ClimaInfo, 9 de janeiro de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

Extinta a área de mudanças climáticas no ministério do meio ambiente

E segue a reestruturação do governo federal. Desta vez, o novo ministro do meio ambiente extinguiu a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas, responsável pelas políticas de controle do desmatamento e, junto com o Itamaraty, pelas políticas climáticas do país. Salles justificou dizendo que a área servia para pessoas fazerem “turismo internacional às custas do governo”.

Até agora não se sabe quem cuidará – se cuidará – da Política Nacional de Mudança do Clima, do Plano Nacional de Adaptação e de uma série de outros trabalhos que foram fruto de anos de dedicação de técnicos e especialistas que trouxeram ao país o respeito da comunidade internacional e exemplo a ser seguido, como no caso do combate ao desmatamento.

 

Para Salles, aumento do desmatamento é culpa do Ibama

Em entrevista para o jornal O Globo, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, acusou o Ibama de ser responsável pelo aumento do desmatamento. “O percentual de aumento do desmatamento demonstra que a política de fiscalização pirotécnica não funciona. Isso não tem resultado prático, tanto que aumentou o desmatamento. Se a gente tivesse uma política certa, o desmatamento não teria aumentado. Quer prova maior? O aumento não foi no nosso governo. Foi na gestão da Suely, não foi na minha. Essa conta é dela, não é minha”.

Parece não ter ocorrido ao ministro que sem a fiscalização, insuficiente que foi, o desmatamento teria sido ainda maior. Em todo caso, o ministro parece ter a receita para conter o desmatamento. Nossa torcida é para que ele acerte a mão.

A respeito da sequência infeliz de tuítes e retirada de tuítes de Salles e do presidente, que acabou levando à renúncia da presidente do Ibama, um editorial d’O Estado de São Paulo deu uma chamada no novo governo dizendo, ao final, que: “Nos últimos anos, o Brasil sofreu, por várias causas, atribulações que dificultaram enormemente a superação da crise. Só faltava que o presidente da República alimentasse e difundisse rumores sem comprovação. O momento exige mais seriedade.”

 

O Brasil nada deve na luta climática?

O Brasil não deve nada na luta contra a mudança climática e deve ser pago pelo que fez até agora, disse o novo ministro do Meio Ambiente à Bloomberg. Para Salles, o Acordo de Paris deve trazer benefícios econômicos para o país e, se o Acordo limitar a produção ou o uso da terra, o Brasil pode se retirar. “O Brasil não é um devedor. Somos credores (…) Nossa parte precisa ser remunerada e, em relação ao que fizemos até agora, a questão é quanto, quando e como?”

Contrariando as informações oficiais de seu próprio ministério, Salles disse que até dois terços do desmatamento da Amazônia ocorrem em reservas indígenas ou áreas de conservação, enquanto o site do MMA mostra que, em 2018, o desmatamento em reservas indígenas e áreas de conservação constituía apenas 15% do total.

Para o Observatório do Clima, a lógica do Acordo de Paris determina que todos os países, mesmo os em desenvolvimento com responsabilidade historicamente limitada, devem agir se quiserem limitar o aumento de temperatura a dois graus centígrados neste século.

 

Os planos para o programa nuclear brasileiro

A experiência do Almirante Bento Albuquerque no desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro certamente pesou na sua indicação para o ministério de minas e energia. Antes mesmo da posse, o Almirante defendia a conclusão da usina nuclear de Angra 3 como estratégica para o país. Ainda no governo Temer, foi iniciada uma busca por um investidor estrangeiro que topasse bancar os mais de R$ 16 bilhões necessários para concluir a obra em troca de uma participação nos seus resultados. Ontem, o secretário especial do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Adalberto Vasconcelos, disse que a conclusão de Angra 3 pode vir para seu programa. E a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM) entendeu do ministro que o novo governo está disposto a discutir a abertura do setor, posto que as jazidas comerciais de urânio no país não suprem a demanda das duas usinas em funcionamento.

 

As ameaças à exportações de carne

Um dos temas no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, no final do mês, é o posicionamento em favor da redução do consumo de carne bovina. Menos carne, para o Fórum, significa mais saúde e menos emissões de metano.

Na contramão, as exportações de carne brasileiras bateram o recorde no ano passado, apesar dos problemas sanitários denunciados pela operação Carne Fraca. E o governo brasileiro vinha fazendo gestões junto à Organização Mundial do Comércio visando uma negociação plurilateral para reduzir as tarifas de importação de produtos da cadeia produtiva de proteína animal. Não se sabe qual é a posição do ministro Ernesto-anti-multilateralismo-Araújo.

Por falar em agro, nas últimas semanas o preço do petróleo parou de cair e ensaia uma ligeira subida, com uma OPEP querendo que o barril volte ao patamar de US$ 80. O mercado internacional de açúcar, vendo que o etanol brasileiro fica mais competitivo do que a gasolina, antevê uma redução na exportação de açúcar daqui e elevou sua cotação nas bolsas de commodities, como diz o título de uma matéria no Valor de ontem: “Movido a petróleo, açúcar dispara (na bolsa de) Nova York”.

 

O que acompanhar no mundo climático em 2019

O pessoal da Axios fez uma lista dos temas climáticos mais importantes a serem acompanhados ao longo do ano.

  1. A política climática nos EUA.
  2. O andamento das ações climáticas na justiça (dos EUA e Europa).
  3. O carvão e a nuclear em dificuldades.
  4. Os efeitos colaterais do protecionismo (em especial Trump x China).
  5. Precificação e taxação de carbono.
  6. As alavancas da demanda de petróleo.
  7. A montanha russa dos preços do petróleo.
  8. A crescente desconexão climática.
  9. As consequências das eleições no Brasil e na Austrália.

A matéria da Axios explica cada um desses temas e sua importância ao longo do ano.

 

Os 10 artigos científicos sobre o clima mais acessados em 2018

O pessoal da Carbon Brief listou os artigos científicos que geraram mais matérias de jornais, mais tuítes e mais posts em murais no Facebook. A lista dos dez mais é a seguinte:

  1. Trajetórias do sistema da Terra ao longo do Antropoceno.
  2. Aquecimento global transforma os recifes de coral.
  3. Cai a oferta de cerveja devido a extremos de calor e secas.
  4. O balanço de massa da cobertura de gelo da Antártida entre 1992 e 2017.
  5. Padrões espaciais e temporais do branqueamento de corais no Antropoceno.
  6. Reduzir os impactos ambientais dos alimentos por meio dos produtores e consumidores.
  7. A pegada de carbono do turismo.
  8. O desaparecimento dos maiores e mais antigos baobás africanos.
  9. A redução na abundância de artrópodes provocada pelo clima reestrutura a rede alimentar na selva tropical.
  10. Modelo climático mostra que grandes centrais solares e eólicas no Saara aumentam a chuva e a vegetação.

A matéria da Carbon Brief fala um pouco de cada artigo e dá os links para os artigos.

 

O que acompanhar na ciência climática em 2019

O pessoal da revista Science fez sua lista do que a ciência pode gerar de manchetes. A seleção climática é a seguinte:

  1. Ciência do clima: muita atenção ao gelo polar.
  2. Ciência do clima: testes da geoengenharia para reduzir a radiação solar.
  3. Política científica: alguém para assoprar ciência para o Trump.
  4. Conservação: as avaliações dos países quanto à sua biodiversidade.

 

Como implantar uma política de precificação de emissões

O presidente Macron tentou aumentar do preço dos combustíveis em outubro e conseguiu provocar protestos históricos dos “coletes amarelos” que persistem até agora, tempos depois de ele ter voltado atrás. O aumento de Macron atingiu mais a população rural e mais pobre, que usa carros velhos e beberrões e que queimam combustíveis para aquecer suas casas. Para piorar, ele reduziu outro imposto que pesam sobre os mais ricos. Deu no que deu e, a partir daí, a recomendação é a de tomar muito cuidado ao aplicar instrumentos econômicos para mitigar emissões, como é o caso dos impostos de carbono e o mercado de emissões.

O primeiro ministro da Irlanda, Leo Varadkar, entende ser importante taxar as emissões, mas enxerga um caminho diferente ao de Macron. “Entendo que um imposto sobre o carbono existe por uma razão: é um imposto ambiental feito para mudar o comportamento. Não é criado para tirar dinheiro do seu bolso.” A proposta de Varadkar é que fazer reverter as receitas do imposto ou devolvendo diretamente aos cidadãos, ou através de maiores créditos fiscais ou alocando-os no sistema previdenciário.

 

Média do aquecimento dos oceanos é equivalente à explosão de uma bomba atômica por segundo

Na média dos últimos 150 anos, a energia adicionada aos oceanos pelo aquecimento global antrópico foi equivalente à liberada pela explosão de uma bomba atômica (como a jogada sobre Hiroshima) a cada segundo. Mas o aquecimento se acelerou ao longo do tempo, à medida que as emissões de carbono aumentaram, de modo que estamos agora adicionando energia equivalente a entre três e seis destas explosões atômicas por segundo. O total do calor capturado pelos oceanos nos últimos 150 anos foi da ordem de mil vezes o consumo anual de energia da população global. As estimativas são de um trabalho publicado na PNAS.

Os oceanos têm um papel importante no desequilíbrio energético da Terra provocado pela humanidade. A maior parte do excesso de energia armazenada no sistema climático devido às emissões antropogênicas de gases de efeito estufa é absorvida pelos oceanos e leva à sua expansão térmica e ao aumento do nível do mar, com apenas alguns por cento aquecendo o ar, a terra e as calotas de gelo. Os pesquisadores acreditam que o trabalho ajudará a melhorar as previsões de aumento do nível do mar.

 

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