Quem ganha com as queimadas?

Quem ganha

Quem ganha com tanta queimada? Três matérias tentam responder esta pergunta por ângulos bem distintos.

Ana Magalhães, Daniel Camargos e Diego Junqueira, do Repórter Brasil, contam a sequência de ocupação de uma área virgem: “O fogo é uma das etapas do processo de abertura de pastagens, que tem início na derrubada da floresta com tratores e correntes, passa pela secagem e pelas chamas, e termina no plantio de capim para alimentar os animais.” Em 2015, o Ministério Público estimava que a pecuária ocupava 80% da área desmatada. Vale ler a matéria que coloca o holofote em empresas como a JBS e fala também da expansão da soja em áreas igualmente desmatadas.

Carlos Madeiro, no UOL, traz os relatos de um ano de investigações da Força-Tarefa Amazônia do Ministério Público: “Existem três perfis de desmatadores. Há quem desmate para subsistência, mas que não tem números significativos de área destruída. Existe o desmatador intermediário, que tem por trás produtores com propriedades um pouco maiores e às vezes contratam até dois peões para ajudar na derrubada.” E existe o grande desmatador, o pecuarista, que é o grande problema, atrás de áreas para novas pastagens.

Madeiro fala da ação desse verdadeiro crime organizado. “Com muito dinheiro e longe dos centros urbanos, os criminosos vão além da destruição ambiental: passam por grilagem de terras, lavagem de dinheiro, coerção a moradores tradicionais e até mesmo trabalho escravo.”

Afonso Benites, no El País, foi atrás de quanto custam estas queimadas. “Atear fogo em uma área de mil hectares custa cerca de 1 milhão de reais no mercado negro”. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que “há suspeita de ação orquestrada e de uma atuação que foi longamente cultivada para chegar a esse resultado.”

A procuradoria está investigando, dentre outros, o já célebre ‘Dia do Fogo’. Benites relata que “o procurador Paulo de Tarso Moreira Oliveira comunicou ao Ibama dos planos criminosos. O Ibama respondeu, dias depois, que não tinha como atuar pela falta de acompanhamento da Polícia Militar do Pará, e porque a Força Nacional, sob o comando do Ministério da Justiça de Sergio Moro, havia ignorado os pedidos de apoio.”

Para não deixar dúvidas do crime praticado, o Globo Rural publicou uma longa e detalhada matéria sobre o ‘Dia do Fogo’. Na verdade, a ação toda começou antes do dia 10 de agosto. A matéria descreve a sequência das operações, dos equipamentos usados e até uma preocupação com a possível falta de óleo queimado: “Sem óleo queimado não tem como derrubar as toras maiores. O óleo é usado para untar as correntes e facilitar a penetração dos dentes afiados que derrubam as árvores.”

 

ClimaInfo, 28 de agosto de 2019.

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