ClimaInfo, 13 de novembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

NOTAS SOBRE O GOVERNO DE TRANSIÇÃO

  1. Editorial do Valor de ontem chama a atenção do presidente eleito para a importância da agenda do clima para a economia nacional – assim como para a economia global – nos próximos anos e, também, para o desenvolvimento do país ao longo, em prazos maiores: “Caberá ao presidente manter o protagonismo brasileiro na questão ambiental, pelo qual obteve voz influente e atuação decisiva nas conferências do clima. Trata-se, ao fazer isso, afora cooperar com outras nações para  que a ameaça do aquecimento seja contida, de proteger também sua política comercial. Emmanuel Macron, presidente da França, por exemplo, já deu um recado claro: bloqueará acordos de livre comércio da União Europeia, como o que se negocia entre UE e Mercosul, com parceiros que abandonem o Acordo de Paris”. O editorial trata de colocar a pauta do desmatamento colada ao clima: “Sem levar em conta ainda os motivos no campo da política externa e da política comercial, empenhar-se no combate ao desmatamento (principal fonte de emissões no Brasil) é crucial por razões internas. As recentes crises hídricas em São Paulo e em Brasília, por exemplo, são advertências de que a perda de cobertura vegetal na Amazônia já tem reflexos nas chuvas de outras regiões do país – essas, sim, localizadas na mesma latitude de desertos africanos e que só escapam da estiagem constante graças aos ‘rios voadores'”.
  2. Reforçando o recado, um grupo de mais de 100 economistas entregou uma carta a Bolsonaro com sugestões para a condução da economia nacional que inclui um significativo apelo para que não sejam menosprezados os temas ambiental e o do clima mundial.
  3. A indicação de Joaquim Levy para o BNDES é um pequeno alívio para quem tem o ambiente como mote ou pauta. Levy é conhecido por sua quase militância na área ambiental.

https://www.valor.com.br/opiniao/5979441/o-mundo-olha-os-passos-de-bolsonaro-na-questao-do-clima

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/em-carta-a-bolsonaro-economistas-defendem-questao-ambiental.shtml

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,joaquim-levy-sera-o-presidente-do-bndes,70002603930

 

GRUPOS PRESSIONAM PELA AÇÃO EUROPEIA CONTRA O DESMATAMENTO CAUSADO PELO AGRONEGÓCIO

Um grupo nascido do Pacto de Amsterdam pediu à Comissão Europeia que adote medidas fortes de controle para que o financiamento e a cadeia de suprimentos de produtos agropecuários importados fique livre do desmatamento. O Pacto foi assinado por Alemanha, Holanda, França, Itália, Reino Unido, Noruega e Dinamarca e tem como meta contribuir para zerar o desmatamento oriundo de pressões do agronegócio. Em janeiro deste ano foi publicado um trabalho analisando a viabilidade de uma ação europeia e propondo um leque de ações a serem tomadas. Em junho, o Fórum Econômico Mundial publicou um guia (roadmap) para o financiamento de commodities livres de desmatamento, apresentando mais ações a serem tomadas. Estes trabalhos mostram que 80% da perda florestal tem origem no agronegócio, principalmente no Brasil e na Indonésia. Segundo o Guardian, a eleição de Bolsonaro e suas promessas de campanha têm o potencial de destruir uma área de floresta tropical “maior do que a Alemanha” (350.000 km2).

Vale lembrar que uma perda deste tamanho ultrapassa o ponto de virada tido pela ciência como o passível de recuperação pela floresta.

https://mfvm.dk/fileadmin/user_upload/MFVM/Miljoe/Letter_to_European_Commissioners_on_Deforestation.pdf

https://www.theguardian.com/environment/2018/nov/12/eu-states-call-for-tough-action-on-deforestation-to-meet-2020-un-goal-amsterdam-declaration

http://ec.europa.eu/environment/forests/pdf/feasibility_study_deforestation_kh0218321enn_interventions.pdf

https://www.tfa2020.org/wp-content/uploads/2018/06/The-Roadmap-to-Financing-Deforestation-Free-Commodities.pdf

 

CRESCIMENTO DO AGRONEGÓCIO NÃO DESENVOLVE O MATOPIBA

Um trabalho da Universidade Federal do ABC, feito a pedido do Greenpeace, analisou dados dos 337 municípios do Matopiba para entender qual a riqueza que a explosão do agronegócio está trazendo para a região. Na ponta de cima, em 13% dos municípios, os indicadores sociais e a produtividade das lavouras estão acima das médias. Em 9% dos municípios, boas gestões municipais podem melhorar os indicadores sociais, embora a produtividade das lavouras não seja alta. No restante da região, os indicadores sociais mal se moveram nos últimos anos, mesmo naqueles municípios que apresentam alta produtividade. “A dinâmica regional aponta para um município-polo, com produção e riqueza concentradas, e que gera um dinamismo que se traduz nas cidades-vitrine do agronegócio. Mas isso não transborda”, explica Arilson Favareto, coordenador do trabalho. O Matopiba cobre uma área de 73 milhões de hectares dos estados do Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia, onde vivem quase 6 milhões de pessoas. O PIB da região é da ordem de R$ 56 bilhões, ¾ vindos de apenas 13 dos 337 municípios.

https://www.greenpeace.org/brasil/publicacoes/segure-a-linha

https://www.valor.com.br/agro/5979417/estudo-mede-distribuicao-de-riqueza-em-matopiba

 

TRANSNORTE ENERGIA ANUNCIA AVANÇOS NAS NEGOCIAÇÕES SOBRE O LINHÃO DE RORAIMA COM OS WAIMIRI-ATROARI

A Transnorte Energia informou à Aneel que o impasse nas negociações com os Waimiri-Atroari para a construção do linhão Manaus-Boa Vista “dá sinais de arrefecimento e os estudos estão iniciando o seu desenvolvimento”. O projeto da linha de transmissão acompanha o traçado da BR-174, estrada que liga as duas capitais e que atravessa mais de 100 km das terras deste povo. Os três porquinhos de Temer, Moreira Franco, Eliseu Padilha e Romero Jucá, colocaram muito peso e esforço para passar a linha por cima dos índios.

A linha de transmissão é uma alternativa convencional para o suprimento de eletricidade à população de Boa Vista, que hoje depende de geradores diesel e da importação de eletricidade da Venezuela por meio de uma outra linha de transmissão um tanto quanto precária.

Outras alternativas baseadas na geração renovável e na eficiência energética têm sido discutidas enquanto o governo Temer força a alternativa que passa sobre os Waimiri-Atroari.

https://brasilenergia.editorabrasilenergia.com.br/impasse-sobre-linha-que-interliga-roraima-ao-sin-perto-de-um-entendimento

 

CONSTRUTORA E MONTADORA SE UNEM PARA OFERECER COMPARTILHAMENTO DE CARROS ELÉTRICOS

A MRV Engenharia e a Renault estão se juntando para tocar um projeto-piloto de compartilhamento de carros em prédios da construtora. Um prédio em São Paulo e outro em Belo Horizonte terão dois Renault Zoe que poderão ser compartilhados entre os moradores por meio de um aplicativo da Renault. Os prédios serão equipados com estações de recarga. A MRV instalou painéis em 180 dos seus prédios e, até 2020, pretende que todos seus prédios residenciais tenham destes painéis.

https://www.reuters.com/article/us-mrv-engenharia-renault/brazil-homebuilder-to-offer-renault-electric-cars-in-buildings-idUSKCN1ND34R

 

OS DESAFIOS DA COP24

Daqui a 3 semanas começa a Conferência do Clima deste ano no inverno polonês, em Katowice. A expectativa geral é de uma COP menos bombástica do que a de Paris, mas não menos importante. É preciso aprovar o livro de regras pelas quais os países devem passar a reportar suas emissões e de como esses valores devem ser auditados. Em suma, é preciso definir uma régua comum para todos os países e criar confiança sobre todos estarem usando-a corretamente. As grandes linhas são conhecidas há muito tempo, mas, agora, os detalhes precisam ser acordados por todos. O outro ponto crucial, mas sobre o qual não se espera avanços importantes, diz respeito ao Fundo Verde do Clima, que deveria ter recebido aportes da ordem de US$ 100 bilhões, mas para o qual poucos países desenvolvidos pingaram algo e, mesmo assim, menos do que o prometido. No começo de outubro, o Relatório 1,5oC do IPCC colocou uma espada no pescoço da comunidade internacional ao mostrar o tamanho da mudança exigida para a limitação do aquecimento global. Mirando o pouco que se avançou até hoje, a COP 24 terá que recuperar o espírito demonstrado em Paris e produzir uma unidade em ambição nunca vista até agora. E isto com o peso dos EUA saindo e das ameaças e discursos contrários de Bolsonaro, do governo australiano e de províncias canadenses.

https://www.axios.com/climate-change-too-big-divisive-8f611e2b-f181-4e8f-b3a2-497bac77f2bb.html

https://www.herald.co.zw/showdown-looms-at-climate-talks

 

SÓ OS SISTEMAS DE AR CONDICIONADO PODEM ELEVAR A TEMPERATURA GLOBAL EM 0,5oC

As projeções indicam que o número de aparelhos e sistemas de refrigeração ambiental deve triplicar até 2050. A continuar nesta toada, até o final do século, só estes serão responsáveis por um aumento de 0,5oC na temperatura média global. A tecnologia atual mais difundida impacta o clima por meio da eletricidade consumida e pelo vazamento de gases sintéticos HFCs (hidrofluorcarbonos) usados como gases refrigerantes. Vários membros da família aquecem a atmosfera em até 4.000 vezes mais do que o CO2. Assim, para manter os ambientes em temperaturas confortáveis, novas tecnologias terão que ser desenvolvidas e produzidas em escala, assim como a energia elétrica, que possivelmente continuará sendo usada, terá que ser gerada de fontes cada vez mais limpas.

https://insideclimatenews.org/news/11112018/climate-change-home-air-conditioning-half-degree-global-warming-by-2100

 

EÓLICAS SUPREM QUASE TODA A DEMANDA ESCOCESA EM OUTUBRO

Ventou tanto na fria Escócia em outubro que a geração eólica gerou o suficiente para cobrir 98% da demanda do país. Para Alex Wilcox Brooke, da operadora Severn Wye Energy Agency, “os números de outubro são um exemplo perfeito de quão confiável e consistente a geração eólica pode ser”. Nos períodos em que os ventos geram mais energia do que a demanda, o excedente é repassado para o restante do Reino Unido, que complementa a Escócia quando lá venta de menos.

https://www.belfasttelegraph.co.uk/news/uk/wind-turbines-generated-98-of-october-electricity-demand-analysis-suggests-37517663.html

 

GARIMPOS DE OURO DESMATAM A AMAZÔNIA PERUANA

Os garimpos de ouro são grandes responsáveis pelo desmatamento da Amazônia peruana, principalmente na bacia do rio Madre de Dios. Medições recentes dão conta que mais de 1.700 km2 de floresta foram derrubados nos últimos 5 anos, o que corresponde à 0,22% da Amazônia naquele país. Neste período, a Amazônia brasileira perdeu 1,25% da sua área florestal. Aqui, os garimpos também destroem a floresta, juntamente com madeireiros. A diferença principal é que no Brasil o desmatamento ocorre em terras públicas e em áreas protegidas. Invadir e destruir patrimônio público é crime, que precisa parar de compensar.

https://www.sciencedaily.com/releases/2018/11/181108130525.htm

 

“OS TUÍTES INSANOS E MAL INFORMADOS” DE TRUMP

Os incêndios florestais recentes na Califórnia mataram 31 pessoas e centenas ainda estão na lista de desaparecidos. O incêndio que segue devastando o norte do estado é o mais mortal da história e, literalmente, devastou a cidade de Paradise. Depois do tuíte de Trump acusando o estado de gerir mal suas florestas, o gabinete do governo do estado disse que está focado nos incêndios e não nos tuítes “insanos e mal informados” de Trump. O Governador Jerry Brown retrucou dizendo que “zelar por todas as florestas em todo lugar possível não detém a mudança do clima. E aqueles que negam estão, com certeza, contribuindo para as tragédias que estamos vivendo e para aquelas que virão nos próximos anos”. O recado é importante para as políticas climáticas do próximo governo brasileiro.

Em tempo: a coluna de Marcelo Leite, na Folha, dá uma explicação do porque estes incêndios se tornaram tão fortes e tão mortais.

https://abc7.com/politics/brown-says-climate-change-will-continue-to-affect-ca-wildfires/4670464

https://thehill.com/homenews/state-watch/416156-california-governors-office-says-focus-is-on-wildfires-not-trumps-inane

http://www.latimes.com/opinion/editorials/la-ed-wildfires-20181110-story.html

https://www.nytimes.com/2018/11/11/us/california-fire-paradise.html

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/11/mudanca-climatica-cria-tempestade-perfeita-de-fogo.shtml

 

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