ClimaInfo, 29 de março de 2019

28 de março de 2019

Paulo Guedes promete recursos do petróleo “para sempre” a estados e municípios, desconsiderando as tendências dos mercados fósseis e o Acordo de Paris

O ministro da economia, Paulo Guedes, apresentou nesta 3a feira ao senado os três pilares de seu projeto de salvamento financeiro dos estados e municípios: (1) a já apresentada reforma da Previdência, (2) alterações no pacto federativo que permitam descentralizar recursos e desvincular o orçamento federal e (3) mudanças nos leilões de petróleo que permitam a transferência de 70% dos recursos para estados e municípios. As mudanças nos leilões de petróleo passariam, segundo a Gazeta do Povo, “pela revisão do contrato de cessão onerosa entre a Petrobras e a União (…) [de modo a] permitir que outras empresas explorem o excedente em áreas de pré-sal que hoje pertencem à Petrobras”. Estamos falando de algo da ordem de R$ 100 bilhões, segundo estimativa feita no governo Temer. Guedes disse querer “acelerar a extração de petróleo, [o] que vai acelerar as finanças públicas brasileiras”. E acrescentou: “Isso é para mudar a república Federativa do Brasil. Vai render dinheiro para sempre. É um dinheiro que vai chegar irrigando o Brasil”.

Sugerimos a Guedes e à sua equipe a leitura dos relatórios anuais recentes da Agência Internacional de Energia e de algumas das grandes petroleiras internacionais antes de prometer aos estados e municípios que o petróleo lhes entregará um fluxo de recursos elevado e eterno. Ou que deixem claro que, quando dizem “para sempre”, na verdade querem dizer por alguns anos, no máximo poucas décadas.

 

Tecnologia ajuda índios a combater madeireiros ilegais

Quem anda pela floresta amazônica percebe que silêncio é uma coisa rara por lá. Os Tembé, tribo que vive na fronteira entre o Pará e o Maranhão, buscaram ajuda para ouvir o som de motosserras cortando sua floresta. Eles encontraram apoio na Rainforest Connection para a adaptação de velhos celulares alimentados por placas solares para captar e registrar os sons da floresta num raio de até 1 km. Um sistema simples de inteligência artificial, que usa a plataforma de aprendizado de máquina de código aberto do Google, aprendeu a distinguir os sons de motosserras, de caminhões e de outras fontes sonoras  estranhas. Ao captar, o sistema emite um alerta para a tribo. O cacique Naldo conta que “qualquer coisa que não seja canto de pássaro e grito de animal, a gente vai lá”.

 

Um retrato da energia solar fotovoltaica no Brasil

A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) publicou um infográfico com números do mercado fotovoltaico no Brasil e no mundo, com números de 2017 e 2018. Em 2017, o Brasil entrou para o clube dos 10 mais em termos de aumento de capacidade instalada, com a instalação de quase 1 GW. No mapa do total acumulado, ainda não aparecemos no mapa, embora, pelo tamanho e localização, teríamos tudo para estar. No total, já temos mais de 2,5 GW instalados, quase 2 GW em plantas de grande porte e 0,5 GW em placas distribuídas pelos telhados e estacionamentos do país. No primeiro leilão do qual participou, em 2013, uma planta fotovoltaica pegou um preço de mais de US$ 100 por MWh. No último leilão do ano passado, o mesmo MWh foi leiloado a menos de US$ 34, uma queda de 67%, mas ainda um pouco mais alto do que o obtido em leilões semelhantes realizados na Índia e no Chile.

 

O bilhão que as petroleiras gastaram em ações contra o clima

Está ficando comum ouvir CEOs das grandes petroleiras falarem de suas ações para o ‘esverdeamento’ de suas empresas, de como um dia os fósseis deixarão de serem consumidos e que o futuro de suas empresas está nas fontes limpas. Mas um relatório recém lançado pela Influence Map mostra que as cinco maiores petroleiras gastaram, só nos EUA, por volta de US$ 200 milhões por ano em lobbies para postergar, controlar ou bloquear políticas de enfrentamento da mudança do clima. Na campanha eleitoral do ano passado para o Congresso norte-americano, a Exxon, a Chevron e a britânica BP colocaram US$ 2 milhões em mensagens dirigidas no Facebook promovendo os benefícios do aumento da produção de combustíveis fósseis. A BP colocou US$ 13 milhões em uma campanha contra um imposto de carbono no estado de Washington. O The Guardian deu a notícia e uma conta feita pelo Energy Mix mostrou que, desde o Acordo de Paris de 2015, as grandes petroleiras gastaram US$ 1 bilhão em campanhas contra a ação climática.

Em tempo: relatório anual da McKinsey sobre o setor global de óleo e gás prevê o pico de máximo da demanda pelos fósseis  acontecerá nos próximos 15 anos.

 

Vazamentos de petróleo destroem vidas e o meio ambiente na Nigéria

Todo vazamento importante de petróleo, seja de um navio, plataforma ou oleoduto, vai direto para a primeira página dos jornais e sites e é destaque nos noticiários na TV. Menos os que ocorrem na Nigéria. Enquanto em todo os EUA vazam menos de 4 milhões de litros por ano, no delta do Níger, em particular no estado de Bayelsa, vazam dez vezes mais. O óleo contaminou terra, água, peixes e lavouras. Criou desemprego que serviu para aumentar a bandidagem e a militância islâmica. A expectativa de vida no Delta é dez anos menor do que no resto do país, que está em 55 anos. Esse valor coloca o país entre os 20 de menor expectativa de vida em todo o mundo. John Sentamu, a Baronesa Amos, Michael Watts, Njeri Kabeberi e James Thornton mandaram uma carta ao The Guardian relatando a situação e dizendo às grandes petroleiras que não zelam pelos vazamentos que estas “precisam respeitar a vida humana e limpar os danos que suas indústrias provocam, em qualquer lugar em que operem.”

 

O mercado de ações conhece muito da mudança do clima

Estudo comentado pela Economist mostra que o mercado financeiro, pelo menos a parte que negocia em mercados que dependem do clima, tem comportamento semelhante ao da pesquisa acadêmica mais avançada. Imaginemos uma Bolsa especializada em commodities agropecuárias que aceita apostas sobre a temperatura. Mais precisamente, apostas sobre o número de dias num mês nos quais a temperatura ficará acima e abaixo da média. Pegue cada conjunto de apostas, para cima ou para baixo, feitas entre 2001 e 2018, e coloque em um gráfico. Agora coloque em cada gráfico (acima e abaixo) as projeções de um modelo climático aceito pela comunidade científica como uma trajetória média, o chamado RCP 4.5. A pesquisa mostrou que as curvas são quase idênticas. Para a Economist, isso mostra que, quando o bolso é determinante, a melhor ciência é a melhor conselheira.

 

A viagem-teste de um navio movido com biocombustível de lixo

A maior companhia de navegação do mundo adaptou os motores de um de seus maiores navios, o Mette Maersk, para a queima de uma mistura de 20% de biocombustível de segunda geração produzido a partir de resíduos vegetais. O navio fará uma viagem de ida e volta entre Roterdã, na Holanda, e o porto de Shanghai, na China, um percurso de 25 mil milhas náuticas (46 mil km). O barco deixará de emitir 1.500 toneladas de CO2. Não chega a ser um espanto, mas é um passo.

 

Emissões da Índia aumentam 5%

O relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) sobre emissões divulgado nesta semana mostra as emissões da queima de combustíveis fósseis na Índia aumentando 4,8% e chegando a 2,3 GtCO2e. A Índia é o terceiro maior emissor global. Suas emissões, somadas às do EUA e às da China, correspondem a 70% das emissões por queima de fósseis. O país se comprometeu junto ao Acordo de Paris a instalar 100 GW de fotovoltaicas até 2022, passo importante para o alcance da meta de geração de 40% da sua eletricidade a partir de fontes limpas até 2030.

 

Gerador eólico voador

O vento perto da superfície do nosso planeta varia muito de lugar para lugar, ao longo do dia e ao longo do ano. Mas os vento na altitude de 300 metros são quase constantes em quase todo lugar. A Altaeros, empresa que faz dirigíveis a hélio, bolou um aerogerador flutuante. Feito de material muito leve e ligado a uma bóia de hélio, o gerador sobe até 300 metros e fica preso por cabos  de aço que também servem de condutor para a eletricidade produzida. Excetuando o gás, o aerogerador é mais barato do que as instalações com estruturas fixas usadas normalmente. A Altaeros pretende vender o sistema para locais isolados e desconectados das redes, e para bases militares remotas, que, hoje, queimam diesel.

 

A superenchente climática do meio-oeste americano

Os estados do centro-norte dos EUA – Nebraska, Dakota do Sul e Iowa – tiveram um inverno rigoroso. Como usualmente, o chão foi congelado. Não usual foi a chuva torrencial e prolongada que caiu neste mês. Não podendo ser absorvida pelo solo, a água correu para os rios, transbordando-os, e chegou ao grande Rio Missouri, que também transbordou. Ao longo do Missouri, os norte-americanos construíram uma série de diques para controlar a vazão e evitar enchentes. Só que foi tanta água, mas tanta, que os operadores tiveram que decidir entre abrir as comportas e inundar à jusante ou fechar as comportas, inundar à montante e ainda correr o risco de rompimento das barragens. A decisão foi pela abertura de todas a comportas. O resultado transformou o rio num imenso lago. Uma das bases aéreas mais importantes do país foi inundada, a pista ficou inoperante e vários edifícios foram danificados. Na reserva indígena de Pine Ridge, teve gente que ficou ilhada por duas semanas com pouca comida e água. A meteorologia prevê mais chuvas nesta primavera e mais enchentes até maio. A AP também fala das previsões primaveris cheias de água. A Grist atribui o desastre, em parte, à mudança do clima.

Em tempo: os estados atingidos votaram esmagadoramente em Trump.

 

Para participar:

Hora do Planeta

Neste sábado, 30 de março, às 20h30, sua hora local, ocorre a Hora do Planeta. O maior movimento popular global pelo meio ambiente acontece mais uma vez este ano para unir milhões de pessoas ao redor do mundo. A Hora do Planeta 2019, e a campanha associada “#Connect2Earth”, buscam contribuir para a construção de uma consciência de massa acerca da importância da natureza e a criação de um movimento impossível de parar.

Quer participar? Acesse este link.

 

Para jovens climáticos:

Imersão para Jovens Líderes Climáticos

A Youth Climate Leaders entende que a melhor maneira de compreender um problema complexo como a mudança do clima é experimentar suas implicações reais em diferentes contextos. O pessoal organizou imersões internacionais para promover trocas culturais e aprendizado no campo. As imersões têm 5 componentes: experiência multicultural, desenvolvimento profissional, curriculum acadêmico, mentoring para vida e carreira e visitas e atividades culturais. Este ano, as imersões acontecem na Índia e na Alemanha. Inscrições até 14 de abril. Mais informações aqui, inclusive sobre a possibilidade de bolsas.

 

Para ver:

Floresta Iluminada – energia limpa para os povos da Amazônia

A websérie em três episódios mostra a importância da energia limpa para índios e ribeirinhos da Amazônia. “Estar no escuro não é só falta de luz. É também quando não temos conhecimento. Nós queremos energia, mas queremos que ela venha com respeito ao meio ambiente e aos Povos Indígenas (…) Aqui nós temos vento de sobra. Então temos que aproveitar esse vento (…) Com a energia solar você provoca uma soberania energética para as comunidades”.

O documentário, que foi lançado na Feira Simpósio Energia e Comunidades, em Manaus, nesta terça-feira, 26/3, foi dirigido por Fernanda Ligabue e estará disponível no canal do ISA, no YouTube, a partir da quarta-feira (27/3). Saiba mais aqui.

 

Para ver quando vier:

Nosso Planeta: série da Netflix

A Netflix lança na próxima semana o Nosso Planeta, uma produção que levou quatro anos para ser realizada e filmada em 50 países, que envolveu centenas de pessoas e tem a narração de Sir David Attenborough. A intenção é cativar e lançar uma mensagem dura, porém esperançosa, sobre como salvar o planeta. A série será lançada no dia 5 de abril. Não há informações de quando chega por aqui.

 

Para ver:

E a vida vai se adaptando ao desaparecimento da costa da Louisiana

Os efeitos da erosão costeira provocada pela elevação do nível do mar estão afetando o sul da Louisiana muito mais rapidamente do que quase qualquer outro lugar do mundo. A região vem perdendo um pedaço de terra do tamanho de um campo de futebol a cada 100 minutos. Nesta toada, prevê-se que – até 2100 – grande parte esteja debaixo d’água. À medida que continuamos a sentir os efeitos do aquecimento global nos próximos 50 anos, a arquitetura e a infraestrutura se tornarão peças fundamentais para a vida ao longo daquela costa. O site Climate Home News publicou uma série de imagens da fotógrafa Virginia Hanusik que mostram muito bem o que está acontecendo por lá e é causado pela elevação do nível do mar.

 

Para ler:

Oportunidades econômicas para o cumprimento das metas climáticas brasileiras

O relatório, resultado das análises econômica e jurídica realizadas pelo Climate Policy Initiative da PUC-Rio e que abrangem o uso da terra, a energia e o transporte, mostra que o Brasil tem potencial para impulsionar o crescimento econômico sustentável por meio do uso mais produtivo de suas terras, dando escala à ação em energia renovável e eficiência energética e reduzindo o tempo gasto no transporte de carga e o tempo desperdiçado pelos trabalhadores no trânsito.

O relatório fornece uma análise econômica da implantação da NDC brasileira, mapeia os arranjos institucionais e as políticas públicas principais de cada setor e delineia estratégias baseadas em evidências que fornecerão crescimento de baixo carbono para o país e seus cidadãos. Investimentos significativos e políticas consistentes serão necessários, porém o custo de oportunidade de não fazer nada será maior do que o custo dos novos investimentos. Os retornos de novos investimentos e políticas favoráveis ao clima superarão suas despesas e esforços: investir agora impulsionará a economia do Brasil em um futuro de crescimento, produtividade e sustentabilidade. O relatório completo – em inglês – está disponível aqui. O sumário executivo, em português, aqui.

 

Para ler:

A New World: The Geopolitics of the Energy Transformation

A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) publicou um novo trabalho sobre as mudanças na geopolítica global da energia trazidas pelo avanço das renováveis. Hoje, 80% da população mundial mora em países importadores de combustíveis fósseis. Por isso, a transição para uma matriz energética limpa implica um tremendo alívio na balança comercial destes países: “países da África e do Sudeste da Ásia têm uma oportunidade de ouro para evitar os pesados investimentos na infraestrutura dos combustíveis fósseis e em redes elétricas centralizadas ao adotar minirredes e fontes de energia eólicas e fotovoltaicas descentralizadas – da mesma maneira pela qual saltaram direto para a era dos telefones celulares e evitaram a necessidade de esticar os caros fios de cobre das redes de telefonia fixa.” O trabalho pode ser baixado do site da IRENA.

Em tempo: Bill McKibben resenhou esses dois trabalhos para o New York Review of Books.

 

Para ler:

Mentiras Sujas – como a indústria automotiva escondeu a verdade sobre as emissões do diesel

Beth Gardiner conta no The Guardian toda a história intrincada de como a indústria automotiva, primeiro, trapaceou nos testes de emissões dos carros a diesel e, depois, fez uma longa campanha de desinformação para esconder o malfeito.

 

Para ler:

Carbon Brief – Perfis Nacionais

Desde o ano passado, o Carbon Brief vem publicando os perfis de países do ponto de vista das ações de mitigação e de adaptação à mudança do clima, e os compromissos climáticos assumidos. A pergunta é se a ambição é alta e se os esforços correspondem. Em geral, a resposta é um duplo não. O primeiro da série, publicado no ano passado, analisa o Brasil. Depois foram publicados os da Turquia, Japão, África do Sul, Índia e, agora, o da Indonésia.

 

Para se inscrever e participar:

Workshop – Os desafios do planejamento energético no século XXI

Evento terá palestra do professor José Goldemberg e mesa redonda com participação da ABSOLAR, da AVL Powertrain Engineering e da EPE. Inscrições aqui.

Dia 10 de abril, das 9h às 13h, no Auditório do IEE-USP, na Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 – Cidade Universitária, São Paulo.

 

Para assistir ao curso:

Direito Ambiental e Mudanças Climáticas

Curso de extensão da PUC-RJ apresentando uma análise crítica sobre o papel do direito ambiental no combate às mudanças climáticas. Embora o curso trate de questões jurídicas, ele se destina não só a profissionais e estudantes de Direito, mas também a pessoas de outras áreas que possam ter interesse na discussão sobre mudanças climáticas.

Carga horária: 36 horas

2as, 4as e 6as feiras, das 19h às 22h

De 24/04/2019 a 27/05/2019

PUC Unidade Gávea – Rua Marquês de São Vicente, 225 Casa XV – Gávea – Rio de Janeiro – RJ

Informações sobre o curso, o processo de seleção e pagamentos aqui.

 

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Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
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