Ministros que alimentam as fogueiras

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Ontem foi a vez da ministra Tereza Cristina rasgar a fantasia de bombeira e perder boas chances de ficar calada. Primeiro, como relata o UOL, ela entrou no tiroteio verbal entre Macron e Bolsonaro ao chamar o presidente francês de oportunista. Em seguida, disse que os jornalistas cometem “crime de lesa-pátria” ao falarem mal do Brasil, prejudicando a imagem do país. Finalmente, também segundo o UOL, diante das notícias de ofertas feitas por alguns países para a proteção da floresta, a ministra disse que não precisa gastar esses recursos com a recuperação da floresta, porque esta se regenera sozinha. A ministra não disse onde aplicar os recursos e muito menos como evitar que ela vire fumaça outra vez.

Já o ministro Ricardo Salles avisou que é “a sociedade brasileira” quem decidirá onde e como usar as doações que estão sendo oferecidas. É uma das condições que ele impôs aos doadores do Fundo Amazônia, que não aceitaram e foram embora. A notícia saiu n’O Globo.

Segundo o Valor, Salles também entrou no tiroteio com Macron e sarcasticamente disse que a França devia pagar US$ 2,5 bilhões que a Europa deve ao Brasil por projetos do Protocolo de Quioto.

Por conta da desastrada política ambiental e das ainda mais desastradas falas, um deputado do seu partido, o NOVO, pediu sua suspensão, justificado pela “postura inadequada e o histórico de constrangimentos (…) que tem gerado dano à imagem e à reputação do NOVO.” A notícia saiu no Estadão e n’O Globo.

O Ministério Público Federal enviou um pedido para checar se o ministério do meio ambiente e o INPE “têm, de fato, informações que possam colocar em dúvida a fidedignidade dos dados apresentados pelos sistemas de monitoramento do desmatamento no Brasil apresentados pelo Instituto.”

Com ministros jogando gasolina nos incêndios a cada vez que abrem a boca, as relações internacionais do país correm o risco de se enfraquecer ainda mais rapidamente do que as florestas.

Em tempo: o ministro está plantando mais uma mentira quando diz que a Europa deve bilhões ao Brasil por conta de projetos de carbono.

Primeiro porque os negócios de carbono foram feitos entre entes privados e, em momento algum, as transações eram entre países. País nenhum deve a outro por conta de projetos do Protocolo de Quioto.

Segundo, porque os contratos entre os entes privados eram complexos e previam inúmeras cláusulas de rompimento. Quando a Europa decidiu proibir a comercialização dos créditos de carbono de grandes países como China, Índia e Brasil, essas cláusulas foram acionadas para interromper os contratos. Ninguém ficou devendo nada a ninguém.

Por último, mais da metade dos créditos de carbono brasileiros vinham de projetos que eliminavam a emissão de óxido nitroso e de hexafluoreto de enxofre. Desde há muito que projetos envolvendo estes e outros gases especiais foram banidos dos mercados de carbono. Os tais dólares, mesmo se existissem, seriam bem menos que bilhões.

 

ClimaInfo, 27 de agosto de 2019.

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