As andanças e declarações do ministro Ricardo Salles na Espanha

ministro Ricardo Salles

O Acordo de Paris é para o país levar vantagem

O ministro Ricardo Salles deu uma entrevista à Daniela Chiaretti, do Valor, dizendo: “Já tomamos uma decisão no Brasil, que é pró-negócio, de monetizar o ativo ambiental brasileiro. Isso significa sair da política que fizemos até hoje, de fazer gestos, e entrar para a política de resultados.”

Talvez ninguém tenha contado para o ministro que o país vendeu algo em torno de US$ 800 milhões em créditos de carbono na época em que a União Europeia os comprava, entre 2005 e 2012.

No final da matéria, Chiaretti reproduz outra fala infeliz do ministro: “Ou o Acordo de Paris tem resultado positivo para o Brasil ou não vamos ficar negociando o que não tem resultado prático. O que o Brasil ganha com isso aqui?”

Oi, ministro. O país ganha clima, agronegócio, energia, menos secas e menos enchentes. Vale?

Ataque sem precedentes sobre o agronegócio responsável

O Valor também repercutiu a saída das organizações do agronegócio da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Em off, um exportador, que faz parte da Coalizão desde o início, disse que “nunca o setor sofreu um ataque tão autoritário como agora, já que Salles se envolveu diretamente na pressão para esvaziar a Coalizão. Não é possível que se queira destruir, desse modo, uma plataforma da sociedade com pontos discordantes”.

Salles, por sua vez, justificou dizendo que “acho um absurdo uma entidade brasileira, que se diz representante, dentre outras coisas, do agro brasileiro, vir ao exterior e falar mal do Brasil no exterior. As pessoas podem não ter a mesma visão. Mas as posições que têm saído da coalizão são contrárias ao interesse brasileiro”.

Não, ministro. Dizer que é preciso proteger a Amazônia da grilagem, do garimpo ilegal, da extração ilegal de madeira e condenar o aumento do desmatamento e dos incêndios pode ser contrário a muitos interesses, menos os do Brasil.

Salles diz que a Alemanha aceitou um novo Fundo Amazônia, mas nenhum alemão confirma

Na entrevista com Daniela Chiaretti para o Valor, o ministro disse que a Alemanha havia aceitado as mudanças que ele propôs na gestão e governança do Fundo Amazônia. Apesar de insistentes buscas, não se encontrou nenhum alemão para comentar a declaração.

O ministro fez algo parecido em outubro quando, após reunião no Banco Interamericano de Desenvolvimento, ele disse que o banco havia concordado em apoiar financeiramente um novo Fundo Amazônia. Funcionários do banco disseram que houve a reunião, levantou-se a ideia de um novo instrumento, mas que isso é apenas um primeiro passo de um longo caminho de entendimentos.

“Matéria sensacionalista e inverídica”

A Folha publicou artigo assinado pelo ministro Salles explicando porque recebeu criminosos ambientais e ainda lhes deu acolhida. Diz o ministro que eram integrantes da bancada do Acre representando milhares de famílias que querem “poder utilizar os 10% da área que a lei lhes permite para produzir gado de leite, café e piscicultura” na Reserva Extrativista Chico Mendes. Ele negou ter suspendido a fiscalização do ICMBio na reserva. O texto foi resposta a uma matéria da Folha, que ele classificou como “sensacionalista, inverídica e que se parece mais com militância do que com jornalismo.”

As reservas extrativistas são regidas por planos de manejo. O do Chico Mendes diz textualmente que “as atividades complementares poderão ocupar até dez por cento (10%) da área da colocação (…) e não

poderá ultrapassar 30 hectares por colocação. A criação de grandes animais, como o gado, será permitida até o limite máximo de

50% da área da colocação destinada para atividades complementares.” Portanto, os reclamantes podem usar no máximo 5% da área sem exceder a 15 hectares.

Em tempo: Salles recebeu, junto com os integrantes da bancada do Acre, infratores ambientais condenados pela justiça e gente autuada pelo Ibama e ICMbio por desmatamento ilegal e outros crimes. Salles se identifica cada vez mais com sua turma.

 

ClimaInfo, 6 de dezembro de 2019.

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