ClimaInfo, 12 de novembro de 2018

ClimaInfo mudanças climáticas

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE DISPARAM DURANTE CAMPANHA ELEITORAL

De agosto ao final de outubro, durante a campanha eleitoral, foram desmatados quase 1,700 km2 na Amazônia, um aumento de quase 50% em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme indicam os dados do satélite Deter B, do INPE, que monitora o desmatamento em tempo quase real. A confirmação do grau de acerto dessa medição só virá com os dados do sistema Prodes, no ano que vem, mas a ordem de grandeza está dada.

Durante a campanha de 2014, desmataram-se cerca de 1.500 km2. Mas o que impressiona desta vez é que choveu mais do que o costume e, mesmo assim, o desmatamento aumentou. Possivelmente pela percepção de mais impunidade se acercando. Um exemplo dos sinais que vão dando como certo o aumento da impunidade veio numa declaração do hoje senador e futuro deputado por Mato Grosso, José Medeiros. Criticando uma operação do Ibama que destruiu equipamentos de garimpeiros ilegais que operavam em áreas de preservação, Medeiros disse: “vamos cassar no primeiro dia essa porcaria [portaria] que autoriza a destruição. Eu não tenho dúvida, é uma das primeiras coisas que o Bolsonaro vai fazer”. Dono de parte dos equipamentos destruídos, Rafael Encinas, disse à Folha não saber “se era reserva ambiental, parque, não sei explicar ao certo”, mesmo assim disse que o Ibama tinha feito uma “ação terrorista”.

É com um certo enfado que nos sentimos obrigados a lembrar ao senador e ao garimpeiro que a invasão de áreas protegidas e a destruição do patrimônio público são crimes, coisa que estes senhores teriam por obrigação saber.

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/11/desmatamento-na-amazonia-explode-durante-periodo-eleitoral.shtml

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2018/11/ibama-destroi-garimpos-e-senador-diz-que-pratica-vai-acabar-no-novo-governo.shtml

https://www.ibama.gov.br/noticias/436-2018/1766-ibama-identifica-22-pessoas-envolvidas-na-exploracao-ilegal-de-ipe-em-terras-indigenas-no-noroeste-de-mt

 

A MUDANÇA DO CLIMA TRARÁ PREJUÍZO DE BILHÕES AO AGRONEGÓCIO

Uma das maiores consultorias norte-americanas a operar no mundo das commodities, a INTL FC Stone, estimou em R$ 62 bilhões o tamanho do prejuízo que a mudança do clima pode trazer ao agronegócio brasileiro até 2050, sendo que só foram consideradas no cálculo as reduções na produtividade das oito principais culturas agrícolas do país. Mesmo com um investimento adicional de quase R$ 2 bilhões em equipamentos e insumos, a lavoura da cana perderia quase R$ 42 bilhões, a da soja perderia quase R$ 3 bilhões e a do milho outros R$ 3 bilhões. O relatório aponta três fatores que levam a estes prejuízos: a deterioração da qualidade do solo, a mudança do regime de chuvas e o aumento da temperatura. Em relação à área cultivada hoje, a área apta ao cultivo da soja pode cair em 40% até 2050, a do trigo pode cair em quase 30%, e a do milho e a da cana em 12% cada. A deterioração do solo e as mudanças de pluviosidade e temperatura estão concentradas no Centro-Oeste e na região do Matopiba.

Talvez por este relatório ser de uma consultoria empresarial de peso, o pessoal do agronegócio o leia e entenda porque é crucial preservar a floresta Amazônica e a vegetação nativa que ainda existe no Cerrado. Em relação ao Acordo de Paris, a consultoria diz que o país precisa fazer mais do que prometeu e ajudar outros países a fazerem o mesmo, sob risco de ver morrerem as lavouras dos ovos de ouro.

https://www.valor.com.br/agro/5968813/saida-do-acordo-de-paris-prejudicaria-agronegocio-diz-consultoria

https://www.valor.com.br/agro/5975913/se-o-clima-ajudar-colheita-de-graos-podera-ser-recorde

https://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2018/11/11/futura-ministra-da-agricultura-defende-agrotoxicos-e-assistencia-tecnica-para-pequeno-produtor.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldojoselopes/2018/11/miopia-do-agronegocio-bolsonarista-pode-afetar-atividade-agricola-e-agua-do-continente.shtml

 

BHP É PROCESSADA EM LONDRES POR DESASTRE DE MARIANA

Uma ação coletiva foi aberta num tribunal de Londres contra a BHP pelos desastres gerados com o rompimento da barragem da Samarco há três anos em Mariana. A ação está sendo movida em nome de 240 mil pessoas, 24 governos municipais, 11 mil empresas, uma arquidiocese e 200 índios da comunidade Krenak. Eles acham que a justiça inglesa se moverá mais rapidamente do que a nacional. Os advogados do grupo esperam que a corte julgue o caso nos próximos três anos.

https://www.theguardian.com/environment/2018/nov/06/bhp-billiton-facing-5bn-lawsuit-from-brazilian-victims-of-dam-disaster

 

RENOVÁVEIS EM ASSENTAMENTOS RURAIS

O Senado está discutindo um projeto de lei que autoriza beneficiários de programas de reforma agrária a desenvolver, explorar ou terceirizar a instalação e operação de fontes renováveis de energia.

https://epbr.com.br/energia-solar-ou-eolica-em-assentamentos-rurais

 

MACAU (RN) QUER ENERGIA EÓLICA DE GRAÇA PARA SERVIÇO PÚBLICO E PARA OS MAIS POBRES

A prefeitura de Macau, no Rio Grande do Norte, está negociando a instalação de dois aerogeradores na cidade. A energia será usada nos prédios públicos da cidade e distribuída de graça para a população menos favorecida. O Rio Grande do Norte tem um dos maiores potenciais eólicos do país, e é onde ficam 25% das plantas eólicas que respondem por 27% da capacidade eólica instalada no Brasil.

https://www.canalenergia.com.br/noticias/53079530/cidade-potiguar-quer-usar-eolica-para-fornecer-energia-a-custo-zero

 

BANCO INTERNACIONAL DIZ QUE RENOVÁVEIS JÁ SÃO MAIS BARATAS QUE CARVÃO

Um relatório do banco internacional Lazard fez as contas do custo agregado de capital e de operação para gerar energia elétrica a partir de várias fontes nos EUA. Pelas contas, a geração em novas plantas eólicas e fotovoltaicas é mais barata do que nas térmicas a carvão existentes. O trabalho permite comparar o investimento nestas novas plantas e seu pequeno custo operacional – dado que vento e sol ainda são de graça – com o custo do carvão mineral em plantas nas quais não é necessário mais investimento.

https://www.lazard.com/perspective/levelized-cost-of-energy-and-levelized-cost-of-storage-2018

https://www.lazard.com/media/450773/lazards-levelized-cost-of-energy-version-120-vfinal.pdf

https://www.ft.com/content/af6915c8-e2eb-11e8-a6e5-792428919cee

 

DESLIZAMENTOS MORTAIS EM NITERÓI E OUTROS DESASTRES NO BRASIL

Em Niterói, na madrugada de sexta para sábado, depois das chuvas fortes que caíram desde 5ª feira, uma pedra se desprendeu do alto de um morro levando abaixo árvores, muita lama e sete casas. Até o final de tarde de ontem, 15 pessoas haviam morrido. Mais ao norte, no Espírito Santo, as chuvas desabrigaram mais de 300 pessoas. E, na parte paulista da Serra do Mar, uma das principais rodovias que liga o planalto ao litoral ficou fechada mais de 90 horas por conta de deslizamentos.

Em compensação, o sertão nordestino continua sofrendo com a falta de chuvas e 176 municípios da Paraíba decretaram situação de emergência por causa da seca. Mais de 50% dos açudes do estado estão com menos de 20% da capacidade. No Ceará, a situação não é melhor, e a capacidade de reserva de água é de pouco mais de 12%, o que garante o abastecimento humano por mais três meses apenas.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/11/11/deslizamento-em-niteroi-no-de-mortos-sobe.ghtml

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/11/11/morre-15-vitima-do-deslizamento-em-niteroi-um-menino-de-tres-anos.htm

https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2018/11/10/chuva-no-es-deixa-mais-de-300-pessoas-fora-de-casa.ghtml

https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2018/11/11/interdicao-na-rodovia-dos-tamoios-ja-dura-mais-de-80-horas.ghtml

https://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2018/11/11/estiagem-castiga-zona-rural-da-paraiba-e-do-ceara.ghtml

 

INCÊNDIOS, ENCHENTES E MORTES NO MUNDO

Na Califórnia, mais um incêndio florestal matou 25 pessoas no final de semana e provocou mais um tuíte infeliz de Trump. Foram dois incêndios, um que chegou à região de Malibu, onde vários astros de Hollywood têm casas e outro, 500 km ao norte. Trump disse no Twitter que a culpa era do serviço florestal do estado que cuida mal das matas. A pop star Katy Perry tuitou de volta dizendo que foi um comentário absolutamente sem coração e que não há nada de política em discussão. “Só americanos perdendo suas casas e procurando abrigos”. O chefe dos bombeiros atribuiu a ferocidade dos incêndios à mudança do clima e disse que teme que este seja o novo normal.

Na Jordânia, pela segunda vez em menos de um mês, uma inundação relâmpago matou 11 pessoas perto do sítio turístico de Petra. No final de outubro, outra dessas matou 18 pessoas, alguma em um ônibus escolar arrastado pelas águas. Em um trabalho publicado na Nature, pesquisadores mostraram uma forte correlação entre a mudança climática e a ocorrência dessas inundações relâmpago resultantes do escoamento das águas de tempestades fortes. Seus impactos são agravados pelas intervenções humanas que modificam o curso de rios, alteram o uso do solo pelo emprego da agricultura extensiva e, nas cidades cada vez mais asfaltadas, reduzem a permeabilidade do solo. Os pesquisadores apontam, ainda, que o feedback hídrico ajuda a acentuar a força das tempestades.

https://www.theguardian.com/us-news/2018/nov/11/california-wildfire-toll-paradise-recovery-effort

https://www.theguardian.com/us-news/2018/nov/11/la-fire-chief-climate-change-california-wildfires

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/11/11/numero-de-mortos-em-incendios-florestais-na-california-sobe-para-23.ghtml

https://www.theguardian.com/world/2018/nov/10/jordan-flash-floods-kill-eleven-and-forced-tourists-to-flee

https://www.theguardian.com/world/2018/oct/25/flash-flood-in-jordan-sweeps-away-school-bus-killing-children

https://www.nature.com/articles/s41467-018-06765-2

https://www.eurekalert.org/pub_releases/2018-10/cuso-rta101818.php

 

LANÇADO O 1º DIAGNÓSTICO BRASILEIRO DE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) lançou, na semana passada, o sumário para tomadores de decisões do 1º Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Duas frases do sumário dão a dimensão da importância do trabalho e do tema: 1) “O gigantesco capital natural nacional confere as condições necessárias para transformar a conservação e o uso sustentável dos ativos ambientais brasileiros em oportunidades para um desenvolvimento capaz de enfrentar, no futuro, um clima alterado e, ao mesmo tempo, promover prosperidade socioeconômica. Essa combinação incomum resulta do fato de que o elevado potencial de produção econômica (presente e futuro) depende da manutenção dos recursos da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados”; e 2) “A janela de tempo e de oportunidades para consolidar a base de um futuro sustentável é limitada. Requer, no mínimo, assegurar o cumprimento de leis existentes através de mecanismos regulatórios e de incentivo, em consonância com os compromissos globais de sustentabilidade assumidos pelo país”.

Um dos pontos importantes do trabalho mostra que, no país, existem pouco menos de 400 municípios, 7% do total, que concentram ⅓ da cobertura vegetal do país, 22% da população mais pobre e apresentam

alta vulnerabilidade às mudanças climáticas.

O WWF publicou um trabalho avaliando as metas nacionais de biodiversidade. Jaime Gesisky, especialista em Políticas Públicas do WWF diz que “uma das principais mensagens deste estudo é que a biodiversidade pode ocupar lugar de destaque na agenda econômica e social do país. Temos todas as condições de promover desenvolvimento econômico com ganhos sociais a partir da diversidade biológica, mas para isso temos de parar de destruir e passar a valorizar a natureza”.

https://www.bpbes.net.br/en/press/

https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?68382

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,13-da-vegetacao-nativa-do-brasil-esta-em-areas-pobres,70002593794

 

COMO AS ELEIÇÕES DOS EUA PODEM MUDAR O CENÁRIO CLIMÁTICO DO PAÍS

Para quem quer entender mais sobre como as eleições norte-americanas da semana passada podem influenciar as políticas do clima do país, recomendamos a leitura do artigo do WRI “5 U.S. Climate Stories to Watch as We Head into 2019”. As cinco histórias, ou perguntas, são:

  1. O novo Congresso conseguirá frear o desmantelamento das proteções climáticas pretendido pela administração Trump e encontrar caminhos para aprovar legislações importantes?
  2. Será que emergirão novos líderes republicanos para repor os defensores da ação climática que não estarão mais no Congresso?
  3. Será que o apoio à precificação do carbono crescerá?
  4. Quais estados serão os próximos a adotar metas ambiciosas para as fontes de energia limpas e renováveis?
  5. Para onde irá o setor de transportes?

https://www.wri.org/blog/2018/11/5-us-climate-stories-watch-we-head-2019

 

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