O custo e o trabalho que dá desmontar uma usina nuclear

Construir uma usina nuclear custa caro, talvez menos que a usina de Angra 3 custará ao Brasil, mas desmontar a usina ao final da sua vida útil também sai muito caro. Um exemplo disso é o desmonte da usina de Mülheim-Kärlich que começou em 2004 e só terminará em 2023. Uma usina de mesmo porte custaria, hoje, por volta de US$ 6 bilhões para construir e os alemães gastarão US$ 1,2 bilhões e 20 anos para desmontá-la. O governo alemão ainda não encontrou um sítio seguro para depositar o combustível nuclear radioativo dessa usina. Para piorar, esse material continua sendo perigoso durante a vida média dos seus componentes: no caso do plutônio, por exemplo, ela é da ordem de 500 mil anos. Não há como garantir a segurança de um sítio por esse tempo todo. Outro problema é com o material da planta em si – o aço, o concreto e os demais metais. Por enquanto, eles ficam estocados até que a radiação de cada peça caia abaixo de seus respectivos níveis de segurança. Depois, o material é reciclado ou disposto em aterros. Mesmo os alemães, com toda a fama de cuidado e zelo, temem que um pedaço de metal radioativo acabe virando um aparelho dentário de uma criança e que o tal nível mínimo acabe se revelando bem perigoso.

O ministro de minas e energia, Almirante Bento Albuquerque, tem dito que terminar a obra de Angra 3 é estratégico para o país. Mas ninguém fala que nós também não temos onde estocar o combustível nuclear usado. Por enquanto, o combustível usado de Angra 1 e 2 fica dentro dos reatores e o mesmo acontecerá, se e quando Angra 3 começar a funcionar. Ao que se saiba, não há planos concretos do que fazer com o combustível usado quando elas forem sendo desativadas. E talvez valha a pena abrir uma caderneta de poupança para cada usina, para o dia em que começar seu desmonte.

A notícia do desmonte da usina alemã saiu na Deutsche Welle e na Ambiente Brasil.

 

Boletim ClimaInfo, 14 de março de 2019.