a cada ano, por contabilizar a energia gerada a partir da queima da lenha de árvores inteiras como neutra em carbono”. O professor Jean-Pascal van Ypersele, um dos autores, disse ao The Guardian que o risco da diretiva encorajar o corte de árvores e a destruição de sumidouros globais de carbono é “extremamente alto”. A UE revisou recentemente sua política energética buscando dobrar o uso de fontes renováveis até 2030. Na revisão, contra a opinião de centenas de cientistas que vêm a medida como aceleradora da mudança climática, a UE criou novos incentivos à termelétricas a biomassa, considerando que a lenha é um combustível de baixo carbono. Mas, segundo o estudo, a queima de lenha em termelétricas pode aumentar as emissões do setor energético da UE em 10% – ou mais – até 2050, anulando as reduções alcançadas pelo emprego das fontes solares e eólicas.

https://www.theguardian.com/environment/2018/sep/12/eu-climate-law-could-cause-catastrophic-deforestation

 

NOS EUA, CIDADES, ESTADOS E EMPRESAS JUNTOS PODEM ATINGIR ⅔ DAS METAS CLIMÁTICAS

O tema recorrente da cúpula climática de São Francisco é a inação climática dos países (leia-se, em geral, os EUA) e o papel das cidades e do mundo dos negócios na ocupação deste espaço. A ONU aproveitou a reunião para soltar a primeira parte do seu relatório sobre o “emissions gap” – o quanto falta cortar nas emissões para que o aquecimento global fique bem abaixo dos 2oC. Esta primeira parte é dedicada exatamente ao atores que não fazem parte dos governos nacionais – cidades, estados, províncias, o mundo das corporações e negócios. A ONU estima que mais de 7 mil cidades de 133 países, além de 245 estados e províncias de 42 países e mais de 6 mil companhias com receitas somadas que passam dos US$ 36 trilhões já assumiram compromissos de mitigação de emissões. Os resultados podem ser importantes. Por exemplo, o grupo dos EUA estima que pode dar conta de pelo menos ⅔ dos compromissos assumidos por Obama junto ao Acordo de Paris, mesmo com Trump atrapalhando. As ações vão, desde lidar com transporte via promoção de veículos elétricos e restrições aos veículos fósseis, até códigos de construção voltados para edificações mais eficientes no consumo de energia e água.

Mais que exemplos, os resultados já aparecem nos mapas, puxando mais cidades e empresas para o lado limpo da força.

https://www.valor.com.br/internacional/5832389/euacoalizao-pode-atingir-dois-tercos-de-meta-para-reducao-de-emissoes

https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/afp/2018/09/12/atores-nao-estatais-tomam-as-redeas-para-salvar-o-clima.htm

https://www.unenvironment.org/resources/emissions-gap-report-2018

 

INVESTIDORES GLOBAIS EM CAMPANHA PELO CLIMA

Alguns dos maiores fundos gestores de investimento do mundo, que em conjunto controlam US$ 30 trilhões, unirão forças para pressionar pelo combate às mudanças climáticas. Fundos como Aviva, Schroders e Legal & General Investment Management pressionarão os governos de todo o mundo para a implantação das promessas que fizeram para o Acordo de Paris. A campanha foi lançada na Cúpula Global de Ação Climática que acontece em São Francisco, na Califórnia, durante esta semana.

https://www.telegraph.co.uk/business/2018/09/12/global-investors-launch-campaign-tackle-climate-change/

 

ENERGIA LIMPA QUASE GRÁTIS A PARTIR DE 2030, DIZ BANCO SUÍÇO

Analistas do banco suíço UBS dizem que o custo da energia das eólicas e fotovoltaicas continuará caindo. Nas suas contas, em 2010, esquentar uma chaleira num fogão elétrico custava três centavos de libra. Em 2020, custará meio centavo, 6 vezes menos. Em 2030, isto sairá quase de graça. A conta foi publicada num artigo do Financial Times. O artigo vai além, analisando o impacto desta queda de preço nas corporações de energia na Europa e apontando três movimentos importantes. Primeiro, as grandes corporações estão comprando empresas donas de renováveis já em operação. Segundo, é tendência eliminar os subsídios que, até ontem, foram importantes para alavancar as fontes limpas. Vários países estão fazendo “leilões” de subsídios para quem oferecer energia mais competitiva, e isso está fazendo com que empresas busquem mais eficiência técnica e, mais importante, eficiência nos modelos de negócio. Terceiro, o ciclo dos preços em queda deve levar a um aumento de demanda, que aumenta a escala de produção e que, por sua vez, reduz novamente os preços.

https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2018/09/energia-solar-e-eolica-praticamente-gratis-ate-2030-dizem-analistas/34563#.W5rH2qZKjGg

https://www.ft.com/content/4079d82a-9e1f-11e8-b196-da9d6c239ca8

 

E A FOTOVOLTAICA BATE RECORDES EM TODA A EUROPA

Uma outra notícia sobre fotovoltaicas mostra que o verão europeu não se resumiu a uma tremenda onda de calor. Os painéis fotovoltaicos bateram recordes, um atrás do outro. Na cinzenta Inglaterra, foram 533 GWh numa única semana, ultrapassando as térmicas a gás. No mês de julho, na Alemanha, foram gerados quase 6.200 GWh. Também em julho, a fria Dinamarca de Hamlet viu 361 horas de sol – o mês teve 744 horas – e viu também um aumento de geração fotovoltaica de 33% sobre julho do ano passado. O aumento na Holanda foi de 75%. A França e a Alemanha viram térmicas a carvão terem que reduzir a geração – ou até parar completamente – porque a água de resfriamento ficou quente demais, e as solares seguraram a onda.

https://www.greentechmedia.com/articles/read/solar-broke-records-all-over-europe-this-summer#gs.CUhg_Dg

 

FURACÃO FLORENCE COMEÇA A ATINGIR A COSTA LESTE DOS EUA E USINAS NUCLEARES SÃO DESLIGADAS

Os ventos do furacão Florence perderam velocidade, mas ainda estão acima dos 120 km/h. Se, por isso, o Florence foi “rebaixado” para a Categoria 2, ou 1, sua progressão ficou mais lenta. Ele deveria ter chegado ontem pela manhã ao continente, mas demorou um pouco mais e os ventos só começaram a bater no final da tarde. O olho do furacão deve chegar à costa na 6a pela manhã. Segundo as previsões atuais, ele vai passar o final de semana despejando muita água num raio de 80 quilômetros sobre a Carolina do Norte, a Carolina do Sul e a Geórgia. Mais de 2 milhões de pessoas foram avisadas para se afastarem o máximo possível da região. São duas as grandes ameaças no momento. Espera-se ressacas de até 4 metros se estendendo durante todo o final de semana. Assim como ventos fortes. Teme-se que muitas edificações só resistam aos fortes ventos durante certo tempo. Ninguém sabe ao certo quantas e quanto tempo estas aguentarão.

Na região existem 16 usinas nucleares, todas maiores do que Angra 2. O protocolo manda que sejam desligadas 12 horas antes da chegada dos ventos mais fortes. Na última semana, todas fizeram triplas checagens para que um desastre tipo Fukushima não se repita.

https://edition.cnn.com/2018/09/13/us/hurricane-florence-south-east-coast-wxc/index.html

https://www.forbes.com/sites/jamesconca/2018/09/13/hurricane-florence-no-problem-for-nuclear-power-plants/#f305c2b7a71b

 

Para ir

SÉTIMO PAINEL DA PLATAFORMA 2018: BRASIL DO AMANHÃ

O Painel discutirá a economia das florestas e sua contribuição para a construção de uma agenda social, climática e biodinâmica para o país.
Dia 17 de setembro, das 18h às 21h, no Museu do Amanhã, Praça Mauá 1, Rio de Janeiro.

https://museudoamanha.org.br/pt-br/brasil-do-amanha-florestas

 

Para ir

ANIVERSÁRIO DO INSTITUTO ETHOS: 20 ANOS EM 2 DIAS

A Conferência Ethos São Paulo buscará resgatar os 20 anos do Ethos em dois dias de programação. O evento terá mais de 90 horas de diálogo sobre temas como direitos humanos, integridade, meio ambiente, tecnologia, compliance, gestão sustentável, empresas e negócios, empreendedorismo e economia.
Dias 25 e 26 de setembro, na Rua Tagipuru, 1001, Barra Funda, SP.

https://www.conferenciaethos.org/saopaulo

 

Para ir

INVESTIMENTO RESPONSÁVEL: DO CRÉDITO AO MERCADO DE CAPITAIS

A SITAWI Finanças do Bem, com apoio da Fundação Mott, discutirá os avanços do setor financeiro no contexto da gestão socioambiental, contemplando desafios e oportunidades do setor bancário e dos demais segmentos de instituições financeiras.
A SITAWI lançará dois estudos da série Caminhos da Responsabilidade Socioambiental no BNDES, um deles a respeito dos avanços recentes e dos desafios na implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental do banco, e outro acerca da gestão socioambiental da atuação do Banco em mercado de capitais.
27 de setembro, das 8h30 às 12h30, no Hotel Prodigy Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

https://info.sitawi.net/evento_investimentoresponsavel

 

Para acompanhar

PLATAFORMA DOS CONSUMIDORES

O Idec, organização de Defesa do Consumidor, lançou sua plataforma eleitoral com 10 reivindicações relacionadas ao direito do consumidor. Os candidatos podem se comprometer com demandas mais urgentes e contra as principais ameaças, e o eleitor consegue saber quais são as propostas, conferir quem já aderiu e cobrar os candidatos que não se pronunciarem.
A Plataforma dos Consumidores é um convite ao eleitor a interagir com os candidatos e cobrar posicionamento. No site, há um campo para envio das propostas aos candidatos à Presidência da República, para que estes se comprometam com cada um dos 10 tópicos apresentados. Os dez temas selecionados se dividem em agências reguladoras, alimentação, bancos responsáveis, consumo sustentável, defesa do consumidor, dados pessoais, energia, internet e telefonia, saúde e transporte. A cada tema que o candidato aderir, um placar mostra sua evolução.

https://idec.org.br/plataformaeleicoes

 

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