Quem ganha com as queimadas?

28 de agosto de 2019

Quem ganha com tanta queimada? Três matérias tentam responder esta pergunta por ângulos bem distintos.

Ana Magalhães, Daniel Camargos e Diego Junqueira, do Repórter Brasil, contam a sequência de ocupação de uma área virgem: “O fogo é uma das etapas do processo de abertura de pastagens, que tem início na derrubada da floresta com tratores e correntes, passa pela secagem e pelas chamas, e termina no plantio de capim para alimentar os animais.” Em 2015, o Ministério Público estimava que a pecuária ocupava 80% da área desmatada. Vale ler a matéria que coloca o holofote em empresas como a JBS e fala também da expansão da soja em áreas igualmente desmatadas.

Carlos Madeiro, no UOL, traz os relatos de um ano de investigações da Força-Tarefa Amazônia do Ministério Público: “Existem três perfis de desmatadores. Há quem desmate para subsistência, mas que não tem números significativos de área destruída. Existe o desmatador intermediário, que tem por trás produtores com propriedades um pouco maiores e às vezes contratam até dois peões para ajudar na derrubada.” E existe o grande desmatador, o pecuarista, que é o grande problema, atrás de áreas para novas pastagens.

Madeiro fala da ação desse verdadeiro crime organizado. “Com muito dinheiro e longe dos centros urbanos, os criminosos vão além da destruição ambiental: passam por grilagem de terras, lavagem de dinheiro, coerção a moradores tradicionais e até mesmo trabalho escravo.”

Afonso Benites, no El País, foi atrás de quanto custam estas queimadas. “Atear fogo em uma área de mil hectares custa cerca de 1 milhão de reais no mercado negro”. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que “há suspeita de ação orquestrada e de uma atuação que foi longamente cultivada para chegar a esse resultado.”

A procuradoria está investigando, dentre outros, o já célebre ‘Dia do Fogo’. Benites relata que “o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira comunicou ao Ibama dos planos criminosos. O Ibama respondeu, dias depois, que não tinha como atuar pela falta de acompanhamento da Polícia Militar do Pará, e porque a Força Nacional, sob o comando do Ministério da Justiça de Sergio Moro, havia ignorado os pedidos de apoio.”

Para não deixar dúvidas do crime praticado, o Globo Rural publicou uma longa e detalhada matéria sobre o ‘Dia do Fogo’. Na verdade, a ação toda começou antes do dia 10 de agosto. A matéria descreve a sequência das operações, dos equipamentos usados e até uma preocupação com a possível falta de óleo queimado: “Sem óleo queimado não tem como derrubar as toras maiores. O óleo é usado para untar as correntes e facilitar a penetração dos dentes afiados que derrubam as árvores.”

 

ClimaInfo, 28 de agosto de 2019.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar