Extinta a área de mudanças climáticas no ministério do meio ambiente
E segue a reestruturação do governo federal. Desta vez, o novo ministro do meio ambiente extinguiu a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas, responsável pelas políticas de controle do desmatamento e, junto com o Itamaraty, pelas políticas climáticas do país. Salles justificou dizendo que a área servia para pessoas fazerem “turismo internacional às custas do governo”.
Até agora não se sabe quem cuidará – se cuidará – da Política Nacional de Mudança do Clima, do Plano Nacional de Adaptação e de uma série de outros trabalhos que foram fruto de anos de dedicação de técnicos e especialistas que trouxeram ao país o respeito da comunidade internacional e exemplo a ser seguido, como no caso do combate ao desmatamento.
Para Salles, aumento do desmatamento é culpa do Ibama
Em entrevista para o jornal O Globo, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, acusou o Ibama de ser responsável pelo aumento do desmatamento. “O percentual de aumento do desmatamento demonstra que a política de fiscalização pirotécnica não funciona. Isso não tem resultado prático, tanto que aumentou o desmatamento. Se a gente tivesse uma política certa, o desmatamento não teria aumentado. Quer prova maior? O aumento não foi no nosso governo. Foi na gestão da Suely, não foi na minha. Essa conta é dela, não é minha”.
Parece não ter ocorrido ao ministro que sem a fiscalização, insuficiente que foi, o desmatamento teria sido ainda maior. Em todo caso, o ministro parece ter a receita para conter o desmatamento. Nossa torcida é para que ele acerte a mão.
A respeito da sequência infeliz de tuítes e retirada de tuítes de Salles e do presidente, que acabou levando à renúncia da presidente do Ibama, um editorial d’O Estado de São Paulo deu uma chamada no novo governo dizendo, ao final, que: “Nos últimos anos, o Brasil sofreu, por várias causas, atribulações que dificultaram enormemente a superação da crise. Só faltava que o presidente da República alimentasse e difundisse rumores sem comprovação. O momento exige mais seriedade.”
O Brasil nada deve na luta climática?
O Brasil não deve nada na luta contra a mudança climática e deve ser pago pelo que fez até agora, disse o novo ministro do Meio Ambiente à Bloomberg. Para Salles, o Acordo de Paris deve trazer benefícios econômicos para o país e, se o Acordo limitar a produção ou o uso da terra, o Brasil pode se retirar. “O Brasil não é um devedor. Somos credores (…) Nossa parte precisa ser remunerada e, em relação ao que fizemos até agora, a questão é quanto, quando e como?”
Contrariando as informações oficiais de seu próprio ministério, Salles disse que até dois terços do desmatamento da Amazônia ocorrem em reservas indígenas ou áreas de conservação, enquanto o site do MMA mostra que, em 2018, o desmatamento em reservas indígenas e áreas de conservação constituía apenas 15% do total.
Para o Observatório do Clima, a lógica do Acordo de Paris determina que todos os países, mesmo os em desenvolvimento com responsabilidade historicamente limitada, devem agir se quiserem limitar o aumento de temperatura a dois graus centígrados neste século.
Os planos para o programa nuclear brasileiro
A experiência do Almirante Bento Albuquerque no desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro certamente pesou na sua indicação para o ministério de minas e energia. Antes mesmo da posse, o Almirante defendia a conclusão da usina nuclear de Angra 3 como estratégica para o país. Ainda no governo Temer, foi iniciada uma busca por um investidor estrangeiro que topasse bancar os mais de R$ 16 bilhões necessários para concluir a obra em troca de uma participação nos seus resultados. Ontem, o secretário especial do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Adalberto Vasconcelos, disse que a conclusão de Angra 3 pode vir para seu programa. E a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM) entendeu do ministro que o novo governo está disposto a discutir a abertura do setor, posto que as jazidas comerciais de urânio no país não suprem a demanda das duas usinas em funcionamento.
As ameaças à exportações de carne
Um dos temas no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, no final do mês, é o posicionamento em favor da redução do consumo de carne bovina. Menos carne, para o Fórum, significa mais saúde e menos emissões de metano.
Na contramão, as exportações de carne brasileiras bateram o recorde no ano passado, apesar dos problemas sanitários denunciados pela operação Carne Fraca. E o governo brasileiro vinha fazendo gestões junto à Organização Mundial do Comércio visando uma negociação plurilateral para reduzir as tarifas de importação de produtos da cadeia produtiva de proteína animal. Não se sabe qual é a posição do ministro Ernesto-anti-multilateralismo-Araújo.
Por falar em agro, nas últimas semanas o preço do petróleo parou de cair e ensaia uma ligeira subida, com uma OPEP querendo que o barril volte ao patamar de US$ 80. O mercado internacional de açúcar, vendo que o etanol brasileiro fica mais competitivo do que a gasolina, antevê uma redução na exportação de açúcar daqui e elevou sua cotação nas bolsas de commodities, como diz o título de uma matéria no Valor de ontem: “Movido a petróleo, açúcar dispara (na bolsa de) Nova York”.
O que acompanhar no mundo climático em 2019
O pessoal da Axios fez uma lista dos temas climáticos mais importantes a serem acompanhados ao longo do ano.
- A política climática nos EUA.
- O andamento das ações climáticas na justiça (dos EUA e Europa).
- O carvão e a nuclear em dificuldades.
- Os efeitos colaterais do protecionismo (em especial Trump x China).
- Precificação e taxação de carbono.
- As alavancas da demanda de petróleo.
- A montanha russa dos preços do petróleo.
- A crescente desconexão climática.
- As consequências das eleições no Brasil e na Austrália.
A matéria da Axios explica cada um desses temas e sua importância ao longo do ano.
Os 10 artigos científicos sobre o clima mais acessados em 2018
O pessoal da Carbon Brief listou os artigos científicos que geraram mais matérias de jornais, mais tuítes e mais posts em murais no Facebook. A lista dos dez mais é a seguinte:
- Trajetórias do sistema da Terra ao longo do Antropoceno.
- Aquecimento global transforma os recifes de coral.
- Cai a oferta de cerveja devido a extremos de calor e secas.
- O balanço de massa da cobertura de gelo da Antártida entre 1992 e 2017.
- Padrões espaciais e temporais do branqueamento de corais no Antropoceno.
- Reduzir os impactos ambientais dos alimentos por meio dos produtores e consumidores.
- A pegada de carbono do turismo.
- O desaparecimento dos maiores e mais antigos baobás africanos.
- A redução na abundância de artrópodes provocada pelo clima reestrutura a rede alimentar na selva tropical.
- Modelo climático mostra que grandes centrais solares e eólicas no Saara aumentam a chuva e a vegetação.
A matéria da Carbon Brief fala um pouco de cada artigo e dá os links para os artigos.
O que acompanhar na ciência climática em 2019
O pessoal da revista Science fez sua lista do que a ciência pode gerar de manchetes. A seleção climática é a seguinte:
- Ciência do clima: muita atenção ao gelo polar.
- Ciência do clima: testes da geoengenharia para reduzir a radiação solar.
- Política científica: alguém para assoprar ciência para o Trump.
- Conservação: as avaliações dos países quanto à sua biodiversidade.
Como implantar uma política de precificação de emissões
O presidente Macron tentou aumentar do preço dos combustíveis em outubro e conseguiu provocar protestos históricos dos “coletes amarelos” que persistem até agora, tempos depois de ele ter voltado atrás. O aumento de Macron atingiu mais a população rural e mais pobre, que usa carros velhos e beberrões e que queimam combustíveis para aquecer suas casas. Para piorar, ele reduziu outro imposto que pesam sobre os mais ricos. Deu no que deu e, a partir daí, a recomendação é a de tomar muito cuidado ao aplicar instrumentos econômicos para mitigar emissões, como é o caso dos impostos de carbono e o mercado de emissões.
O primeiro ministro da Irlanda, Leo Varadkar, entende ser importante taxar as emissões, mas enxerga um caminho diferente ao de Macron. “Entendo que um imposto sobre o carbono existe por uma razão: é um imposto ambiental feito para mudar o comportamento. Não é criado para tirar dinheiro do seu bolso.” A proposta de Varadkar é que fazer reverter as receitas do imposto ou devolvendo diretamente aos cidadãos, ou através de maiores créditos fiscais ou alocando-os no sistema previdenciário.
Média do aquecimento dos oceanos é equivalente à explosão de uma bomba atômica por segundo
Na média dos últimos 150 anos, a energia adicionada aos oceanos pelo aquecimento global antrópico foi equivalente à liberada pela explosão de uma bomba atômica (como a jogada sobre Hiroshima) a cada segundo. Mas o aquecimento se acelerou ao longo do tempo, à medida que as emissões de carbono aumentaram, de modo que estamos agora adicionando energia equivalente a entre três e seis destas explosões atômicas por segundo. O total do calor capturado pelos oceanos nos últimos 150 anos foi da ordem de mil vezes o consumo anual de energia da população global. As estimativas são de um trabalho publicado na PNAS.
Os oceanos têm um papel importante no desequilíbrio energético da Terra provocado pela humanidade. A maior parte do excesso de energia armazenada no sistema climático devido às emissões antropogênicas de gases de efeito estufa é absorvida pelos oceanos e leva à sua expansão térmica e ao aumento do nível do mar, com apenas alguns por cento aquecendo o ar, a terra e as calotas de gelo. Os pesquisadores acreditam que o trabalho ajudará a melhorar as previsões de aumento do nível do mar.
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