ClimaInfo, 15 de março de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

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Combater a mudança climática é (também) combater o crime organizado

Sendo “o maior sumidouro de carbono terrestre do mundo, a Amazônia é uma frente fundamental na luta contra a mudança do clima. Mas a região também abriga um próspero submundo criminoso que pode sabotar os esforços de redução das emissões de gases de efeito estufa”, escrevem Robert Muggah, Adriana Abdenur e Ilona Szabó no Project Syndicate. De fato, “reverter a mudança do clima não é somente sobre regular os poluidores. É também combater o crime organizado. O desmatamento da Amazônia se acelerou rapidamente nos últimos anos, resultando em uma perda dramática da cobertura florestal. Desde a década de 1970, cerca de um quinto da vegetação original da região foi eliminada pela agroindústria, a exploração madeireira e a mineração. Entre 50% e 80% deste desmatamento foi decorrente de atividades ilegais, incluindo a mineração de ouro. Se a tendência atual continuar, outros 20% da cobertura florestal desaparecerão até 2030.” O artigo fala da mineração, tanto dos milhares de garimpos ilegais como das megaoperações da Vale e da Anglo American. Mas o foco maior recai sobre o aumento da criminalidade existente por trás da destruição da floresta. Os autores dizem que os cartéis da droga baseados nos países vizinhos ao Brasil estão enxergando a oportunidade de extrair muito ouro, e como ex-membros das FARC e da ELN controlam muitos garimpos. O impacto destas operações sobre a floresta é grande e os autores estimam que 10% da perda de cobertura vegetal se deva a elas. E junto vêm a contaminação por mercúrio e a violência que este ambiente degradante gera. O remédio sugerido é uma combinação de muita vontade política com a colaboração entre os países da região e o apoio sério da comunidade internacional. Os três autores são ligados de diferentes maneiras ao Instituto Igarapé, e Ilona Szabó recentemente foi protagonista do primeiro veto bolsonarista ao ministro Moro.

 

Ricardo Salles pede combate internacional aos eventos extremos, mas não menciona a mudança do clima

O ministro Ricardo Salles falou da importância da comunidade internacional combater os eventos extremos na Assembleia da ONU Meio Ambiente, no Quênia. “Eventos extremos criados pelo homem ou pela natureza precisam ser abordados pela comunidade internacional. Esses eventos tendem a atingir mais duramente as populações mais vulneráveis. O Programa de Meio Ambiente da ONU e seus Estados membros precisam fazer um esforço maior para enfrentar esses desafios frequentes.” Curiosamente, no longo discurso não foi feita sequer uma única menção à palavra ‘clima’, muito menos às mudanças climáticas. Para ser justo, a palavra aparece uma única vez, quando o ministro agradeceu a doação feita ao Brasil pelo Fundo Verde do Clima pelo país ter reduzido o desmatamento entre 2014 e 2015. Aliás, Salles disse que o desmatamento caiu mais de 70% desde 2004, sem mencionar que a queda real parou em 2012 e que, desde então, a área desmatada anualmente aumentou em 50%. Salles aproveitou a deixa para vender seu peixe, ou melhor, sua carne, dizendo que “a produção de carne brasileira e o ambiente não são conflitantes entre si. Nossa pecuária extensiva é uma resposta bem-sucedida para reduzir as emissões de gases do efeito estufa”. O ministro não mencionou que, de 2006 para cá, o rebanho diminuiu por volta de 20% enquanto as emissões do arroto do rebanho ficaram quase constantes e, portanto, as emissões por cabeça aumentaram. Esses dados vieram do SEEG e do Censo Agropecuário do IBGE. Daniela Chiaretti escreveu para o Valor uma matéria a respeito do pronunciamento destacando a crítica à ONU feita por Salles.

 

Brasil veta resolução da ONU sobre desmatamento e EUA veta resolução sobre geoengenharia

Na Assembleia da ONU Meio Ambiente que termina hoje em Nairóbi, a União Europeia propôs uma resolução pelo desmatamento zero. A resolução fazia parte de uma série de medidas ligando nutrição, produção de alimentos e uso da terra. O Brasil quis colocar a palavra “ilegal” entre o desmatamento e o zero, como na nossa NDC. A União Europeia não concordou e retirou a proposta.

A Suíça apresentou uma outra proposta estabelecendo um cronograma para a criação de uma estrutura de governança para a geoengenharia. A Suíça e muitos outros países não querem ver experiências e projetos acontecendo sem que se conheça bem os efeitos principais e colaterais das intervenções. Os EUA e a Arábia Saudita vetaram a proposta, dizendo que o tema climático tem um foro dedicado, a Convenção do Clima.

Analogamente ao momento particularmente sensível que por aqui vivemos, deixar pesquisadores e empreendedores soltos com ideias que podem mudar o clima do planeta é como deixar armas nas mãos de adolescentes descontrolados. Dani Chiaretti, no Valor, e Sara Stefanini, no Carbon Brief, escrevem sobre os vetos.

 

Incêndios mudam o balanço de carbono na Floresta Amazônica

Pesquisadores da universidade inglesa de Lancaster publicaram uma série de artigos na Philosophical Transactions of the Royal Society sobre os impactos destrutivos nos ciclos de carbono da floresta Amazônica provocados por incêndios no bioma. Os autores viveram estes impactos exatamente durante o período de forte seca provocada pelo El Niño de 2015-16. Erika Berenguer disse que a cena era como se estivessem “bem no meio de um churrasco gigante da maior Floresta Tropical do mundo”. Artigo na Mongabay diz que “os incêndios mudam significativamente a estrutura da floresta, fazendo com que ela acumule menos carbono até mesmo décadas após uma queima e que a queima de matéria orgânica morta no sub-bosque é capaz de liberar muito mais carbono na atmosfera do que se pensava.”

Em tempo: o número de novembro passado da Philosophical Transactions of the Royal Society é quase todo dedicado ao largo leque de impactos do El Niño de 2015-16 sobre a floresta amazônica.

 

Salles amordaça o Ibama e dispensa R$ 1 bilhão que seria dedicado pelo órgão a projetos de revitalização do São FranciscoNovo no ClimaInfo

No ano passado, a então presidente do Ibama, Suely Araújo, comemorou o início do processo de conversão de multas ambientais para um fundo dedicado a macroprogramas governamentais. As empresas que optassem pelo fundo ganhavam um desconto substancial no valor da multa, como foi o caso da Petrobrás e de outras grandes. Para o emprego dos recursos, o Ibama desenhou um programa de recuperação da vegetação nativa da bacia do São Francisco visando a revitalização do rio. Mas o ministro do meio ambiente, Rodrigo Salles, suspendeu estes processos, o que, na prática, fechou a porta para a conversão de multas. Agora as empresas autuadas ganharão um desconto, menor, se pagarem diretamente por projetos por elas escolhidos. Com isso, os recursos foram dispersados, perdeu-se eficiência e aumentou a possibilidade de fraudes e outras clássicas enganações. O crime (ambiental), mais uma vez, voltou a compensar.

Salles também baixou uma ordem para que ninguém do Ibama preste informações à imprensa. Agora, todos os pedidos de informação devem ser dirigidos diretamente ao ministério. Em caso de denúncias ou outros constrangimentos, a Lei de Acesso à Informação garante ao ministério pelo menos um mês de silêncio total. De modo que o governo vai ficando transparente em seu autoritarismo.

 

O Litro de Luz que ilumina um quilombo

O Luz para Todos ainda não chegou no quilombo Kalunga, que fica no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, norte de Goiás. Mas a ONG Litro de Luz chegou. Lá, eles estão ensinando como colocar uma lâmpada LED dentro de uma garrafa PET e como conectá-la a uma bateria recarregável. Durante o dia, as baterias são carregadas por um sistema fotovoltaico, e permanecem acesas por 5 horas durante as noites. O suficiente para dispensar as lamparinas a querosene, a poluição das casas que estas causam e o gasto com o combustível. A Deutsche Welle escreveu sobre o projeto em inglês e colocou no seu site um vídeo em português.

 

Renováveis geram ⅔ da demanda elétrica alemã

Na semana passada, as fontes renováveis supriram 65% da demanda alemã; só as eólicas deram conta de quase metade de toda a eletricidade consumida. O país havia definido como meta estender esses 65% para todo o ano. O que aconteceu na semana passada é um sinal claro de que a meta é factível. Quem perdeu mais espaço foi o carvão. Em 2018, esta fonte fóssil e suja respondeu em média por 24% da eletricidade gerada. Na semana passada, a participação caiu pela metade.

 

Europa: poluição do ar mata mais que o cigarro

Uma pesquisa recém publicada relaciona 800.000 mortes anuais precoces na Europa à poluição do ar. As emissões da queima de combustíveis fósseis, portanto, são mais mortais do que o cigarro. A estimativa é que respirar o ar sujo das cidades europeias encurta a vida em dois anos. Além de afetar o sistema respiratório, a poluição entra pela corrente sanguínea e leva à morte por complicações cardíacas e cerebrovasculares. Para ser preciso, só as mortes por doenças cardíacas são o dobro das doenças respiratórias, que incluem câncer do pulmão, pneumonia e doenças pulmonares obstrutivas crônicas. O The Guardian e a Newsweek escrevem a respeito.

Em tempo – Retomando uma nota de ontem sobre um projeto de decreto legislativo que quer permitir a produção e a venda no Brasil de automóveis movidos a diesel: as emissões da queima de diesel são, do ponto de vista da saúde humana, muito piores do que a queima de gasolina e etanol. Razão mais que o suficiente para i) manter a proibição de carros a passeio a diesel; ii) exigir a imediata aplicação de padrões de emissão compatíveis com o que há de mais moderno; e iii) iniciar o quanto antes a troca da frota de ônibus fósseis por modelos elétricos.

 

É hoje: jovens de todo o mundo se manifestam contra a inação frente à crise climática

Hoje, 15 de março, jovens de todo o mundo não irão às aulas em defesa de seu próprio futuro. Eles exigem que os líderes de governos e corporações tomem as medidas drásticas imprescindíveis para conter o aquecimento global. No Brasil, acontecerão manifestações em várias cidades, e uma matéria da Deutsche Welle fala com jovens que organizaram algumas destas. O pessoal do Engajamundo colocou no YouTube, um vídeo contando um pouco do movimento. Este mapa mostra onde acontecerão as manifestações no mundo. Segundo o The Guardian, estão acontecendo movimentos em quase 100 países, envolvendo centenas de milhares de jovens. Só na Austrália, a greve acontece em 55 diferentes locais que devem mobilizar mais de 40 mil estudantes. A onda tem como figura central a sueca Greta Thunberg, quem avisou que “os estudantes não têm outra escolha a não ser fechar seus livros e sair de suas classes para exigir ações climáticas sérias”. Na 4a feira, parlamentares noruegueses indicaram o nome de Greta para o Nobel da Paz.

Em tempo: por falar no prêmio, um casal americano começou uma campanha pela criação de um Prêmio Nobel dedicado à luta contra as mudanças climáticas.

 

Para ir

II Fórum Internacional sobre a Amazônia

O Fórum quer trazer importantes olhares sobre toda a região Amazônica, contribuindo para a construção do conhecimento científico, a valorização de saberes e a defesa dos povos, populações e do ambiente, além de levantar os desafios a serem enfrentados e as formas de resistência.

Serão quatro painéis de debate que abordarão temas significativos para a região Amazônica. Também haverá um espaço privilegiado para a apresentação de trabalhos e pôsteres. Os participantes poderão ainda propor rodas de conversa e oficinas. No II FIA acontecerá uma feira de produtos da Amazônia e atividades culturais.

De 4 a 7 de junho, na Universidade de Brasília. A inscrição é gratuita.

Mais informações aqui.

 

Para ler

Especial do Financial Times sobre o Futuro da Energia

O jornal Financial Times publicou uma série de matérias sobre o futuro da energia. Infelizmente a maioria dos artigos estão atrás do seu paywall.

– Engenheiros de painéis solares examinam o lado escuro.

Grandes petroleiras buscam um futuro em biocombustíveis mais verdes.

Lobby nuclear empurra plantas menores e mais baratas.

Scooters elétricas brigam para provar seu valor ‘verde’.

– Empresas de geração oferecem soluções fora da rede para cidades africanas.

– Procura-se: redes de alta voltagem de longa distância para conectar continentes.

Setor eólico à espera da próxima onda de turbinas.

– Os nórdicos atacam o calcanhar de Aquiles da incineração.

– Petroleiras creem que a Inteligência Artificial aumentará seus lucros.

 

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