IPCC: cortes rápidos nas emissões são vitais para a garantia da segurança alimentar

IPCC

Depois de avaliar mais de sete mil artigos científicos e processar mais  de 28 mil comentários de governos e revisores especializados, 107  cientistas de 52 países diferentes chegaram à redação final do Relatório Especial sobre Mudança Climática e Terra (SRCCL) divulgado ontem pelo IPCC.

Segundo o Observatório do Clima, o sumário executivo do relatório “deixa clara a importância de combater o desmatamento, promover recuperação florestal, mudar práticas agrícolas e frear a degradação das terras no mundo inteiro como medidas capazes tanto de combater a mudança do clima quanto de promover a adaptação da sociedade a elas.”

“O relatório conclui que os impactos climáticos sobre a terra já são severos. Lembra que as ondas de calor e secas tornaram-se mais frequentes e intensas em algumas regiões e que a segurança alimentar já foi prejudicada. O clima afeta o rendimento das colheitas. O texto alerta que o aumento da temperatura tem como ameaça a crise alimentar, principalmente em regiões tropicais e subtropicais. Com 1,5°C de aquecimento, os incêndios florestais se tornam de alto risco”, conforme destaca Daniela Chiaretti no Valor.

A agropecuária predatória, além da queima de combustíveis fósseis, é uma das razões para o aumento do aquecimento global, destaca Wanderley Preite Sobrinho no UOL: “Além de intensificar a degradação do solo, o desmatamento para o avanço agrícola eleva as temperaturas e a quantidade de CO2 na atmosfera. A consequência é a queda na produção e na qualidade nutricional dos alimentos, contribuindo para um prejuízo global estimado em R$ 920 bilhões por ano.”

Giovana Girardi e Roberta Jansen destacam no Estadão o tamanho das emissões da agropecuária global calculado pelo IPCC: 23% das emissões globais de gases-estufa.

Para o G1, o físico e climatologista da USP, Paulo Artaxo, explicou o papel fundamental das florestas tropicais no ciclo do carbono: “Uma floresta na Amazônia pode ficar madura em 30 a 40 anos, enquanto florestas boreais demoram 80 a 100 anos para amadurecer. A reciclagem do carbono é muito mais rápida em áreas tropicais e isso coloca uma pressão enorme sobre a questão das florestas tropicais.”

Rafael Garcia destaca na Folha a disputa pela terra que se acirrará com a crise climática: “Produção de alimentos, biocombustíveis e florestas competirão por espaço”.

A BBC e o El Pais destacam a necessária mudança na dieta alimentar para o combate à crise climática, principalmente reduzindo o consumo de carne nos países onde isso é possível.

O relatório repercutiu no mundo todo ao longo do dia. Além das matérias acima citadas, vale destacar as matérias dos Financial Times, Reuters, CNN, New York Times, Le Monde, CBC, Vox, Carbon Brief, WWF, WRI e NRDC.

Em tempo 1: Apesar de ter optado, no relatório, por não destacar a atuação de países em particular, o IPCC “deu uma cutucada na forma como o governo brasileiro vem lidando com a Amazônia”, como contam Giovana Girardi e Roberta Jansen no Estadão: durante a entrevista coletiva de ontem, o cientista alemão Hans-Otto Portner, co-chair do grupo de trabalho 2 do IPCC, afirmou que as mudanças que estão sendo feitas no Brasil no que se refere à gestão da Amazônia “contradizem todas as mensagens apresentadas no relatório”.

Em tempo 2: deputados alemães d’Os Verdes e do Partido Social-Democrata (SPD) propuseram aumentar o imposto sobre a carne de 7% para 19%, de forma a contribuir com a redução do aquecimento global e financiar melhorias ao bem-estar animal.

 

ClimaInfo, 9 de agosto de 2019.

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