Brumadinho: reprise de uma tragédia anunciada

4 de fevereiro de 2019

O ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, insistiu em demonstrar seu despreparo em artigo publicado pela Folha, dizendo que as investigações das causas não são importantes face às vítimas fatais. A continuar assim, novos desastres produzirão mais vítimas sem que se investigue as causas e assim por diante, num ciclo vicioso sem fim.

Neste final de semana, por meio de diferentes abordagens, Marcelo Leite, Elio Gaspari e outros escreveram que o novo governo está tecendo a mortalha de muitas outras tragédias. Denunciam como congressistas e membros do governo receberam milhões das mineradoras em doações para as suas campanhas, constituindo no Congresso e no governo uma nova bancada, a bancada da lama, que precisa urgentemente de uma “operação lava-lama”.

Muitos agentes governamentais vêm dizendo que as populações de Brumadinho e Mariana estão preocupadas com uma eventual perda de empregos. Esse argumento irresponsável persiste pelo menos desde a abolição, quando milhares de escravos libertos provocariam o caos na economia e na sociedade.

E Ricardo Salles continua tocando uma missa de uma nota só, dizendo que é preciso colocar foco, recursos e pessoal no que “importa”. Ele responsabiliza governos anteriores por não fiscalizar direito o que “importa”. Pelas declarações anteriores, as propriedades rurais não precisam ser fiscalizadas, indústrias podem se autodeclarar limpas e mineradoras podem dizer que não fazem mal à sociedade até o momento em que causam tragédias world class.

O governo instituiu um Conselho Ministerial com o poder de apenas “propor” e “recomendar” ações. A composição inicial do Conselho não incluiu os ministérios da justiça e da economia. E, pelo menos até agora, a medida mais concreta mencionada pelo grupo foi recomendar a realização imediata de fiscalizações em barragens com risco de dano potencial alto. É a típica ação da bancada da lama: fazer espuma para não comprometer as receitas que a sustentam.

Marcos Lisboa reconta a história da explosão do ônibus espacial Challenger e o esforço de parte da comunidade espacial para abafar o ocorrido. Ele diz que “afinal, segundo muitos, como houve tragédia, alguém deve ter cometido crime. Basta prender os culpados. Dispensa-se a investigação técnica e vereditos são emitidos com a rapidez de uma cartomante. As tragédias merecem maior cuidado e ciência para que se previna a ocorrência de novas vítimas.” Ambos, investigação técnica e vereditos, são essenciais para o bom funcionamento das instituições. A Vale e a Samarco são tão responsáveis pelos desastres quanto a Nasa foi pelo desastre da Challenger. Não foram “acidentes” da natureza.

Boletim ClimaInfo, 04 de fevereiro 2019

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